Tocar logo após Kerry King ter transformado o Memorial da América Latina num pandemônio seria uma missão ingrata para qualquer artista. Mas a comunhão entre Blind Guardian e seus fãs é tamanha que, na pista em frente ao Hot Stage, as pessoas pareciam nem ter dado muita atenção à estreia nacional do projeto solo do guitarrista do Slayer.
Foi essa a aposta da organização do Bangers Open Air 2025 ao escalar a banda alemã de última hora com uma das substitutas de dois grupos de tendências mais modernas do metal (Knocked Loose e We Came as Romans). Segundo o vocalista Hansi Kürsch, o próprio Blind Guardian foi surpreendido com um retorno tão rápido ao mesmo palco onde se apresentou em 2023. O grupo ainda voltou no fim daquele mesmo ano para uma turnê solo no Brasil.
Em sua oitava visita ao país, o Blind Guardian não tinha nada de novo para ser divulgado, nem celebrou nada além do aniversário do guitarrista André Olbrich, ocorrido na véspera do show. O começo com “Imaginations from the Other Side”, faixa-título do disco de 1995, seguida por “Blood of the Elves”, música do álbum mais recente, “The God Machine” (2022), indicou que, em 2025, o público veria apenas uma “apresentação salsicha e batatas” dos germânicos.
Os mais fanáticos poderão alegar que “Mordred’s Song”, uma quase balada de “Imaginations from the Other Side”, é meio rara nas apresentações do Blind Guardian e só apareceu pelo aniversário do guitarrista. Também discutirão à exaustão se o grupo fez a opção correta para “levar o público a Tanelorn” quando tocou a música de “At the Edge of Time” (2010), e não repetiu a de “Somewhere Far Beyond” (1992), após ter executado o disco na íntegra dois anos.
Porque o universo dos fãs de Blind Guardian segue à parte do mundo real. Pouco interessou se Kürsch, apesar de ter berrado várias vezes com força assustadora, cantou a maior parte da apresentação em tom abaixo dos registros de estúdio. Afinal, estavam todos ocupados gritando em coro as letras inteiras de músicas como “Into the Storm” e “Time Stands Still (At the Iron Hill)”, de “Nightfall in Middle-Earth” (1998).
Enquanto o aniversariante Olbrich reproduzia nota por nota seus solos que correm desenfreados durante as músicas, mal deu para ouvir a guitarra de Marcus Siepen. Nada que abalasse a comoção causada por “Bright Eyes” e “And the Story Ends”, outras duas celebradas músicas de “Imaginations From the Other Side”.
Como parte tradicional dos shows do Blind Guardian, não faltou a cantoria praticamente à capella do público para a acústica “The Bard’s Song – In the Forest”, nem a frenesi desmedida para “Mirror Mirror”, normalmente a faixa de encerramento de suas apresentações.
A participação do grupo, no entanto, pareceu tão de última hora que a banda nem sabia exatamente quanto tempo tinha no palco do Hot Stage. Ou Kürsch apenas fingiu se surpreender com os minutinhos que lhe sobraram ao anunciar “Valhalla”, única faixa dos primórdios oitentistas do grupo, cuja velocidade e agressividade desencadearam até algumas desajeitadas rodas de pogo — mas, como sempre, terminou em cantoria.
Ao fim de uma hora e quinze minutos de apresentação, os músicos deixaram o palco do Hot Stage extasiados com mais uma demonstração do fanatismo dos brasileiros pela banda. E a organização do Bangers Open Air ciente de que, se precisar, é só chamar de novo os alemães que seu público vem em peso com eles.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Bangers Open Air 2025 — clique para conferir outras resenhas com fotos e vídeos.
Repertório — Blind Guardian no Bangers Open Air 2025
- Imaginations from the Other Side
- Blood of the Elves
- Mordred’s Song
- Violent Shadows
- Into the Storm
- Tanelorn (Into the Void)
- Bright Eyes
- Time Stands Still (At the Iron Hill)
- And the Story Ends
- The Bard’s Song – In the Forest
- Mirror Mirror
- Valhalla
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