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Entrevista: Steven Wilson fala sobre “The Harmony Codex”, Pink Floyd, Kate Bush e mais

Músico lança nesta sexta-feira (27) seu sétimo álbum solo, que rompe com guinada ao pop de trabalhos recentes e sucede reunião do Porcupine Tree

Steven Wilson está particularmente empolgado com “The Harmony Codex”. O sétimo álbum solo do músico britânico, conhecido também por ter liderado o recentemente reativado Porcupine Tree e pelos inúmeros trabalhos como produtor/engenheiro de som, traz algumas peculiaridades em seu desenvolvimento — muitas delas discutidas pelo próprio em entrevista ao site IgorMiranda.com.br (também disponível em vídeo).

A primeira delas tem a ver com método. Embora esteja saindo apenas nesta sexta-feira (29), este disco é o “bebê pandêmico” de Wilson, já que foi composto e gravado durante o período de isolamento social. Como não pôde se juntar a outros músicos em estúdio, ele abraçou o processo colaborativo online e envolveu mais gente do que de costume.

“A sensação de estar isolado de outros músicos e do resto do mundo deve ter tido uma grande influência neste álbum, mas é difícil caracterizar exatamente o que é isso — exceto pelo fato de não poder entrar em estúdio com um grupo fixo de músicos, diferentemente de discos anteriores. Isso me fez pensar em cada música como uma entidade separada. Pensava: ‘qual seria a banda perfeita que eu gostaria nessa faixa?’. Há bateristas, baixistas e guitarristas diferentes para cada uma delas. Não teria feito isso se não fosse o isolado.”

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O resultado é audacioso. “The Harmony Codex” interrompe a guinada ao pop de seus antecessores diretos e busca uma abordagem bem mais desbravadora artisticamente. Não é uma ruptura por completo, já que há canções palatáveis como a semifolk “What Life Brings” e a melancólica “Rock Bottom” (compartilhando vocais com Ninet Tayeb no momento “The Great Gig in the Sky” do álbum). Mas a proposta é, de fato, bem mais experimental — a ponto de haver uma faixa, justo a que dá nome ao disco, com 10 minutos de música ambiente.

Isso nos leva à segunda particularidade do álbum: foi feito quando Steven já sabia que iria se reunir com o Porcupine Tree, banda de rock/metal progressivo que lidou entre as décadas de 1990 e 2000. A retomada chegou a render um disco, “Closure/Continuation” (2022), com muitas ideias desenvolvidas há mais de uma década. Ainda assim, saber que seu projeto mais roqueiro estava voltando lhe tirou a responsabilidade de inserir guitarras no material solo.

“Há pequenas tribos dentro da minha base de fãs. Tem os que gostam de música ambiente mais reflexiva; de coisas mais pop; rock progressivo mais clássico; e de metal progressivo. Essa última parcela esteve mais ausente nos meus últimos discos solo, pois não estou muito interessado em metal atualmente. É algo que fiz há 10 ou 15 anos e não quero mais fazer. Então, parte de mim sentiu: ‘ok, com o Porcupine Tree poderei oferecer mais daqueles grandes riffs de metal’. Talvez isso me libertou quando eu estava fazendo o ‘The Harmony Codex’, para não ter que me preocupar se tenho ou não guitarras o suficiente neste álbum.”

Reimaginações de “The Harmony Codex”

A terceira peculiaridade a ser destacada de “The Harmony Codex” merece até uma seção à parte. A edição deluxe do álbum acompanha dois discos extras com remixes e versões alternativas das músicas originais. Quem foram os responsáveis? Em parte do material, figuras do porte de Manic Street Preachers, Roland Orzabal (Tears for Fears), Mikael Åkerfeldt (Opeth), Interpol e Faultline.

Como já mencionado, Steven Wilson é figura prolífica no âmbito da produção e especialmente engenharia de som. Além de ter comandado gravações de álbuns do Opeth, Fish e Orphaned Land, entre outros, colaborou com reedições remixadas de catálogo de bandas como Jethro Tull (“Aqualung”), Tears for Fears (“Songs from the Big Chair”), Black Sabbath (“Vol. 4”), Guns N’ Roses (single “November Rain” com orquestra completa), King Crimson (“In the Court of the Crimson King”), Yes (vários) e Roxy Music (estreia homônima).

Consequentemente, o britânico é muito bem-relacionado. O que facilitou trazer alguém como Orzabal, que, antes de remixar “What Life Brings”, nunca havia feito algo do tipo. Aliás, Wilson buscava justamente esse perfil de músico.

“Todos foram incríveis. Roland é uma das minhas maiores influências, um dos meus heróis da composição. Quando pensei nessas versões diferentes, eu mesmo fiz algumas, mas quis envolver outros músicos que admiro — e quis pessoas que nunca tivessem feito esse tipo de coisa antes. Eu poderia facilmente ter conseguido algum grande engenheiro de remixes, mas pensei: ‘quem eu conheço e que provavelmente nunca foi sequer convidado para um remix?’. Não acho que Roland tenha sido. Achei ótimo, porque ele abordaria isso de uma maneira completamente diferente de alguém que tem um método, um padrão de trabalho estabelecido. Alguém como Roland abordaria a música do ponto de vista de um compositor.”

Outra participação destacada foi a do Manic Street Preachers. A icônica banda galesa se uniu para remixar “Economies of Scale”. O resultado ficou tão diferente que deixou Steven surpreso.

“Os Manics basicamente pegaram meu vocal e criaram uma música completamente diferente para acompanhar. A ‘Economies of Scale’ é meio eletrônica, então eles criaram uma peça musical de guitarra e bateria para acompanhar o vocal principal, o que o levou a uma direção completamente diferente. Foi fascinante, surpreendente e muito emocionante para mim.”

Cinematográfico e “Dark Side”

De volta ao material principal de “The Harmony Codex”, Steven Wilson traçou alguns paralelos interessantes ao comentar o álbum. Primeiramente, refletiu sobre como considera haver um “fluxo cinematográfico” conforme o disco se desenvolve.

“Penso nele como uma obra de cinema. Parece que você está viajando ao desconhecido, a territórios surpreendentes. É quase como uma sensação de cenas de um filme que são construídas para dar um sentido narrativo lógico. Mas cada cena tem sua própria personalidade, seu próprio mundo independente. Acho que vem de ter feito isso por muitos anos e ter a confiança de que sou capaz de reunir todos esses diferentes tipos de música em um álbum — mas confiando no fato de que eles todos vão soar como eu. E assim haverá uma espécie de coesão.”

Em seguida, uma comparação ainda mais ambiciosa foi feita: com “The Dark Side of the Moon” (1973), clássico álbum do Pink Floyd e um dos discos mais vendidos da história. Wilson, claro, foi cauteloso ao estabelecer tal paralelo.

“A primeira peça de rock conceitual que conheci foi quando meu pai costumava ouvir ‘The Dark Side of the Moon’ na minha infância. Ouvi-lo subconscientemente exerceu grande influência em mim. E o que tem em comum entre esses dois discos — embora não esteja comparando meu trabalho com aquela obra-prima — é que se você analisar ‘The Dark Side of the Moon’, cada faixa é quase de um gênero diferente. Você tem ‘On the Run’, que é eletrônica; ‘Money’, que é um pouco funk; ‘The Great Gig in the Sky’, que é gospel… são diferentes, mas tudo soa como Pink Floyd. A ideia de juntar diferentes tipos de música daquela forma muito cinematográfica foi implantada em mim muito cedo.”

Brasil e trabalhos dos sonhos de Steven Wilson

Faz cinco anos desde a última visita de Steven Wilson ao Brasil. Foram quatro passagens para apresentações, sempre em carreira solo. No entanto, ele não se esqueceu do público daqui — ainda que nem todas as experiências tenham sido positivas e, por vezes, pareça até que ele não conta com tantos fãs no país.

“O público brasileiro é extremamente apaixonado, barulhento e empolgante. Tocar para o brasileiro é emocionante. Estava muito doente da última vez que fui, acho que tive dor de barriga e mal conseguia subir no palco. Então, minha lembrança do último show não é a melhor, mas tive experiências maravilhosas no Brasil. Nunca os maiores públicos. Comparado a alguns outros lugares como Chile e Argentina, no Brasil, o público sempre foi menor. Mas quer saber? Talvez isso esteja mudando. Da primeira vez que fui, fiquei desapontado. Apenas umas 200 ou 300 pessoas vieram me ver. Mas talvez as coisas tenham mudado. Eu adoraria ir novamente até aí.”

No embalo de “coisas que adoraria fazer”, o músico também foi convidado a compartilhar quais álbuns gostaria de remixar, especialmente para dar ainda mais brilho a um trabalho originalmente impecável. Wilson, vale destacar, domina técnicas de estúdio relacionadas ao chamado “áudio espacial” (“spatial audio”), que oferece uma experiência tridimensional ao ouvinte.

“Há certos álbuns que eu adoraria remixar por achar que sonoramente eles poderiam ter sido melhores, mas há outros álbuns que eu adoraria fazer uma mixagem em áudio espacial pela razão contrária: porque acho que são álbuns incrivelmente bem gravados. Nesta segunda categoria, eu adoraria mixar, por exemplo, qualquer um dos discos do Talk Talk, como ‘Color of Spring’ (1986) e ‘Spirit of Eden’ (1988). Qualquer um dos discos da Kate Bush, como ‘Hounds of Love’ (1985), seria incrível. Qualquer um dos discos de Peter Gabriel seria incrível, a exemplo do quarto álbum dele (‘Security’, 1982). A lista é longa, mas esses são discos que eu cresci ouvindo, principalmente nos anos 80, quando era adolescente. Muitos dos meus álbuns favoritos vêm dessa época. Esses são discos pop incrivelmente inovadores e experimentais. Trabalham dentro do meio pop, mas também são muito criativos e soam lindos.”

>>> Clique e ouça “The Harmony Codex” em sua plataforma de streaming de música favorita. Assista abaixo à íntegra da entrevista, em vídeo.

Steven Wilson – “The Harmony Codex”

  1. Inclination
  2. What Life Brings
  3. Economies Of Scale
  4. Impossible Tightrope
  5. Rock Bottom
  6. Beautiful Scarecrow
  7. The Harmony Codex
  8. Time Is Running Out
  9. Actual Brutal Facts
  10. Staircase

Disco 2, edição deluxe: Harmonic Distortion

  1. Codex Theme #7
  2. Economies Of Scale (Manic Street Preachers Remix)
  3. Codex Theme #9
  4. Inclination (Faultline Remix)
  5. Impossible Tightrope (Alternate Version)
  6. Codex Theme #6 4
  7. Beautiful Scarecrow (Meat Beat Manifesto Excursion 1)
  8. Codex Theme #8
  9. Time Is Running Out (Mikael Åkerfeldt Version)
  10. Staircase (Interpol Remix)
  11. 11 Codex Theme #3
  12. What Life Brings (Aug 22 Mix By Roland Orzabal)
  13. The Harmony Codex (Long Take)
  14. Staircase (Radiophonic Workshop Remix)

Disco 3, edição deluxe: The Harmony Codex Blu-ray

  1. High-Resolution Stereo (96/24)
  2. 5.1 Mix (96/24)
  3. Atmos Mix (48/24)
  4. Stereo Instrumentals (96/24)
  5. 5.1 Instrumentals (96/24)
  6. Atmos Instrumentals (48/24)

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Igor Miranda
Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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