Poucas vozes marcaram o início dos anos 2000 com tanta força quanto a de Alex Band. À frente do The Calling, o cantor californiano conquistou ouvintes ao redor do mundo com hits que se tornaram trilha sonora de romances, filmes e memórias pessoais — com destaque para o hino atemporal “Wherever You Will Go”, que o catapultou ao topo das paradas e ao imaginário coletivo de toda uma geração.
Em outubro, Band retorna ao Brasil para uma turnê de nove apresentações, incluindo um show gratuito em Campinas (SP). Além de celebrar a história da banda no palco, o músico prepara um novo álbum de estúdio — o primeiro em mais de duas décadas.
Nesta entrevista, Alex revisita o auge do The Calling, comenta os bastidores turbulentos que levaram a banda a um hiato, abre o coração sobre sua saúde e compartilha a expectativa por 2026. A agenda completa de shows está disponível ao fim da página.
Laços únicos com o público brasileiro
A relação de Alex Band com o Brasil é singular. Ele já se apresentou em terras tupiniquins em diversas ocasiões — com The Calling (2003, 2004, 2018, 2019 e 2024) e em carreira solo (2008) — e a segunda cidade que mais ouve seu grupo no Spotify globalmente é São Paulo.
Agora, o retorno ganha contornos ainda mais simbólicos: além de repor alguns shows que não aconteceram na extensa turnê — vinte datas entre abril e maio — do ano passado, como Porto Alegre (RS), “por causa das enchentes”, The Calling vai estabelecer um marco ao se tornar a primeira atração internacional a encabeçar um festival em Nova Iguaçu, cidade da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Para Alex, isso “estreita ainda mais os laços da banda com o Brasil e finca ainda mais nossas raízes aí”.
O repertório, segundo Band, trará uma mistura de clássicos, novas composições e músicas “que os fãs pedem para ouvir ao vivo há mais de dez anos”. Sem revelar mais detalhes, ele garante: “Acho que vai ser incrível e o público vai ficar muito feliz.”
Feliz também fica Alex ao recordar sua primeira visita ao país, que define como “caótica”:
“Foi uma loucura, sabe? Milhares de fãs no aeroporto, em sua maioria garotas jovens. Fãs nos perseguiam pelas ruas, quebravam os vidros dos carros e tentavam entrar. Era um caos. Mas tudo isso vinha da paixão e do amor que sentiam pela música. E agora, ao me apresentar para essas mesmas pessoas, vejo que elas se tornaram adultas, têm filhos — e as crianças agora vão aos shows.”
O peso de um hit
Formado em Los Angeles no fim da década de 1990, The Calling surgiu em meio a uma cena musical saturada pelo pop e pelo nu metal, mas encontrou espaço ao apostar em um rock de forte apelo radiofônico. As melodias acessíveis, porém, não foram o único destaque: a mídia concentrou grande atenção na imagem de galã de Alex Band.
O artista reconhece: “Eu parecia um integrante de boy band”. Esse foco, segundo ele, acabou ofuscando e estigmatizando a música do grupo.
“Eles nos promoveram muito dentro desse clima, com presença constante em programas como o ‘TRL’ [n.e.: o equivalente ao ‘Disk MTV’, no Brasil], e acho que isso prejudicou nossa imagem como uma banda de verdade — que faz turnês, compõe e toca suas próprias músicas. Definitivamente, não foi algo que jogou a nosso favor.”
Apesar disso, “Camino Palmero” (2001), álbum de estreia do The Calling, conquistou disco de ouro no Canadá e platina nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.
Uma canção, no entanto, se destaca como pilar não só da carreira da banda, mas também da trajetória de Alex Band. Lançada como single principal de “Camino Palmero”, “Wherever You Will Go” tornou-se um fenômeno mundial e segue como um dos hits de rock mais reconhecíveis do século 21.
Quando ouve que a faixa ocupa, nos anos 2000, um lugar comparável ao de “Always”, do Bon Jovi — outra balada de amor e devoção inabalável —,nos anos 1990, Alex se diz “lisonjeado” e acrescenta:
“Cresci ouvindo Bon Jovi. Ele [Jon Bon Jovi] foi um dos primeiros grandes artistas que conheci quando comecei a fazer sucesso. Em uma premiação, ele se aproximou de mim e disse: ‘Sou fã do seu álbum’. Aquilo me deixou boquiaberto. Ele é um cara incrível e mantivemos contato por muito tempo.”
Ter um marco como “Wherever You Will Go” é, sem dúvida, uma bênção — mas também uma maldição. O motivo? “É impossível ter outra música desse tamanho”, admite Alex. Tudo passa a girar em torno de igualar ou superar o feito para se manter em evidência.
A receita do sucesso, para este jornalista, envolveu ser a canção certa, no momento certo, com o videoclipe certo — exibido à exaustão pela MTV —, somada ao caráter universal e atemporal da letra. Alex concorda e acrescenta mais um elemento:
“Não se trata apenas de ter uma ótima música. É preciso que várias coisas se encaixem ao mesmo tempo e parte disso é sorte. Trabalhei duro durante anos para provar à gravadora que estava errada, porque, quando me contrataram aos 15 anos, já tínhamos essa canção, mas não a consideravam nada especial. Ela ficou engavetada por quatro anos até me deixarem gravar o primeiro álbum e mais um ano para ser lançado. Depois, levamos outro ano de trabalho intenso nas rádios americanas para que a música virasse um hit. Eu tinha muitas dúvidas, porque ninguém acreditava que fosse algo bom. É impressionante ver no que ela se transformou.”
O sucesso estrondoso, porém, foi seguido por um período de instabilidade. The Calling entrou em hiato após o segundo álbum, “Two” (2004). Embora houvesse a pressão após o êxito inicial, o verdadeiro motivo da ruptura tem nome e sobrenome — que Alex prefere não citar nominalmente, mas refere-se ao guitarrista e cofundador Aaron Kamin.
“Era um drama o que acontecia nos bastidores. Claro que todos queriam outra ‘Wherever You Will Go’, mas todos os meus problemas eram com meu guitarrista, que acabei demitindo logo após gravar o segundo disco. Ele não queria fazer turnê, não queria realmente trabalhar, nem gravar outro álbum. Era como ter alguém estragando todos os bons momentos, transformando tudo em um pesadelo. Não me surpreende que o segundo disco não tenha atingido seu potencial. Acho que poderia ter sido maior, mas houve muita confusão.”
Com o distanciamento do tempo, Alex admite que faria várias coisas de forma diferente. Nada, porém, relacionado ao aspecto musical.
“Acho que teria conduzido as coisas de outra maneira. Teria me assegurado de que fôssemos reconhecidos como uma banda de verdade, com músicos de verdade. E, com certeza, não estaria trabalhando com aquela pessoa naquele momento. Deveria ter encerrado a parceria quando ele quis desistir ainda no primeiro álbum.”
Resiliência e propósito
Longe dos holofotes da banda, Alex Band embarcou em uma carreira solo na qual demonstrou maturidade artística. Primeiro veio sua participação como convidado no hit do Santana, “Why Don’t You & I”, em 2003. Em seguida, lançou um EP em 2008 e, finalmente, o álbum “We’ve All Been There”, em 2010.
Apesar de o single principal, “Tonight”, ter sido usado como tema da Copa do Mundo de 2010, Alex admite que seu disco solo é “um ponto doloroso” em sua trajetória. Ele explica:
“Bem quando eu estava lançando esse álbum, que havia levado muitos anos para ser finalizado, fui diagnosticado com Parkinson. E então, a EMI, a gravadora com a qual eu estava, faliu. Foi algo triste. Acredito que esse álbum merecia ter tido mais vida. Talvez, quem sabe, um dia eu o relance, não sei.”
Pouco se fala, mas a vida de Band foi marcada por desafios pessoais, incluindo problemas de saúde — entre eles, o diagnóstico de Parkinson posteriormente desmentido e uma doença que afetou suas cordas vocais, impedindo-o de cantar por um período —, além de um episódio de sequestro e agressão violenta em 2013.
O cantor também se mantém engajado em causas beneficentes, especialmente na pesquisa de doenças raras, aproximando-se ainda mais dos fãs que o veem não apenas como músico, mas como alguém disposto a usar sua visibilidade para inspirar. E ele soa inspiradíssimo ao falar sobre a superação desses obstáculos e sobre continuar a fazer música como prova de sua força e dedicação:
“Dizem que tudo acontece por uma razão. Mas é difícil quando se passa por algo traumático, como ser sequestrado, ter uma arma apontada para a boca e, ao mesmo tempo, enfrentar uma doença debilitante que você acredita ser o fim da sua vida. Oito anos depois, descobrir que não tinha a doença foi… Como posso dizer? Foi perturbador, mentalmente exaustivo. Mas, olhando para trás, tudo isso me fortaleceu, tanto pessoal quanto profissionalmente. Fez com que eu desacelerasse, aprendesse a valorizar momentos especiais e aumentou muito minha gratidão pelas oportunidades que recebo. Essas experiências trazem você de volta à realidade de forma imediata.”
Planos para uma nova fase
De olho no futuro, The Calling trabalha em um novo álbum de estúdio, previsto para o início do ano que vem. Embora ainda sem título definido — “há muitas opções; vou decidir quando não houver mais tempo para mudar de ideia” —, o disco já tem casa: a Virgin Records. Segundo Alex, trata-se de um esforço coletivo que resultou em uma combinação muito especial.
“Desta vez, eu compus junto com meus companheiros de banda. Foi algo diferente para mim e muito bacana. Meu baixista, Dom [Liberati], vem de um universo bem pop e trouxe elementos contemporâneos desse estilo. Já meu guitarrista [Daniel Damico] tem uma pegada mais rock, algo que também me atrai. Essa mistura acabou gerando um resultado realmente ótimo.”
Algumas dessas novas faixas poderão ser conferidas em primeira mão nos shows no Brasil. Mas, depois que a turnê chegar ao fim, o que vem a seguir para The Calling? Aparentemente, tirar o atraso de duas décadas de silêncio discográfico e voltar de vez à estrada.
“Bem, o que venho tentando fazer há dez anos é justamente o que estamos prestes a começar: lançar músicas para os fãs quando quisermos. Temos muito material novo, o suficiente para vários álbuns. Quero entrar em um ciclo de lançar um novo disco, sair em turnê, lançar outro, e assim por diante, podendo compartilhar músicas novas com muito mais frequência do que antes. Levou muito tempo, mas agora finalmente tenho controle total e as pessoas certas para fazer isso acontecer. Estou ansioso para ser consistente no lançamento de novas músicas e nas turnês.”
The Calling no Brasil
A vindoura turnê do The Calling passa por Vitória (ES) em 04/10; Nova Iguaçu (RJ) em 05/10; Porto Alegre (RS) em 08/10; Curitiba (PR) em 09/10; Santo André (SP) em 11/10; São Paulo (SP) em 12/10; Belo Horizonte (MG) em 15/10; Brasília (DF) em 17/10 e encerra com show gratuito em Campinas (SP) em 19/10.
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