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Edu Falaschi soa menos engessado nas estruturas do power metal em “Eldorado”

Segundo capítulo de trilogia conceitual ambientada no final do século 15 tem infusões latinas e baladas como destaques

Todo cantor que fez sucesso como integrante de uma banda e parte para uma carreira solo pode enfrentar vários desafios únicos. Comparações constantes, expectativas elevadas, descrédito ou ceticismo por parte de alguns fãs e críticos. Numa banda, o sucesso e a atenção são compartilhados com outros membros; como artista solo, o cantor acaba tendo que lutar para que seu trabalho seja reconhecido como mérito individual.

Quando lançou “Vera Cruz” em maio de 2021, Edu Falaschi — que foi por mais de uma década a voz do Angra — recebeu, quase que em igual proporção, avaliações positivas e negativas. Não que qualquer aspecto do disco, o primeiro de uma trilogia conceitual ambientada no final do século 15, seja digno de repulsa ou soe aquém da capacidade do cara e sua equipe — os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, o baixista Raphael Dafras, o baterista Aquiles Priester e o tecladista Fabio Laguna. Contudo, a bola de segurança logo fez o disco ser tachado de “fan service”. A aposta na nostalgia cruzava a linha tênue entre a referência e o autoplágio

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Dito isso, “Eldorado” desde seu anúncio oficial traz consigo dois tipos de pressão. Esperava-se que o segundo capítulo da saga de Jorge — o menino que carrega no peito uma marca em formato de cruz e que, de acordo com uma antiga profecia, irá liderar um exército na luta contra o mal — apresentasse algo tão impactante quanto o seu antecessor, mas também a expectativa de um Edu menos engessado nas estruturas do power metal e mais disposto a não pura e simplesmente tentar fazer uma parte 2 de “Temple of Shadows” (2004).

Tecnicamente, o trabalho beira o impecável. Tudo é muito bem-tocado, bem-posicionado e, diferentemente de “Vera Cruz”, mais bem-mixado, com o baixo de Dafras, merecidamente, na vanguarda. Mas é nessa impecabilidade que mora um dos perigos: o virtuosismo, sobretudo de Barros, é tanto que não raro seus solos soam como um mero sobe-e-desce de escalas em altíssima velocidade, e sua pegada, de tão precisa e uniforme, carece do fator orgânico comum aos deuses da guitarra. Chame de feeling, assinatura ou como quiser; o que sobra nele em competência, falta, ainda, em identidade.

Identidade essa que, no quesito vocal, Edu vem redescobrindo e, de certa forma, surpreendendo. Superados os problemas que o tiraram de cena e lhe renderam algum descrédito, ele ressurge cantando diferente, com um registro mais linear. Ciente de que seu alcance de hoje não se compara ao dos tempos de Angra, sobe o tom com cuidado e responsabilidade. Soa agradável e casa bem com o instrumental, sobretudo nas baladas; aliás, o cara manja do riscado na hora de compor canções mais emotivas. “Empty Shell” (que solo!), “Suddenly” e a derradeira “In Sorrow” — quase um cliffhanger em formato de música — são os mais recentes testemunhos dessa aptidão.

Outra faceta deveras interessante presente em “Eldorado” são as infusões latinas. Já na abertura “Señores del Mar (Wield the Sword)”, parcialmente cantada em espanhol, ouvem-se violões que parecem acenar aos finados Andrés Segovia e Paco de Lucía. O instrumento colore partes da faixa-título que, reconheça-se, está entre as melhores ofertas de Falaschi solo. O mesmo não se aplica, porém, a “Reign of Bones”, genérica até dizer chega. Já “Wings of Light” se distingue por carregar o estandarte do supracitado autoplágio, pois as semelhanças estruturais com “Running Alone”, do Angra, são tão notórias quanto as de “Land Ahoy”, carro-chefe do “Vera Cruz”, com “The Shadow Hunter”. Fan service, sim, mas os fãs agradecem.

Como em “Vera Cruz”, o teste definitivo de “Eldorado” se dará na estrada, quando a turnê tiver início. Só Quetzacóatl sabe se os percalços do giro passado se repetirão e se o desempenho do sexteto ao vivo será a contento, fazendo jus às dificuldades autoimpostas do material a ser executado. Fica também o questionamento se Fábio Caldeira escreverá um novo livro, levando a missão de Jorge dos alto-falantes para as páginas outra vez.

*Ouça “Eldorado” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

*O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Edu Falaschi – “Eldorado”

  1. Quetzalcóatl
  2. Señores Del Mar (Wield The Sword)
  3. Sacrifice
  4. Empty Shell
  5. Tenochtitlán
  6. Eldorado
  7. Q’equ’m
  8. Reign of Bones
  9. Suddenly
  10. Wings of Light
  11. In Sorrow

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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Todo cantor que fez sucesso como integrante de uma banda e parte para uma carreira solo pode enfrentar vários desafios únicos. Comparações constantes, expectativas elevadas, descrédito ou ceticismo por parte de alguns fãs e críticos. Numa banda, o sucesso e a atenção são compartilhados com outros membros; como artista solo, o cantor acaba tendo que lutar para que seu trabalho seja reconhecido como mérito individual.

Quando lançou “Vera Cruz” em maio de 2021, Edu Falaschi — que foi por mais de uma década a voz do Angra — recebeu, quase que em igual proporção, avaliações positivas e negativas. Não que qualquer aspecto do disco, o primeiro de uma trilogia conceitual ambientada no final do século 15, seja digno de repulsa ou soe aquém da capacidade do cara e sua equipe — os guitarristas Roberto Barros e Diogo Mafra, o baixista Raphael Dafras, o baterista Aquiles Priester e o tecladista Fabio Laguna. Contudo, a bola de segurança logo fez o disco ser tachado de “fan service”. A aposta na nostalgia cruzava a linha tênue entre a referência e o autoplágio

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Dito isso, “Eldorado” desde seu anúncio oficial traz consigo dois tipos de pressão. Esperava-se que o segundo capítulo da saga de Jorge — o menino que carrega no peito uma marca em formato de cruz e que, de acordo com uma antiga profecia, irá liderar um exército na luta contra o mal — apresentasse algo tão impactante quanto o seu antecessor, mas também a expectativa de um Edu menos engessado nas estruturas do power metal e mais disposto a não pura e simplesmente tentar fazer uma parte 2 de “Temple of Shadows” (2004).

Tecnicamente, o trabalho beira o impecável. Tudo é muito bem-tocado, bem-posicionado e, diferentemente de “Vera Cruz”, mais bem-mixado, com o baixo de Dafras, merecidamente, na vanguarda. Mas é nessa impecabilidade que mora um dos perigos: o virtuosismo, sobretudo de Barros, é tanto que não raro seus solos soam como um mero sobe-e-desce de escalas em altíssima velocidade, e sua pegada, de tão precisa e uniforme, carece do fator orgânico comum aos deuses da guitarra. Chame de feeling, assinatura ou como quiser; o que sobra nele em competência, falta, ainda, em identidade.

Identidade essa que, no quesito vocal, Edu vem redescobrindo e, de certa forma, surpreendendo. Superados os problemas que o tiraram de cena e lhe renderam algum descrédito, ele ressurge cantando diferente, com um registro mais linear. Ciente de que seu alcance de hoje não se compara ao dos tempos de Angra, sobe o tom com cuidado e responsabilidade. Soa agradável e casa bem com o instrumental, sobretudo nas baladas; aliás, o cara manja do riscado na hora de compor canções mais emotivas. “Empty Shell” (que solo!), “Suddenly” e a derradeira “In Sorrow” — quase um cliffhanger em formato de música — são os mais recentes testemunhos dessa aptidão.

Outra faceta deveras interessante presente em “Eldorado” são as infusões latinas. Já na abertura “Señores del Mar (Wield the Sword)”, parcialmente cantada em espanhol, ouvem-se violões que parecem acenar aos finados Andrés Segovia e Paco de Lucía. O instrumento colore partes da faixa-título que, reconheça-se, está entre as melhores ofertas de Falaschi solo. O mesmo não se aplica, porém, a “Reign of Bones”, genérica até dizer chega. Já “Wings of Light” se distingue por carregar o estandarte do supracitado autoplágio, pois as semelhanças estruturais com “Running Alone”, do Angra, são tão notórias quanto as de “Land Ahoy”, carro-chefe do “Vera Cruz”, com “The Shadow Hunter”. Fan service, sim, mas os fãs agradecem.

Como em “Vera Cruz”, o teste definitivo de “Eldorado” se dará na estrada, quando a turnê tiver início. Só Quetzacóatl sabe se os percalços do giro passado se repetirão e se o desempenho do sexteto ao vivo será a contento, fazendo jus às dificuldades autoimpostas do material a ser executado. Fica também o questionamento se Fábio Caldeira escreverá um novo livro, levando a missão de Jorge dos alto-falantes para as páginas outra vez.

*Ouça “Eldorado” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

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  1. Quetzalcóatl
  2. Señores Del Mar (Wield The Sword)
  3. Sacrifice
  4. Empty Shell
  5. Tenochtitlán
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Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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