Quando Rick Rubin promoveu funeral para um adjetivo

Vários artistas e figurões da indústria se juntaram à “cerimônia”, que foi realizada em um cemitério

Que Rick Rubin é uma figura excêntrica, toda a indústria musical já está cansada de saber. No entanto, o produtor sempre dá um jeito de surpreender ainda mais. Como em 27 de agosto de 1993, quando resolveu realizar um funeral para uma gíria – justamente a que o transformou em alguém conhecido.

A expressão “Def” pode ser associada ao Def Leppard por fãs de rock. Quando entrou na banda, o vocalista Joe Elliott fez uma modificação no termo “deaf” (“surdo” em português) para “def” em busca de uma sonoridade que o próprio julgava mais “descolada”.

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No caso de Rubin, a associação se dá com um selo. Ele foi cofundador do Def Jam Recordings em seu dormitório na Universidade de Nova York, em 1984. Como lembra o site American Songwriter, o primeiro lançamento da gravadora foi um compacto punk rock de 7” distribuído em um saco de papel pardo.

Com o tempo, vieram acordos de distribuição maiores e uma mudança em direção ao hip-hop, rap e R&B. Posteriormente, o heavy metal entraria na mistura através do Slayer, alcançando patamares inimagináveis através do terceiro álbum da banda “Reign in Blood” (1986), uma das obras mais importantes da história do som pesado.

O significado e o funeral do Def

A Def Jam Recordings se tornou tão popular que o Dicionário Webster adicionou “def” como uma gíria para “legal” ou “excelente” no início dos anos 1990. É como se a expressão tivesse chegado ao mainstream. Para Rubin, era a antítese do que “def” deveria representar.

Sendo assim, no melhor estilo Rick Rubin – que a esta altura já havia criado o Def American Recordings, mais abrangente em termos estilísticos –, a solução foi aquela que se dá ao que morre: fazer um funeral. Melhor ainda quando se pode chamar seus amigos mais famosos, obviamente. O local escolhido foi o Hollywood Forever Cemetery, onde vários nomes históricos das artes estão sepultados.

Com direito a um caixão cheio de discos e à presença do reverendo Al Sharpton, foi realizado um cortejo fúnebre no estilo de Nova Orleans. Rubin, é claro, compareceu à ocasião, assim como outros ícones, a exemplo de Sir Mix-a-Lot a Tom Petty e Flea (Red Hot Chili Peppers).

Quando uma repórter da MTV perguntou a Petty como ele descreveria o funeral, ele respondeu, conforme transcrição do American Songwriter:

“Bem, você vai ter que encontrar algumas palavras novas para descrever este evento. Você certamente não poderia chamá-lo de def.”

Em 2007, ao New York Times, Rick recordou o momento com uma citação ao verão do amor, em 1969:

“Quando os anunciantes e o mundo da moda cooptaram a imagem dos hippies, um grupo de originais do movimento, de San Francisco, literalmente enterrou o visual. Quando ‘def’ passou do jargão de rua para o mainstream, ele derrotou seu propósito.”

A matéria da MTV americana, retransmitida pela brasileira (por isso as legendas no vídeo) pode ser conferida no player abaixo.

Rick Rubin segue em frente

O Def American Recordings virou apenas American Recordings e se estabeleceu de vez na vanguarda musical. O Def Jam segue na ativa, completando 40 anos em 2024.

O selo se expandiu e deu origem ao Def Jam Africa em 2020, voltado ao cenário africano e visando promover os artista locais internacionalmente em parceria com a Universal Music.

Entre elogios e críticas, Rick Rubin permanece sendo um dos nomes mais requisitados no mercado. Seus métodos ainda são questionados e ele não faz qualquer esforço visando modificar a aura criada ao seu redor. Afinal de contas, propaganda ruim também é propaganda.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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