Como noticiado, morreu aos 73 anos o cantor e compositor Lô Borges. Além de uma carreira solo de sucesso, ele se notabilizou como um dos membros fundadores do Clube da Esquina, ao lado de Milton Nascimento.
Veio justamente de Milton uma das homenagens mais tocantes a Lô. O perfil oficial do músico no Instagram publicou:
“Lô Borges foi – e sempre será – uma das pessoas mais importantes da vida e obra de Milton Nascimento.
Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina.
Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos.
Desejamos muito amor e força à família Borges, a qual acolheu Bituca em sua chegada a Belo Horizonte, lá nos anos 60 e, principalmente, ao seu filho Luca.
Descanse em paz, Lô”
Borges estava internado desde 17 de outubro em Belo Horizonte devido a uma intoxicação por medicamentos. O quadro era considerado grave e ele ficou na UTI com ventilação mecânica, passando por uma traqueostomia para facilitar a respiração.
A informação sobre seu falecimento foi confirmada pelo Hospital Unimed. Outros detalhes ainda não foram divulgados.
Sobre Lô Borges
Salomão Borges Filho, conhecido como Lô Borges, é considerado um dos nomes mais influentes da música popular brasileira. O artista ganhou destaque na década de 1970 como um dos fundadores do movimento Clube da Esquina, ao lado de Milton Nascimento. É o autor de composições como “O Trem Azul”, “Um Girassol da Cor de Seu Cabelo”, “Paisagem da Janela”, “Para Lennon e McCartney” e “Clube da Esquina n.º 2”.
O artista nasceu em 10 de janeiro de 1952 em Belo Horizonte. Filho de uma família numerosa, iniciou sua trajetória musical nos anos 1960 reunindo-se com outros jovens no bairro Santa Tereza, onde tocava violão e consumia referências como os Beatles e a MPB. Aos 18 anos serviu no Exército.
Clube da Esquina
No ano de 1970, em uma de suas idas regulares a BH, Milton Nascimento relata que, procurando pelos amigos da família Borges, encontrou apenas Lô, ainda um garoto de 17 anos, que lhe apresentou algumas ideias musicais. Nesse mesmo encontro – e depois de duas batidas de limão – ambos compuseram a música “Clube da Esquina”, que inaugura a parceria da dupla e entra no quarto disco de estúdio de Nascimento, intitulado simplesmente “Milton”.
Na oportunidade seguinte, Milton convida Lô para gravar um disco — que se tornaria “Clube da Esquina” (1972) — pela Odeon, na antiga capital federal. Ao Museu Clube da Esquina (MCE), em 2007, Borges afirma:
“É, esse convite do Bituca pra eu fazer o Clube da Esquina foi uma coisa muito forte pra mim, foi definitiva e determinante na minha vida, porque depois que ele gravou no álbum anterior ao ‘Clube da Esquina’, depois que ele gravou ‘Alunar’, ‘Para Lennon e McCartney’ e a canção ‘Clube da Esquina’, eu pensei que ele ia chegar e me convidar pra fazer, pra mostrar mais uma música, pra ele gravar mais uma música minha no álbum posterior dele e não foi isso que aconteceu, ele me convidou pra ir morar no Rio com ele, compor várias músicas com ele e fazer um álbum, ele já tinha a ideia pronta, ele já tinha visualizado tudo e fazer um álbum chamado ‘Clube da Esquina’ pra homenagear aquela história onde eu compunha, onde eu ficava tocando e que a gente dividisse esse álbum, que fosse um álbum duplo, porque ainda não existia álbum duplo no Brasil naquele momento, que a gente dividisse o disco, que fosse Milton Nascimento e Lô Borges.”
Convite aceito, Lô Borges e Beto Guedes, este como companhia beatlemaníaca, saíram de Belo Horizonte e passaram a maior parte do ano de 1971 morando na cidade de Niterói, onde boa parte das canções de “Clube da Esquina” foram compostas, junto de Milton, Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Nivaldo Ornelas e Toninho Horta, que frequentavam a casa na região de Piratininga.
Em razão do início dos trabalhos no estúdio da Odeon, no fim do ano de 1971, Lô, Beto Guedes e outros integrantes do Clube mudaram-se para o Rio de Janeiro. Com Milton Nascimento fazendo o papel de “irmão mais velho” em razão da maior experiência em gravações profissionais, o álbum foi arranjado pelos pianistas Eumir Deodato e Wagner Tiso e gravado em apenas dois canais.
Havia ainda outras pessoas que participam ativamente da “confecção” do disco, como Ronaldo Bastos, Luís Alves, Laudir de Oliveira, Robertinho Silva, Paulinho Braga, Rubinho, Tavito e Nelson Angelo. E como cada um desses músicos e letristas possuíam formações e referências distintas, o álbum “Clube da Esquina” caracteriza-se pela mistura de elementos, de certo modo possibilitada por uma série de transformações que estavam ocorrendo na música brasileira.
Inicialmente, “Clube da Esquina” recebeu críticas mistas, especialmente por não ter se aproximado da sonoridade explorada por nomes como Caetano Veloso e Chico Buarque. Com o tempo, foi devidamente apreciado, inclusive fora do Brasil. Lô afirmou, também em 2007:
“O que chamou atenção desse disco até no mundo inteiro foi exatamente essa mistura. O Bituca é tão maravilhoso, tão, acho que ele saca tantas coisas, porque eu acho que a grande coisa desse disco é exatamente a mistura das músicas do Milton que é ligado à africanidade, ao samba, ao jazz, às coisas do próprio Milton mesmo com as minhas músicas que traziam uma outra influência, aquela influência dos Beatles que era outra coisa. Então essa mistura das minhas músicas que tem uma origem de outras influências, de outras coisas com as músicas do Bituca que são outra referência também, esse casamento da música do Milton Nascimento com a música do Lô é que deu a liga pro disco ser uma coisa diferente do que se fazia. Porque se fosse só um disco do Milton, ia ser um disco genial do Milton, mas não ia ter o ‘Girassol’, não ia ter ‘O Trem Azul’, não ia ter ‘Paisagem da Janela’, não ia ter ‘Nuvem Cigana’ que eram as outras informações que eu vinha trazendo com a minha bagagem, com a minha história ali de compositor começando a sua carreira.”
Carreira inconstante
Após o lançamento do disco de estreia, Lô deixou temporariamente a carreira, viajando pelo país e vivendo por algum tempo como hippie, incluindo passagens por Porto Alegre e Arembepe (Bahia). Retornou à cena musical e reapareceu no repertório coletivo do Clube da Esquina em 1978, participando do álbum duplo “Clube da Esquina 2”. Em 1979 lançou seu segundo álbum solo, “A Via Láctea”, com faixas compostas em parceria com músicos e letristas de Minas Gerais.
Nas décadas de 1980 e 1990 sua produção discográfica diminuiu, com lançamentos esparsos. A partir do final dos anos 1990 e início dos anos 2000 houve um movimento de reaproximação com o mercado musical: em 2003 a música “Dois Rios”, criada ao lado de Samuel Rosa e Nando Reis, foi gravada pelo Skank e lhe deu nova impulsão. Para se ter ideia, mais da metade de seus álbuns foram lançados já no século 21. “Tobogã”, seu trabalho mais recente, saiu em 2024.
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