Apesar de contar com uma série de vorazes detratores, Lars Ulrich também possui muitos defensores. Recentemente, figuras como Dave Lombardo e Mario Duplantier (Gojira) exaltaram o trabalho do baterista do Metallica, muitas vezes criticado por sua técnica – ou a falta dela, no caso.
Outro que sempre o colocou no mais alto pedestal foi Bob Rock. Produtor do álbum homônimo da banda americana, seu disco mais popular na história, o canadense faz questão de valorizar as contribuições do instrumentista. Como em entrevista à revista Tape Op, publicada em 2017, quando estabeleceu uma comparação com Tommy Lee (Mötley Crüe).
“Para mim, o que Tommy sempre trouxe ao Crüe foi a capacidade de promover a qualidade musical da banda. Ele estava sempre tentando empurrar os outros para a frente, com batidas diferentes. Por exemplo, em ‘Dr. Feelgood’, as coisas ficaram um pouco mais divertidas. Em termos de ritmos anteriores, ele sempre foi bem direto. De repente, ele meio que rompeu com o que era seu som de bateria tradicional. Para mim, Tommy, como baterista, é como um nervo aberto, enquanto Lars Ulrich é provavelmente mais próximo de Keith Moon do que qualquer coisa.”
Convidado a se aprofundar na explicação, Bob disse:
“Tommy é um baterista clássico de backbeat, base e ritmo. Ele tem síncope, mas é uma máquina de ritmo. O que torna a bateria de Lars tão maravilhosa e única é que ele é reativo à música. O ‘Black Album’ foi ele conscientemente tentando ser mais um cara de contratempo. A maioria de seus preenchimentos vem do fato de que ele toca acompanhando o riff, muito parecido com o que Keith Moon fazia junto de Pete Townshend. Lars Ulrich sempre tocou no ritmo de James Hetfield. Não acredito que ele pense nos termos que a maioria dos bateristas pensa. Acho que ele vive em um mundo musical que é único. Toca de acordo com os outros, ao invés de tentar controlar.”
Lars Ulrich, Bob Rock e Tommy Lee
Vale lembrar que um dos motivos que fez Lars pedir a contratação de Bob Rock para trabalhar no “Black Album” foi justamente seu trabalho com Tommy em “Dr. Feelgood” (1989). À época, o dinamarquês ficou maravilhado com a sonoridade extraída da bateria.
Pensamento complementar
Durante entrevista de 2018, concedida ao Polar Music Prize, Lars Ulrich foi convidado a descrever seu processo criativo no instrumento. Sua abordagem vai ao encontro do que foi comentado por Bob Rock. Conforme transcrição da Revolver, o dinamarquês declarou:
“O que me interessa é encaixar a bateria no que acontece ao redor. Às vezes é preciso ser mais rítmico, em outras mais dinâmico ou apenas adicionar algum aspecto físico.”
De qualquer modo, ele deixa avisado que jamais se preocupou em ser considerado um herói das baquetas.
“Nunca me interessei muito por habilidade. As pessoas dizem ‘Oh, uau! Esse cara é tão bom!’ Sim, ele é ótimo, mas isso não significa que consegue tocar com swing ou funcionar dentro de um processo coletivo. Até por isso jamais gostei de tocar bateria sozinho no porão, praticando solos por horas a fio. Isso não é para mim. O que sempre me fascinou foi tocar em uma banda, escrever músicas, gravar discos, quase como fazer parte de uma gangue.”
Para exemplificar, Ulrich cita algumas de suas referências.
“Por mais que eu tenha crescido ouvindo Ian Paice, do Deep Purple, que obviamente tem muita habilidade, eu também amo bateristas como Phil Rudd do AC/DC e Charlie Watts dos Rolling Stones. Certamente eles têm habilidade, mas para muitos puristas talvez não tanto. Por que eles não são tão técnicos, têm um tipo diferente de habilidade que, para mim, é tão valioso, precioso e importante quanto. Eles fazem as pessoas balançar, se mexer, dão a fisicalidade necessária.”
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