George Martin esteve por trás de quase toda a discografia dos Beatles. Considerado por muitos o “quinto membro”, o saudoso produtor trabalhou com a banda desde 1962 até o fim das atividades em 1970, estendendo a parceria para projetos solo de Ringo Starr e Paul McCartney.
Sendo assim, o profissional de estúdio conhecia muito bem os integrantes. Diante da convivência, acreditava que existia uma diferença fundamental entre Macca e seu parceiro de composição John Lennon. Conforme o site American Songwriter, o assunto foi abordado no livro “The Beatles: The Authorized Biography” (1968), escrito por Hunter Davies.
Segundo Martin, Lennon tinha um talento especial para criar letras, porém era um pouco preguiçoso e reservado demais quanto à própria arte. Já McCartney, era mais ambicioso e acabava não só inspirado pelas habilidades do amigo, como também o motivava. De certo modo, se completavam.
“O tempo todo, [Paul] tenta melhorar, especialmente na tentativa de se igualar ao talento de John com as palavras. Conhecer John o fez buscar criar letras mais profundas. Sem ter conhecido John, duvido que Paul teria conseguido escrever ‘Eleanor Rigby’. Paul também precisa de um público, mas John não. John é muito preguiçoso, diferente de Paul. Sem Paul, ele frequentemente desistiria. John compõe apenas para seu próprio divertimento. Ele ficaria satisfeito em tocar suas músicas para [sua esposa, Cynthia].”
Para a Rolling Stone, em 1976, Martin apresentou um raciocínio parecido. À época, o produtor opinou que John “explorava estilos musicais diferentes dos de Paul” e era mais “rebelde e voltado para as palavras”:
“Não acho que John tenha sido preguiçoso de fato. Acredito que ele estava explorando estilos musicais diferentes dos de Paul. Paul sempre foi o mais pé-no-chão […]. Paul tinha talento para criar um grande ‘Helter Skelter’ ou ‘Long Tall Sally’ quando queria. E cantava com toda a força da voz, até ficar dolorida, para alcançar o timbre certo. Chegava a se machucar antes de gravar. Havia dois lados em Paul. Ficava claro que, se alguém fosse escrever um musical ao estilo Cole Porter, seria ele, não John Lennon. John era o rebelde, o Bob Dylan do grupo, e muito mais voltado para as palavras. Paul aprendeu sobre letras com John.”
A opinião de Paul McCartney
Em entrevista de 1986 à Rolling Stone, Paul McCartney contou como as personalidades de ambos se chocavam. Para exemplificar, falou sobre o comportamento autodestrutivo de John Lennon quando passou a usar heroína, droga que ele garante ter evitado por ter noção do que poderia desencadear.
Disse o músico:
“Sim, eu realmente não gostei disso. Infelizmente, John estava se afastando de todos naquele momento, então nenhum de nós sabia de fato. Ele nunca nos contou. Ouvimos rumores e ficamos muito tristes. Mas ele embarcou em um novo curso, que realmente envolvia tudo e qualquer coisa. Porque John era esse tipo de cara: ele queria viver sua vida ao máximo como a percebia. Costumava dizer coisas como: ‘se você se encontrar na beira de um penhasco e se perguntar se deve pular ou não, arrisque’. Eu tenho medo e sempre digo: ‘não, cara, eu não vou pular do penhasco, não importa o quão bom possa ser’.”
Entre 1962 e 1970, a parceria Lennon-McCartney registrou em torno de 180 composições. Elas não foram gravadas apenas pelos Beatles, com vários outros artistas se beneficiando da colaboração. Mesmo quando passaram a escrever separados, os dois mantiveram o trato feito antes da fama de dividir créditos – o que só se extinguiu com o fim da banda.
Sobre George Martin
Nascido em Londres, George Martin foi um autodidata no piano durante a juventude. Posteriormente, ingressou na Guildhall School Of Music And Drama, estudando entre 1947 e 1950.
A seguir, passou a atuar no departamento de música clássica do conglomerado midiático BBC, criando trilhas para programas de rádio e televisão da empresa. Paralelamente, trabalhava na gravadora EMI.
Além dos Beatles, trabalhou com poucos outros artistas no cenário mainstream. Entre eles estão Elton John, Cheap Trick, UFO, America e Little River Band.
Morreu dia 8 de março de 2016, na sua casa em Wiltshire, Inglaterra. A causa nunca foi oficialmente revelada. Deixou esposa e 4 filhos.
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