Em março de 2003, o Evanescence lançou seu álbum de estreia, “Fallen”, que se tornaria um marco para o rock daquele período. Com clássicos instantâneos como “My Immortal” e “Bring Me to Life”, o trabalho foi considerado uma obra irretocável pela maioria.
Curiosamente, porém, a principal compositora tem suas ressalvas. Duas décadas após o lançamento, a vocalista Amy Lee refletiu em entrevista à Kerrang! sobre uma canção que não representa seu ponto de vista atual.
Trata-se de “Everybody’s Fool”, quarto e último single do disco. A faixa, que chegou a ser promovida com um videoclipe, é descrita por Lee como a que menos lhe gera identificação, por tratar de questões adolescentes naturalmente já superadas.
“Não tenho nenhuma música que lancei e odeio, mas será que evoluí para além disso? Um pouco. É apenas a forma como soa quando você lê a letra. Naquela música eu estava falando sobre o ensino médio e me comunicando, mais do que tudo, com minhas irmãzinhas. Eu era adolescente e meus irmãos eram mais novos, e as adoráveis crianças que eu tanto amava estavam na fase dos boybands e das meninas pop.”
A predileção dos irmãos por artistas pop serviu de inspiração para a composição da faixa, que faz uma crítica à superficialidade e às aparências.
“Eu dizia: ‘gente, isso não é legal, não é sobre o que está na superfície – isso é superficial, é sobre o que está no coração’. ‘Everybody’s Fool’ surgiu enquanto eu os observava e pensava: ‘por que vocês idolatram algo que é falso?’. Blá, blá, blá.”
Amy Lee e o videoclipe
Amy Lee revelou que tentou buscar outro significado para “Everybody’s Fool” quando o Evanescence gravou o videoclipe da canção, dirigido por Phillipp Stölzl. O roteiro foca mais no dilema da cantora entre quem ela é individualmente e sua imagem como performer diante do público.
“Não gosto da maneira como essa música está formulada. Quando fizemos o vídeo, fiz parecer que era sobre mim, porque naquele ponto eu conseguia compreender a forma como as pessoas te veem no grande palco sendo muito diferente do que você realmente é, e isso nem sempre é o que você queria ser.”
Mesmo assim, “Everybody’s Fool” teve vida curta nos shows do Evanescence. Após a turnê de “Fallen”, encerrada em 2004, a banda só tocou a música durante os anos de 2016 e 2017. Ficou de fora até mesmo da tour que celebrou os 20 anos do disco, realizada ano passado.
Mesmo assim, é a quinta faixa mais ouvida do grupo no Spotify. Está atrás apenas de “Bring Me to Life”, “My Immortal”, “Going Under” e “Call Me When You’re Sober”
O clima por trás de “Fallen”
Ainda à Kerrang!, Amy Lee ainda abordou o clima por trás do momento de virada da carreira do Evanescence. Ela também comentou sobre como os jovens músicos da banda lidaram com o sucesso repentino.
“Não há como se preparar para nada daquilo. Quando ‘Fallen’ foi lançado e tudo isso começou, estávamos tentando nos tornar uma banda na frente de todos. Éramos jovens que se encontraram e descobriram interesses em comum em filmes, música e contracultura. Todo o tempo que os outros da escola passaram em festas do pijama, eu passei fazendo música. E então tudo explodiu. E então foi, tipo, o drama…”
Dilemas tomavam conta da convivência entre os integrantes que, mesmo em momentos bons, parecia um barril de pólvora.
“Havia tanto drama desnecessário nos bastidores da banda. Claro, havia coisas boas nisso – nunca quero pintar como se fosse tudo ruim. Era apenas difícil. Era instável, como se a qualquer momento fosse explodir por algum motivo dramático que na verdade não tinha nada a ver comigo.”
A formação do grupo era confusa a ponto de haver entra-e-sai antes mesmo do primeiro disco chegar às lojas. Por exemplo, o guitarrista e membro fundador Ben Moody deixou o grupo logo após “Fallen” ter sido lançado. O tecladista David Hodges participou das gravações, mas saiu antes do álbum ser disponibilizado. Não havia sequer um baterista fixo, então o conceituado músico de estúdio Josh Freese (hoje membro do Foo Fighters) assumiu a função. Com exceção de Amy, ninguém do ciclo de “Fallen”, seja de gravações ou de turnê, segue com o conjunto.
Evanescence e “Fallen”
Lançado em 4 de março de 2003, pela gravadora Wind-up Records, “Fallen” representa o maior sucesso de vendas da carreira do Evanescence. Com mais de 17 milhões de cópias vendidas pelo mundo, o álbum recebeu cinco indicações ao Grammy 2004, tendo vencido as categorias “Melhor Performance de Hard Rock” e “Melhor Artista Revelação”.
Em dezembro de 2022 a Recording Industry Association of America (RIAA), órgão regulador das vendas de músicas nos Estados Unidos em seus diversos formatos, certificou “Fallen” com disco de diamante. A premiação é destinada a trabalhos que ultrapassam 10 milhões de cópias vendidas no país.
Liderado pelo single “Bring Me to Life”, que também apareceu na trilha sonora do filme “Daredevil” (“Demolidor – O Homem sem Medo” no Brasil), o álbum rendeu mais três singles de sucesso: “Going Under”, “My Immortal” e “Everybody’s Fool”.
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