Se um gato tem sete vidas, quantas um tigre possui? Mudanças de formação, conflitos internos ou simples falta de criatividade para transmitir novas mensagens podem minar a carreira de um grupo, seja dentro ou fora do heavy metal. No caso do Tygers of Pan Tang, a quantidade de novas chances obtidas — e devidamente aproveitadas — pelos envolvidos é um caso raro neste segmento.
Eu disse raro, não único. Histórias como as do Uriah Heep e Nazareth, também britânicos, complementam-se com o do Tygers como prova de que é possível seguir com qualidade mesmo tendo apenas um integrante original que não é o vocalista — músico que, na maior parte das vezes, é creditado como o principal responsável por dar identidade a uma banda.
O Tygers of Pan Tang atual, que desde 2004 apresenta a voz do italiano Jacopo “Jack” Meille, soa tão refrescante e poderoso quanto aquele ouvido em álbuns como “Wild Cat” (1980), “Spellbound” e “Crazy Nights” (ambos 1981). Afinal, o tigre-camaleão, acostumado a passar por mudanças de formação — a ponto de ter perdido seu cantor original, Jess Cox, do primeiro para o segundo disco. Adapta-se sempre que necessário e segue em frente.
Foi isso que muitos fãs assistiram durante a apresentação do grupo completo por Robb Weir (guitarra — único membro original remanescente), Francesco Marras (guitarra), Craig Ellis (bateria) e Huw Holding (baixo) no Sun Stage do Summer Breeze Brasil. O festival promoveu apenas a segunda passagem da icônica banda da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) ao Brasil. A primeira se deu somente em 2016, quase quatro décadas após o início das atividades, com datas no Rio de Janeiro, Curitiba, Limeira e São Paulo.
Esta nova visita passou a impressão de que o grupo tem mais público no país do que poderia imaginar. A área destinada a um dos palcos paralelos do evento estava bem cheia já nas primeiras notas da acelerada “Gangland” — e ficou ainda mais ocupada conforme se desenrolava o repertório, construído numa fórmula que deixava canções mais antigas no início e no fim, enquanto as oriundas de discos recentes compunham o miolo.
Do material extraído dos quatro últimos álbuns — “Ambush” (2012), “Tygers of Pan Tang” (2016), “Ritual” (2019) e “Bloodlines” (2023) —, destacaram-se a grudenta “Destiny”, a badass “Back for Good” e a insana “Fire on the Horizon”, esta contando com solos repletos de influências neoclássicas por parte de Marras. Já entre os discos mais velhos, não há como deixar de citar a sequência final com a divertida “Suzie Smiled”, a porrada “Euthanasia” (normalmente usada na abertura), a incontestavelmente clássica “Hellbound” e o cover quase farofa, mas 100% irresistível “Love Potion No. 9” (The Clovers).
Ainda assim, extrair destaques de um show como este é um exercício e tanto. Funcionou do início ao fim: os ícones da NWOBHM mantiveram aceso o interesse do público durante toda a apresentação, cujo único pecado foi o baixo volume da guitarra de Robb.
Ainda que o som do Tygers pareça simples, não é fácil construir um repertório de fácil assimilação sem abdicar de uma identidade que começou a ser desenvolvida há pelo menos 45 anos. Diferentemente do game, o tigre pode, no fim das contas, ter uma vida só; o que não importa muito, já que Weir, Meille e seus parceiros farão de tudo para que esta vida seja preservada.
**Este conteúdo faz parte da cobertura Summer Breeze Brasil 2024. Algumas atrações terão resenhas + fotos publicadas primeiro. A cobertura completa, de (quase) todas as atrações, sairá nos próximos dias.
Tygers of Pan Tang — ao vivo no Summer Breeze Brasil 2024
Repertório:
- Gangland
- Keeping Me Alive
- Only the Brave
- Fire on the Horizon
- Destiny
- Keeping Me Alive
- Slave to Freedom
- Back for Good
- Suzie Smiled
- Euthanasia
- Hellbound
- Love Potion No. 9 (cover do The Clovers)
Agradecimentos: Whiplash.Net
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