Dois shows diametralmente opostos em conceito, mas igualmente memoráveis. Cada um à sua maneira, Behemoth e Deicide atropelaram os fãs de black e death metal que compareceram à Toinha, em Brasília, na noite de domingo (21).
Foi a segunda data da The Unholy Trinity 2025 no Brasil, que conta também com Nidhogg — ofuscado pela grandeza de seus pares. A turnê teve início em Curitiba (19/09) e ainda passa por Belo Horizonte (23/09), Rio de Janeiro (26/09) e São Paulo (28/09).
Nidhogg: elo fraco
Ex-vocalista do Wilczyca, o polonês Nidhogg agora se apresenta sob o signo da própria alcunha na tentativa de deslanchar em carreira solo — até o momento incipiente.
Pontualmente às 19h, ele e seu grupo de apoio subiram ao palco para uma apresentação que só não passou despercebida por conta da indumentária espalhafatosa dos envolvidos. Musicalmente, o que se ofereceu foi muito pouco.
Nidhogg executou composições próprias de um black metal genérico e também recorreu ao repertório do Wilczyca, como “Horda” e a música que leva o nome de sua ex-banda. No fim vestiu uma camisa do Brasil e declarou amor pelo Sepultura, no único momento de reação mais calorosa do público.
Repertório:
- Mental Lycanthropy and the Calling of Shadows
- Transilvania
- Sic Luceat Lux
- Wilczyca
- Horda
- Pytam was! Tych łotrów!
- Jeszcze Zemsci Sie Ziemia
- Wyrocznia
Deicide: death metal nu e cru
A volta do Deicide ao Brasil após dois anos veio embalada por algumas novidades: um álbum novo, “Banished by Sin” (2024), e a estreia do guitarrista Jadran “Conan” Gonzalez (Exmortus). Ele entrou na banda poucas semanas antes da turnê em substituição a Kevin Quirion, que saiu em maio.
A verdade é que os “Deicidemaníacos” nunca foram muito com a cara de Quirion e em momento algum lamentaram a saída. Diante da impossibilidade do retorno dos irmãos Hoffman — cuja ausência, esta sim, ainda é bastante sentida —, coube ao jovem Taylor Nordberg, que entrou em 2022, dar a injeção de ânimo que a banda vinha pedindo nos últimos anos. E a tendência é de que Jadran “Conan” ajude a fazer o mesmo.
No show, é ele quem puxa alguns dos principais riffs. Como de praxe, a sonoridade do Deicide ao vivo tende a ser meio embolada e caótica, com a bateria de Steve Asheim se sobrepondo às guitarras, mas nada que comprometa o atropelo que é uma apresentação de Glen Benton e sua trupe.
O “folclore” de que o baixista/vocalista se mataria em pleno palco aos 33 anos, bem como outras polêmicas, felizmente passam ao largo do que realmente interessa. Prevalece a aula de death metal nu e cru. Quem já viu, sabe.
Benton, aliás, parecia estar num ótimo humor — o que não é comum. Sem firulas, a banda desfilou praticamente todos os clássicos e tocou duas músicas a mais do que no show de Curitiba, incluindo “Lunatic of God’s Creation”, que não deveria jamais ser retirada do set. Do disco novo, mandaram três: “Bury the Cross… With Your Christ”, “From Unknown Heights You Shall Fall” e “Sever the Tongue”.
Repertório:
- When Satan Rules His World
- Carnage in the Temple of the Damned
- Bury the Cross… With Your Christ
- Behead the Prophet (No Lord Shall Live)
- Once Upon the Cross
- From Unknown Heights You Shall Fall
- Sacrificial Suicide
- Satan Spawn, the Caco-Daemon
- Sever the Tongue
- Trick or Betrayed
- In Hell I Burn
- They Are the Children of the Underworld
- Lunatic of God’s Creation
- Dead by Dawn
- Homage for Satan
Behemoth: pomposo, mas afiado
É fácil torcer o nariz para alguns excessos do Behemoth, que não economiza ao tentar fazer de seu black/death metal o mais suntuoso possível. Muita mídia, pouco som? Vamos com calma, pois também não é bem assim. Nergal sabe trabalhar.
Por mais que tenha se tornado uma espécie de celebridade do metal extremo, o líder do Behemoth tem conhecimento de causa — ou background, no linguajar das redes sociais que ele tanto adora e consegue manejar como poucos. O palco opera como extensão de seu feed, com o guitarrista/vocalista “vendendo” de forma muito convincente a diversificada obra de sua banda, fundada em Gdansk, Polônia, no ano de 1991.
O setlist passeia por várias facetas: o black metal primitivo de “Cursed Angel of Doom”, o black/death de “Christians to the Lions“, o brutal death metal de “Conquer All”, o black metal barroco de “Bartzabel” e, claro, o ápice de sua popularidade, com as músicas do disco “The Satanist” (2014).
Se alguns fãs foram ficando pelo caminho, muitos outros chegaram a partir desse álbum, que se consolidou como centro de gravidade do que é o Behemoth atual. Uma banda que não se desvincula mais do aspecto lúdico e imagético. Mas que nem por isso abre mão de um rígido controle/padrão de qualidade musical.
De “Blow Your Trumpets Gabriel” a “O Father O Satan O Sun!”, passando pela novíssima “The Shit ov God”, do recém-lançado álbum homônimo, as músicas nitidamente têm ganchos propositais e quase cinematográficos para funcionar ao vivo, com Nergal interagindo com o público. Nessas horas, o ótimo guitarrista Seth segura a bronca e preenche os espaços com eficácia.
Em alguns momentos, há tanta informação despejada que fica difícil acompanhar tudo. Em outros, a precisão cirúrgica da banda impressiona, e mostra que não seria possível executar tudo isso sem uma formação afiada e muito entrosada. Ao contrário de 2022, quando precisou ser substituído por Jon Rice, o baterista Inferno está presente nos shows atuais e comprova que é peça fundamental nessa equação.
“Ora Pro Nobis Lucifer”, “Ov Fire and the Void” e “Chant for Eschaton 2000” foram alguns dos diversos destaques de um show irreprensível do ponto de vista da execução, ora agressiva, ora teatral, contrastando, de certa forma, com a rispidez do Deicide, mas oferecendo ao público dois mundos que se complementam e reafirmando mais uma grande passagem do Behemoth pela capital.
Behemoth — ao vivo em Brasília
- Data: 21 de setembro de 2025
- Local: Toinha
- Turnê: The Unholy Trinity 2025
- Produtora: Liberation
Repertório:
- The Shadow Elite
- Ora Pro Nobis Lucifer
- Demigod
- The Shit ov God
- Conquer All
- Blow Your Trumpets Gabriel
- Ov Fire and the Void
- Lvciferaeon
- Bartzabel
- Wolves ov Siberia
- Once Upon a Pale Horse
- Christians to the Lions
- Cursed Angel of Doom
- Chant for Eschaton 2000
- O Father O Satan O Sun!
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
