O que aconteceria se você misturasse o peso e a abordagem contemporânea do Architects com a grandiosidade e a finesse do Epica? Provavelmente, sairia algo parecido com o Imminence e seu chamado “violincore”, que traz um lado quase cinematográfico para o metalcore.
O grupo sueco fundado em 2009 e com quase 900 mil ouvintes mensais no Spotify teve grande ascensão na cena europeia nos últimos tempos. Somente neste ano, marcou presença em grandes festivais como Tuska, Pinkpop, Graspop, Hellfest e Rock Am Ring/Im Park. Faltava pôr à prova sua popularidade na América Latina, onde chegaram com a turnê que promove o álbum “The Black” (2024).

Nesse sentido, a resposta obtida na última quinta-feira (25) foi positiva. O quinteto composto por Eddie Berg (voz, violino), Harald Barrett (guitarra), Alex Arnoldsson (guitarra), Christian Höijer (baixo) e Peter Hanström (bateria) se apresentou para um cheio, ainda que não esgotado, Carioca Club, casa em São Paulo com capacidade para 1,2 mil fãs.
Kryour
Antes, subiu ao palco pontualmente às 20h o grupo paulistano Kryour. Sua presença fugiu à regra dos eventos produzidos pela Overload, que normalmente não têm atração de abertura. Mas fez sentido, seja pelo alcance forte dos músicos nas redes ou pelo som que, se não similar, ao menos não destoa dos headliners: orbita entre metalcore e melodic death metal, com elementos progressivos.

Em meia hora de show, tocaram seis músicas, três delas de seu último EP, “Creatures Dwell in My Room” (2023) — um trabalho mais maduro que o antecessor “Where Treasures Are Nothing” (2019). Canções como “Colorful” e “Anxiety” mesclam bem o lado mais extremo com seções emocionalmente carregadas e introspectivas. Gustavo Iandoli (voz e guitarra), Lucas Cunha “Thunder” (baixo), “Guba” Oliveira (guitarra) e Matheus Carrilho (bateria) aqueceram bem o público que, àquela altura, já enchia a pista do Carioca.

Repertório — Kryour:
- Why Should I Know?
- Restless Silence
- Chrysalism
- Timeless
- Anxiety
- Colorful
Imminence
Quando membros da equipe técnica colocaram o violino de Eddie Berg no palco, a reação da plateia foi típica de seleção brasileira vencendo Copa do Mundo. Quando um roadie testou o microfone e falou “São Paulo”, então? Uma gritaria ensurdecedora. Minutos depois, quando as luzes foram desligadas para valer e o Imminence subiu no palco, a pista entrou em erupção.
Berg chamou “Temptation”, mas seu microfone estava tão baixo que mal deu para ouvi-lo. O público não se importou e cantou a plenos pulmões, quase como num karaokê coletivo. Antes de “Desolation”, o problema técnico piorou. Houve tentativas sucessivas de reiniciar a canção, todavia, uma aparente falha no retorno dos integrantes levou a uma interrupção da performance. Sobrou para Eddie, recebido com gritos de “gostoso”, interagir com a plateia enquanto a situação se resolvia.

Durante a conversa, escutava-se o frontman sem problemas. Na nova execução de “Desolation”, a voz sumiu de novo. O som passou a ficar aceitável apenas no último breakdown da canção seguinte, “Heaven Shall Burn”, substancialmente mais pesada, destacando a habilidade de Mikael Norénna bateria.
Em “Death by a Thousand Cuts”, quinta do set, houve uma mudança de clima com a chegada de seus momentos mais lentos e emotivos. Era o início de um bloco de músicas similares, composto também por “Erase”, “Ghost” e “Infectious”. Seja durante canções mais lentas ou pesadas, os problemas técnicos persistiam. O grupo conseguiu contornar bem, ainda que Berg tenha demonstrado irritação.

Findada a oitava do set, “Infectious”, a banda toda, com exceção de Norén, desceu do palco, que teve suas luzes apagadas. O retorno se deu com “Come What May”, uma das joias da coroa de “The Black” e recebida com uma reação esperadamente estrondosa dos fãs. Havia, obviamente, faixas pré-gravadas especialmente de violino — em tese, apenas quando Berg cantava. Entretanto, na ponte desta música, deu para notar uma mudança repentina de timbre e volume entre pré-registrado e ao vivo.
Se a imprensa foi lamentavelmente cerceada de gravar vídeos — filmagens de celular na pista só poderiam ser publicadas mediante avaliação e autorização da equipe da banda —, o público fez valer sua liberdade e providenciou um mar de smartphones em diferentes momentos “Instagramáveis”. Um deles se deu em “God Fearing Man”, quando o guitarrista Harald Barrett desceu à parte inferior do palco, e com a finesse de um guerreiro samurai antigo, sacou um arco de violino de suas costas, tocando a parte final desta maneira. Só ficou difícil de enxergar devido à iluminação contraluz junto do gelo seco no palco.

A dobradinha final do set resumiu bem o show de pouco menos de 90 minutos do Imminence. “Death Shall Have No Dominion” trouxe bastante peso e deu um gás final na roda, enquanto enquanto “The Black” se ancorou mais no uso do violino. Ironicamente, esta última remeteu, também, ao início da apresentação, com falhas de som mais notórias. Eddie Bergtentou gritar para dentro de seu instrumento, que deveria ter captado os berros e servido de microfone, mas estava tão baixo que não deu para ouvir.
A performance do Imminence, em si, foi incontestável, mas a qualidade de som do Carioca Club na última quinta-feira (25) comprometeu bastante, em especial, a primeira parte do set. Felizmente, a banda não se abateu e deixou no público brasileiro uma primeira impressão positiva.

Imminence — ao vivo em São Paulo
- Local: Carioca Club
- Data: 25 de setembro de 2025
- Turnê: The Black Tour
- Produção: Overload
Repertório:
- Temptation
- Desolation
- Heaven Shall Burn
- Beyond the Pale
- Death by a Thousand Cuts
- Erase
- Ghost
- Infectious
- Come What May
- L’appel du Vide
- Come Hell or High Water
- God Fearing Man
- Death Shall Have no Dominion
- The Black
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Infelizmente o som estava péssimo