Desde que iniciou sua carreira musical, em 2006, Taylor Swift já passou pelo country, pop e pop-folk com sucesso. Considerada uma das maiores potências da indústria fonográfica atualmente, a cantora se encontra em uma posição onde tem liberdade de experimentar em seus trabalhos sem a pressão de fazer o novo hit do verão.
Neste contexto, chega a público seu décimo primeiro álbum. “The Tortured Poets Department” conta com 16 faixas em sua edição principal (simples) e 31 na dupla “The Anthology”.
Com dez álbuns lançados e quatro regravações, Swift já deixou claro que sua discografia não é pautada em arranjos complexos, com variedade de instrumentos ou sonoridades sólidas e preenchidas. A artista se garante como compositora de letras que crescem exponencialmente ao serem musicadas e que levam o ouvinte — principalmente o mais fiel — a passar por tensões de uma narrativa, contada quase que como uma conversa entre amigos.
O caráter confessional das obras da americana ganham proporções inimagináveis por conta da comunicação estreita com os fãs, que conseguem relacionar eventos da vida pessoal da cantora às composições. Isso ajuda na imersão. “The Tortured Poets Department” repete tal característica com êxito; aqui, a harmonia das músicas — mesmo que não extraordinárias — faz completo sentido, já que contextualiza a ideia e sentimentos contidos na letra, conquista os ouvintes e de quebra causa identificação.
Para você que navegava entre conteúdos de rock e metal e caiu nessa resenha, explica-se desta forma a relevância de Taylor — mesmo com um som visto como básico por algumas pessoas. Dito isso, adianta-se que, não, “The Tortured Poets Department” não é um álbum inovador e revolucionário. Ainda assim, tem seus acertos.
Êxitos, mas sem surpresas
“The Tortured Poets Department” dá um passo coerente na evolução da discografia de Taylor Swift. A escolha de seguir colaborando com Jack Antonoff, produtor dos últimos lançamentos inéditos, fez com que o novo trabalho soasse como um encontro — ou mistura — entre “Folklore” (2020), “Evermore” (2020) e “Midnights” (2022). Isso se reflete, porém, em uma experiência auditiva de pouco frescor.
Já com a faixa de abertura, “Fortnight” (com participação de Post Malone), os sintetizadores explorados em “Midnights” marcam presença, assim como a sonoridade melancólica característica dos “álbuns irmãos” de 2020. A combinação de tais elementos dita o clima do disco e cria uma atmosfera emotiva e reflexiva que vai ao encontro da ideia de “luto” pelo término de um relacionamento, algo levantado pela cantora por meio de playlists disponibilizadas às vésperas do lançamento.
Presença constante durante toda audição de “The Tortured Poets Department”, os sintetizadores se mostram um grande acerto. São eles que comandam a sonoridade geral e dão o tom certo exigido por cada composição. Em “Fresh Out the Slammer”, canção mais sóbria, o recurso é usado como uma camada de fundo que preenche a música. Já “I Can Do It With a Broken Heart” adota uma batida mais presente e potente. Nesse sentido, aliás, esta faixa é um dos destaques, por quebrar um pouco do clima melancólico — mesmo que trate de uma autocrítica. A dualidade da crise existencial da letra contrasta com a batida de uma forma que pode ser lida como a frequência de pensamentos dessa crise, algo que remete ao incompreendido “After Laughter” (2017), do Paramore.
A bateria eletrônica também marca presença. Traz uma leve referência à estética oitentista que mesmo com um grande potencial vislumbrado na faixa-título (a segunda do material), infelizmente não se desenvolve.
Outras eras e colaborações
Outras sonoridades da discografia de Taylor Swift também aparecem de forma diluída em “The Tortured Poets Department”. Para os mais familiarizados com a trajetória da artista, as nuances de sonoridades de outras eras são claras principalmente nas estruturas vocais. “Buddy Daddy I Love Him”, por exemplo, promove um encontro tímido com suas raízes no pop country, em uma sensação potencializada pelos instrumentos mais “analógicos” combinados com um sintetizador mais moderado.
Um erro do trabalho anterior também serviu como aprendizado. A chacota de “Snow on the Beach”, faixa do “Midnights” com participação reduzidíssima de Lana Del Rey, não se repete aqui. Em “TTPD”, os dois artistas convidados — Post Malone e Florence + the Machine — tiveram mais espaço para deixar sua marca para além de harmonias.
A já citada “Fortnight” com Post Malone é um dos pontos altos e concentra as melhores qualidades do álbum; não por acaso, foi escolhida como primeiro single. Por sua vez, “Florida!!!” soa mais como uma música de Florence Welch e companhia com participação de Taylor Swift do que o contrário. Dito isso, a faixa torna mais variado o repertório da dona do disco, cujo alcance vocal é impulsionado pelo desempenho impecável da convidada.
Entre a exploração de alguma variedade e erros do passado corrigidos, o que não muda é a curiosidade para saber detalhes da vida pessoal de Swift por trás da expectativa criada para cada novo trabalho. O primeiro lançamento da cantora desde o término com o ator britânico Joe Alwyn aponta que o relacionamento estava longe de ser o conto de fadas pintado pelos fãs. O desabafo mais claro é “So Long, London”, que aborda os esforços unilaterais feitos para salvar algo que caminhava para o distanciamento.
A antologia e a conclusão
Duas horas após o lançamento oficial do álbum, foi disponibilizada a versão “The Tortured Poets Department: The Anthology”, com 15 faixas adicionais. A iniciativa era esperada pelos fãs, já que o antecessor “Midnights” contou com três outras edições além da principal, sempre com novas faixas, capa alternativa e encarte colecionável que movimentou a venda de discos de vinil.
As canções adicionais de “Anthology” dão seguimento ao clima melancólico desenvolvido durante as 16 iniciais. Porém, os sintetizadores perdem espaço e consequentemente some a capacidade de criar atmosferas levemente distintas. Audições iniciais levam à conclusão de que tais composições são bem semelhantes entre si e remetem muito à sonoridade de “Folklore” e “Evermore”, principalmente nas apoiadas no uso do piano. O ponto positivo disso é a criação de sons mais acústicos e orgânicos que harmonizam bem com a voz da artista.
O ponto levemente fora da curva é “So High School”, uma das poucas a quebrar essa rotina por ter bateria pulsante e guitarras mais proeminentes e envolventes, com linhas que soam até como as de uma balada country.
No fim das contas, “The Tortured Poets Department” se sustenta como um trabalho melancólico e sensível, mas não se arrisca ao entregar pouquíssimas novidades, bem como raros momentos de clímax. Ainda assim, demonstra a sensibilidade artística de Swift ao explorar um caminho que não é ditado pela necessidade mercadológica do pop em oferecer hits dançantes e genéricos que rapidamente perdem a relevância.
*Ouça “The Tortured Poets Department” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.
Taylor Swift — “The Tortured Poets Department”
- Fortnight (com Post Malone)
- The Tortured Poets Department
- My Boy Only Breaks His Favorite Toys
- Down Bad
- So Long, London
- But Daddy I Love Him
- Fresh Out the Slammer
- Florida!!! (com Florence + the Machine)
- Guilty as Sin?
- Who’s Afraid of Little Old Me?
- I Can Fix Him (No Really I Can)
- Loml
- I Can Do It With a Broken Heart
- The Smallest Man Who Ever Lived
- The Alchemy
- Clara Bow
The Tortured Poets Department: The Anthology – Disco 2:
- The Black Dog
- Imgonnagetyouback
- The Albatross
- Chloe or Sam or Sophia or Marcus
- How Did It End?
- So High School
- I Hate It Here
- Thank You Aimee
- I Look in People’s Windows
- The Prophecy
- Cassandra
- Peter
- The Bolter
- Robin
- The Manuscript
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Esse álbum tem muitos instrumentos, aconselho escutar novamente em fone de ouvido, não são só sintetizadores e/ou programação, o lance é que Jack Antonoff, Aaron Dessner e a própria Taylor Swift tem um pensamento mais minimalista nesses álbuns que compuseram juntos, continua sendo um disco primordialmente de synth pop, mas tem um tom de rock e folk em várias faixas, eu meio que comparo esse disco ao Blue da Joni Michell, é simples e acolhedor, não precisa ser complexo pra ser excelente.