Bruce Willis se notabilizou pelos filmes de ação nas décadas de 1980 e 1990, em especial. Mas por volta de 1987, também era possível associá-lo à música e a Bruno Radolini, seu alterego que chegou a gravar um álbum de R&B lançado pela Motown, “The Return of Bruno”, e um documentário falso de mesmo título sobre sua suposta “influência” na cena musical da época.
O americano já havia demonstrado alguma habilidade vocal anos antes, quando estrelou a série “Moonlighting” (“A Gata e o Rato”, no Brasil) e apareceu na trilha sonora. Sob orientação do produtor Robert Kraft, porém, as coisas tomaram proporções maiores, inclusive por envolver a gravadora Motown, já longe de seus dias de glória nos anos 1970.
O time de músicos que participam do disco faria inveja a muita gente… se tivesse sido reunido cerca de 10 anos antes. Muita gente toca em todas as faixas, mas merecem destaques nomes como Booker T. Jones, The Pointer Sisters e The Temptations.
O setlist é formado basicamente por covers de R&B e sucessos da Motown, incluindo faixas de Ry Cooder, The Staple Singers e Joe Cocker. Willis e Kraft assinam a composição de apenas uma das canções, “Jackpot (Bruno’s Bop)”.
Mas além de todo o aparato sonoro, Willis precisava de mais. Afinal, quem era o tal Bruno que estava retornando?
“The Return of Bruno”, o documentário
Praticamente junto com o álbum, que saiu em janeiro de 1987, foi lançado um documentário falso (gênero chamado de “mockumentary”), sobre o tal Bruno Radolini, personagem interpretado por Bruce Willis nas gravações. Como citado, tanto o disco quanto o filme receberam o título de “The Return of Bruno”. O longa-metragem foi ao ar como um especial da emissora HBO.
Apesar de ser basicamente uma brincadeira, nos moldes do clássico “This is Spinal Tap” (1984), o documentário também tem ares de superprodução. Isso porque gente como Elton John, Jon Bon Jovi, Phil Collins, Ringo Starr, Brian Wilson, Grace Slick, Joan Baez, Graham Nash, Stephen Stills, Paul Stanley e outros decidiram participar da zoeira e gravaram entrevistas falando sobre como o famosíssimo Bruno Radolini os inspirou enquanto artistas.
O especial foi bem recebido e chegou a ser indicado a algumas premiações de TV em 1987. Com o tempo, tornou-se uma curiosidade na carreira de um ator tão lembrado por filmes de ação, mas que nunca abandonou totalmente o bom humor de seus primeiros trabalhos na TV e no cinema.
Bruno nunca retornou
O documentário certamente recebeu maior aprovação do que o disco, que dividiu opiniões. A performance de Bruce Willis como Bruno Radolini não é comprometedora em relação aos vocais, mas o álbum certamente não soa “antigo”, como era a intenção, já que o tal músico teria influenciado tanta gente. Obteve sucesso nas rádios com seu principal single, “Respect Yourself”, canção gravada originalmente pelo The Staple Singers.
“Young Blood”, “Under the Boardwalk”, “Secret Agent Man” e “Comin’ Right Up” também saíram no formato, mas passaram longe da popularidade da primeira, que atingiu o 5º lugar na Hot 100 da Billboard e 7º no Reino Unido. “The Return of Bruno”, o álbum, chegou à 14ª posição nas paradas americanas e se saiu ainda melhor nas britânicas, onde alcançou a 4ª colocação.
Willis, agora assinando com seu nome verdadeiro, ainda lançou um segundo álbum pela Motown em 1989. “If It Don’t Kill You, It Just Makes You Stronger” passou longe do sucesso da obra de Bruno Radolini, agora que Bruce já era mais lembrado pelo primeiro filme da saga “Duro de Matar” (1988).
Curiosamente, o segundo disco parece ter sido mais sólido do que o primeiro musicalmente. O Diffuser.fm avalia:
“[…] ‘If It Don’t Kill You, It Just Makes You Stronger’ era tudo o que seu antecessor deveria ter sido. Trabalhando com um conjunto mais forte de vocalistas e um pequeno e único grupo comandado pelo guitarrista Robben Ford, Willis retornou aos clássicos do blues e do R&B que ele amava, com resultados bem mais satisfatórios.”
Em 2012, o site The Scotsman questionou o ator sobre um novo “retorno de Bruno”, devidamente rechaçado. Willis confessou o que não havia ficado claro na época: nunca se viu como um cantor de fato.
“Não, acabou, me aposentei. Eu nunca realmente me chamei de cantor. O mais próximo que cheguei foi que eu costumava gritar no tom.”
As chances de qualquer retorno de Bruno Radolini acabaram nos últimos anos. Willis fez seus últimos filmes em grande quantidade e também dificuldade, não conseguindo ler os textos e muitas vezes não os compreendendo.
Em 2022, sua família revelou o diagnóstico de afasia, condição cerebral que afeta a fala e a expressão. No ano seguinte, foi divulgado que Bruce sofre de demência frontotemporal e vem piorando ao longo do tempo, o que lhe rendeu uma aposentadoria compulsória de qualquer atividade.
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.