No papel parecia uma união deveras interessante. Após ressurgir com força total graças à dobradinha “Permanent Vacation” / “Pump” – além da parceria com o Run-DMC em uma regravação de “Walk This Way” –, o Aerosmith lançava “Get a Grip”, álbum que por si só parecia uma coletânea. Videoclipes roteirizados quase como filmes, estrelados pelas atrizes Alicia Silverstone e Liv Tyler (esta última filha do vocalista Steven Tyler), faziam a banda ganhar alta rotação na MTV, colocando-os em pé de igualdade com as novidades da época.
Ao mesmo tempo, o Megadeth vinha ganhando terreno, especialmente após o lançamento de “Countdown to Extinction” um ano antes. O disco vendeu mais de dois milhões de cópias só nos Estados Unidos, chegando ao segundo lugar na Billboard 200. É até hoje a melhor posição alcançada pelo grupo na principal parada mundial. Com isso, não é de se estranhar que os gigantes do Hard Rock tenham convidado o quarteto para ser atração de abertura da turnê seguinte, que percorreria arenas e estádios norte-americanos.
Porém, a união que deveria durar 25 shows acabou logo após a terceira. E os motivos recaem sobre o vocalista e guitarrista Dave Mustaine. Reconhecidamente alguém que não tem papas na língua, o frontman se mostrou insatisfeito com algumas situações da excursão e acabou descontando nos meios onde pôde expressar seu desgosto.
Inicialmente, durante entrevista a uma rádio, declarou preferir ser atração principal, mas não estar muito preocupado pois aquele poderia ser o último momento do Aerosmith nos holofotes. Depois, durante um show, ao explicar que sua banda só tinha 45 minutos de palco, alfinetou:
“Não temos muito tempo para tocar porque o Aerosmith não tem mais muito tempo para viver.”
Foi a gota d’água para Steven Tyler, que pediu a retirada do Megadeth da turnê. A lenda diz que o cantor foi ao camarim e perguntou: “Dave, gostaríamos de ajudá-lo. Por onde você entrou?”, sugerindo a mesma porta para a saída.
Durante entrevista ao podcast Waste Some Time With Jason Green (transcrita pelo Ultimate Guitar) no início deste ano, David Ellefson, agora ex-colega de Mustaine, relembrou a situação. O baixista lembrou que o manager da banda achou que seria uma boa ideia juntar os então recém-sóbrios com Tyler, Joe Perry e companhia, que ostentavam uma sobriedade de anos naquele momento – embora após algum tempo tenha vindo à tona que a situação não era exatamente essa longe dos olhares públicos.
“Steven Tyler entrou no camarim e foi muito gentil. Ele disse, ‘Pessoal, o que houve? Qual é o problema?’ E Dave meio que expôs suas queixas sobre a passagem de som e o pano de fundo, além de todas essas outras coisas de produção que normalmente teríamos em uma turnê regular.
E eu pensei que era louvável que Steven pelo menos fizesse um esforço para resolver, mas nada mudou. Àquela altura, Dave não estava feliz por participar daquilo. Acabou se revelando uma mistura muito estranha e equivocada. Estávamos tocando ‘Hangar 18’ para uma plateia que queria ouvir ‘Love In An Elevator’ e nem sabia quem éramos.”
Megadeth fora da turnê do Aerosmith
O Jackyl, força emergente do hard rock estadunidense no período, acabou assumindo o posto de atração de abertura.
Ao contrário das previsões de Dave Mustaine, a Get a Grip Tour não foi o último sucesso do Aerosmith, que seguiu firme e forte nos palcos de todo o planeta.
Para sua felicidade, o Megadeth também manteve status respeitável, mesmo com muitas mudanças de formação e períodos de polêmica interna.
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