A música que o R.E.M. fez em homenagem a Kurt Cobain

Faixa está presente em disco lançado no ano da morte do vocalista e guitarrista do Nirvana

Em janeiro de 1994, o Nirvana foi capa da Rolling Stone. Seu líder, Kurt Cobain, concedeu a David Fricke a que pode ter sido a grande entrevista da carreira de ambos. O título dado pelo jornalista ao papo? “Success doesn’t suck” (“O sucesso não é uma m#rda”).

A certa altura, Fricke perguntou a Cobain se este imaginava o fim do Nirvana e, quem sabe, o início de uma carreira solo. “Não acho que seria capaz de fazer algo sozinho”, respondeu Kurt, acrescentando:

“Sei que vamos lançar mais um disco, pelo menos, e tenho uma boa ideia de como vai soar: bem etéreo, acústico, como o último álbum do R.E.M. [‘Automatic for the People’ (1992)]. Se eu pudesse compor apenas algumas músicas tão boas quanto as que eles criaram… Não sei como essa banda faz o que faz. Meu Deus, eles são incríveis. Eles lidaram com seu sucesso como santos e continuam entregando boa música.”

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“Automatic for the People” estava tocando enquanto Cobain tirou a própria vida. Presume-se que a última música que ele ouviu foi “Everybody Hurts”.

Ao saber disso, Michael Stipe, vocalista do R.E.M. e amigo de Kurt escreveu “Let Me In”. Em participação no Evening Session Show da Radio 1, em 1994, ele refletiu sobre:

“Quando Kurt morreu no meio da gravação do disco [‘Monster’ (1994)] e eu simplesmente joguei meus braços para cima e tive que expressar a frustração que eu sentia por ter tentado tirá-lo do estado de espírito em que ele estava e não conseguido. Daí escrevi aquela música [‘Let Me In’] e a colocamos no disco.”

Muitas são as referências a Cobain nos versos assinados por Stipe:

  • a menção ao pescador (“fisherman”) se deve ao fato de Kurt ser do signo de Peixes e dono de uma leve obsessão em se encaixar no estereótipo do pisciano;
  • “Gathering up the loved ones” (“Reunindo os entes queridos”) refere-se ao fato de que ele tinha toda sua parafernália de drogas ao seu redor quando se matou;
  • o refrão traz Michael implorando a Kurt para deixá-lo ajudar.
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Na gravação de “Let Me In”, Mike Mills, guitarrista do R.E.M., usou um instrumento que pertenceu a Cobain. O modelo — um dos poucos que Kurt não quebrou no palco — foi um presente da viúva Courtney Love a Stipe. Como Cobain era canhoto, Mills, destro, teve de reencordoá-la para tocar corretamente.

Não lançada como single à época que “Monster” chegou às lojas, “Let Me In” recebeu atenção tardia quando da edição de 25 anos do álbum, em 2019. A faixa foi remixada pelo outrora produtor do R.E.M. e colaborador de curta duração do Nirvana, Scott Litt, e ganhou um videoclipe em animação dirigido por Nir Ben Jacob. À BBC, Michael Stipe disse que o clipe “era puro Kurt”.

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R.E.M. e “Monster”

Lançado em 27 de setembro de 1994, “Monster” é o nono álbum de estúdio do R.E.M. Um dos discos mais polêmicos do catálogo da banda, é tido como um desastre comercial, embora tenha conquistado disco de platina triplo no Reino Unido e quádruplo nos Estados Unidos.

Em uma entrevista de 2019 para o BBC Music, Michael Stipe definiu o álbum como uma tentativa de reinventar o R.E.M., com “algo que fosse barulhento, ousado e punk rock”. Além de música sobre Kurt Cobain, “Monster” inclui composições inspiradas pela morte do ator e músico River Phoenix, também amigo de Stipe, em 1993.

** No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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