The Cult trabalhou com o produtor Rick Rubin entre o fim da década de 1980 e o início da década de 1990. Conhecido pelo comportamento um tanto quanto peculiar em estúdio e métodos não tão ortodoxos, o profissional colaborou com a banda no álbum “Electric” (1987) e no single “The Witch”, lançado em 1992.
Para Billy Duffy, a experiência não foi necessariamente a mais agradável. O guitarrista relembrou o período durante entrevista ao podcast Rockonteurs, transcrita pela MusicRadar.
De acordo com o músico, a ideia inicialmente era que Rubin apenas realizasse a mixagem do “Electric”. Isso porque o grupo havia ficado insatisfeito com o resultado das sessões iniciais e procurava uma nova abordagem para o projeto. Por isso, os integrantes decidiram entrar em contato com o produtor, como relatado:
“Resumindo, já tínhamos ouvido falar de Rick Rubin. Um amigo no Canadá nos contou sobre ele. Conhecemos Rick em Nova York e o combinado era que ele apenas faria a mixagem. Ele disse: ‘vou remixar todo o álbum de vocês, mas vocês precisam me deixar gravar uma música do zero’. Esse era o acordo. Então concordamos.”
Claro que, no fim das contas, Rubin envolveu-se em todos os âmbitos do material e o regravou por completo. Porém, na opinião de Duffy, ficou claro que o profissional de estúdio não era uma pessoa musical — ou seja, provavelmente não conseguia interpretar e diferenciar aspectos mais técnicos, algo que o próprio já até admitiu.
O guitarrista opinou:
“Ele contratou Andy Wallace como engenheiro de som. Ele não é bobo. E George Drakoulias estava sempre presente. Rick e George eram como uma dupla. Eu até diria que Rick era o elemento principal, mas os dois eram parceiros de fato porque George era mais musical. Rick não é musical… de jeito nenhum.”
Billy Duffy obrigado a mudar equipamento
Outra questão envolveu a mudança de guitarra para o músico. A pedido de Rick Rubin, Billy Duffy precisou trocar todo o seu equipamento e deixar de usar pedais de efeito, o que foi descrito como “radical” e “traumático”:
“Eu tocava com uma guitarra Gretsch, usando um amplificador Roland, com efeitos chorus e de eco. Aí ele simplesmente disse: ‘bom, isso aqui é um amplificador Marshall, isso aqui é uma guitarra Les Paul, usa aí e manda ver’. Foi uma mudança radical para mim, tenho que admitir – e bem traumática.”
Previsto nas entrelinhas
Durante entrevista de 2019 resgatada pela Far Out Magazine, Duffy mencionou como estava previsto nas entrelinhas que Rubin alteraria todo “Electric”. Em suas palavras, a maneira com que a banda gravou o disco originalmente e o jeito que o produtor trabalha “são completamente diferentes”:
“Tivemos nosso primeiro contato com Rick Rubin ouvindo uma música que ele fez com os Beastie Boys, que basicamente misturava batidas com riffs de AC/DC. Era algo novo e empolgante para nós. Então, entramos em contato com Rick […]. Dissemos à gravadora e aos nossos empresários que iríamos regravar apenas uma música. Eles aceitaram porque essa era a regra do Rick: ele só faria a mixagem do álbum se pudesse gravar uma música do zero. E essa música seria ‘Love Removal Machine’. Depois, ele remixaria o álbum. Mas, olhando para trás, isso nunca iria acontecer, porque a forma como gravamos aquele álbum e o jeito que Rick Rubin trabalha são completamente diferentes.”
Rick Rubin e “Electric”
Rick Rubin usou clássicos do hard rock, como AC/DC, na hora de moldar o som do “Electric” – o que trouxe uma mudança significativa em relação ao antecessor “Love” (1985). Embora tenha relatado certos problemas durante o processo, Billy Duffy é grato pela “simplicidade” do produtor, como disse à Pittsburgh Music Magazine em 2018 (via Blabbermouth):
“Acho que nossa carreira teria sido muito diferente se não tivéssemos refeito o álbum com Rick Rubin da maneira que fizemos […]. Foi preciso algo radical, como gravarmos e mixarmos o álbum inteiro para depois jogá-lo no lixo, para que então Rick Rubin entrasse com seu jeito característico de trabalhar […]. Ele basicamente faz o mesmo disco sempre. Essas são as regras do rock e elas nunca mudam. São os pilares do rock. Nós não conseguiríamos fazer isso sozinhos. Eu, pessoalmente, nunca teria chegado a essa simplicidade na música, porque não a escuto assim quando a componho. Para mim, a música aparece mais em camadas – não de uma maneira complexa, mas mais textural, mais melodicamente elaborada. Já Rick estava no extremo oposto. Ele sabia que tínhamos boas músicas, só achava que havia informação demais nelas.”
Sobre o produtor
Rick Rubin colaborou com grandes nomes como Red Hot Chili Peppers, Metallica, System of a Down, Slayer, Aerosmith, Beastie Boys, Johnny Cash e Linkin Park. Apesar do currículo bem-sucedido, ele já gerou controvérsias no meio artístico.
O baixista Geezer Butler, por exemplo, acredita que suas contribuições não foram das melhores no álbum final do Black Sabbath, “13” (2013). Ao mesmo tempo, o vocalista Corey Taylor também deixou claro seu descontentamento com o profissional no terceiro disco do Slipknot, “Vol. 3: (The Subliminal Verses)” (2004).
Josh Klinghoffer, ex-guitarrista do Red Hot Chili Peppers, foi outro que não gostou de trabalhar com Rubin, como pontuou em entrevista ao Vinyl Writer Music. Quando questionado sobre “I’m With You” (2011), seu álbum de estreia na banda, disse:
“No caso de ‘I’m With You’, eu sinto que Rick Rubin foi mais um obstáculo do que uma ajuda. Ele me disse uma vez: ‘eu só quero ajudar as músicas a serem as melhores que podem ser’. Eu deveria ter dito: ‘bem, então peça ao seu motorista para vir te buscar’.”
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