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Bring Me the Horizon leva produção monumental e deixa público ensandecido em SP

Fãs da banda inglesa praticamente lotaram Allianz Parque em data onde o Spiritbox se destacou entre as três bandas de abertura

Havia até quem duvidasse que o Bring Me the Horizon fosse capaz de, sozinho, ser uma atração de estádio no Brasil. Nem dez anos atrás, o grupo inglês de Sheffield se apresentava em duas datas no Carioca Club, casa com capacidade para cerca de mil pessoas, em São Paulo. A ascensão veio com participações no Lollapalooza de 2019 e no Knotfest de 2022. Mas, no sábado (30/11), o Allianz Parque estava praticamente lotado para ver um show daqueles que prometiam marcar a carreira de uma banda.

O grupo liderado pelo vocalista Oli Sykes pode até ter sido a atração principal do Download Festival em 2023, na mesma lama sagrada do saudoso Monsters of Rock em Donington. Todavia, precaução nunca é demais. Para dar o passo final e se tornar uma atração de grande porte no Brasil, a promotora do show, 30e, preferiu tornar a tarde de sábado um micro-festival. O padrão era muito próximo ao das atrações que tocaram no segundo dia do Knotfest 2024.

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Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Não à toa, enquanto o domingo do festival do Slipknot precisou fechar sua cadeira superior e tinha sua pista com bem menos gente em relação ao dia anterior, o mesmo estádio estava bem cheio — ainda que o setor premium nem de longe estivesse esturricado — para este sábado de temperatura amena, com raros momentos de garoa na capital paulista. As três atrações de abertura do Bring Me the Horizon estiveram bem acima em relação às que deram suporte ao niilista grupo americano.

The Plot in You agrada público que ainda se aquecia

A começar por The Plot in You, cujo tema de introdução, o clássico “Country Roads”, de John Denver, começou a ser executado um minuto antes do horário previsto, num palco totalmente coberto e sem qualquer adorno identificando a banda.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Com 50 minutos, a estreia no Brasil do grupo americano capitaneado pelo vocalista Landon Tewers abusou do timbre grave e pesado no som dos bumbos, mas demorou um pouco para engrenar com o público de boa quantidade que já estava no Allianz Parque.

“Don’t Look Away”, faixa de “Vol. 2”, segundo EP lançado pelo grupo neste ano, até promoveu tímidas rodas. Entretanto, o show do quarteto de Ohio só engrenou mesmo a partir de “THE ONE YOU LOVED”, música do disco “Disposed” (2018).

Tewers, comunicativo, pediu para as pessoas surfarem sobre o público, o que não rolou em grande quantidade por não ser um hábito muito difundido em estádios brasileiros. Ainda assim, até “Spare Me”, canção de “Vol. 3”, terceiro e mais recente EP do grupo de 2024, a empolgação só cresceu.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

A reta final do show não manteve o mesmo pique, apesar de “All That I Can Give” e “DISPOSABLE FIX” trazerem uma certa comoção nas cantorias — a última teve até um curto solo do guitarrista Josh Lewis Childress. “FEEL NOTHING” encerrou o set deixando uma boa impressão.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Repertório — The Plot in You

Introdução: Country Roads (música de John Denver)
1. Don’t Look Away
2. Divide
3. Pretend
4. Paradigm
5. THE ONE YOU LOVED
6. Face Me
7. Been Here Before
8. Forgotten
9. Spare Me
10. All That I Can Give
11. Left Behind
12. DISPOSABLE FIX
13. FEEL NOTHING

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Spiritbox reforça o hype com estreia de gala no Brasil

(Por Igor Miranda — leia texto completo clicando aqui)

O Spiritbox parecia nem conseguir conter a felicidade de estrear no Brasil, em um estádio já mais cheio, com repertório de uma hora. A banda composta por Courtney LaPlante (voz), Mike Stringer (guitarra), Josh Gilbert (baixo) e Zev Rosenberg (bateria) foi formada em 2016, mas mesmo colecionando números impressionantes nas plataformas digitais, só começou a realizar turnês no pós-pandemia — e normalmente com sets de 30 minutos, abrindo para nomes maiores.

Entre o público, não era incomum ouvir relatos de pessoas que diziam estar no minifestival somente por causa do Spiritbox. Quem topou chegar mais cedo, sendo ou não devoto de LaPlante e companhia, não se arrependeu e pôde assistir a um grupo que cada vez mais se consolida como referência no segmento do metal contemporâneo com seu som difícil de rotular: é metalcore, mas também tem djent, post-metal, groove, elementos prog e pitadas pop bem dosadas.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Pontualmente às 17h50, Mike Stringer, Josh Gilbert e Zev Rosenberg subiram ao palco e assumiram seus postos para dar início com “Cellar Door”. A talentosa e desenvolta Courtney LaPlante surgiu depois e foi recebida aos gritos por parte da plateia. Uma das músicas mais pesadas do Spiritbox ofereceria, também, um dos momentos mais pesados do dia, dedicado a formatos distintos de metalcore.

Se “Cellar Door” é toda na base do gutural/screamo, “Jaded”, na sequência, mescla esse tipo de interpretação com o timbre limpo — e lindo — de LaPlante. São a performance dela e o trabalho rítmico envolvendo execução entrançada de todos os três instrumentos (a ponto de Stringer abdicar dos solos para não deixar de dar liga e peso) os responsáveis por darem dinamismo a um repertório que, por recorrer a afinações mais graves, poderia soar repetitivo se não fosse conduzido com maestria.

Após breve cumprimento, “Angel Eyes” e “Soft Spine” voltam a colocar o lado mais intenso da voz da frontwoman sob os holofotes, cada uma a seu modo: a primeira permitindo-se experimentar em variações rítmicas, a segunda (durante a qual um fã acendeu um sinalizador na pista premium) em um groove à la nu metal. “The Void”, por sua vez, explora uma interpretação clean por completo e melodias quase pop, mas de um jeito tão natural que até espanta. A partir desta, reações enérgicas começam a ser cada vez mais comuns na plateia.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Após a estreia ao vivo do single recém-lançado “Perfect Soul” e de “Hurt You” ficar marcada por presentes atirados a LaPlante antes e depois da canção, “Yellowjacket”, gravada originalmente com a participação de Sam Carter (Architects), trouxe boa dinâmica vocal entre Courtney e Josh Gilbert, a cargo dos vocais limpos. “Blessed Be”, normalmente cortada quando os sets são mais curtos, pôde ser executada para deleite dos presentes — rendendo um momento onde lanternas de celular foram erguidas espontaneamente para o alto.

O público estava nas mãos da banda no momento do arremate, com quatro músicas, quase todas conectadas por pequenas trechos instrumentais pré-gravados, como em um álbum conceitual. A agitada “Rotoscope” tem ritmo quase sexy — apesar do breakdown em seu miolo — e chegou a ser acompanhada por palminhas no início. Poderiam ter encerrado com o forte refrão de “Circle with Me”, de longe a faixa mais ouvida do grupo no Spotify, e trechos diversos de “Holy Roller”, primeiro single deles a realmente repercutir online, mas “Hysteria” serviu como a cereja do bolo. Refrão e pré são tão cativantes que beiram o pop, mas, novamente, de um jeito próprio.

Enquanto segue sendo tratado como promessa, o Spiritbox tem mostrado, de formas diferentes, que é uma realidade incontestável no metal contemporâneo. Tanto em estúdio, com álbuns bem gravados refletindo um estilo bem particular, quanto ao vivo, traduzindo sem lacunas o que se ouve nesses discos. O hype por um retorno para show solo é real.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Repertório — Spiritbox:

1. Cellar Door
2. Jaded
3. Angel Eyes
4. Soft Spine
5. The Void
6. Perfect Soul (estreia ao vivo)
7. Hurt You
8. Yellowjacket
9. Blessed Be
10. Rotoscope
11. Circle With Me
12. Holy Roller
13. Hysteria

Motionless in White recupera tempo perdido

O Motionless in White foi a primeira banda a ter seu pano de fundo exibido no palco do Allianz Parque. A pista parecia mais cheia e o público nas cadeiras fazia as tradicionais “olas” quando as luzes se apagaram minutos antes do horário previsto para a banda da Pensilvânia, nos Estados Unidos começar sua apresentação.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

O sistema de som do estádio paulistano começou a executar uma música eletrônica — “Sandstorm”, de Darude — e um clima de balada tomou conta da pista. Não durou nem um minuto e o quinteto, liderado pelo vocalista Chris “Motionless” Cerulli, começou sua apresentação com “Meltdown”, uma das cinco faixas executadas de seu mais recente álbum “Scoring the End of the World” (2022).

Fazia quase dez anos desde a última apresentação do Motionless in White no Brasil, com a espera aumentada em virtude do cancelamento de sua participação na edição de 2022 do Knotfest. Cerulli não cansou de agradecer ao público por não ter desistido da banda a cada coro arrancado em canções como “Masterpiece”, outra do disco de 2022, e “Voices”, do álbum “Graveyard Shift” (2017), o primeiro lançado após a segunda e última visita do grupo ao país em 2015.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

No geral, o show do Motionless in White, com alguns membros maquiados e outros mascarados sob uma iluminação no palco bem soturna, não fugiu muito à regra de uma banda moderna de metalcore. A saber: bumbo com graves trepidando o chão para fazer a galera pular desenfreadamente nos breakdowns de “Sign of Life”, “Abigail” e “Reincarnate”; as luzes de celulares acesos em momentos mais introspectivos como “Another Life”; e alguma gritaria nos refrãos mais fáceis de repetir, como “Slaughterhouse” e no cover de “Somebody Told Me”, de The Killers.

Ao final dos sessenta minutos em cima do palco, com “Eternally Yours”, o Motionless in White provou ter sobrevivido a possíveis danos pela ausência prolongada no país. Certamente, deixou o público esperançoso por um retorno no ciclo de um próximo disco, prometido por Cerelli para ser lançado no ano que vem.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Repertório: Motionless in White

Introdução: Sandstorm (música de Darude)
1. Meltdown
2. Sign of Life
3. Thoughts & Prayers
4. Masterpiece
5. Slaughterhouse
6. Werewolf
7. Abigail
8. Reincarnate
9. Another Life
10. Somebody Told Me (cover de The Killers)
11. Voices
12. Eternally Yours

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Bring Me the Horizon prova seu lugar no panteão das maiores

O Bring Me the Horizon não precisou nem subir ao palco para provar que era a grande atração do sábado. Cinco minutos antes do horário programado, quando as luzes se apagaram e o telão começou a passar um tema de “Assassin’s Creed Shadows”, o frenesi geral já começou no público.

Apenas às 21h, hora prevista para começar, o tema das telas laterais mudou para o conceito do “Post Human”, inicialmente um projeto a ser lançado em quatro partes a partir do EP “Survival Horror” (2020). O planejamento não funcionou como o esperado e a banda ainda perdeu o tecladista e produtor Jordan Fish em 2023.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Apenas em 2024, a segunda parte, chamada “NeX GEn”, saiu meio de supetão como um disco cheio, do qual foram extraídas cinco músicas no repertório executado. Todas bem recebidas, como “DArkSide” deixou claro logo de cara ao abrir a apresentação.

Na sequência, “MANTRA”, do disco “amo” (2019), foi a estranha no ninho. Todas as demais faixas executadas vieram ou das duas partes de “Post Human”, ou dos dois clássicos do grupo, “Sempiternal” (2013) e “That’s the Spirit” (2015), que responderam por metade do repertório de uma hora e 45 minutos executado em São Paulo.

Como o vocalista Oli Sykes deixou claro, fosse em seu português bem compreensível — ele é casado com a modelo brasileira Alissa Salls — ou em inglês mesmo, a apresentação no Allianz Parque era a maior da carreira do Bring Me the Horizon. A banda não economizou na produção: pirotecnia, papel picado — até em formato de coração —, serpentinas, fumaça, luzes de laser, palco com dois andares, telão conceitual com as mensagens traduzidas, participações especiais… teve de tudo.

Às vezes era difícil até ver os músicos executando suas partes num show que, apesar de conter vários efeitos pré-gravados, nunca soou engessado, em muito pelo carisma de Sykes, mas também pela participação de pouco destaque, mas competente, dos outros membros.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Quem efetivamente tirou o protagonismo do Bring Me the Horizon em cima do palco foi a participação efusiva do público que encheu o Allianz Parque. Nem seria justo destacar uma música específica do repertório: praticamente todas tiveram cantorias berradas a plenos pulmões, muitas desafinadas pela companhia das lágrimas catárticas. Não precisava da ajuda do telão, que vez ou outra colocava as letras, já naturalmente de fácil assimilação, muitas vezes beirando o hyperpop.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Sykes até amenizava o tom de comoção geral com suas expressões em português. Já no bis, claramente realizado, se deixou ser agarrado ao cantar “Drown” na grade próxima ao palco junto ao público mais fanático.

A música, inclusive, foi dedicada pelo vocalista ao falecido fã da banda, Pedro Miranda. Ele ganhou notoriedade na última passagem dos ingleses no Brasil ao ser reconhecido pelo grupo por usar sua paixão pelo Bring Me the Horizon como motivação em sua batalha contra o câncer.

Após “Throne” encerrar o show com o público cantando praticamente sozinho a música inteira, Sykes se despediu dizendo — em português, claro — “te amo, te amo muito” para o pessoal. Certamente, era recíproco.

Se havia alguma dúvida do potencial do Bring Me the Horizon como uma banda de grande porte no Brasil, ela foi dizimada neste sábado. De fato, um daqueles shows que marcam carreiras.

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

Bring Me the Horizon — ao vivo em São Paulo

  • Local: Allianz Parque
  • Data: 30 de novembro de 2024
  • Turnê: NX_GN WRLD TOUR
  • Produção: 30e

Repertório:

1. DArkSide
2. MANTRA
3. Happy Song
4. Teardrops
5. AmEN!
6. Kool-Aid
7. Shadow Moses
(Introdução: [ost] (spi)ritual)
8. n/A
9. Sleepwalking
(Introdução: Itch for the Cure (When Will We Be Free?))
10. Kingslayer
11. Parasite Eve
12. Antivist (participações de MC Lan e Di Ferrero do NX Zero)
13. Follow You
14. LosT
15. Can You Feel My Heart
Bis:
(Introdução: Overture c/ EVE e vídeo de retrospectiva da carreira no telão)
16. Doomed
17. Drown
18. Throne

Foto: Gabriel Ramos @gabrieluizramos

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Thiago Zuma
Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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