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Como Luiz Carlini criou o solo de “Ovelha Negra”, de Rita Lee

Guitarrista descreveu experiência de composição como "meio sobrenatural" e destacou simplicidade do trecho

Uma das partes mais marcantes de “Ovelha Negra” — clássico lançado por Rita Lee no álbum “Fruto Proibido” (1975) com a banda Tutti Frutti — é o solo de guitarra. A passagem foi criada pelo guitarrista Luiz Carlini.

A ideia surgiu durante um sonho. Como o músico explicou recentemente à Veja, divulgando o recém-lançado documentário “Luiz Carlini: Guitarrista de Rock”, o processo de composição teve um caráter meio “divino” e não contou com muitos segredos, já que o objetivo era a simplicidade:

“O solo é o auge de um guitarrista. Sonhei com esse solo, foi uma coisa meio sobrenatural. Ele é simples, mas é aquilo: menos é mais, sempre. É um solo assoviável. Me lembro de um show que fizemos nos anos 1970 em Belém, no Pará. Vi uma mulher indígena limpando o hotel, ela estava até descalça, e assoviava o solo de Ovelha Negra. Foi ali que percebi que a gente havia quebrado todas as barreiras. Uma coisa que escrevi aqui na minha casa, na Pompeia, e que o Brasil inteiro conheceu.”

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Até hoje, o artista guarda a guitarra onde compôs o solo. Ele comprou o instrumento — uma Gibson Les Paul Gold Top apelidada de “Brigitte” em homenagem a Brigitte Bardot — de um estrangeiro desconhecido em Ipanema, no Rio de Janeiro, como relembrou. 

“A história dessa guitarra é quase sobrenatural. Em 1974, Rita viajou para os Estados Unidos e pedi para ela trazer a guitarra para mim. Mas o banco mandou o dinheiro para outro país e a Rita não conseguiu comprar. Quando ela voltou ao Brasil, nós viajamos para o Rio de Janeiro e eu estava caminhando em Ipanema quando um gringo me parou, do nada, e perguntou em inglês se eu queria comprar uma guitarra. Quando vi, era o mesmo modelo de guitarra que eu queria que Rita trouxesse para mim. E ela estava nova. O gringo deve ter me parado porque eu era cabeludo e usava uma camisa dos Rolling Stones. Fui ao banco e só saí de lá após o gerente finalmente encontrar os 350 dólares que depositei e me devolver. Comprei a guitarra do gringo e ela tinha um adesivo do I Ching que significava que aquele objeto deveria ser meu. Era para essa guitarra ser minha. E foi nela que compus ‘Ovelha Negra’.”

Durante conversa com o site Pedaço da Vila anos atrás, em 2016, o guitarrista deu outros detalhes acerca da história.

“Eu queria comprar uma Gibson Les Paul. Como a Rita Lee ia viajar para Nova York, pedi para ela comprar uma para mim. Expliquei o modelo e as lojas onde ela poderia encontrar o instrumento, que custava trezentos e poucos dólares. Meu avô me emprestou o dinheiro e depositei para ela retirar no Citibank. Depois de 15 dias de ansiedade, fui esperá-la no Aeroporto de Vira Copos. Quando ela desceu do avião, não tinha nada em suas mãos; ela retirou todas as malas e eu não vi a guitarra. Ela me contou que o dinheiro não havia chegado. Fiquei péssimo, estava sem dormir esperando. No dia seguinte, viajamos para o Rio de Janeiro para gravar o disco ‘Atrás do Porto Tem Uma Cidade’. Eu estava arrasado sem a minha guitarra. À noite fui passear pelos bares cariocas e saiu um cara do meio da multidão e me disse: ‘do you wanna buy a Gibson Les Paul guitar?’ (você quer comprar uma guitarra Gibson Les Paul?). Eu nunca esqueci essa frase. A guitarra estava num hotel na Rua Visconde de Pirajá e fui com ele até lá. O rapaz era um compositor austríaco que comprou a guitarra em Londres, e, ao chegar ao Rio de Janeiro, torrou o dinheiro que precisava para ir à Argentina. Por isso queria vender a guitarra. Isso era num sábado e combinei o negócio para segunda-feira de manhã. Não dormi mais. A guitarra era do modelo e da cor que eu tinha pedido para a Rita comprar. O cara nunca tinha me visto.”

Por fim, ao mesmo portal, contou que inicialmente a concepção de um solo para “Ovelha Negra” não recebeu uma reação positiva. No entanto, depois certa insistência, o produtor Andy Mills resolveu ceder e colocá-lo na canção.

“Mesmo com o disco gravado e mixado, analisando a música ‘Ovelha Negra’, percebia que estava faltando alguma coisa. Pensei tanto num solo de guitarra para o fim da música que sonhei com ele e acordei assobiando. Quando contei no estúdio a minha ideia, escutei: ‘você está louco? A música está ótima, não precisa de solo nenhum’. Todos foram contra a ideia. Falei de novo, insisti; foi só na terceira vez, já de madrugada, que o produtor pediu para eu mostrar. Quando eu terminei o solo, todos acharam muito bom e ele foi gravado de primeira. A música estourou nas emissoras de rádio. Todo mundo aprendeu a assobiar o solo, feito com meia dúzia de notas.”

Luiz Carlini e novo documentário

No último dia 3 de agosto, estreou em cinemas selecionados o documentário “Luiz Carlini – Guitarrista de Rock”. Dirigida pelo jornalista Luiz Carlos Lucena e distribuída pela Lira Filmes, a obra conta com registros de várias épocas da carreira do instrumentista – que mostra no filme algumas de suas guitarras mais expressivas, como revelou à revista Veja.

Completando o conteúdo, depoimentos de nomes como Andreas Kisser (Sepultura), Erasmo Carlos, Roberto Frejat, George Israel (Kid Abelha), Guilherme Arantes, Juba (Blitz), Kiko Zambianchi, Pepeu Gomes, Supla e Wanderlea.

Confira um trailer a seguir.

Sobre o guitarrista

Atualmente com 70 anos, Luiz Sérgio Carlini foi roadie dos Mutantes, seus vizinhos no bairro da Pompeia. Após a saída de Rita Lee, se juntou à cantora na criação do Tutti-Frutti, grupo que lançaria alguns dos mais icônicos álbuns do rock nacional, especialmente “Fruto Proibido” (1975), segundo da banda.

Integrou o Camisa de Vênus nos anos 1990, além de ter colaborado com Titãs, Barão Vermelho e Capital Inicial entre outros. Ainda foi líder das bandas de apoio de Erasmo Carlos e Guilherme Arantes em diferentes épocas. Ainda conta com mais de 400 créditos em álbuns como músico de estúdio.

Atualmente, segue comandando o Tutti-Frutti em shows pelo Brasil. No livro “Rita Lee — Uma Autobiografia” (2016), foi acusado de ter se apropriado do nome do grupo. Em entrevista à Veja, meses mais tarde, se defendeu.

“Por acaso o nome era dela? Não. Então não tem por que reclamar. Não perdi tempo lendo o livro, mas soube que ela falou mal de muita gente.”

Clique para seguir IgorMiranda.com.br no: Instagram | Twitter | Threads | Facebook | YouTube.

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Maria Eloisa Barbosa
Maria Eloisa Barbosahttps://igormiranda.com.br/
Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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A ideia surgiu durante um sonho. Como o músico explicou recentemente à Veja, divulgando o recém-lançado documentário “Luiz Carlini: Guitarrista de Rock”, o processo de composição teve um caráter meio “divino” e não contou com muitos segredos, já que o objetivo era a simplicidade:

“O solo é o auge de um guitarrista. Sonhei com esse solo, foi uma coisa meio sobrenatural. Ele é simples, mas é aquilo: menos é mais, sempre. É um solo assoviável. Me lembro de um show que fizemos nos anos 1970 em Belém, no Pará. Vi uma mulher indígena limpando o hotel, ela estava até descalça, e assoviava o solo de Ovelha Negra. Foi ali que percebi que a gente havia quebrado todas as barreiras. Uma coisa que escrevi aqui na minha casa, na Pompeia, e que o Brasil inteiro conheceu.”

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Até hoje, o artista guarda a guitarra onde compôs o solo. Ele comprou o instrumento — uma Gibson Les Paul Gold Top apelidada de “Brigitte” em homenagem a Brigitte Bardot — de um estrangeiro desconhecido em Ipanema, no Rio de Janeiro, como relembrou. 

“A história dessa guitarra é quase sobrenatural. Em 1974, Rita viajou para os Estados Unidos e pedi para ela trazer a guitarra para mim. Mas o banco mandou o dinheiro para outro país e a Rita não conseguiu comprar. Quando ela voltou ao Brasil, nós viajamos para o Rio de Janeiro e eu estava caminhando em Ipanema quando um gringo me parou, do nada, e perguntou em inglês se eu queria comprar uma guitarra. Quando vi, era o mesmo modelo de guitarra que eu queria que Rita trouxesse para mim. E ela estava nova. O gringo deve ter me parado porque eu era cabeludo e usava uma camisa dos Rolling Stones. Fui ao banco e só saí de lá após o gerente finalmente encontrar os 350 dólares que depositei e me devolver. Comprei a guitarra do gringo e ela tinha um adesivo do I Ching que significava que aquele objeto deveria ser meu. Era para essa guitarra ser minha. E foi nela que compus ‘Ovelha Negra’.”

Durante conversa com o site Pedaço da Vila anos atrás, em 2016, o guitarrista deu outros detalhes acerca da história.

“Eu queria comprar uma Gibson Les Paul. Como a Rita Lee ia viajar para Nova York, pedi para ela comprar uma para mim. Expliquei o modelo e as lojas onde ela poderia encontrar o instrumento, que custava trezentos e poucos dólares. Meu avô me emprestou o dinheiro e depositei para ela retirar no Citibank. Depois de 15 dias de ansiedade, fui esperá-la no Aeroporto de Vira Copos. Quando ela desceu do avião, não tinha nada em suas mãos; ela retirou todas as malas e eu não vi a guitarra. Ela me contou que o dinheiro não havia chegado. Fiquei péssimo, estava sem dormir esperando. No dia seguinte, viajamos para o Rio de Janeiro para gravar o disco ‘Atrás do Porto Tem Uma Cidade’. Eu estava arrasado sem a minha guitarra. À noite fui passear pelos bares cariocas e saiu um cara do meio da multidão e me disse: ‘do you wanna buy a Gibson Les Paul guitar?’ (você quer comprar uma guitarra Gibson Les Paul?). Eu nunca esqueci essa frase. A guitarra estava num hotel na Rua Visconde de Pirajá e fui com ele até lá. O rapaz era um compositor austríaco que comprou a guitarra em Londres, e, ao chegar ao Rio de Janeiro, torrou o dinheiro que precisava para ir à Argentina. Por isso queria vender a guitarra. Isso era num sábado e combinei o negócio para segunda-feira de manhã. Não dormi mais. A guitarra era do modelo e da cor que eu tinha pedido para a Rita comprar. O cara nunca tinha me visto.”

Por fim, ao mesmo portal, contou que inicialmente a concepção de um solo para “Ovelha Negra” não recebeu uma reação positiva. No entanto, depois certa insistência, o produtor Andy Mills resolveu ceder e colocá-lo na canção.

“Mesmo com o disco gravado e mixado, analisando a música ‘Ovelha Negra’, percebia que estava faltando alguma coisa. Pensei tanto num solo de guitarra para o fim da música que sonhei com ele e acordei assobiando. Quando contei no estúdio a minha ideia, escutei: ‘você está louco? A música está ótima, não precisa de solo nenhum’. Todos foram contra a ideia. Falei de novo, insisti; foi só na terceira vez, já de madrugada, que o produtor pediu para eu mostrar. Quando eu terminei o solo, todos acharam muito bom e ele foi gravado de primeira. A música estourou nas emissoras de rádio. Todo mundo aprendeu a assobiar o solo, feito com meia dúzia de notas.”

Luiz Carlini e novo documentário

No último dia 3 de agosto, estreou em cinemas selecionados o documentário “Luiz Carlini – Guitarrista de Rock”. Dirigida pelo jornalista Luiz Carlos Lucena e distribuída pela Lira Filmes, a obra conta com registros de várias épocas da carreira do instrumentista – que mostra no filme algumas de suas guitarras mais expressivas, como revelou à revista Veja.

Completando o conteúdo, depoimentos de nomes como Andreas Kisser (Sepultura), Erasmo Carlos, Roberto Frejat, George Israel (Kid Abelha), Guilherme Arantes, Juba (Blitz), Kiko Zambianchi, Pepeu Gomes, Supla e Wanderlea.

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Sobre o guitarrista

Atualmente com 70 anos, Luiz Sérgio Carlini foi roadie dos Mutantes, seus vizinhos no bairro da Pompeia. Após a saída de Rita Lee, se juntou à cantora na criação do Tutti-Frutti, grupo que lançaria alguns dos mais icônicos álbuns do rock nacional, especialmente “Fruto Proibido” (1975), segundo da banda.

Integrou o Camisa de Vênus nos anos 1990, além de ter colaborado com Titãs, Barão Vermelho e Capital Inicial entre outros. Ainda foi líder das bandas de apoio de Erasmo Carlos e Guilherme Arantes em diferentes épocas. Ainda conta com mais de 400 créditos em álbuns como músico de estúdio.

Atualmente, segue comandando o Tutti-Frutti em shows pelo Brasil. No livro “Rita Lee — Uma Autobiografia” (2016), foi acusado de ter se apropriado do nome do grupo. Em entrevista à Veja, meses mais tarde, se defendeu.

“Por acaso o nome era dela? Não. Então não tem por que reclamar. Não perdi tempo lendo o livro, mas soube que ela falou mal de muita gente.”

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Maria Eloisa Barbosa é jornalista, 22 anos, formada pela Faculdade Cásper Líbero. Colabora com o site Keeping Track e trabalha como assistente de conteúdo na Rádio Alpha Fm, em São Paulo.

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