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Em dia de “malhar o Judas”, Judas Priest incendeia o Monsters of Rock

Realezas do heavy metal ofereceram show pesado com performance irretocável, excelente ritmo de repertório e carisma de sobra

“Rapid Fire”, terceira música tocada pelo Judas Priest no Monsters of Rock 2025, sintetiza bem a pegada do grupo na noite do último sábado (19). Eles estavam pegando fogo — e com pressa para incendiar, também, o público. Cerca de 20 minutos antes do horário marcado, a iluminação do Allianz Parque baixou e a já clássica introdução com “War Pigs”, música imortal do Black Sabbath, começou a tocar — acompanhada pelo estádio a plenos pulmões.

Foi a senha para que uma breve intro própria surgisse antes da cortina levantar e revelar Rob Halford (voz), Richie Faulkner (guitarra), Andy Sneap (guitarra), Ian Hill (baixo) e Scott Travis (bateria), que começaram a aula de heavy metal com “Panic Attack”, faixa poderosa de “Invincible Shield” (2024), disco mais recente.

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Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Apesar da boa recepção à “nova” música enquanto todos ainda apreciavam o elaborado visual de palco — com direito a um tridente gigante no topo —, a sequência resume com perfeição a expressão “aula” utilizada no parágrafo anterior. A farrista “You’ve Got Another Thing Comin’”, a já mencionada pancada “Rapid Fire” e o hino “Breaking the Law” vieram emendadas uma na outra, sem chance de respiro, logo depois de uma breve fala de Halford, avisando os presentes que “o Priest estava de volta”.

Estava, mesmo. E não aliviou depois do início matador. “Riding on the Wind” mostrou que o apelido “Metal God” atribuído a Halford não é mera formalidade: o vocalista atingiu agudos impressionantes para seus 73 anos. As divertidas “Love Bites” e “Devil’s Child” concluíram uma segunda trinca sem defeitos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

É claro que teve mais “Invincible Shield”: “Crown of Horns” deu sequência aos trabalhos antes de “Sinner”, do álbum “Sin After Sin” (1977), acenar para os fãs mais antigos. Neste miolo também era para ter rolado “Saints in Hell”, mas esta, executada em Brasília três dias antes, acabou cortada. E foi aqui também que uma chuva chata começou a cair — até fraca, perto do que algumas regiões de São Paulo tiveram no mesmo dia.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

São Pedro tentou. São Halford nem quis saber. O Priest seguiu com seu desfile de clássicos e o vocalista, em especial, parecia animado. Interagiu bastante com o público e topou se molhar na “passarela” que se estendia em frente ao palco do festival. Tal qual Mestre Kame, personagem do anime “Dragon Ball” de estética similar, o cantor passa longe de ser apenas um senhor de barba branca. De modo inteligente e dedicado, manteve sua performance em alto nível inclusive ao encontrar formas de driblar as limitações impostas pelo avanço dos anos.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Não só o frontman se destacou, claro. Scott Travis chama atenção pela pegada forte somada a uma incomum simpatia entre bateristas, normalmente bem concentrados. Sempre cantando e sorrindo por trás do kit, o músico ainda interagiu com a plateia perguntando o que gostariam de ouvir, logo antes de emendar um dos “salmos” do metal: a introdução de “Painkiller”.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

A dupla de guitarras, por sua vez, é muito competente. O produtor Andy Sneap conhece o som do Priest e faz tudo certo, enquanto Richie Faulkner impressiona por sentir-se tão à vontade mesmo em uma posição incômoda ocupada há “apenas” 14 anos: substituir K.K. Downing após este ter dito que se aposentaria — e desistido disso. Faulkner, diga-se, parece estar ali há muito mais tempo.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Recentemente, o guitarrista de 45 anos revelou ter sofrido não só uma parada cardíaca, mas uma sequência de AVCs que afetaram o lado direito de seu corpo. Afirmou, inclusive, que está com dificuldades para executar algumas partes rítmicas. Isso, porém, é absolutamente imperceptível. Richie é a segunda grande presença no palco, atrás apenas de Rob, e tocou com a qualidade e o carisma de sempre. Se o objetivo é ir para a “Valhalla” que está escrita na parte de baixo de sua guitarra, está no caminho.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Como não poderia deixar de ser, o Priest também presta sua homenagem a Glenn Tipton, guitarrista que está afastado dos palcos — daí a presença de Sneap — devido à doença de Parkinson, mas que participa dos demias processos. O músico apareceu no telão durante “Victim of Changes” e arrancou aplausos do Allianz Parque.

Se houve um ponto baixo na apresentação, foi a já mencionada retirada de uma música, “Saints of Hell”, em relação ao set apresentado no Arena of Rock, em Brasília. Todavia, é altamente improvável que uma grande parcela dos fãs tenha sentido falta. Em um Sábado de Aleluia, dia de “malhar o Judas” — ou molhar, no caso, pela chuva —, é necessário passar esse pano.

Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

Judas Priest — ao vivo no Monsters of Rock 2025

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 19 de abril de 2025
  • Turnê: Invincible Shield
  • Produção: Mercury Concerts

Repertório:

  1. Panic Attack
  2. You’ve Got Another Thing Comin’
  3. Rapid Fire
  4. Breaking the Law
  5. Riding on the Wind
  6. Love Bites
  7. Devil’s Child
  8. Crown of Horns
  9. Sinner
  10. Turbo Lover
  11. Invincible Shield
  12. Victim of Changes
  13. The Green Manalishi (With the Two Prong Crown) (cover do Fleetwood Mac)
  14. Painkiller
  15. The Hellion/Electric Eye
  16. Hell Bent for Leather
  17. Living After Midnight
Foto: Gustavo Diakov / @xchicanox

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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