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Entrevista: Mark Tremonti fala sobre Alter Bridge no Brasil, volta do Creed e mais

Apresentação em São Paulo será um dos compromissos finais do AB antes de um 2024 ocioso — para a banda, não para seus integrantes

Mark Tremonti não é um cara de muitas palavras. Dá para notar isso tanto em cima do palco quanto em entrevistas — como esta, que ele concedeu ao site IgorMiranda.com.br (veja vídeo) às vésperas do único show que o Alter Bridge fará no Brasil em 2023. Há clara preferência em simplesmente deixar a música falar por si; o que, claro, não o impede de dar algumas boas respostas quando é solicitado.

A banda de Mark — completa por Myles Kennedy (voz e guitarra), Brian Marshall (baixo) e Scott Phillips (bateria) — se apresenta nesta quarta-feira (8), no Espaço Unimed, em São Paulo. Ainda há ingressos à venda no site Ticket360.

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É a segunda visita do grupo ao país. Na primeira, em 2017, eles se apresentaram nos festivais Rock in Rio (ao lado de nomes como Bon Jovi e Tears for Fears) e São Paulo Trip (com The Who e The Cult), além de realizarem uma data solo em Curitiba. Tremonti, Marshall e Phillips vieram antes, em 2012, com o Creed para compromissos em Belo Horizonte e Porto Alegre, além das capitais paulista e fluminense.

O guitarrista, inclusive, admite que havia intenção de trazer o Alter Bridge à América do Sul em 2020. Os próprios músicos anunciaram isso, ainda em 2019, pela rede social Twitter (agora chamado X). A pandemia atrapalhou os planos, mas a espera acabou. Tremonti, o cara de poucas palavras, admite estar ansioso para tocar diante das “melhores plateias do mundo” — além do Brasil, eles se apresentam também em data única na Argentina e no Chile.

“Sabe, o Rock in Rio em 2017 foi uma loucura. Era uma multidão enorme. Lembro de estar em todas as TVs de hotéis e restaurantes da cidade. É algo que quero fazer muitas outras vezes antes do final da minha carreira. Mas, sabe, só por estar na América do Sul em geral… os fãs são incríveis. Então mal podemos esperar.”

E por que apenas três datas, Mark? A culpa, segundo ele, é da famigerada logística.

“Isso é com a parte de gestão. Acho que foi apenas um problema logístico. Você sabe, levar equipamentos ao redor do mundo é meio difícil. É por isso que também temos tantos dias entre os shows (um day-off entre Brasil e Argentina e dois entre este país e o Chile).”

Expectativas para o repertório

Os fãs não devem esperar por um repertório diferente do que vem sendo apresentado na atual turnê, que promove o álbum “Pawns & Kings” (2022). Relativamente abrangente, o setlist apresenta três canções do novo disco, cinco da estreia “One Day Remains” (2004), quatro de “Blackbird” (2007), duas de “Fortress” (2013) e uma de “AB III” (2010). Os únicos trabalhos não contemplados são “The Last Hero” (2016) e “Walk the Sky” (2019).

A saber, este foi o repertório da última apresentação da etapa norte-americana da turnê, em Council Bluffs, nos Estados Unidos:

  1. Silver Tongue
  2. Addicted to Pain
  3. Sin After Sin
  4. Broken Wings
  5. Burn It Down (Mark nos vocais)
  6. Cry of Achilles
  7. Watch Over You (apenas Myles, acústica)
  8. In Loving Memory (Myles e Mark, acústica)
  9. Blackbird (com trecho de “Blackbird” dos Beatles)
  10. Come to Life
  11. Fable of the Silent Son
  12. Isolation
  13. Open Your Eyes
  14. Metalingus

Bis:

  1. Rise Today

Tremonti recorda que o atual set tocado pelo grupo é “bem longo” (registra entre 1h30min e 1h40min) e que não é possível realizar qualquer alteração por, você sabe, questões logísticas.

“Não tocamos juntos desde que encerramos a última turnê. Portanto, teremos que continuar com o que temos feito na maior parte do tempo. Não temos uma semana de ensaios para elaborar algo novo. Mas essas músicas ainda serão novas para todos no Brasil, porque ainda não as tocamos aí.”

Peões e rainhas

Lançado em outubro de 2022, “Pawns & Kings” é, sem dúvidas, um dos grandes álbuns do Alter Bridge. Talvez o melhor do catálogo, a depender do critério analisado. Uma resenha publicada no site à época destaca suas principais características: é mais curto (10 faixas / 53 minutos) e soa mais orgânico, já que as composições orbitaram pelos riffs de guitarra.

Em outras entrevistas, Mark Tremonti “entregou” o que parece ter sido o grande mérito de “Pawns & Kings”: já não é mais possível diferenciar as composições dele e as de Myles Kennedy. O guitarrista costumava criar as músicas mais pesadas, enquanto o vocalista ficava a cargo das mais melódicas, atmosféricas ou guiadas pelo blues. Agora, eles têm invertido os papéis, de modo que nem o produtor de longa data do grupo, Michael “Elvis” Baskette, consegue distinguir quem criou o quê.

Será que isso fez, enfim, o Alter Bridge soar como um grupo, uma unidade definitiva? Tremonti aponta que a abordagem diferente traz, sim, bons resultados no fim das contas. E destaca que mesmo com cada músico envolvido em seus projetos paralelos, as músicas são criadas para a banda.

“Não criamos músicas para nós mesmos em Alter Bridge. A composição é para a banda. É algo que conhecemos: o estilo, as bandas, quais músicas são adequadas para o Alter Bridge. É por isso que temos nossos projetos paralelos para fazer qualquer outra coisa que a gente queira fazer. Essas composições são para o Alter Bridge. E é por isso que eu e Myles podemos parecer que estamos compondo as partes um do outro naquele momento. Nós praticamente dividimos isso ao meio. Eu escrevo uma metade do disco, Myles escreve a outra. E às vezes você simplesmente não consegue distinguir os compositores dessas músicas.”

“Pawns & Kings” também se distingue, ao menos em relação a “Walk the Sky”, por soar mais pesado e visceral. Tremonti não concorda tanto com essa análise, mas aponta que o novo álbum trouxe um “gostinho” diferente porque o anterior, de 2019, não teve seu ciclo de turnês concluído em função da pandemia.

“Estávamos muito entusiasmados por finalmente poder lançar um disco que sabíamos que poderíamos tocar ao vivo. Foi emocionante. Quando você pensa em um disco como esse, você pensa em como isso vai se traduzir no palco. Então, criamos um disco que é definitivamente divertido de tocar.”

A arma secreta do Alter Bridge

Não é segredo que Mark Tremonti e Myles Kennedy lideram o processo de composição do Alter Bridge. O próprio guitarrista disse “fatiar ao meio” as obrigações criativas com o vocalista.

Contudo, ambos são unânimes em apontar a cozinha de Brian Marshall e Scott Phillips como a grande arma secreta da banda. O trio de instrumentistas está junto desde 1994 — embora Marshall tenha saído do Creed em 2000 e retomado a parceria com os outros dois colegas quatro anos depois, quando o Alter Bridge foi fundado.

Sobra entrosamento. E, de acordo com Mark, identidade sonora.

“Quando vamos para a pré-produção de um álbum, que leva cerca de duas semanas, pegamos as músicas que eu e Myles escrevemos e colocamos o toque do Alter Bridge nelas. Todos nós ‘moramos’ um tempo com as demos que eu e Myles fazemos, mas então todos pensamos no que pode ser feito para torná-las suas também. E quando começamos a tocar, é quando realmente soa como Alter Bridge. Se você ouve as demos, elas simplesmente não têm aquele polimento do Alter Bridge. A seção rítmica faz uma grande diferença.”

Duas décadas

Parece até sem graça de tão natural a história de formação do Alter Bridge. O grupo foi criado logo após uma turnê do Creed repleta de controvérsias, muitas em função do alcoolismo do vocalista Scott Stapp. Mark Tremonti e Scott Phillips se reuniram com Brian Marshall, então fora da banda original, e convidaram Myles Kennedy, à época conhecido apenas pelo trabalho com o discreto The Mayfield Four, para ser o vocalista.

Mesmo com o enorme sucesso conquistado pelo Creed, era — e ainda é — comum ouvir que os músicos estavam sendo melhor aproveitados no Alter Bridge, em virtude de sua sonoridade mais pesada e não tão comercial. Era um encaixe natural. E não há qualquer drama ou tensão na trajetória de criação da nova banda, cujo primeiro single (“Open Your Eyes”) foi lançado no mesmo mês em que o grupo antigo teve seu fim anunciado (junho de 2004). Tudo isso torna a situação ainda mais impressionante, já que os envolvidos simplesmente lamberam suas feridas e seguiram em frente.

Tremonti, inicialmente, conta:

“Lembro de montar um estúdio em minha casa e comprar tudo. Tinha essa mulher chamada Shilpa Patel, que era uma das instrutoras do programa de gravação Pro Tools. Ela escreveu alguns livros sobre como executar o Pro Tools e eu a contratei para me ensinar como fazer. Então eu aprendi a ser um engenheiro de som e compus e criei demos para o primeiro álbum.”

Até a chegada de Kennedy soa sem glamour da forma como Mark narra:

“Eu passei, sei lá, cerca de um ano e meio fazendo isso, tentando descobrir quem poderia cantar nessa nova banda e vendo alguns cantores locais. Enfim, um dos meus melhores amigos disse: ‘você se lembra do Myles Kennedy do Mayfield Four?’. E ele pegou e colocou um dos CDs deles enquanto dirigíamos. Isso me lembrou o quão incrível ele era. Então entramos em contato com Myles, enviei a ele algumas das demos nas quais trabalhei e ele adorou. Foi assim que tudo começou.”

De acordo com o guitarrista, não houve drama ou glamour porque era simplesmente uma história de “sobrevivência”. Artística, é claro.

“Estávamos apenas tentando sobreviver naquela época. Você sabe, o Creed era uma banda de grande sucesso na época, mas quem sabia o que iria acontecer quando começássemos sozinhos? Então só queríamos ter certeza de que poderíamos continuar nossa carreira, seja em uma banda pequena ou grande, não importava. Nós apenas queremos continuar fazendo isso.”

Convidado a refletir sobre os quase 20 anos do álbum de estreia “One Day Remains”, Tremonti preferiu analisar a trajetória por completo e destacar como ele pôde trabalhar em projetos diversos — até mesmo em um disco com versões para canções natalinas, gravadas da maneira mais “old school” possível, segundo ele.

“Amo esse álbum. Fico feliz por ter experimentado todas essas possibilidades diferentes. Poder tocar no Creed, Alter Bridge e minha banda solo Tremonti, onde posso cantar… poder fazer o álbum ‘Tremonti Sings Sinatra’ foi uma das coisas mais emocionantes que já fiz. Também tenho um disco de Natal (‘Christmas Classics New & Old’) saindo, com coral, sinfonia… a maior produção que já fiz.”

Reunião do Creed e mais

Também meio que do nada, o Creed anunciou seu retorno para uma série de shows em 2024. Primeiro, seria apenas uma apresentação no cruzeiro Summer of ’99. Mas esgotou tão rapidamente que trataram de marcar uma segunda edição da viagem. Mais recentemente, confirmaram uma turnê pela América do Norte.

Mark Tremonti, o cara que não é de muitas palavras, conta a história da reunião da forma mais simples possível.

“Antes da pandemia chegar, fizemos alguns cruzeiros, ShipRocked Cruises. E lembro de dizer ao meu empresário que seria divertido fazer um cruzeiro do Creed. Uma janela se abriu depois da turnê do Alter Bridge e começamos a conversar com o Six Man Group, que realiza os cruzeiros, e eles acharam que era uma ótima ideia. Então entramos em contato com Scott Stapp e ele também gostou da ideia. Colocamos à venda e esgotou imediatamente. Então, estamos entusiasmados com isso.”

Fica até difícil imaginar o guitarrista, com seu jeitão todo descomplicado, lidando com o amor de tantos fãs satisfeitos pela volta do Creed. Uma delas, em especial, gera curiosidade: “Higher”, um dos hits do grupo, tornou-se uma espécie de hino não-oficial dos torcedores do Texas Rangers, um time americano de baseball, após seus jogadores usarem a canção para se empolgarem e conseguirem uma reação no campeonato nacional.

Tremonti e seus colegas chegaram a acompanhar presencialmente uma partida da equipe. Sobre a experiência, o guitarrista faz uma brincadeira envolvendo seus filhos.

“É incrível. Sabe, meus filhos são absolutamente obcecados por esportes. Então eles finalmente acham que sou maneiro, porque consegui levá-los para aquele jogo e agora eles querem ir para a World Series (série de campeonatos atuais da liga americana de baseball). Tipo: ‘vamos lá, pai, me leve para a World Series’. Espero poder apresentar meus meninos ao time um dia.”

Por fim, Mark Tremonti indica que o Alter Bridge descansará em 2024. Mas não seus integrantes. Myles Kennedy estará envolvido com turnês solo de Slash e os demais músicos excursionarão com o Creed. E vem mais por aí.

“Em janeiro tenho três shows do projeto ‘Tremonti Sings Sinatra’. Tenho dois em Nova Jersey e um em Beverly Hills. E aí tenho outro show, dia 16 de dezembro, o show de Natal em Orlando. Todos os lucros vão para a caridade. Entrarei em estúdio com o Tremonti, minha banda solo, em fevereiro. A partir de abril, estarei ocupado com o Creed.”

*O Alter Bridge se apresenta no Espaço Unimed, em São Paulo, nesta quarta-feira (8). Ainda há ingressos à venda no site Ticket360.

**Confira abaixo a versão em vídeo da entrevista.

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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