Uma sexta-feira (11) de tempo estranho, com ventania e calor no Rio de Janeiro, teve o primeiro show da Nação Zumbi no Circo Voador desde 2019. Alguns problemas técnicos se fizeram presentes, principalmente no set da atração principal, mas tanto a performance da banda quanto a participação do público foram dignas de nota.
*Texto de Zeone Martins. Fotos de Rafael Catarcione.
Mateus Fazeno Rock
Mateus Fazeno Rock, projeto do artista cearense Matheus Henrique Ferreira do Nascimento, ficou a cargo da abertura. Em sua estreia na capital fluminense, o artista chegou ao palco com poucas pessoas na casa, mas, por volta da terceira música, o espaço central já estava bem cheio.
O repertório apresentou canções dos álbuns “Jesus N Voltará” (2023), que tem ênfase no rap e no funk carioca, e “Rolê nas Ruinas” (2020), primeiro trabalho do artista, onde o artista declama suas letras de encontro à bases de guitarra punk, por vezes grunge. O artista se dá bem nos dois direcionamentos.
Em estúdio, a execução é feita com banda. Já ao vivo, o DJ Viúva Negra cuida de todas as bases. Os vocais se caracterizam pela intensidade, tanto de Mateus quanto da backing vocal Muriel. Houve ainda um reforço visual com dois dançarinos (Larissa Ribeiro e Rafa Tomaz), que somado ao trabalho de iluminação, colaboram para o impacto do repertório.
Ao fim, o público já havia sido conquistado, o que levou a um enfático pedido de bis. “Jesus Ñ Voltará”, “Vontade Nego” e “As Vozes Na Cabeça” foram alguns dos destaques de uma apresentação caprichada do grupo, que conseguiu driblar uma falha técnica logo no começo do show sem maiores problemas.
Repertório – Mateus Fazeno Rock:
- Intro
- Jesus Ñ Voltará
- Melô de Aparecida
- Pode Ser Easy
- Do Harlem a Cajazeiras
- Vontade Nego
- Na Parada
- Pose de Malandro
- Pensando em voltar
- Missa Negra
- Da Noite
- Melô do Djavan
- Legal Legal
- Feito Um Porco Indo Pro Abate
- As Vozes Na Cabeça
Nação Zumbi
Após rápidos preparos, a Nação Zumbi subiu ao palco minutos depois da meia-noite. Abrindo com “Defeito Perfeito” e “Foi de Amor”, ambas do disco “Nação Zumbi” (2014), a banda deu um interessante destaque ao álbum, justificado pela participação do público em “Um Sonho” e “A Melhor Hora da Praia”. Por sinal, a empolgação dos presentes com as letras foi alta, cantando junto mesmo em momentos de intensa verborragia de Jorge Du Peixe, frontman do grupo após o falecimento de Chico Science em 1997. O envolvimento se fez ainda maior por conta dos dois telões ao fundo do palco apresentando projeções a cada música, dando um toque psicodélico que casou bem com a ocasião.
A Nação Zumbi, vale destacar, faz sua primeira turnê sem o guitarrista Lúcio Maia, um dos fundadores do grupo junto do baixista Dengue, este último presente na formação atual. A ausência de Maia não foi explicada à imprensa. Com Neílton, do Devotos, na guitarra, bases repletas de wah-wah e os riffs característicos da banda se fizeram presentes. “Da Lama Ao Caos”, já na sua intro, mostrou um peso palpável em contraste com as texturas e linhas mais melódicas de outros momentos da apresentação, como em “Novas Auroras”.
É no casamento das guitarras com a percussão que se nota maior intensidade no som da Nação. Tal característica se fez presente mesmo no som baixo, principalmente no primeiro terço do repertório, afetando justamente as seis cordas. Para quem estava de frente ao palco, o problema não aparecia tanto, mas quem se afastava ou estava na área externa ouvia um som com menos volume e um pouco embolado – principalmente no trabalho de percussão e tambores, seção que contou com a participação de Alexandre Garnizé, dos Tambores de Olokun, numa das alfaias (tambor maior). A partir de “Meu Maracatu Pesa Uma Tonelada”, parte do contratempo se resolveu, mas ainda ficou faltando algo.
A execução das 20 músicas do setlist se deu com poucos intervalos (com exceção do bis, claro). É uma toada quase hipnótica. Foi ótimo ouvir tanto as canções dos primeiros trabalhos como “Banditismo Por Uma Questão de Classe” e “Um passeio no Mundo Livre”, quanto “Quando a Maré Encher”, de “Rádio S.Amb.A” (2000).
O repertório se mostrou tão consistente a ponto de ser uma das raras ocasiões onde vi tanta gente cantar tanta música em um show, de forma quase ininterrupta. Mesmo atravessando uma mudança de formação, a Nação Zumbi se mostrou funcional. Que o retorno seja breve.
Repertório – Nação Zumbi:
- Defeito Perfeito
- Foi de Amor
- Bossa Nostra
- Novas Auroras
- Quilombo Groove
- Um Passeio no Mundo Livre
- Inferno
- Meu Maracatu pesa Uma tonelada
- Manguetown
- Um Sonho
- Quando a Maré Encher
- A Melhor Hora da Praia
- O cidadão do Mundo
- Samba Makossa
- Banditismo por uma Questão de Classe
- Jornal da Morte (Uma edição extra) (Cover de Roberto Silva)
- A Praieira
- Maracatu Atômico (Cover de Jorge Mautner)
- A Cidade
- Da lama ao Caos
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