Roger Daltrey está perdendo a visão. O vocalista compartilhou a informação durante o primeiro show do The Who do ano, no evento beneficente Teenage Cancer Trust, na última quinta-feira (27). A ocasião se deu no Royal Albert Hall, em Londres, na Inglaterra — e o grupo sobe ao palco novamente no domingo (30).
Conforme relato do NME, Daltrey relembrou, inicialmente, sua perda auditiva em grau avançado — algo abordado por ele há mais de uma década. Em seguida, o artista de 81 anos contou brevemente sobre o problema de visão.
Ele disse:
“O problema com esse trabalho é que você fica surdo. E agora me disseram que estou ficando cego.”
Com bom humor, Roger ainda fez uma referência ao personagem principal de “Tommy”, clássico álbum conceitual de 1969. Ele arrematou:
“Graças a Deus ainda tenho minha voz. Se eu a perder, vou virar um Tommy completo.”
Apesar das duas condições, Daltrey segue nos palcos. Embora The Who tenha realizado apenas duas apresentações em 2024, o cantor fez uma série de 13 shows nos Estados Unidos no mesmo período.
As performances no Teenage Cancer Trust, em suporte à ONG homônima que auxilia crianças com tumores, são, no momento, a única coisa capaz de reunir Roger e o guitarrista Pete Townshend. O vocalista contribui com a instituição desde 2000, mas deixou o cargo de curador, agora assumido por Robert Smith (The Cure).
The Who pode não voltar em definitivo
Depois que The Who encerrou a turnê “Hits Back!” em agosto de 2023 , os músicos praticamente não fizeram nenhuma outra apresentação — exceto por performances no evento beneficente Teenage Cancer Trust. Pelo contrário: ambos os integrantes fixos deixaram claro que a série de shows pode ter marcado um fim definitivo.
Ainda assim, Pete Townshend afirmou que pretendia discutir com o colega Roger Daltrey os próximos planos. Só há um problema: agora, segundo o próprio guitarrista, os dois nem ao menos conversam mais.
Em entrevista ao The Daily Beast, o músico de 79 anos levantou a possibilidade do The Who não voltar. Durante o bate-papo, explicou primeiramente que, para que o grupo retomasse as atividades, seria necessário que ambos os integrantes chegassem num consenso de interesses. Talvez até mesmo deixar de lado a orquestra, presente nas apresentações mais recentes.
Ele declarou:
“Não sei o que vai acontecer com o The Who. Espero que Roger [Daltrey] e eu possamos encontrar interesses em comum e uma maneira de trabalhar novamente, possivelmente sem uma orquestra. Mas também, existe essa sensação de que estamos na última fase de turnês da nossa carreira. Estamos apenas querendo fazer o que Bob Dylan faz e continuar?”
Apesar de admirar a série de shows solo do vocalista de 81 anos, que excursiona pela América do Norte desde junho, Pete sequer fala com o colega. Isso torna mais difícil qualquer atitude relacionada ao The Who, como pontuou:
“Estou encorajado ao ver o que Roger está fazendo em sua turnê solo. Sinto que se juntássemos uma pequena banda e simplesmente decidíssemos jogar m#rda na parede, poderia ser ótimo. Mas Roger e eu não conversamos. Não conversamos. Então, pode ser difícil encontrar algo em que ambos estejam interessados em fazer. Mas nada nos impede, eu acho.”
Por isso, o guitarrista não quer dar o primeiro passo ou forçar uma aproximação. Ao mesmo tempo, ele não descarta totalmente a possibilidade dos dois resolverem a questão, mas reconhece que há um longo caminho pela frente até isso acontecer:
“Não vou tentar intimidar Roger para fazer alguma coisa. Não quero ter o trabalho que eu tinha na época do álbum ‘Quadrophenia’ [1973], que foi intimidar todo mundo no The Who para fazer exatamente o que eu queria. Funcionou, mas não foi divertido. E no final disso, Roger me socou. Eu pedi, mas ele me socou. De qualquer forma, estou esperançoso. Certamente não estou dizendo que não faremos nada, mas Roger e eu temos um rio para atravessar. E quando atravessarmos esse rio, veremos o que acontece.”
O futuro do The Who
Roger Daltrey, por sua vez, não imagina que o The Who volte a ter atividades. Ele disse ao jornal britânico The Times, em janeiro de 2024:
“Não posso dar uma resposta definitiva. Eu não escrevo as músicas. Nunca escrevi. Precisamos sentar e ter uma reunião. Porém, no momento, estou feliz em dizer que essa parte da minha vida está encerrada.”
A declaração ecoa a do colega de jornada, dita no final do ano retrasado. Durante conversa com a revista Record Collector (via Blabbermouth), Pete Townshend foi franco ao revelar que pretendia se reunir com Daltrey para definir o que fazer no futuro:
“Acho que é hora de Roger e eu almoçarmos e conversarmos sobre o que acontecerá a seguir. Porque Sandringham (condado inglês onde o último concerto aconteceu) não deveria parecer o fim de nada, mas parece o fim de uma era.”
Caso a situação se confirme, o The Who sai de cena com seis décadas de carreira e mais de 100 milhões de discos vendidos em todo o planeta.
Sobre Roger Daltrey
Nascido em 1º de março de 1944, Roger Daltrey foi criado em uma região perigosa da capital inglesa. Era conhecido na juventude por resolver tudo no soco.
Chegou a ser retirado por uma semana do The Who, nos anos 1960, por ter agredido o baterista Keith Moon. Com o tempo, aprendeu a controlar seus instintos. O título de sua autobiografia é uma referência à sua expulsão da escola pelo diretor: “Thanks a lot, Mr. Kibblewhite” (“Valeu, Sr. Kibblewhite”).
De acordo com o guitarrista Pete Townshend, Daltrey controlava as decisões na banda com mão de ferro nos primeiros anos — tendo decidido até mesmo pelo nome The Who, sugerido por outro integrante. Apesar disso, Townshend era quem compunha a grande maioria das músicas e dava o direcionamento criativo.
Com o sucesso, Roger lançou-se também em carreira solo e passou a atuar em filmes e séries de TV, além de assinar como produtor. Algumas das obras em que apareceu como ator ao longo das décadas incluem a adaptação de “Tommy”, do The Who; “Highlander” (série); “Os Simpsons”; “That 70’s Show” e “CSI”.
Com a morte de Keith Moon, em 1978, o The Who entrou em declínio e encerrou as atividades em 1983, com retornos esporádicos para ocasiões especiais nos anos seguintes. Daltrey, Townshend e John Entwistle reativaram o grupo junto a músicos convidados em 1996 e permaneceram dessa forma mesmo após a morte do baixista, em 2002.
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