Mudança e interferências: Ricardo Confessori expõe seu lado sobre fim do Shaman

Banda chegou ao fim após baterista ter discutido com fã nas redes sociais; ele afirma que situação foi apenas a "gota d'água"

O baterista Ricardo Confessori se manifestou sobre o fim do Shaman, anunciado no último mês de janeiro. Em trecho de entrevista ao Metal Musikast, cuja íntegra será divulgada em breve, o músico negou ter sido o único responsável pelo tumultuado encerramento e citou que a discussão com um fã, em uma publicação de temática política nas redes sociais, serviu apenas como gota d’água.

Inicialmente, Confessori disse que a decisão do vocalista Alírio Netto de se mudar para a Espanha atrapalhou a sequência das atividades do grupo. Segundo ele, à época da notícia, as atividades de gravação do álbum “Rescue” (2022) já haviam sido iniciadas. O músico ainda afirmou que Netto havia omitido essa informação de início e só a revelou quando já estava na formação.

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Conforme transcrição do site, ele declarou:

“Isso daí é o que dizem, né? Que o fim do Shaman está ligado diretamente (à discussão com o fã). Mas você vê por aí declarações dos caras falando que já estavam de saco cheio. Como uma banda vai sobreviver se o vocalista, seis meses após ter entrado, informa que está mudando para a Espanha? Uma banda que praticamente vive 80% a 90% no Brasil. Uma banda que perdeu seu vocalista — o grande Andre Matos, o maior de todos os vocalistas —, em uma situação delicada, tentando se reerguer, chama o vocalista e ele omite isso de você. Depois que ele está na banda, que já começaram as atividades, as gravações e tal, ele fala: ‘olha, só para avisar, daqui quatro meses eu tô mudando pra Espanha’.”

Segundo Ricardo, todas as despesas relacionadas à vinda de Alírio ao Brasil ficaram a cargo do Shaman. A situação, segundo ele, inviabilizava a realização de shows esporádicos, apenas turnês.

“Daí te joga em cima toda essa oneração de trazê-lo para o Brasil, de só poder fazer shows a partir de uma quantidade em diante, porque tem todo aquele custo de sei lá quantos mil euros para trazer o cara aqui, com passagem aérea. Você não pode mais fazer eventos esporádicos. Fica inviável fazer tipo: ‘ah, tem um festival aqui, um Abril Pro Rock’. Não. Só se for uma coisa muito grande para que compense fazer. Tentaram jogar uma culpa em cima de mim, mas isso daí (a discussão com o fã) foi só a gota d’água.”

Interferência externa

Ainda em seu relato, Ricardo Confessori culpou a “interferência de pessoas que não eram” do Shaman em suas atividades. Nenhum nome foi citado pelo baterista, mas declarações anteriores de Luís Mariutti levam a crer que a referência seja à esposa do baixista, Fernanda Mariutti. Confessori afirmou:

“Era tipo: ‘a banda tem que ser igual a família’. Não, cara. Tem que ser igual empresa. Vamos falar a verdade. Trabalha quem tem competência e quem é da banda.”

Por fim, Confessori afirmou que esta foi a “segunda vez que tentam jogar culpa de final de banda” em suas costas — o rompimento da formação inicial do Shaman, em 2006, deixou o baterista isolado após as saídas em conjunto de Luis, Andre e do guitarrista Hugo Mariutti.

“Chamo isso às vezes até de ‘delírio artístico’, ‘estrelismo artístico’. Querem sair fazendo carreira solo, isso e aquilo, e aí sempre arrumam um bode expiatório para ser a causa da separação. Estou com a consciência tranquila. Tenho meus fãs, que sabem como sou. Não uso nenhuma máscara.”

A situação “gota d’água”

A discussão com um fã de Shaman definida como “gota d’água” por Ricardo Confessori ocorreu após o baterista ter feito uma publicação questionando o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após um discurso contra os atos golpistas contra as instalações dos três poderes da nação, ocorridos em Brasília no dia 8 de janeiro. Referindo-se ao mandatário como “presidente fake” e o acusando de proferir mentiras, o instrumentista gerou discordâncias nos comentários.

Um deles veio através de Mateus Ferreira, médico veterinário e ex-baixista da banda Emphuria. Ao respondê-lo, Ricardo declarou:

“Você não passa de um boiólogo [sic] que reprovou em medica [sic]. Nível fraco. Volta aqui quando for médico pelo menos. Homem de esquerda é piada pronta. Sai do polo feminino. Feministo não binário, se enxerga, olha sua cara de otário.”

À época, Ferreira anunciou que tomaria medidas legais cabíveis contra Confessori. Após a repercussão do caso, Luís Mariutti anunciou sua saída do Shaman. Na sequência, Hugo Mariutti, seu irmão, confirmou o encerramento das atividades da banda após os compromissos previamente assumidos. Alírio Netto apoiou a decisão e externou seu repúdio a qualquer prática que envolva discurso de ódio.

Em entrevista a Gastão Moreira para o canal Kazagastão, Luís afirmou que as divergências políticas sempre existiriam — e que não foram elas as responsáveis por causar o rompimento.

“Eu tentei nessa volta, com o Ricardo especificamente, ser o mais correto possível no sentido de não misturar as coisas, porque eu já vi que ele estava com uma cabeça mais radical, com pensamentos completamente diferentes do meu. A gente recebe mensagens de questionamento, de ‘não sei o que, p*rra por ser por você ser petista e o cara Bolsonaro, vocês fizeram isso, que não sei o que’. Não, não foi, não foi isso.

O Ricardo, de alguns anos pra cá, tem postado coisas mais radicais. Muitos fãs vieram pra gente ao longo desse tempo falando: ‘oh velho desculpa aí, mas eu não sigo mais a sua banda cara, porque eu discuti com o cara ali’ não sei o que. A gente vinha relevando e até sendo criticado. ‘Pô, os caras são passa pano’. Algumas mensagens, né? Por política vocês fizeram isso? Não! Foi por preconceito, por coisas preconceituosas.”

De acordo com Luís, a coisa acabou respingando até mesmo em sua família.

“Se ele não se deu o trabalho de pensar, porque ali tem uma frase, por exemplo, de preconceito ao feminismo, né? A minha esposa é uma mulher que vive com os conceitos feministas, que passa conceitos feministas pra nossa filha, conceitos de igualdade e muitas vezes, por ela estar comigo por ela opinar, eu ouço ‘ah que que essa mulher do cara está fazendo?’; ‘Pô essa Yoko Ono’, entendeu cara? ‘Ah a mina do cara quer dar palpite?’. Não, velho, é a mulher que produz eventos, é a mulher que contrata o Ricardo.

Mesmo com todas essas diferenças, ele tocou agora em dezembro no nosso evento. Contratado pela feminista Fernanda. Macho de esquerda é piada pronta, ele comentou. Você não acha que você pode estar ofendendo ali, pessoas que trabalham com você e tudo mais?”

Sobre o Shaman

Formado em 2000 por três ex-integrantes do Angra – Luis, Ricardo e o saudoso vocalista Andre Matos – junto de Hugo e o tecladista Fábio Ribeiro (que também trabalhava com o Angra como músico de apoio), o Shaman gravou dois álbuns de estúdio com sua formação original, que esteve na ativa entre os anos de 2000 e 2006, quando Matos, Ribeiro e os irmãos Mariutti saíram.

Confessori manteve o grupo com uma nova configuração, encerrada em 2013 após outros dois discos de inéditas serem registrados.

Cinco anos depois, em 2018, foi anunciada uma reunião do quinteto original. A iniciativa ficou restrita a shows, visto que em 2019 Andre faleceu em decorrência de um ataque cardíaco. Alírio Netto ocupou a vaga de vocalista e os músicos gravaram o álbum “Rescue”, lançado em 2022.

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Igor Miranda
Igor Miranda é jornalista formado pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), com pós-graduação em Jornalismo Digital. Escreve sobre música desde 2007. Além de editar este site, é colaborador da Rolling Stone Brasil. Trabalhou para veículos como Whiplash.Net, portal Cifras, revista Guitarload, jornal Correio de Uberlândia, entre outros. Instagram, Twitter e Facebook: @igormirandasite.

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