A grandiosidade do legado do Angra, o arrojo de seus dois últimos discos solo – “Vera Cruz” (2021) e o recém-lançado “Eldorado” (2023) – e a própria natureza pomposa do power metal contrastavam com o espaço físico reduzido e o público diminuto que compareceu para ver Edu Falaschi no Bolshoi Pub.
Mas por que não usar isso a seu favor? Pois foi o que fez o vocalista, que se saiu bem ao conseguir entregar um show eficiente e quase intimista em Goiânia, na noite de quinta-feira (28).
Mesclando facetas diferentes do power metal, como a intensidade (quando precisava ser contundente) e melodias acústicas de fácil compreensão (quando queria ser acessível), Edu logrou êxito ao interagir e se aproximar dos fãs — ainda que alguns tenham se mostrado frios inicialmente e precisado de uma dose extra de incentivo.
Nessas horas, nada que hinos como “Heroes of Sand”, “Millennium Sun” e “Spread Your Fire” não resolvam. Inevitavelmente, foram com essas e outras canções de sua ex-banda que o vocalista obteve maior e melhor resposta do público de pouco mais de 300 pagantes segundo a organização.
No entanto, músicas da carreira solo como “Sacrifice”, “Land Ahoy” e, principalmente, “The Glory of the Sacred Truth” não fizeram feio. Alguns fãs inclusive lamentaram que Edu não tenha prestigiado um pouco mais os elogiados “Vera Cruz” e “Eldorado”.
*Fotos de Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka.
Início tímido
Embora tenha enfrentado atraso no voo de São Paulo para Goiânia, Edu Falaschi conseguiu chegar sem maiores contratempos – a banda já estava na cidade. O show foi marcado para 22h e teve início dentro do tolerável, às 22h20. “Live and Learn”, do EP “Hunters and Prey”, de 2002, abriu os trabalhos, seguida por “Acid Rain” e “Waiting Silence”, dos álbuns “Rebirth” (2001) e “Temple of Shadows” (2004), respectivamente.
A execução da banda, composta por Roberto Barros e Diogo Mafra nas guitarras, Raphael Dafras no baixo, Aquiles Priester na bateria e Fábio Laguna nos teclados, se mostrava extremamente fiel às gravações, inclusive nos solos. Apesar disso, o público goiano ainda não havia se soltado por completo.
Foi com “Heroes of Sand” e seu refrão marcante que o show esquentou de vez. Mesmo com ligeiras microfonias, Edu e banda fizeram a galera empolgar e cantar junto. Laguna, interagindo bastante e com papel decisivo nos backing vocals, logo caiu nas graças do público, como de costume. O tecladista tocou ao vivo com o Angra por sete anos (2001-2008) e é um velho conhecido dentre os apreciadores.
Antes de anunciar “Sacrifice”, a primeira da carreira solo na noite, o vocalista travou o primeiro contato com o público e comemorou o retorno a Goiânia “após um bom tempo”, embora tenha se apresentado na cidade em 2022, na turnê do “Vera Cruz”.
Excelência técnica
Após “Millenium Sun”, quem estava aguardando pelo momento épico do show foi agraciado. “Land Ahoy”, com seus quase 10 minutos de duração, cumpriu com louvor esse papel. Roberto Barros abriu a canção tocando violão, instrumento que retorna ao final. No miolo, porém, tivemos uma profusão de trocas de andamento, solos virtuosos, vocais agudíssimos e tudo mais que o power metal pode oferecer.
“The Temple of Hate”, um dos pontos altos de “Temple of Shadows” (2004) e que no álbum conta com os vocais do mestre Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray), manteve o nível técnico nas alturas, com velocidade e precisão absurdas. O trecho final, com o piano de Laguna em primeiro plano, foi um dos mais festejados de toda a apresentação.
“Tenochtitlán”, outra que é executada na velocidade da luz e reflete o power metal em estado puro, veio em seguida. Roberto Barros e Diogo Mafra comprovam que as guitarras da banda de Edu estão em boas mãos, com memorável duelo de solos.
Desfecho “aconchegante”
Na reta final, Edu Falaschi brincou ao anunciar a melosa “Bleeding Heart”, segundo ele renegada por alguns integrantes do Angra e que se tornou “sucesso na versão do Calcinha Preta”. Durante a música, o vocalista pediu para todos acenderem o celular e cantarem juntos, no que foi atendido. Ele também sacou seu telefone e disse que iria registrar o momento.
Satisfeito com o respaldo em “Glory of the Sacred Truth” e “Spread Your Fire” – essa última prejudicada pelo volume alto demais do vocal, a ponto de ficar irritante –, Edu lamentou que a banda não pôde trazer a produção de palco completa e justificou:
“O Bolshoi é um lugar aconchegante, um lugar que a gente ama, mas é pequeno. Estamos com uma produção grandiosa. Se trouxéssemos mesmo que apenas uma das várias peças que temos, já não caberia a banda no palco.”
Edu apresentou os integrantes um por um e, por fim, foi apresentado por Aquiles Priester. O baterista — outro que já esteve nas fileiras do Angra — reiterou o apreço por Goiânia, relembrou que já tocou no Bolshoi mais de 12 vezes e convidou a todos para irem até São Paulo no dia 27 de janeiro para assistir ao show completo, com toda a produção de palco elaborada para a turnê “Eldorado”, que recentemente passou pelo Japão durante o mês de setembro com três datas (em Tóquio, Osaka e Nagoya).
No encore, Edu Falaschi tocou “Rebirth” ao violão e deixou o vocal praticamente a cargo do público, reforçando a conexão intimista do show, encerrado com a intensidade frenética de “Nova Era” numa noite em que o vocalista equilibrou com destreza essas duas facetas do power metal.
*Fotos de Rodrigo Piruka @rodrigo_piruka. Mais imagens ao fim da página.
Edu Falaschi – ao vivo em Goiânia
- Local: Bolshoi Pub
- Data: 28 de setembro de 2023
- Turnê: Eldorado World Tour
Repertório:
- Live and Learn
- Acid Rain
- Waiting Silence
- Heroes of Sand
- Sacrifice
- Millennium Sun
- Land Ahoy
- The Temple of Hate
- Tenochtitlán
- Bleeding Heart
- The Glory of the Sacred Truth
- Deus Le Volt! + Spread Your Fire
- Rebirth
- Nova Era
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