A real pegada de carbono dos lançamentos em vinil, segundo estudo

Relatório também oferece ideias que podem solucionar o impacto nas distribuições de material entre continentes

Um relatório conjunto da Vinyl Record Manufacturers Association e Vinyl Alliance apresenta dados a respeito do impacto ambiental e da pegada de carbono da indústria do vinil. O tema está em discussão desde o ressurgimento da mídia física em questão no mercado, especialmente com iniciativas de artistas e gravadoras de lançarem várias edições de um mesmo álbum.

Intitulado “First Carbon Footprinting Report” – “Primeiro Relatório de Pegada de Carbono” em português –, o documento detalha os vários estágios da produção de LPs. Busca-se explicar, ainda, como cada estágio contribui para a pegada de carbono geral.

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Medição

Conforme apontado pelo NME, ao medir o impacto de carbono no processo completo da produção de vinil, os pesquisadores descobriram que a pegada de um disco está na região de 1,15 kg de dióxido de carbono equivalente (CO2e). Assim, se conclui:

“A produção de um disco de vinil tem aparentemente menos emissões de carbono do que um bife de 8oz (cerca de 225 gramas), mas mais do que uma carga de roupa para lavar ou um pint (568 mL) de leite.”

Ainda segundo a pesquisa, metade dessas emissões se origina do composto de PVC usado na produção dos LPs. Outros 30% resultam do consumo de energia da fábrica e 13% das embalagens impressas, como capas e encartes.

O impacto da distribuição dos discos de vinil

A pegada de carbono é ampliada pela distribuição, particularmente aérea. O transporte da Europa para a América contribui com 1,36 kg de CO2e por registro. Já à Austrália, adiciona 3,46 kg de CO2e por registro.

O relatório sugere cinco estratégias para reduzir o impacto:

  • eliminar o frete aéreo;
  • utilizar PVC bioatribuído;
  • criar prensagens mais leves;
  • otimizar a embalagem;
  • adotar energia de carbono zero na produção.

O público também pode ser envolvido nas ações. Além de adquirir discos usados, os fãs podem dar preferência a LPs feitos com PVC bioatribuído.

A visão do consumidor sobre as mudanças

As sugestões são bem recebidas pelo público. Ainda segundo o estudo, 69% dos compradores de vinil estão abertos a adquirir opções mais sustentáveis. 77% estariam dispostos a pagar mais por discos ecologicamente corretos.

Peter Frings, um dos autores do estudo, exaltou:

“Este relatório é um passo crítico para a indústria de fabricação de discos de vinil. Ao entender nossa pegada de carbono, podemos tomar medidas práticas para reduzir nosso impacto ambiental e trabalhar em direção a um futuro mais sustentável. Sou grato pelo apoio e colaboração da VRMA, da Vinyl Alliance e pela revisão completa da Climate Partners para tornar o estudo possível.”

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Discos de vinil vs. meio ambiente

A produção de vinil e seu impacto climático têm sido um grande ponto de discussão na indústria musical. Produtor de 44 singles que chegaram ao número 1 na parada britânica, Sir Robin Millar chamou de “hipócritas” músicos que pedem ações contra as mudanças climáticas enquanto suas músicas seguem sendo vendidas em formatos físicos. O figurão da indústria defendeu o fim dos formatos físicos dos discos.

A ideia é de que, interrompendo as fabricações de CDs e LPs, se influenciaria diretamente na preservação do ambiente, impactando as mudanças climáticas. Em entrevista de 2023 ao jornal The Guardian (via Ultimate Classic Rock), ele argumentou:

“Estou perplexo que nenhuma grande gravadora tenha tido o apoio de algum artista de grande sucesso para parar de fazer discos físicos. Como alguém pode se levantar e dizer ‘salve o planeta’ enquanto segue atingindo o meio ambiente? Artistas são péssimos representantes de movimentos hipócritas.”

Chefe da empresa de gestão Blue Raincoat Music, ex-membro das organizações de Elton John e dos Rolling Stones, Millar declara não ser um militante das questões climáticas. No entanto, ele defende o posicionamento apesar de várias companhias do segmento lucrarem com a venda de formatos físicos.

Em defesa de seu argumento pelo fim do formato físico, o produtor declara que a qualidade sonora da música digital já corresponde à do vinil. Sendo assim, o formato seria desnecessário atualmente. Ele também sugeriu que turnês mundiais sejam substituídas por apresentações transmitidas online.

Possíveis “hipócritas” diante do argumento

Conforme apontado pelo Ultimate Classic Rock, um bom exemplo do que é dito por Frank Millar pode ser Ozzy Osbourne. Embora o cantor tenha defendido o fim da “era do plástico” em associação com o Greenpeace, seu site tem 12 versões físicas diferentes à venda de seu último álbum, “Patient Number 9”.

Em seu X/Twitter, o Madman publicou em novembro de 2023:

“Os líderes mundiais estão neste momento a negociar o Tratado do Plástico no PNUA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) em Nairobi. Incrivelmente 143 lobistas da indústria química e de combustíveis fósseis também estão lá! Eles estão colocando os lucros antes do nosso planeta. Precisamos reduzir a produção de plástico.”

Outro exemplo destacado pelo site são os Rolling Stones. A banda anunciou mais de 40 variações de edições limitadas em vinil do álbum “Hackney Diamonds”. Ao mesmo tempo, é ativa nos alertas para as alterações climáticas há duas décadas, visando a neutralidade de carbono em suas turnês desde 2003.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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