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Os melhores discos de 2023 na opinião de André Luiz Fernandes

Colaborador do site traz um top 10 que ele acreditava que seria escasso, mas rendeu até mais 10 menções honrosas

Dezembro chegou mais uma vez e com a exceção de celebridades como Roberto Carlos, Simone e Mariah Carrey, que passam 11 meses do ano congelados – como é de conhecimento geral –, nós amantes de música nos damos conta de que ouvimos muita coisa. Pelo menos foi essa a minha surpresa ao montar a lista de melhores do ano.

No começo, achei que sofreria para me lembrar de 10 álbuns que gostei, mas fui traído pela memória. Acabou que, com a ajuda de listas como a de lançamentos do site IgorMiranda.com.br, que é atualizada semanalmente, consegui resgatar muita coisa boa que foi lançada nesse 2023.

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A única coisa que permanece igual de um ano para o outro é o “disclaimer”: é uma lista pessoal, de opinião, de gosto. Você pode concordar ou discordar de títulos incluídos nela, mas não pode fazer isso de forma ofensiva. Pode parecer óbvio e redundante, mas é sempre bom avisar, já que a opinião do cartunista Ziraldo sobre a internet tem se mostrado cada vez mais acertada.

Melhores discos de 2023 para André Luiz Fernandes

10) Floor Jansen – “Paragon” (pop)

Demorou para que Floor Jansen fizesse seu primeiro voo solo, mas o resultado é tão bom quanto o esperado. “Paragon” mostra o bom gosto da vocalista e dá mais uma amostra de sua voz versátil e potente. Longe da “ditadura” do Nightwish, a holandesa consegue entregar uma sonoridade pop refinada, que realça suas colaborações na banda finlandesa – a audição do trabalho solo torna mais fácil encontra-la nas composições do grupo. Fica a expectativa para a próxima empreitada e pelo caminho que ela vai seguir.

9) Rolling Stones – “Hackney Diamonds” (rock and roll)

No ano passado, a grande zebra foi o álbum do Scorpions. Dessa vez, ninguém esperava que os Rolling Stones fossem lançar um disco tão legal a essa altura do campeonato – ainda mais sem Charlie Watts. O saudoso baterista aparece em duas músicas de “Hackney Diamonds”, que esbanja vitalidade e traz uma constelação de convidados – Elton John, Stevie Wonder, Lady Gaga, Paul McCartney e até Bill Wyman! Mais uma na conta do produtor Andrew Watt, que tem feito história nos últimos anos ao lado de dinossauros do rock.

8) Mammoth WVH – “Mammoth II” (rock alternativo)

O segundo trabalho do grupo capitaneado por Wolfgang Van Halen tem mais a cara do filho de Eddie, o que é uma coisa ótima. A fórmula é a mesma do primeiro, um hard rock moderno, com roupagem alternativa, mas com refrãos e trechos fortes que não negam o sangue que corre nas veias de Wolfie. É meio impossível ser filho do homem e não ter herdado uma pequena parte do talento, mas nesse caso, o líder (e “faz tudo”) da banda herdou muito mais do que isso. “Mammoth II” ainda é um começo para o Mammoth WVH, mas é um passo importante rumo a algo que tem potencial para ser ainda maior.

7) Nita Strauss – “The Call of the Void” (heavy metal)

Quem acompanha a carreira de Alice Cooper sabe que Nita Strauss é um verdadeiro animal em cima de um palco. A guitarrista também manda muito bem em estúdio e seu segundo álbum solo é bem acima da média. Com nomes como David Draiman, Lzzy Hale e Alissa White-Gluz na lista de convidados, Nita intercala faixas instrumentais e cantadas numa sonoridade uniforme, pesada e moderna, no melhor dos sentidos. “The Call of the Void” evita o caminho fácil da pura exibição técnica, muito comum em discos de guitarristas, e entrega uma das melhores performances do ano, mérito de todos os envolvidos.

6) Myrkur – “Spine” (folk / black metal)

Não é fácil explicar o som do Myrkur. O projeto da dinamarquesa Amalie Bruun começou como um black metal bastante experimental, mas desde “Folkesange” (2020) abraçou de vez o folk nórdico, com instrumentos típicos e tudo mais. A sequência dessa guinada está em “Spine”, que mantém a ideia iniciada no disco anterior, mas incorpora mais elementos pesados, embora permaneça longe do metal na maior parte do tempo. As melodias são extremamente belas e a voz de Amalie é perfeita para esse tipo de música, mas é compreensível que não seja uma unanimidade. Fica a dica para quem é mais chegado em artistas como Wardruna, Faun e Enya, entre outros.

5) Angra – “Cycles of Pain” (metal progressivo / power metal)

No terceiro álbum com o vocalista Fabio Lione, o Angra parece ter encontrado o ponto exato dessa formação em “Cycles of Pain”. Dosando melhor o power e o prog, a banda entregou um álbum bem forte, trazendo até mesmo as “brasilidades”, que vinham fazendo falta nos últimos trabalhos. O italiano finalmente adequou seu registro poderoso à sonoridade da banda, deixando as músicas com mais “cara de Angra”, lembrando os tempos de Edu Falaschi em alguns momentos. A faixa-título é um dos pontos altos do disco, a melhor balada do grupo desde o injustiçado “Aurora Consurgens” (2006), no mínimo.

4) Therion – “Leviathan III” (metal sinfônico)

O Therion finalmente entregou o que prometeu no último capítulo da trilogia “Leviathan”, iniciada em 2021. Desde o início do projeto, o guitarrista e líder Christofer Johnsson prometeu que a primeira parte seria mais “radiofônica”, a segunda mais densa e a terceira mais experimental. Pessoalmente, ouvindo tudo, entendo o pensamento dele, mas discordo: “Leviathan III” pode ser experimental para quem não conhece o Therion, mas é o álbum que os fãs esperam desde “Sitra Ahra” (2012). A banda cambaleou com lançamentos equivocados por 10 anos até voltar a entregar o metal sinfônico cheio de toques étnicos e temática ocultista que os fãs aprenderam a amar. Sobre a trilogia como um todo: dava para ser um disco duplo muito mais forte e econômico.

3) Wytch Hazel – “IV: Sacrament” (heavy metal)

E se o Ghost fosse uma banda cristã? Essa foi a pergunta que ficou na minha mente ao ser apresentado aos britânicos do Wytch Hazel, através de seu quarto álbum, “IV: Sacrament”. Está tudo ali: os vocais limpos, as melodias grudentas – tudo muito bem executado – e uma boa dose de NWOBHM, mas a mensagem é totalmente diferente. A qualidade do material impressiona quem curte uma sonoridade mais tradicional e as músicas são viciantes, é impossível começar o álbum e não termina-lo, algo raro nos dias de hoje. Merece muito mais atenção do que recebeu.

2) Green Lung – “This Heathen Land” (stoner / doom metal)

Outra boa surpresa (para mim!) foi “This Heathen Land”, quarto álbum do Green Lung. O grupo britânico pratica um stoner/doom metal de dar orgulho a Tony Iommi, com riffs pesados e um som muito bem executado. A temática envolve crenças pagãs e folclore britânico, o que também é um prato cheio para quem gosta desse tipo de coisa. Fiz uma audição retroativa e os álbuns anteriores também são ótimos, mas “This Heathen Land” parece ter acertado em elementos que faltaram nos outros. Será que chegou o momento do Green Lung? Tomara que sim!

1) Metallica – “72 Seasons” (thrash metal)

Em “72 Seasons”, o Metallica oferece uma nova oportunidade para acreditarmos que a banda está viva. O álbum é no mínimo tão bom quanto o antecessor, “Hardwired… To Self Destruct” (2016), em termos sonoros, mas é liricamente superior. Apesar das árduas tentativas de Kirk Hammett em fazer o álbum fracassar, James Hetfield se abriu como nunca e entregou letras extremamente pessoais e densas, tão pesadas quantos seus riffs. Com a pandemia, um divórcio e uma recaída recente nas drogas (já superada!), Papa Het colocou todos os seus demônios para fora e o resultado é não menos do que belo. É acima de tudo um disco corajoso, algo que não se vê sempre em lançamentos de bandas veteranas.

Menções honrosas (em ordem alfabética)

Alice Cooper – “Road” (hard rock): não há mais nada a provar ou revolucionar. Alice Cooper está na ativa e vez ou outra reúne alguns amigos e sua banda de turnê para gravar um disco, assim mesmo, casualmente. O resultado sempre cumpre o que promete: diversão e qualidade, na medida certa.

Arkona – “Kob’” (black metal/ folk metal): quem gosta de seu heavy metal temperado com folk precisa conhecer os russos do Arkona, banda que definitivamente entende do assunto. Em “Kob’”, a temática segue a mesma, mas a sonoridade abraça mais o lado extremo e funciona muito bem, especialmente tendo a poderosa Maria “Masha Scream” Arkhipova nos vocais e no comando geral.

Cavalera Conspiracy – “Bestial Devastation” e “Morbid Visions” (black metal / death metal): os irmãos Cavalera resolveram falar ao coração dos fãs mais antigos do Sepultura e regravaram o primeiro EP e o primeiro álbum do grupo. Se nos originais a produção e execução deixavam a desejar por falta de experiência, todos os problemas foram eliminados aqui e podemos ter uma noção melhor do poder de fogo real desses discos. Vale, no mínimo, como documento histórico.

Cirith Ungol – “Dark Parade” (heavy metal): as lendas do metal do Cirith Ungol se despedem em alto nível com “Dark Parade”, um álbum honesto, que não deve nada aos clássicos do grupo, que encerra as atividades em 2024. Com uma sonoridade “infernalmente única”, vai deixar saudades.

Crypta – “Shades of Sorrow” (death metal): a Crypta é um verdadeiro orgulho nacional. Com seu segundo disco de estúdio, elas conseguiram fazer seu death metal violento e técnico soar até acessível, no melhor dos aspectos. “Shades of Sorrow” tem muitos momentos memoráveis e permite que o grupo alce voos ainda mais longos, o que não deve ser difícil se continuarem tocando nesse nível.

Heidevolk – “Wederkeer” (folk metal): reformulado desde sua última passagem pelo estúdio, o Heidevolk mostrou ainda estar vivo e bem em “Wederkeer”. Se os vocais, ponto forte da banda, mudaram um pouco desde o último álbum, a qualidade não caiu e o som continua o mesmo: aquele folk metal divertido e de ares épicos, que faz vibrar o viking que muitos carregam dentro de si, mesmo quando nascidos na região metropolitana de São Paulo, sabe-se lá por que…

King Kobra – “We Are Warriors” (hard rock): sim, é aquele King Kobra, mas reformulado. O líder do projeto, o baterista Carmine Appice, recrutou uma dupla de respeito para as guitarras, formada por Carlos Cavazo (Quiet Riot, Ratt) e Rowan Robertson (Dio) para completar o time formado pelo baixista Johnny Rod (W.A.S.P.) e o vocalista Paul Shortino (vários projetos). Com um verdadeiro “dream team” da farofa, o resultado final de “We Are Warriors” é muito bom para os amantes do estilo.

Lordi – “Screem Writers Guild” (hard rock / heavy metal): os finlandeses do Lordi, sensação do EuroVision de 2006, andam sumidos dos holofotes, mas não menos ativos. Em 2021 eles lançaram 7 álbuns de estúdio simultaneamente em um projeto chamado “Lordiversity” e “Screem Writers Guild” mantém a diversidade como palavra de ordem. O hard rock pesado de sempre continua, mas ganha contornos de um synthwave bem oitentista com teclados bem evidentes. Diversão é a palavra de ordem.

Steve Vai – “Vai/Gash” (hard rock): a sensação de ouvir o álbum é de voltar no tempo, com um hard rock com uma pegada muito específica, que não se faz mais hoje em dia. Isso é porque “Vai/Gash” esteve engavetado desde 1991, sendo uma colaboração de Steve Vai com o vocalista Johnny “Gash” Sombretto, falecido em 1998. Se tivesse saído na época, certamente teria sido um sucesso e Gash realmente era um vocalista acima da média.

Vintage Trouble – “Heavy Hymnal” (R&B / soul / blues / rock): não se assuste com tantos gêneros descritos na frente do título de “Heavy Hymnal”, o som do Vintage Trouble é realmente difícil de definir. Tendo como figura central o vocalista Ty Taylor, pode-se tentar definir a banda a partir dele: uma mistura de Mick Jagger com James Brown. O grupo, que chegou a tocar no Rock in Rio em 2013, sempre entrega trabalhos de alto nível e dessa vez não foi diferente.

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André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes
André Luiz Fernandes é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Interessado em música desde a infância, teve um blog sobre discos de hard rock/metal antes da graduação e é considerado o melhor baixista do prédio onde mora. Tem passagens por Ei Nerd e Estadão.

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