“Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, diz Mateus 22:14 na Bíblia. O que o evangelista quis dizer? Que o convite do Evangelho é anunciado a todo o mundo e alcança a muitos, porém são poucos aqueles que efetivamente respondem a esse chamado.
Trazendo para o contexto atual, nem a mais ostensiva das divulgações foi capaz de arregimentar mais do que os quase 100 presentes na noite do último domingo (24) no Agyto para a passagem carioca da turnê conjunta de Narnia e Rob Rock, dois ícones do metal cristão, pela América Latina — que inclui nada menos que sete datas somente no Brasil.
Nem a banda sueca nem o cantor americano são novidade por aqui. O Narnia veio outras duas vezes, 2017 e 2019, e chegou a gravar um disco ao vivo em Belo Horizonte: “We Still Believe – Made in Brazil” (2018). Por sua vez, Rob Rock fez sua estreia nos palcos brasileiros em 2016, num giro conjunto com outro ícone white, a vocalista Leather Leone (Chastain). Porém, a acolhida pelos presentes foi ruidosa e acalorada, compensando a falta de quórum com altos brados e excessiva empolgação.
Problemas de logística impediram os brasileiros do Sunroad — banda cujo baterista, Fred Mika, é dono da Musik Records, selo responsável pelo lançamento de “Ghost Town”, o mais recente álbum do Narnia, no Brasil — de fazer o show de abertura. Portanto, as músicas para louvar ao Senhor começaram a ser tocadas mais cedo numa dinâmica curiosa que pegou os incautos de surpresa.
O fato de Rob Rock usar os músicos do Narnia — Carl Johan “CJ” Grimmark (guitarra), Jonatan Samuelsson (baixo), Martin Härenstam (teclados) e Anders Kollerfors substituindo o baterista Andreas Johansson — como banda de apoio possibilitou um repertório intercalado entre as duas atrações.
Entenda: depois de Rob cantar suas quatro primeiras músicas, ele saiu do palco para a entrada de Christian Liljegren, que, vestindo a camisa canarinho da seleção brasileira de futebol, comandou as cinco primeiras do Narnia. Rob voltou para mais quatro, e o Narnia para suas sete restantes. Dois shows em um só, por assim dizer.
Em entrevista a este jornalista, Rob Rock revelou que um novo álbum do Impellitteri está no forno e que já está preparando músicas para seu próximo disco solo. A “falta de novidades” ditou os rumos do repertório do cantor, que apostou em grandes sucessos solo e numa única canção da banda pela qual muitos primeiro o conheceram: “Father Forgive Them”, de “Screaming Symphony” (1996), citado como um dos trabalhos favoritos de sua carreira.
Embora sua “fatia” do show tenha sido menor em comparação à do Narnia, Rock deu um jeito de privilegiar seus quatro álbuns solo — “Rage of Creation” (2000), “Eyes of Eternity” (2003), “Holy Hell” (2005) e “Garden of Chaos” (2007). Tocou pelo menos uma música de cada um deles e botou todo mundo para cantar junto, com as mãos para o alto, na principal delas: “I’m a Warrior”.
A divisão se deu de forma menos igualitária pelo Narnia. Para começar, não houve músicas de três de seus nove álbuns. Ou seja, fãs de “Desert Land” (2001), “The Great Fall” (2003) e “Course of a Generation” (2009) ficaram chupando o dedo.
A prioridade coube a outros três: “Ghost Town”, o antecessor “From Darkness to Light” (2019) e “Long Live the King” (1999), que compareceram com três faixas cada. Aos restantes “Awakening” (1998), “Enter the Gate” (2006) e “Narnia” (2016), uma representante apenas. Vale citar que constantes pedidos por “The Mission” foram solenemente ignorados.
Não se sabe se pelo sai-um-entra-outro, pela infraestrutura menor se comparada à da última vinda — na qual abriu para o Stryper num Circo Voador praticamente lotado — ou por qualquer outro motivo não aparente, mas o Narnia tocou ao vivaço. Liljegren soltou a voz em vez de dublar uma base pré-gravada e os músicos mostraram total perícia e domínio de seus instrumentos, com CJ frequentemente roubando os holofotes para si.
Obviamente, o vocalista — cristão fervoroso que é — encarnou o televangelista e a noite teve seu momento de pregação. Membros do staff da casa que talvez nunca visto tão poucas bebidas alcoólicas serem consumidas num show de rock não entenderam nada, mas o público pagante — e sóbrio — embarcou na Palavra: mãos para o alto, olhos fechados e semblantes de completude que diziam “ser crente é o maior barato”.
Com Rob dividindo os vocais, veio a trinca final, com “The War That Tore the Land” — que já virou um hino para o fã-clube —, “I Still Believe” e “Living Water”, durante a qual se pôde ver uma tentativa de roda de pogo.
Terminados os trabalhos no palco, Christian, que estava uma simpatia só, se dirigiu ao estande do merchandising para fotos e autógrafos. Falando nisso, R$ 50 pelo CD até que vai, mas R$ 125 numa camiseta? Não pode ser de Deus.
Narnia e Rob Rock – Ao vivo no Rio de Janeiro
- Local: Agyto
- Data: 24 de setembro de 2023
- Turnê: Latin America Tour 2023
Repertório:
- The Sun Will Rise Again (Rob Rock)
- First Winds of the End of Time (Rob Rock)
- Savior’s Call (Rob Rock)
- Judgement Day (Rob Rock)
- A Crack in the Sky (Narnia)
- You Are the Air That I Breathe (Narnia)
- Rebel (Narnia)
- Thief (Narnia)
- Descension (Narnia)
- Rock the Earth (Rob Rock)
- Father Forgive Them (Impellitteri) (Rob Rock)
- Fields of Fire (Rob Rock)
- I’m a Warrior (Rob Rock)
- The Lost Son (Narnia)
- No More Shadows from the Past (Narnia)
- Into This Game (Narnia)
- Long Live the King (Narnia)
Bis:
- The War That Tore the Land (Narnia) (com Rob Rock)
- I Still Believe (Narnia) (com Rob Rock)
- Living Water (Narnia) (com Rob Rock)
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