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Crypta equilibra competência e extremidade acessível em “Shades of Sorrow”

Segundo álbum reforça atributos da banda e amplifica alcance que já extrapolava nicho death metal - sob risco de soar inofensivo a puristas

Apesar de toda a extremidade de seu som, a Crypta também consegue ser acessível. E se mantém ao alcance de um público que extrapola o nicho do metal extremo, mesmo tendo o death metal como ponto de partida.

Essa é a chave para compreender a banda brasileira, cuja ascensão meteórica impressiona. O equilíbrio entre a faceta extrema e a capacidade de entregar uma musicalidade marcante, para além da própria bolha, é o que a ampara, desde a estreia com “Echoes of the Soul” (2021) e agora com o segundo álbum, “Shades of Sorrow”.

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O novo trabalho tende a amplificar a Crypta como um fenômeno que atinge até ouvintes transeuntes, inclusive servindo de porta de entrada ao death metal para alguns, ainda que não haja garantia de que eles irão permanecer. E tudo bem. Da mesma forma, corre o risco de soar inofensivo entre os puristas. Tudo bem, também.

Algo inegociável é a constatação de que “Shades of Sorrow” reforça a competência de Fernanda Lira (baixo/voz), Tainá Bergamaschi (guitarra), Jéssica di Falchi (guitarra) e Luana Dametto (bateria) enquanto instrumentistas. As composições estão mais maduras, por vezes mais intrincadas, e com um senso de melodia – especialmente nos solos, quase sempre convidativos e permeados pelo heavy tradicional –, que é o carro-chefe de boa parte das músicas. Vamos a elas!

A intro “The Aftermath” é a primeira de três breves instrumentais baseadas no piano do convidado Pablo Greg e perpassam o disco no início, no meio e no fim – “The Limbo” faz um interlúdio e “The Closure” é uma espécie de outro. Nenhuma acrescenta lá grande coisa, mas dão um respiro em meio aos pouco mais de 50 minutos de audição.

O cartão de visitas é apresentado, de fato, com “Dark Clouds”. Bateria veloz no início, riff típico do estilo, partes cadenciadas para variar o andamento geral e a primeira, digamos, surpresa do álbum: a inserção discreta de passagens com violão, fazendo a transição e a conclusão. Funcionou muito bem.

“Poisonous Apathy” tem uma levada mid-tempo, com o baixo de Fernanda Lira estalando em primeiro plano e um refrão memorável. A ponte traz forte reminiscência de Death, das fases “Symbolic” (1995) e “The Sound of Perseverance” (1998), tendo também os vocais de Chuck Schuldiner clara influência na forma da vocalista cantar. Deve se tornar, aliás, uma das preferidas dos fãs.

“The Outsider” e “Stronghold” (a mais longa do álbum) mesclam groove e passagens mais climáticas, sombrias. Os riffs em tremolo – e certa melancolia – na porção intermediária dessa última remetem ao black metal. “The Other Side of Anger” retoma o uso de violão e tem uma levada inicial de bateria que lembra muito “Refuse/Resist”, do Sepultura.

A segunda metade de “Shades of Sorrow” começa com, provavalmente, o ponto alto do disco: a já conhecida “Trial of Traitors”, antecipada com single e videoclipe meses atrás. Ela sintetiza o ótimo trabalho de guitarras de Tainá e da novata Jéssica, que entrou na banda em 2022 substituindo a holandesa Sonia Anubis. Sua estreia em estúdio é irretocável.

O último terço do disco, porém, perde um pouco de fôlego. “Lullaby for the Forsaken” e “Agents of Chaos”, ligeiramente genéricas, seriam minhas escolhas para o caso de cortar e reduzir o tracklist, pois não oferecem muito além do que já nos foi apresentado até aqui, cabendo a “Lift the Blindfold” e “Lord of Ruins” a dobradinha final e um encerramento apropriado.

Em específico, vale ressaltar individualmente o desempenho brilhante de Luana Dametto. A despeito de serem todas muito talentosas em seus respectivos instrumentos, a baterista rouba a cena em diversos momentos, com linhas agressivas, porém criativas, e detalhes que fazem a diferença.

Com mixagem/masterização cristalina do sueco Jens Bogren e lançado via Napalm Records, gravadora austríaca de médio porte, mas com boa penetração na Europa e nos Estados Unidos, “Shades of Sorrow” tem tudo para fazer a Crypta alçar voos ainda mais altos. E não necessariamente restritos ao death metal.

Ouça “Shades of Sorrow” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Crypta – “Shades of Sorrow”

  1. The Aftermath
  2. Dark Clouds
  3. Poisonous Apathy
  4. The Outsider
  5. Stronghold
  6. The Other Side of Anger
  7. The Limbo
  8. Trial of Traitors
  9. Lullaby for the Forsaken
  10. Agents of Chaos
  11. Lift the Blindfold
  12. Lord of Ruins
  13. The Closure

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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Crypta equilibra competência e extremidade acessível em “Shades of Sorrow”

Segundo álbum reforça atributos da banda e amplifica alcance que já extrapolava nicho death metal - sob risco de soar inofensivo a puristas

Apesar de toda a extremidade de seu som, a Crypta também consegue ser acessível. E se mantém ao alcance de um público que extrapola o nicho do metal extremo, mesmo tendo o death metal como ponto de partida.

Essa é a chave para compreender a banda brasileira, cuja ascensão meteórica impressiona. O equilíbrio entre a faceta extrema e a capacidade de entregar uma musicalidade marcante, para além da própria bolha, é o que a ampara, desde a estreia com “Echoes of the Soul” (2021) e agora com o segundo álbum, “Shades of Sorrow”.

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O novo trabalho tende a amplificar a Crypta como um fenômeno que atinge até ouvintes transeuntes, inclusive servindo de porta de entrada ao death metal para alguns, ainda que não haja garantia de que eles irão permanecer. E tudo bem. Da mesma forma, corre o risco de soar inofensivo entre os puristas. Tudo bem, também.

Algo inegociável é a constatação de que “Shades of Sorrow” reforça a competência de Fernanda Lira (baixo/voz), Tainá Bergamaschi (guitarra), Jéssica di Falchi (guitarra) e Luana Dametto (bateria) enquanto instrumentistas. As composições estão mais maduras, por vezes mais intrincadas, e com um senso de melodia – especialmente nos solos, quase sempre convidativos e permeados pelo heavy tradicional –, que é o carro-chefe de boa parte das músicas. Vamos a elas!

A intro “The Aftermath” é a primeira de três breves instrumentais baseadas no piano do convidado Pablo Greg e perpassam o disco no início, no meio e no fim – “The Limbo” faz um interlúdio e “The Closure” é uma espécie de outro. Nenhuma acrescenta lá grande coisa, mas dão um respiro em meio aos pouco mais de 50 minutos de audição.

O cartão de visitas é apresentado, de fato, com “Dark Clouds”. Bateria veloz no início, riff típico do estilo, partes cadenciadas para variar o andamento geral e a primeira, digamos, surpresa do álbum: a inserção discreta de passagens com violão, fazendo a transição e a conclusão. Funcionou muito bem.

“Poisonous Apathy” tem uma levada mid-tempo, com o baixo de Fernanda Lira estalando em primeiro plano e um refrão memorável. A ponte traz forte reminiscência de Death, das fases “Symbolic” (1995) e “The Sound of Perseverance” (1998), tendo também os vocais de Chuck Schuldiner clara influência na forma da vocalista cantar. Deve se tornar, aliás, uma das preferidas dos fãs.

“The Outsider” e “Stronghold” (a mais longa do álbum) mesclam groove e passagens mais climáticas, sombrias. Os riffs em tremolo – e certa melancolia – na porção intermediária dessa última remetem ao black metal. “The Other Side of Anger” retoma o uso de violão e tem uma levada inicial de bateria que lembra muito “Refuse/Resist”, do Sepultura.

A segunda metade de “Shades of Sorrow” começa com, provavalmente, o ponto alto do disco: a já conhecida “Trial of Traitors”, antecipada com single e videoclipe meses atrás. Ela sintetiza o ótimo trabalho de guitarras de Tainá e da novata Jéssica, que entrou na banda em 2022 substituindo a holandesa Sonia Anubis. Sua estreia em estúdio é irretocável.

O último terço do disco, porém, perde um pouco de fôlego. “Lullaby for the Forsaken” e “Agents of Chaos”, ligeiramente genéricas, seriam minhas escolhas para o caso de cortar e reduzir o tracklist, pois não oferecem muito além do que já nos foi apresentado até aqui, cabendo a “Lift the Blindfold” e “Lord of Ruins” a dobradinha final e um encerramento apropriado.

Em específico, vale ressaltar individualmente o desempenho brilhante de Luana Dametto. A despeito de serem todas muito talentosas em seus respectivos instrumentos, a baterista rouba a cena em diversos momentos, com linhas agressivas, porém criativas, e detalhes que fazem a diferença.

Com mixagem/masterização cristalina do sueco Jens Bogren e lançado via Napalm Records, gravadora austríaca de médio porte, mas com boa penetração na Europa e nos Estados Unidos, “Shades of Sorrow” tem tudo para fazer a Crypta alçar voos ainda mais altos. E não necessariamente restritos ao death metal.

Ouça “Shades of Sorrow” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

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  1. The Aftermath
  2. Dark Clouds
  3. Poisonous Apathy
  4. The Outsider
  5. Stronghold
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  7. The Limbo
  8. Trial of Traitors
  9. Lullaby for the Forsaken
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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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