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Black Country Communion mostra força na Alemanha e reforça status de “supergrupo”

Banda, que nunca veio ao Brasil, tem passagem celebrada por Colônia, perto de finalizar aquela que é apenas sua segunda turnê propriamente dita em 15 anos

Supergrupos tendem a despertar opiniões mais extremas na música, seja pela qualidade extrema ou decepção — quase sempre recaindo na segunda opção. Quando foi anunciado em 2010 o Black Country Communion, um grupo formado por Glenn Hughes (baixo e voz | Deep Purple, Trapeze, Black Sabbath), Joe Bonamassa (guitarra e voz | com carreira solo consolidada), Derek Sherinian (teclados | Dream Theater, Planet X, Sons of Apollo, Yngwie Malmsteen) e Jason Bonham (bateria | filho do lendário John Bonham e com vasta experiência), houve, além de empolgação, receio. Aos primeiros acordes do álbum de estreia, percebeu-se que a união era acertada.

Mas para além da qualidade, outra dúvida se impôs: o projeto teria longevidade? A resposta, como se vê, é dupla.

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Por um lado, lá se vão 15 anos desde o início da parceria, com cinco álbuns de estúdio lançados, todos mantendo um padrão de qualidade acima da média. Por outro, a banda nunca conseguiu criar uma musculatura sólida em termos de turnês regulares, muito por conta da agenda ocupada de Bonamassa, que já declarou diversas vezes que sua carreira solo é a prioridade — a ponto de isso ter gerado um racha no meio da década passada. Dessa forma, oportunidades de assistir ao BCC ao vivo são raras e preciosas: eles realizaram cerca de 50 apresentações ao longo de uma década e meia.

Foto: Diego Garcia

Neste ano, o quarteto realiza aquela que é apenas a sua segunda turnê propriamente dita, a primeira desde 2011 (já que, em 2018 e 2024, eles fizeram apenas apresentações isoladas). O giro europeu contou com cerca de 10 datas, entre festivais e performances solo. O compromisso individual derradeiro se deu na última quinta-feira (19), em Colônia, na Alemanha, dois dias antes de um curto set no francês Hellfest, responsável por encerrar o itinerário no geral.

Tanzbrunnen e atmosfera de verão

O Tanzbrunnen, local escolhido para a apresentação, em Colônia, é um espaço a céu aberto conhecido por sediar eventos variados, desde encontros corporativos até grandes concertos e fanfests, como transmissões da Eurocopa.

Foto: Diego Garcia

A escolha do local trazia um charme característico para o espetáculo, inicialmente marcado para às 19h. Por ser verão na Europa, a luz solar ainda brilhava forte no céu, o que é curioso para uma performance de rock — afinal, no verão, o sol por ali só se põe por volta das 22h, deixando a plateia e os músicos sob iluminação natural incomum para shows desse porte.

Foto: Diego Garcia

As particularidades de horário e ambiente ao ar livre contribuíram para uma atmosfera descontraída, mas ao mesmo tempo carregada de expectativa. No “olhômetro” e “chutômetro”, imagina-se que o público concentrava por volta de 2 mil pessoas — nas fotos por aqui, a plateia ainda chegava.

Foto: Diego Garcia

Um “afrodisíaco” para começar

A abertura da noite ficou por conta de AfroDiziac, vocalista e guitarrista americano, mas radicado na Alemanha, que tem ganhado espaço ao misturar rock clássico com rhythm and blues, resultando em um som marcado por grooves intensos e guitarras pesadas. Acompanhado por baixista e baterista em uma formação de power trio, o artista entrega uma sonoridade direta e poderosa refletida também em seu álbum mais recente, “Shine” (2025).

No palco, AfroDiziac destacou-se pela técnica apurada na guitarra e por uma voz marcante e identitária, num set de cerca de 30 minutos que capturou a atenção e os aplausos do público desde os primeiros acordes. Sem dúvida, uma abertura à altura para a noite que se seguiria com o Black Country Communion.

Foto: Diego Garcia

Black Country Communion: supergrupo e superperformance

Às 20h10, o Black Country Communion subiu ao palco e abriu com “Sway”. A faixa do álbum “BBCIV” (2017) mostra de cara a essência do grupo: hard rock com influências de blues, muito groove e uma energia contagiante. Glenn Hughes, mesmo aos 73 anos, demonstrou fôlego e vigor, entregando vocais de similaridade impressionante ao que se ouve nas gravações de estúdio. Quem o viu no Bangers Open Air, em São Paulo, em maio último, sabe disso.

Na sequência, veio “One Last Soul”, resgate direto dos primórdios da banda e uma das melhores faixas do álbum de estreia —para este que vos escreve, é o melhor disco do BCC. A performance técnica da banda foi precisa e afiada, com Joe Bonamassa e Derek Sherinian se destacando nos solos e no dueto entre guitarra e teclado.

Foto: Diego Garcia

“Wanderlust” trouxe um pouco mais de calma à noite, com sua melodia envolvente e refrão cantarolável. Após o solo, a banda fez uma pausa para que o público acompanhasse com palmas. É curioso notar que, apesar de Bonamassa ser uma estrela solo, nos shows do BCC ele não assume o papel de frontman — embora em alguns momentos tenha tomado a frente do palco, especialmente nos solos.

O clima intimista seguiu com “Save Me”, do segundo álbum, “2” (2011), que fez dobradinha com a mais visceral “The Outsider”. Hughes impressionou com sua performance não apenas no vocal, como também no baixo e até na interação com seus companheiros. Bonham manteve a precisão e a pegada, enquanto Sherinian e Bonamassa duelavam e brilhavam nos solos.

Foto: Diego Garcia

A semibalada “Song of Yesterday” trouxe Bonamassa nos vocais principais pela primeira vez no show, dividindo o refrão com Hughes em um dueto que foi um dos pontos altos do espetáculo. Sherinian, com seus teclados, adicionou uma camada especial de harmonia e atmosfera.

Somente na sétima faixa, “Red Sun”, o público teve a oportunidade de ouvir uma música do álbum mais recente, “V” (2024). Pesada, a canção teve como destaques a pegada de Bonham e a voz de Hughes. “Cold”, dedicada a todos que já partiram — em especial a John Bonham —, trouxe uma veia mais bluesy para o set. Ao fim, os integrantes foram apresentados e Hughes e Bonamassa brincaram: Glenn comentou que não poderia se alongar muito, por conta do tempo, mas acabou “autorizado” por Joe, que, em tom descontraído, foi fumar um charuto no canto do palco, arrancando risos.

“The Crow” acelerou novamente as coisas, com um belo duelo entre Bonamassa e Sherinian. Hughes não economizou nas notas altas no refrão. “Stay Free”, outra faixa do álbum mais recente, deu sequência ao show com peso e groove na medida certa.

Foto: Diego Garcia

“Black Country”, quase homônima à banda, revelou o lado mais “heavy” do quarteto, com entrega plena de Hughes no baixo e nos vocais — especialmente na parada final dos instrumentos, quando duela com a guitarra de Bonamassa para ver quem alcançava a nota mais alta. De forma protocolar, o grupo deixou o palco, mas era evidente para todos que ainda havia mais por vir.

Poucos minutos se passaram até a banda retornar com “Sista Jane”, mais uma faixa do debut que destacou novamente os duetos vocais entre Hughes e Bonamassa — recurso que a banda deveria explorar ainda mais, dada a riqueza do contraste entre as vozes, especialmente com a levada cadenciada. Bonham, por sua vez, praticamente duelou com o guitarrista no solo. Apesar do pai famoso cujo rosto estampa o bumbo de sua bateria, Jason tem talento de sobra para acompanhar músicos de primeiro calibre. Ainda houve tempo para uma breve citação a “Won’t Get Fooled Again” (The Who) nos acordes finais.

Para encerrar, o quarteto optou por um cover de “Mistreated”, representando a fase de Hughes no Deep Purple e evidenciando as influências bluesy dele e dos companheiros. Como de costume, a versão apresentada foi expandida, com solos mais longos e improvisos que ressaltaram a técnica e a sintonia do grupo, fechando uma apresentação memorável pontualmente às 22h.

Foto: Diego Garcia

Talento, química e… até a próxima?

Ao fim, o Black Country Communion saiu ovacionado, com uma bela demonstração de seu potencial sonoro. É, indiscutivelmente, um supergrupo, na acepção da palavra, tanto ao vivo quanto em aspectos criativos.

É impensável imaginar uma encarnação da banda sem Bonamassa, que acaba sendo, ao mesmo tempo, seu coração. Seus riffs, solos e vocais são parte central da equação daquilo que é o BCC. Ao mesmo tempo, é também o maior obstáculo do grupo: torna-se difícil pensar que ele vá dar uma pausa prolongada em sua prolífica carreira solo.

Assim, resta aos fãs esperar que mais janelas de oportunidade surjam para que possamos apreciar essa outra faceta desses grandes músicos. E que alguma dessas chances faça, também, a alegria dos fãs no Brasil, país nunca visitado pelo conjunto.

Foto: Diego Garcia

Black Country Communion — ao vivo em Colônia, Alemanha

  • Local: Tanzbrunnen
  • Data: 19 de junho de 2025

Repertório:

  1. Sway
  2. One Last Soul
  3. Wanderlust
  4. Save Me
  5. The Outsider
  6. Song of Yesterday
  7. Red Sun
  8. Cold
  9. The Crow
  10. Stay Free
  11. Black Country
  12. Sista Jane
  13. Mistreated (Deep Purple cover)
Foto: Diego Garcia

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Engenheiro, com mestrado em mobilidade urbana e especializações em finanças e design de serviços, equilibra seus afazeres profissionais com uma paixão profunda por rock, hard rock e heavy metal, em suas mais variadas vertentes. Começou a colecionar CDs, DVDs e Blurays aos 8 anos de idade e não parou mais, mesmo com a chegada do streaming. Não mede esforços para ir a shows e a festivais.

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