Diversas bandas britânicas de som pesado foram incluídas em um mesmo rótulo entre o fim da década de 1970 e início dos anos 1980: a New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM). Mesmo grupos pouco similares artisticamente, como Def Leppard e Iron Maiden, entraram na mesma “prateleira” na visão de muitos jornalistas de música da época.
Em entrevista de 2021 ao podcast de Mitch Lafon e Jeremy White, transcrita pelo Ultimate Guitar, o vocalista do Def Leppard, Joe Elliott, apontou que sua banda nunca teve a ver com a NWOBHM. Ele foi além e disse que apenas seu grupo e o Iron Maiden conseguiram vingar em meio a tantos nomes do tal movimento.
“Não nos afastamos da NWOBHM, porque nunca estivemos nela. Fomos colocados lá por outras pessoas e ficamos lá, protestando contra isso. Para mim, apenas duas bandas se descolaram daquele movimento: nós e o Iron Maiden. Foram as que vingaram por conta própria.”
Na visão de Elliott, encaixar o Def Leppard na NWOBHM é como dizer que os Beatles integraram o movimento merseybeat, de bandas de Liverpool.
“Para mim, colocar qualquer uma dessas duas bandas na NWOBHM é como dizer que os Beatles faziam parte da merseybeat. Eles não faziam parte disso, eles eram os Beatles, eles inventaram tudo. Todos imitaram eles.”
O vínculo entre o grupo de Joe e o movimento ocorria, segundo ele, apenas por causa da época.
“A disco music estava morrendo de medo, a new wave assumia como um fenômeno pop agora em vez de punk, e era hora de um pouco de rock de volta porque, em 1975, foi a última vez que houve amor por bandas como Deep Purple, Uriah Heep, Led Zeppelin, Black Sabbath.”
Ele completa:
“O punk veio e deu um pontapé em todo mundo, mas quando isso não durou e a new wave era mais pop, enquanto que o rock estava voltando – mas influenciado pelo punk. Os primeiros álbuns do Maiden são mais punk, com Paul Di’Anno. Nosso primeiro álbum, ‘On Through the Night’ (1980), músicas como ‘Wasted’ e ‘Get Your Rocks Off’ foram muito influenciadas pelo punk.”
Def Leppard e hair metal
Em outro momento do bate-papo, Joe Elliott também demonstrou incômodo com a inclusão do Def Leppard em outro movimento musical: o hair metal, o hard rock de visual glam da década de 1980. Para ele, também não faz sentido enxergar sua banda como parte desse subgênero.
“É interessante que nos coloquem nessa NWOBHM. Na América, por exemplo, caímos na coisa do hair metal. De repente, desaparecemos no final de 1983 (como NWBOHM) e não voltamos até agosto de 1987 (como hair metal). […] Não faz sentido.”
O vocalista aponta que o Def Leppard não é exatamente uma banda inovadora, mas não dá para rotular sua sonoridade sem a devida cautela.
“Não que algumas de nossas coisas não parecessem com outras pessoas que vieram antes de nós, mas havia uma sobrecarga. Algumas pessoas preguiçosas da mídia nos envolveram com isso, mesmo que fôssemos britânicos e nunca tenhamos ficado na Sunset Boulevard (onde o hair metal prosperou). Estávamos morando nos arredores de Amsterdã, vendo moinhos de vento girarem.”
O Def Leppard é, segundo Joe Elliott, uma banda “autônoma”.
“O que saiu de nós musicalmente não teve nada a ver com mais nada, fomos totalmente nós. Sempre quisemos ser uma banda autônoma. E eu tenho sido acusado, há décadas, de sempre estar na defensiva. Não é isso. Só explico aos que não ouvem. Você explica, lança um álbum, dá três mil entrevistas, depois quando lança outro, volta à estaca zero. Não funciona, sempre perguntam.”
Sem NWOBHM ou outros rótulos
Por fim, ele apontou que o álbum de covers “Yeah!”, lançado em 2006, serviu para mostrar que sua banda não pode ser rotulada tão facilmente.
“É por isso que quando fizemos o ‘Yeah!’, pensamos: ‘quer saber… eles não ouvem quando falamos, talvez ouçam quando cantamos e dançamos’. É por isso que você tem Blondie, David Essex, Roxy Music, todo esse tipo de coisa. Nada de ‘Smoke on the Water’, nada de ‘Rock and Roll’, ‘Paranoid’ – isso não é a gente.”
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