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A espetacular banda montada por Mick Jagger para sua primeira turnê solo

Músicos como Joe Satriani, Doug Wimbish e Simon Phillips acompanharam o vocalista em datas por Ásia e Oceania

Os anos 1980 representaram o ponto mais baixo da carreira dos Rolling Stones. Apesar do sucesso do álbum “Tattoo You” e de sua turnê no início da década, a banda perderia o fio da meada logo a seguir. No centro das ações, as brigas de Mick Jagger e Keith Richards chegaram às raias do insuportável, atingindo todos ao redor. O frontman estava cada vez mais disposto a se tornar uma estrela solo – o que só não aconteceu por um motivo simples: seus discos não emplacaram como ele mesmo imaginava.

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A morte do pianista e membro fundador Ian Stewart – até então presente em todas as atividades, só não sendo membro oficial porque o empresário Andrew Loog Oldham determinou sua exclusão por o considerar visualmente inapropriado – em 12 de dezembro de 1985 só piorou a situação. Soma-se ao cenário uma sequência de trabalhos equivocados, representando o ponto mais baixo do grupo em termos criativos.

Sendo assim apesar dos fracassos recentes, Jagger tinha argumentos suficientes para ao menos tentar mais uma vez usando o próprio nome. Foi assim que “Primitive Cool”, seu segundo esforço solitário, saiu em setembro de 1987.

Mais focado no rock em comparação ao dançante antecessor “She’s the Boss” (1985), o play contava novamente com Jeff Beck na guitarra. A produção foi assinada pelo próprio protagonista em parceria com David A. Stewart, parceiro de Annie Lennox no Eurythmics. Keith Diamond (Donna Summer, Michael Bolton, Billy Ocean) também se envolveu na função.

O resultado foi ainda pior que o debut em termos de vendas. Mesmo assim, Jagger decidiu que gostaria de realizar uma turnê. Desde a já citada excursão de “Tattoo You”, os Rolling Stones nunca mais haviam percorrido o planeta. E a estreia seria justamente em um país onde a banda não era bem-vinda, devido a seus hábitos e comportamentos ameaçadores para a moral e bons costumes da sociedade: o Japão.

Os músicos de Mick Jagger

Porém, Mick Jagger precisaria fazer algo que não havia realizado ainda durante a carreira: montar uma banda de apoio. Algumas figuras já haviam participado das sessões do álbum, como o guitarrista Jimmy Rip (atual Television), o baixista Doug Wimbish (futuro Living Colour e Tarja) e o baterista Simon Phillips (Judas Priest, Toto, MSG e vários outros).

Tendo acompanhado Kiss e Aerosmith em shows, Phil Ashley assumiu os teclados. Os backing vocals ficariam a cargo de Bernard Fowler (que segue até hoje com os Stones) e Carol Kenyon.

Porém, ainda faltava mais um guitarrista. Jeff Beck sequer cogitou encarar a parada. Sendo assim, foi a vez de dar o primeiro grande destaque nos holofotes a um músico que se tornou referência a todas as gerações posteriores. Alguém que já tinha discos solo, além de ser um professor requisitado na região de Nova York. Joe Satriani se encarregaria do serviço.

Em 2013, o agora astro falou ao Ultimate Classic Rock sobre como tudo aconteceu.

“De repente, recebi essa ligação do nada. Minha turnê para o disco ‘Surfing with the Alien’ não estava indo muito bem. Foi muito difícil. Dois shows por noite em pequenas casas noturnas, estávamos perdendo dinheiro, era uma loucura. Então recebo uma ligação improvável e consigo o trabalho. Foi quando percebi que não pensava em tocar as músicas dos Rolling Stones há anos. Por sorte, havia outro guitarrista na banda, Jimmy Ripp, cuja função era ser basicamente Keith Richards.”

É muito óbvio que, do aspecto técnico, nada ali representaria um grande obstáculo para Satriani. Porém, também é sabido que o material dos Rolling Stones demanda muito feeling. Não se trata de tocar de tudo, mas fazer a coisa certa no momento certo. Mick fez questão de tranquilizar o contratado.

“Senti um pouco de pressão, mas Mick veio até mim e disse: ‘Oh, apenas toque como quiser – tudo bem. Não se preocupe com isso. Apenas seja você mesmo’. Ele também me garantiu um momento solo no show.”

As apresentações

Os shows no Tokyo Dome foram filmados e, embora não tenham recebido lançamento oficial, percorrem o mundo até hoje no formato de bootlegs.

Como já foi dito, o repertório contou com canções solo de Jagger. Porém, o maior foco acabou mesmo sendo nos clássicos de seu projeto principal. Até porque, lembremos, a banda nunca havia ido à terra do sol nascente (veja show completo aqui).

Posteriormente, a turnê de “Primitive Cool” ainda passaria por Austrália, Nova Zelândia e Indonésia. Algumas alterações no setlist foram feitas ao longo do caminho. Uma delas foi a inclusão de “Foxy Lady”, hino de Jimi Hendrix (assista aqui).

O futuro dos envolvidos

Joe Satriani acabou se beneficiando massivamente da situação. Não apenas pela visibilidade que ganhou, fazendo com que “Surfing with the Alien” tivesse vendas ainda melhores que no ano anterior. Mas também porque tocar com Mick acabou salvando suas finanças. Em 2022, ele revelou ao podcast Tone Talk (com transcrição do Ultimate Guitar):

“Foi quando as coisas realmente começaram a acontecer. Pude cancelar as datas que ainda tinha a cumprir, o que foi algo bom, pois estávamos perdendo muito dinheiro a cada noite. Quando voltei, já tinha proposta de teatros e clubes melhores. E quando saiu meu disco seguinte, ‘Flying in a Blue Dream’, os convites eram para espaços ainda mais estruturados. A partir de então, abri asas e voei.”

Mick Jagger se reuniria aos Rolling Stones no ano seguinte. A relação com Keith Richards havia melhorado – ao menos eles não queriam sair no soco a qualquer momento. “Steel Wheels” (1989), embora não estejam no patamar de seus maiores discos, representou uma melhora e tanto em comparação aos antecessores diretos.

A turnê de divulgação, chamada de “Steel on Wheels” na primeira etapa e “Urban Jungle” na segunda, é considerada uma espécie de momento inaugural das mega excursões que tomaram conta do mercado da música a partir de então, com palcos elaborados, plataformas, telões, efeitos cenográficos e tantos outros detalhes.

Dos músicos que acompanharam o frontman na aventura solo, apenas Phil Ashley não está mais por aqui. E quem ainda não era conhecido até então, desenvolveu carreira bastante respeitável. Especialmente Joe, que hoje é um dos maiores do mundo no que faz com total justiça.

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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Os anos 1980 representaram o ponto mais baixo da carreira dos Rolling Stones. Apesar do sucesso do álbum “Tattoo You” e de sua turnê no início da década, a banda perderia o fio da meada logo a seguir. No centro das ações, as brigas de Mick Jagger e Keith Richards chegaram às raias do insuportável, atingindo todos ao redor. O frontman estava cada vez mais disposto a se tornar uma estrela solo – o que só não aconteceu por um motivo simples: seus discos não emplacaram como ele mesmo imaginava.

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Sendo assim apesar dos fracassos recentes, Jagger tinha argumentos suficientes para ao menos tentar mais uma vez usando o próprio nome. Foi assim que “Primitive Cool”, seu segundo esforço solitário, saiu em setembro de 1987.

Mais focado no rock em comparação ao dançante antecessor “She’s the Boss” (1985), o play contava novamente com Jeff Beck na guitarra. A produção foi assinada pelo próprio protagonista em parceria com David A. Stewart, parceiro de Annie Lennox no Eurythmics. Keith Diamond (Donna Summer, Michael Bolton, Billy Ocean) também se envolveu na função.

O resultado foi ainda pior que o debut em termos de vendas. Mesmo assim, Jagger decidiu que gostaria de realizar uma turnê. Desde a já citada excursão de “Tattoo You”, os Rolling Stones nunca mais haviam percorrido o planeta. E a estreia seria justamente em um país onde a banda não era bem-vinda, devido a seus hábitos e comportamentos ameaçadores para a moral e bons costumes da sociedade: o Japão.

Os músicos de Mick Jagger

Porém, Mick Jagger precisaria fazer algo que não havia realizado ainda durante a carreira: montar uma banda de apoio. Algumas figuras já haviam participado das sessões do álbum, como o guitarrista Jimmy Rip (atual Television), o baixista Doug Wimbish (futuro Living Colour e Tarja) e o baterista Simon Phillips (Judas Priest, Toto, MSG e vários outros).

Tendo acompanhado Kiss e Aerosmith em shows, Phil Ashley assumiu os teclados. Os backing vocals ficariam a cargo de Bernard Fowler (que segue até hoje com os Stones) e Carol Kenyon.

Porém, ainda faltava mais um guitarrista. Jeff Beck sequer cogitou encarar a parada. Sendo assim, foi a vez de dar o primeiro grande destaque nos holofotes a um músico que se tornou referência a todas as gerações posteriores. Alguém que já tinha discos solo, além de ser um professor requisitado na região de Nova York. Joe Satriani se encarregaria do serviço.

Em 2013, o agora astro falou ao Ultimate Classic Rock sobre como tudo aconteceu.

“De repente, recebi essa ligação do nada. Minha turnê para o disco ‘Surfing with the Alien’ não estava indo muito bem. Foi muito difícil. Dois shows por noite em pequenas casas noturnas, estávamos perdendo dinheiro, era uma loucura. Então recebo uma ligação improvável e consigo o trabalho. Foi quando percebi que não pensava em tocar as músicas dos Rolling Stones há anos. Por sorte, havia outro guitarrista na banda, Jimmy Ripp, cuja função era ser basicamente Keith Richards.”

É muito óbvio que, do aspecto técnico, nada ali representaria um grande obstáculo para Satriani. Porém, também é sabido que o material dos Rolling Stones demanda muito feeling. Não se trata de tocar de tudo, mas fazer a coisa certa no momento certo. Mick fez questão de tranquilizar o contratado.

“Senti um pouco de pressão, mas Mick veio até mim e disse: ‘Oh, apenas toque como quiser – tudo bem. Não se preocupe com isso. Apenas seja você mesmo’. Ele também me garantiu um momento solo no show.”

As apresentações

Os shows no Tokyo Dome foram filmados e, embora não tenham recebido lançamento oficial, percorrem o mundo até hoje no formato de bootlegs.

Como já foi dito, o repertório contou com canções solo de Jagger. Porém, o maior foco acabou mesmo sendo nos clássicos de seu projeto principal. Até porque, lembremos, a banda nunca havia ido à terra do sol nascente (veja show completo aqui).

Posteriormente, a turnê de “Primitive Cool” ainda passaria por Austrália, Nova Zelândia e Indonésia. Algumas alterações no setlist foram feitas ao longo do caminho. Uma delas foi a inclusão de “Foxy Lady”, hino de Jimi Hendrix (assista aqui).

O futuro dos envolvidos

Joe Satriani acabou se beneficiando massivamente da situação. Não apenas pela visibilidade que ganhou, fazendo com que “Surfing with the Alien” tivesse vendas ainda melhores que no ano anterior. Mas também porque tocar com Mick acabou salvando suas finanças. Em 2022, ele revelou ao podcast Tone Talk (com transcrição do Ultimate Guitar):

“Foi quando as coisas realmente começaram a acontecer. Pude cancelar as datas que ainda tinha a cumprir, o que foi algo bom, pois estávamos perdendo muito dinheiro a cada noite. Quando voltei, já tinha proposta de teatros e clubes melhores. E quando saiu meu disco seguinte, ‘Flying in a Blue Dream’, os convites eram para espaços ainda mais estruturados. A partir de então, abri asas e voei.”

Mick Jagger se reuniria aos Rolling Stones no ano seguinte. A relação com Keith Richards havia melhorado – ao menos eles não queriam sair no soco a qualquer momento. “Steel Wheels” (1989), embora não estejam no patamar de seus maiores discos, representou uma melhora e tanto em comparação aos antecessores diretos.

A turnê de divulgação, chamada de “Steel on Wheels” na primeira etapa e “Urban Jungle” na segunda, é considerada uma espécie de momento inaugural das mega excursões que tomaram conta do mercado da música a partir de então, com palcos elaborados, plataformas, telões, efeitos cenográficos e tantos outros detalhes.

Dos músicos que acompanharam o frontman na aventura solo, apenas Phil Ashley não está mais por aqui. E quem ainda não era conhecido até então, desenvolveu carreira bastante respeitável. Especialmente Joe, que hoje é um dos maiores do mundo no que faz com total justiça.

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João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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