Nascido Bernard John Marsden em 7 de maio de 1951 em Buckingham, Inglaterra, Bernie Marsden tende a ser lembrado por seu trabalho com o Whitesnake, no qual ingressou em 1978, logo se tornando parte fundamental da formação clássica do grupo.
Participou dos álbuns “Trouble” (1978), “Lovehunter” (1979), “Ready an’ Willing” (1980), “Come an’ Get It” (1981) e “Saints & Sinners” (1982), além do ao vivo “Live…in the Heart of the City” (1980). Coescreveu alguns dos maiores sucessos da fase denominada “chapéu e bigode” da banda, como “Fool for You Loving” e “Here I Go Again”.
Bernie faleceu nesta sexta-feira (25), aos 72 anos. A informação foi revelada ao mundo por David Coverdale, que se referiu ao antigo colega de Whitesnake como “um homem genuinamente engraçado e talentoso, que tive a honra de conhecer e dividir o palco com”.
Além de seu trabalho com o Whitesnake, Bernie Marsden teve uma carreira solo notável, na qual fundiu blues, rock e outros gêneros. Também colaborou com inúmeros outros músicos ao longo dos anos, diversificando cada vez mais sua abordagem enquanto compositor e performer, conforme a lista abaixo visa a detalhar.
Bernie Marsden além do Whitesnake
Babe Ruth – “Stealin’ Home” (1975) e “Kid’s Stuff” (1976)
Formado em 1971 como Shacklock, depois renomeado em homenagem ao famoso jogador de beisebol americano George Herman “Babe” Ruth Jr. (1895-1948), o Babe Ruth ganhou certa notoriedade durante os anos 1970. Seu som misturava rock, jazz e até mesmo algumas influências latinas, característica marcante de sua música que o diferenciava de muitos outros grupos da época.
Apesar de ter feito algum sucesso — em especial com seu disco de estreia, “First Base” (1972), que inclui as faixas “The Mexican” e “Wells Fargo” — e conquistado fãs leais, o Babe Ruth nunca conseguiu atingir o nível de fama que esperava. Acabou se separando em 1976.
Bernie Marsden pegou o bonde andando, em 1975, substituindo Alan Shacklock nos vocais e na guitarra no disco “Stealin’ Home”, considerado pouco inventivo e sem apelo na comparação direta com seus três antecessores. O músico permaneceria a bordo para gravar o derradeiro e igualmente pouco apreciado “Kid’s Stuff” no ano seguinte.
Paice Ashton Lord – “Malice in Wonderland” (1977)
Membros do recém-encerrado Deep Purple, o baterista Ian Paice e o tecladista Jon Lord já eram músicos de reputação estabelecida quando uniram forças com o cantor e também tecladista Tony Ashton em 1976 dando à luz o Paice Ashton Lord (PAL). Após extensas rodadas de teste, os três escolheram Bernie Marsden como guitarrista e Paul Martinez como baixista da banda.
O único trabalho lançado pelo projeto foi o eclético LP “Malice in Wonderland” (1977), que, mantendo algo que era característico no Purple, incorpora elementos de música clássica ao rock de fundamentos blueseiros, só que com muito mais experimentação. Isso talvez explique o álbum não ter feito um grande sucesso comercial e a banda, consequentemente, não durado muito tempo após seu lançamento.
Mas os caminhos de Marsden não demorariam a cruzar com os de Paice e Lord outra vez; tanto no Whitesnake, quanto em “Before I Forget” (1982), empreitada solo na qual Jon reuniu um elenco de primeira — Ashton; o guitarrista Mick Ralphs (Mott the Hoople, Bad Company); o baixista Boz Burrell (Bad Company); e os bateristas Simon Phillips, Cozy Powell (Jeff Beck, Rainbow e, futuramente, Whitesnake) e Simon Kirke (Bad Company) — para registrar oito das faixas de maior apelo comercial de sua carreira, como as radiofônicas “Chance on a Feeling” e “Hollywood Rock and Roll” e a balada “Say It’s Alright”, cantada pelo duo Vicki e Sam Brown.
Cozy Powell – “Over the Top” (1979) e “Tilt” (1981)
Sempre que a agenda lhe permitia, Cozy Powell valia-se de sua ampla rede de contatos no meio musical para gravar músicas próprias. Começando em 1973, e inicialmente restrita a singles, a discografia solo do baterista adquiriu contornos de cult — principalmente após a morte prematura de Powell num acidente de carro em 5 de abril de 1998 —, e Bernie Marsden imprimiu sua marca em dois desses trabalhos.
O primeiro deles foi o primeiro álbum propriamente dito de Cozy. Lançado em 1979, “Over the Top” impressiona tanto na ficha técnica — produzido por Martin Birch, com participações de Gary Moore, Jack Bruce e Don Airey — quanto na entrega em si: um amarrado de classic rock no qual a bateria tocada de maneira excepcional pelo versátil Powell garante os elementos-surpresa jazzísticos herdados do tempo em que acompanhava o inigualável Jeff Beck.
Dois anos depois, veio “Tilt” e os créditos são de deixar boquiaberto: além de novas colaborações de Moore, Bruce e Airey, o disco conta com o baixista Neil Murray, o saxofonista Mel Collins e o próprio Beck. A exemplo do antecessor, no qual Marsden contribui em apenas uma faixa (“El Sid”), aqui a sua participação se restringe a “Living a Lie”, que encerra o lado A do vinil com o guitarrista roubando a cena num solo que é puro feeling.
Alaska – “Heart of the Storm” (1984) e “The Pack” (1985)
Imediatamente após sua saída do Whitesnake, Bernie Marsden formou o Bernie Marsden’s SOS, que não chegou a gravar nada. Pouco tempo depois, ele se uniu ao vocalista Robert Hawthorne e ao tecladista Richard Bailey (Magnum) no Alaska. Brian Badhams (baixo) e John Marter (bateria, Voyager) completam o line-up responsável pela estreia “Heart of the Storm”, em 1984.
No ano seguinte, vieram mudanças na formação — Bailey saiu para a entrada de Don Airey — e de gravadora, com o segundo e derradeiro álbum do quinteto, “The Pack”, chegando às lojas com distribuição da multinacional Island Records.
“Este disco foi crucial em minha vida. Eu o ouvia sem parar e aprendi muito com ele”, escreveu Danny Vaughn, do Tyketto, em recente postagem nas redes sociais. Pena que ele tenha sido um dos poucos a comprar o LP, que, apesar de em sintonia com o melodic rock e AOR que dominava as rádios americanas na época, vendeu pouco e acelerou o processo de separação da banda.
Duradoura colaboração com Micky Moody
Passados exatos dez anos de sua saída do Whitesnake, Bernie Marsden e outro egresso da banda de David Coverdale, o também guitarrista Ben Moody, firmaram uma parceria que durou anos e respondeu por algumas alcunhas. Primeiro, Moody Marsden Band, logo abreviada para Moody-Marsden; depois, The Snakes; por fim, trazendo a bordo o baixista Neil Murray e o veterano baterista de blues rock John Lingwood, passaram a atender por The Company of Snakes.
Abrangendo os supracitados três nomes, a discografia de Marsden e Moody consiste em sete álbuns de estúdio — dos quais somente “Burst the Bubble” (2002), a saideira do The Company of Snakes, teve lançamento no Brasil — e o ao vivo “Live in Europe” (1998), no qual a dupla, acompanhada de Don Airey, do vocalista Jørn Lande (creditado como Johnny Lande) e do batera Willy Bendiksen, executa uma mistura de músicas do Whitesnake e outras no estilo blues rock original do Whitesnake.
Pouco comentada obra solo
“And About Time Too”, o primeiro empreendimento individual de Bernie Marsden, data de 1979 e já serve de testemunho de talento musical e habilidades de composição dignos de fazê-lo se destacar por méritos próprios. Quem assina a produção é Martin Birch, e o pessoal inclui Don Airey, Jack Bruce, Ian Paice e muitos outros. A irresistível “Love Made a Fool of Me” não foi um hit por mero erro de cálculo.
Em praticamente todos os discos solo que se seguiram, porém, o guitarrista prezou por se manter enraizado no blues e em estilos mais tradicionais. Tampouco tentou abraçar o mundo com as pernas e, lançando mão dos contatinhos, vira e mexe pôde contar com presenças ilustres, como Paice, Jon Lord, Simon Phillips e Neil Murray em “Look At Me Now” (1981) e de Airey, David Coverdale e afins na festa da firma que é o ao vivo “The Friday Rock Show Sessions” (1992).
A partir dos anos 2000, Marsden dedicou seus esforços mais a prestar homenagens a seus ídolos e referências do que a compor músicas próprias. Primeiro veio “Going To My Hometown” (2008), que, como o próprio nome já diz, foi inteiramente gravado em sua cidade natal, Buckingham. No repertório, versões despojadas de músicas do Whitesnake e de standards do blues, além de tributos a Peter Green e Rory Gallagher. Aliás, a admiração de Bernie pelo irlandês rendeu álbuns completos, como “Bernie Plays Rory” (2009), “Ballyshannon Blues for Rory” (2010) e o duplo “The Rory Gallagher Sessions” (2015). Entre esses dois, lançou o de inéditas “Shine” (2014).
Menções honrosas
Chick Churchill – “You & Me” (1973): Chick Churchill ganhou destaque como tecladista do Ten Years After, banda proeminente da cena rock nos anos 1960 e 1970. “You & Me” foi seu único álbum solo e Bernie Marsden divide os encargos de guitarra com os célebres Martin Barre (Jethro Tull) e Roger Hodgson (Supertramp).
Bridget St. John – “Jumble Queen” (1974): No mesmo ano em que lançou seu quarto disco, Bridget St. John foi eleita a quinta cantora mais popular do Reino Unido em pesquisa da revista Melody Maker. O que isso significou para ela a longo prazo? Absolutamente nada. Mas Bernie Marsden toca no LP cujo repertório inclui composições de seu xará, Bernie Taupin, em parceria com Elton John.
Perfect Crime – “Blonde On Blonde” (1990): Pouco se sabe sobre essa banda de hard rock norueguesa desfeita ainda no início dos anos 1990, mas seu único trabalho, lançado pela EMI, conta com Bernie Marsden nas guitarras e produção de Tony Platt (AC/DC, Bob Marley, Buddy Guy).
Forcefield IV – “Let the Wild Run Free” (1990): Capitaneado pelo guitarrista Ray Fenwick, o Forcefield lançou quatro álbuns com diferentes músicos, além de uma compilação com faixas inéditas. Além de Bernie Marsden, participam do derradeiro “Let the Wild Run Free” o vocalista Graham Bonnet e o baterista Cozy Powell.
Borderline – “Line Up” (1994): Antes de cantar no Lizard, o alemão Georg Bayer (1954-2009) integrou o Borderline e gravou um único disco, do qual ninguém se lembra, mas que traz a assinatura de Bernie Marsden tanto na guitarra quanto nos vocais de apoio.
Larry Johnson – “Blues For Harlem” (1999): Intérprete notável do estilo de blues do Delta do Mississippi, Larry Johnson passou grande parte de sua vida tocando em pequenos clubes e festivais, ganhando respeito e reconhecimento entre os entusiastas do gênero; entre eles Bernie Marsden, que coproduziu “Blues For Harlem” com Tony Platt e Michael Roach, além de ter tocado órgão na faixa “Hear the Angels Singing”.
Chris Catena – “Freak Out!” (2003): O Italiano Chris Catena conseguiu uma proeza e tanto em seu disco de estreia: reunir os guitarristas Bernie Marsden, Bruce Kulick, Micky Moody e Steve Salas; os baixistas Chuck Wright e Tony Franklin; e os bateristas Eric Singer e Tommy Aldridge mesmo não sendo ninguém na fila do pão. Como se não bastasse o cast de outro mundo, quem assina a capa de “Freak Out!” é Derek Riggs, outrora capista do Iron Maiden.
Schubert In Rock – “Schubert In Rock” (2013): Cérebro por trás do No Bros — uma das bandas de hard rock mais longevas da Áustria —, o guitarrista Klaus Schubert mergulhou num som de contornos mais eruditos na estreia do projeto que carrega seu sobrenome. Por mais que Tony Martin, Biff Byford, Joe Lynn Turner e outros tenham seus momentos de glória vocal, quem rouba a cena é Bernie Marsden, com sua guitarra impecável na saideira “Holy Ground”.
Jack Bruce – “Silver Rails” (2014): O último álbum de estúdio do lendário baixista e vocalista do Cream marca seu retorno à sua carreira solo depois de uma série de colaborações e projetos ao longo de uma década. Além de Bernie Marsden, toca guitarra no disco o parceiro de longa data de Bruce, Robin Trower. Pena que Jack não viveu para acompanhar a repercussão do trabalho lançado em 2014; o músico nos deixou em 25 de outubro daquele ano.
Andy Taylor – “Nobody’s Business” (2020): Diagnosticado no fim do ano passado com câncer de próstata em estágio avançado, Andy Taylor pode ter entregado nesta coletânea dupla de 2020 o último lançamento de sua carreira. “Nobody’s Business” apresenta o ex-guitarrista do Duran Duran em canções gravadas com Bernie Marsden, Micky Moody e o baixista e cofundador do Chic, Bernard Edwards, morto em 1996.
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