Não é todo dia que se vê uma banda abrir mão de seus dois maiores hits num festival e não apenas sair praticamente ilesa, mas também celebrada. Foi isso o que o Queensrÿche fez em sua apresentação no Monsters of Rock 2025 ao deixar de lado “Silent Lucidity” e “Jet City Woman” do repertório.
Ausente do país desde o polêmico show em 2012 marcado pela tensão nos bastidores e em cima do palco entre seu ex-vocalista Geoff Tate e os demais músicos, o Queensrÿche tinha uma credibilidade a recuperar com a parcela metálica de sua fanbase. Principalmente após um vexatório show da versão mambembe do ex-vocalista na edição de 2013 do Monsters of Rock enquanto havia uma ferrenha disputa judicial pelos direitos de uso do nome da banda.
O primeiro sinal de como as coisas andariam na ainda quente tarde de sábado (19) no Allianz Parque veio quando o sistema de som passou a executar “The Mob Rules”, do Black Sabbath. The Mob, inspirado na música, foi o nome do grupo de Seattle incluindo os remanescentes Michael Wilton e Eddie Jackson, guitarra e baixo, respectivamente, antes de se unirem a Tate e virarem Queensrÿche.
O sinal definitivo veio na abertura do show com “Queen of the Reich”, faixa do EP homônimo de 1983. Era o melhor jeito possível para apresentar o vocalista Todd La Torre, capaz de reproduzir as notas altíssimas do icônico antecessor com precisão assustadora.
A estreia de La Torre no Brasil aconteceu, coincidentemente, no mesmo estádio onde o Queensrÿche tocou pela primeira vez em São Paulo, no longínquo ano de 1997, uma das últimas apresentações feitas pelo quinteto original clássico da banda. Mike Stone, em suas idas e vindas no grupo, chegou a tocar guitarra no país na turnê de 2008, enquanto o baterista Casey Grillo já veio aqui com o Kamelot, mas também foi um debutante na banda em se tratando deste solo tupiniquim.
Apesar de não comprometer, Grillo, com seus cabelos esvoaçantes, ficou aquém do esperado ao executar as partes de Scott Rockenfield. La Torre, porém, mostrou no palco toda a confiança de quem já está no posto há mais de uma década, ainda que nenhuma faixa dos quatro discos que já registrou com a banda tenha sido executada.
O vocalista não teve receio de chamar com sucesso o público para cantar junto enquanto guardava o fôlego para as partes mais exigentes num repertório de clássicos e obscuridades da fase inicial da carreira do Queensrÿche que dava pouca margem para descanso.
Exceto por “The Mission”, uma das cinco músicas de “Operation: Mindcrime” (1988) executadas na tarde paulistana, o Queensrÿche enfiou o pé no acelerador e fez um show de heavy metal daqueles para marcar história. “Nightrider”, outra do EP de estreia, teve aparição surpreendente assim como “The Needle Lies”, mais uma do clássico disco conceitual de 1988.
Após a épica “Take Hold of the Flame”, clássico de “The Warning” (1984), disco de estreia do grupo também representado pela pesada faixa-título no Allianz Parque, pareceu que o desfecho do show do Queensrÿche se encaminhava para os inevitáveis hits. “Empire”, música mais pesada que dá nome ao disco de maior sucesso comercial da banda, foi executada e La Torre aproveitou para introduzir os companheiros em vez de ser reproduzida pré-gravada a parte narrada em estúdio por seu antecessor antes do solo.
Quando o sistema de som passou a executar a introdução de “Screaming in Digital”, música das mais tortas do disco “Rage for Order” (1986), um dos pais do que posteriormente se convencionou chamar de prog metal, a surpresa foi geral. Inevitável, mesmo, só a icônica “Eyes of a Stranger” encerrando a hora do Queensrÿche no palco, um sorriso de orelha a orelha dos fãs de longa data do grupo e uma cara de interrogação no resto do público que começava a encher a pista do Allianz Parque.
Queensrÿche — ao vivo no Monsters of Rock 2025
- Local: Allianz Parque
- Data: 19 de abril de 2025
- Produção: Mercury Concerts
Repertório:
- Queen of the Reich
- Operation: Mindcrime
- Walk in the Shadows
- I Don’t Believe in Love
- Warning
- The Needle Lies
- The Mission
- Nightrider
- Take Hold of the Flame
- Empire
- Screaming in Digital
- Eyes of a Stranger
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