Pelo menos segundo a divulgação da turnê sul-americana marcada para novembro — anunciada pela produtora nacional como a última em solo brasileiro, o quarto país do mundo onde mais vezes se apresentou —, 2025 promete ser um ano de despedidas para Glenn Hughes. Aos 73 anos, o músico britânico ainda ostenta um alcance vocal praticamente inalcançável por seus contemporâneos. No entanto, talvez já esteja, parafraseando Mark Knopfler, do Dire Straits, cansado de “fazer e desfazer malas”.
Se os compromissos agendados para o segundo semestre terão como mote a turnê “The Chosen Years” — cuja proposta é apresentar um repertório mais abrangente, incluindo faixas de diversas fases e projetos da carreira de Hughes, como Black Sabbath, Trapeze e Black Country Communion —, o show da última sexta-feira (2), que encerrou as atividades do Hot Stage no dia de abertura do Bangers Open Air 2025, focou exclusivamente na trinca de álbuns gravados com o Deep Purple: “Burn” e “Stormbringer” (ambos de 1974), além de “Come Taste the Band” (1975).
Acompanhado por uma banda afiada formada por Søren Andersen (guitarra), Bob Fridzema (teclados) e Ash Sheehan (bateria), Hughes entregou versões tecnicamente corretas, mas carentes do vigor emocional que marcou suas passagens anteriores pelo Brasil. O setlist contemplou os clássicos de sempre — “Burn”, com sua abertura explosiva; “Mistreated”, conduzida com a intensidade dramática que a tornou hino das formações MK3 e MK4; e “Stormbringer”, que ainda soa atual com seus riffs funkeados —, mas foi em faixas como “You Fool No One” e “Sail Away” que se insinuou um possível adeus: entre improvisos extensos e passagens instrumentais inventivas, houve espaço até para um trecho de “High Ball Shooter”, mas também a sensação de encerramento de ciclo; se não da carreira, ao menos da atual turnê.
Visualmente, Hughes também parecia querer marcar uma nova fase. Com os cabelos agora na altura dos ombros — um visual que remete à era inicial do Black Country Communion —, e trajes mais sóbrios em preto e cinza, o cantor branco favorito de Stevie Wonder deixou de lado as estampas psicodélicas, as camisas tie-dye e os coletes Paisley extravagantes. No telão, o contraste: a imagem promocional da tour “Classic Deep Purple Live”, com um jovem Glenn cercado por tons vibrantes de roxo e amarelo.
Mas, nessa disputa simbólica entre o passado e o presente, foi a burocracia que venceu. O que se viu foi, possivelmente, a apresentação menos empolgante de Glenn Hughes no Brasil — ao menos entre as presenciadas por este repórter. Mesmo com a voz em forma impressionante, ela foi engolida por um som desregulado que prejudicou quase todas as atrações dos palcos principais na sexta-feira (leia mais nas resenhas de Kissin’ Dynamite, Dogma, Armored Saint, Pretty Maids e Doro), com guitarras e teclados em volume reduzido. Até o riff contagiante de “Might Just Take Your Life” chegou baixo demais, comprometendo a força do momento.
A performance não compromete a lenda, mas deixa a impressão de que talvez tenha chegado a hora, sim, de trocar o eterno retorno pelas memórias duradouras; novamente, se não da carreira, ao menos do atual repertório. E se algumas dessas músicas se despediram dos palcos paulistas (brasileiros?) naquela noite, ao menos o fizeram dignamente — como velhos heróis que sabem a hora de sair de cena.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Repertório — Glenn Hughes no Bangers Open Air 2025
- Stormbringer
- Might Just Take Your Life
- Sail Away
- You Fool No One / Solo de guitarra / Blues / High Ball Shooter / You Fool No One / Solo de bateria / You Fool No One
- Mistreated
- Gettin’ Tighter
- You Keep On Moving
- Burn
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.