Uma convidativa noite de terça-feira (7), com temperatura amena, marcou um evento especial para os fãs de rock em Porto Alegre: Glenn Hughes, “The Voice of Rock”, se apresentou por mais uma ocasião na capital gaúcha. Desta vez, trouxe ao Rio Grande do Sul sua turnê comemorativa dos 50 anos do clássico álbum “Burn”, do Deep Purple.
Sem show de abertura, o Opinião abriu as portas às 20h para receber um público predominantemente de meia idade. De pessoas que viram “Burn” ser lançado a jovens que trazidos por seus pais tiveram a primeira oportunidade de ver Glenn Hughes ao vivo, os fãs lotaram a casa para a celebração de um dos maiores álbuns da história.
O relógio marcava 21h — pontualidade britânica tal qual o músico — quando as luzes se apagaram para que entrasse em cena uma das maiores vozes da história do rock. “Stormbringer”, faixa que abre o álbum de mesmo nome, foi a escolhida para o pontapé inicial. O público veio junto, cantando cada frase e promovendo um belo coro de acompanhamento para Glenn.
A performance no palco agradava, mas o som começou deixando a desejar: seja pelo grave embolado ou pelos problemas com o baixo (pôde-se ver a insatisfação de um dos técnicos em cima do palco fazendo o gesto típico de um baixista). Ao longo da canção, porém, as coisas foram sendo resolvidas.
Em seguida, já com o som bem melhor, “Might Just Take Your Life” foi a primeira do repertório de “Burn” a figurar no set. A exemplo do que acontecera em “Stormbringer”, a voz de Glenn Hughes ecoava pelos P.A’s com um exagero nos efeitos. Reverb e delay acabavam por, às vezes disputar, às vezes roubar a atenção da voz. Ficou a dúvida se aquilo seria uma escolha estética ou algo mais — o que descobriríamos depois.
Acompanhado de bons instrumentistas — Søren Andersen (guitarra) Ash Sheehan (bateria) e Bob Fridzema (teclados) —, Glenn é, além de competência, puro carisma. Sorridente, fazia gestos de gratidão e, ao se dirigir ao público, por muitas vezes agradeceu e declarou seu amor por Porto Alegre — ou “P.O.A.”, como se referiu à cidade. Ganhou os fãs, num jogo que já começou ganho.
Apenas oito músicas fizeram parte do setlist, que é curto em canções, mas não exatamente em duração. E quem pensou nas oito faixas de “Burn”, enganou-se.
Além da já citada “Stormbringer”, houve espaço também para “Highball Shooter” (também do álbum “Stormbringer”) e da ótima “Gettin’ Tighter” (do disco “Come Taste the Band”). Bem como “Might Just Take Your Life”, vieram de “Burn”, ainda, “Sail Away”, “You Fool No One”, a faixa-título (no bis) e a clássica absoluta “Mistreated”, todas em versões estendidas, com longos trechos instrumentais, que, aliás, foram a tônica da apresentação. Para encerrar uma hora e meia do set convencional, “You Keep On Moving”, também de “Come Taste the Band”.
Um show que quase não aconteceu
“Peço desculpas pela minha voz, eu fiquei muito doente ontem. Mas eu não poderia, de forma alguma, cancelar esse show. Então eu agradeço por estarem aqui e por serem a minha voz. A voz de vocês é a minha voz. Obrigado!”, agradeceu Glenn Hughes, sendo imediatamente ovacionado, antes de “Mistreated”.
Até ali, alguns estranhavam a diferença de volume entre os agudos altíssimos — que sempre lhe foram peculiares — e a voz cantada nos demais trechos das canções do set. A partir dali, contudo, o público teve uma informação que talvez justificasse essas escolhas e a utilização de tantos efeitos. Nos vídeos do show de Florianópolis, a voz parece menos suplantada por esses recursos. Por conta do problema de saúde, a apresentação em Curitiba, nesta quarta (8), foi cancelada.
Em Porto Alegre, ninguém se importou com a questão de saúde. A interação entre público e artista — que era intensa desde “Stormbringer” — ganhou, com essa revelação, ares de cumplicidade e de um pouco mais de respeito, admiração e carinho mútuos.
Mais ainda o público cantou. Mais ainda Glenn se dedicou, chegando a arrancar olhares estupefatos em alguns momentos (como já fizera em outras passagens por Porto Alegre).
A cereja do bolo
Ninguém, nem mesmo Glenn Hughes, é de ferro. Uma canção precisou ser cortada do setlist: “Highway Star”, única representante do Deep Purple com Ian Gillan e presente nos shows anteriores da turnê brasileira, ficou de fora.
A expectativa em torno de “Burn”, que já era alta por ser reconhecidamente o maior clássico da chamada MK III do Deep Purple, passou a ser uma incógnita devido à saúde de Hughes. No entanto, além de executá-la no bis, Glenn fez o que qualquer grande artista faria: jogou para a galera.
Foi bonito e muitos se arrepiaram com o Opinião lotado cantando “Burn” com pouquíssimas intervenções do artista, que se poupou para um ou outro agudo que não poderia faltar.
A passagem da turnê comemorativa dos 50 anos de “Burn” por Porto Alegre foi incomum. Imersa em um imprevisto preocupante, a noite de terça-feira acabou por entregar mais do que se poderia imaginar.
Um artista que fez o possível para que o público voltasse para casa feliz encontrou uma plateia receptiva e também disposta a tornar aquele encontro memorável. Um pedaço da história do rock foi contado no palco do Opinião, de forma calorosa, por todos que protagonizaram um grande show, de um grande artista, em uma grande casa, homenageando um grande álbum. Realmente memorável.
*A “Classic Deep Purple Live” seguirá rumo a Rio de Janeiro (10/11) e São Paulo (11/11). O show em Curitiba foi cancelado devido à saúde de Glenn.
**Fotos de Daniel Sasso. Mais imagens ao fim da página.
Glenn Hughes – ao vivo em Brasília
- Local: Opinião
- Data: 7 de novembro de 2023
- Turnê: Classic Deep Purple Live
Repertório:
- Stormbringer
- Might Just Take Your Life
- Sail Away
- You Fool No One / High Ball Shooter / Solo de bateria / You Fool No One
- Mistreated
- Gettin’ Tighter
- You Keep On Moving
Bis:
- Burn
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