Apesar do Rock in Rio geralmente apostar na repetição de atrações consolidadas para o lineup, o festival correu riscos ao longo de seus 40 anos de história. No passado, a organização incluiu certos artistas na programação mesmo ciente de que as escolhas poderiam não gerar grande repercussão ou impulsionar a venda de ingressos.
Especificamente em relação ao rock, Roberto Medina conseguiu lembrar de dois casos: Neil Young, no Rock in Rio 2001, e The Who, no Rock in Rio 2017. O idealizador do festival escalou ambos os nomes pela importância na história da música, mas já sabia que o resultado não seria comercialmente empolgante.
Ao abordar o sucesso do “Dia do Trap” na edição do ano passado em entrevista ao g1, o empresário destacou:
“Existem também escolhas como a do Neil Young, que não faz sentido para vender ingresso, mas é um nome importante da história do rock. Isso também aconteceu com o Who, que tivemos a oportunidade de trazer. Era uma banda cara e eu sabia que, sinceramente, não fazia sentido… Mas meu pensamento não é extrativista, mesmo o Rock in Rio sendo um negócio.”
À Veja em 2017, Medina revelou que sempre teve vontade de trazer o The Who ao festival. Porém, justamente por saber que a banda britânica não seria capaz de atrair as 100 mil pessoas esperadas, optou por também chamar o Guns N’ Roses para a mesma data:
“Desde o primeiro Rock in Rio que eu queria trazer a banda inglesa The Who, que adoro. Só este ano pude fazer a minha vontade. Como eles não atraem 100 000 pessoas — no máximo, metade disso —, chamei o Guns N’ Roses para dar uma compensada. Sei que vou perder dinheiro com dois cachês altos na mesma data. Mas é bom para mim, é bom para o monte de fãs do The Who e é bom também para a marca do festival, claro.”
A falta de rock no Rock in Rio
No último Rock in Rio, ficou evidente a redução de artistas de rock e metal no lineup. Embora o festival tenha iniciado em 1985 com foco no gênero, a edição mais recente, realizada em setembro de 2024, contou com apenas um dia dedicado à música pesada.
Avenged Sevenfold, Evanescence, Deep Purple, Journey e Incubus compuseram as atrações internacionais da data. Planet Hemp (com participação de Pitty), Barão Vermelho, Dead Fish, Crypta, Black Pantera, entre outros, também tocaram na ocasião.
Segundo Roberto Medina, há um motivo para a diminuição. O assunto também surgiu durante entrevista ao g1.
Conforme o empresário, as grandes bandas de rock e metal atualmente possuem “agendas complexas”, que dificultam as negociações. Além disso, ao seu ver, são poucos os nomes capazes de ocupar o posto de headliner do festival e atender à demanda necessária — visto que a média de público por dia é de 100 mil pessoas.
O profissional explicou:
“As grandes bandas de metal e rock pesado, como Metallica, têm agendas muito complexas. Sempre que houver oportunidade, traremos essas bandas. O Rock in Rio tem a vantagem de reunir a maior plateia do mundo, mas também é difícil encontrar bandas que possam atender a essa demanda. No topo da pirâmide, há poucas bandas que podem atrair 100 mil pessoas. São no máximo 30 bandas que podem ter uma performance deste tipo de dimensão.”
Ainda assim, Medina acredita que o próprio festival consegue por si só a fidelização do público. Tamanha é a consolidação da marca que o lineup não é necessariamente o maior atrativo e, sim, a experiência, nas palavras do presidente:
“A grande vantagem do Rock in Rio é que ele é o próprio headliner. As pessoas vão ao festival para viver a experiência, não apenas para ver uma atração específica. Temos pesquisas que mostram isso: 50% vai para ver algum artista e 50% vão pelo festival. É emocionante ver pessoas com a marca do Rock in Rio tatuada. Isso não tem a ver com a banda A ou B, mas com a experiência vivida lá.”
Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Bluesky | Twitter | TikTok | Facebook | YouTube | Threads.
Outra banda excelente, mas sem apelo comercial, que tocou no R.I.R foi a King Crimson. Foi uma jogada bem ousada.