Com público maduro, MITA SP viveu domingo plural com Florence, Haim e NX Zero

Segundo dia do festival não teve o mesmo frenesi do primeiro; atrações foram melhor aproveitadas e até saída se deu de forma mais tranquila

Após um primeiro dia onde existia um frenesi praticamente exclusivo para assistir a Lana Del Rey, tivemos um domingo mais plural e com clima de festival mesmo no Novo Anhangabaú, em São Paulo, para o MITA Festival. O que já estava no ar quando eram por volta das 14h e Sabrina Carpenter começava sua primeira música.

Ainda que fãs estivessem na praça desde a abertura dos portões, foi por volta das 16h que começaram a chegar mais pessoas – no que viria a ser a audiência do NX Zero. Dali em diante, notava-se as plateias se renovando para cada show e mais pessoas chegando à medida que o evento acontecia.

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Então, a mistura de estilos que incomodou o público no sábado indo do jazz ao pop não soou tão estranha quando encontrou uma audiência mais madura, em número levemente reduzido e, obviamente, menos histeria.

O fluxo entre os palcos, que foi reclamação generalizada no sábado, já acontecia de maneira sossegada – mesmo nas últimas atrações do festival já com uma pista premium cheia para presenciar Florence + The Machine. Não é que o MITA tenha acertado na fórmula para o melhor evento no domingo, mas sem sombra de dúvidas encontrou o caminho para uma experiência mais satisfatória.

E se o Capital for o nosso Norvana?

Transitando pelo festival enquanto o Capital Inicial tocava “Independência”, um de seus hits mais antigos, notei que mesmo quem estava longe do palco principal cantava a música e curtia o som. A maioria das pessoas tinha por volta dos 30 anos, mas sejamos sinceros: quase ninguém estava ali por eles.

Foto: @arielmartini

Acontece que o show do Capital é muito bom, de um profissionalismo exemplar e tem aquilo que você espera de uma banda de rock: entrega dos integrantes. Especialmente do vocalista Dinho Ouro Preto que mesmo com uma fratura/acidente após o outro, continua enérgico.

Olhando a seleção de músicas, pode parecer um show protocolar, mas Dinho, Fê Lemos (bateria), Flávio Lemos (baixo) e Yves Passarell (guitarra) e os músicos que os acompanham são tão habituados a fazer shows em festivais que tiraram de letra o encontro com a turma do indie – que não resistiu à força da banda, talvez, a maior epítome do rock brasileiro em atividade.

Foto: @arielmartini

O melhor momento foi uma dobradinha semiacústica em que fizeram “Olhos Vermelhos”, do álbum “Rosas e Vinho Tinto” (2002), e “Primeiros Erros”, hit do “Acústico MTV” (2000) em que Dinho se estendeu por quase 8 minutos, envolvendo todos no festival.

Setlist:

1. O Mundo

2. Independência

3. Depois da Meia Noite

4. Todas as Noites

5. Tudo que Vai

6. Olhos Vermelhos

7. Primeiros Erros

8. Não Olhe Pra Trás

9. Música Urbana

10. Fátima

11. Veraneio Vascaína

12. Natasha

13. À Sua Maneira

Emos saudosos para o NX Zero

Mesmo com atrações internacionais ao longo do dia, não é exagero cravar que o show do NX Zero estava entre os mais aguardados no segundo dia do MITA. Quiçá, de todo o festival.

Foto: @brunnokawagoe

Di Ferrero (voz), Gee Rocha (guitarra), Fi Ricardo (guitarra), Caco Grandino (baixo) e Dani Weksler (bateria) estavam em hiato desde 2017 e só observando a nova explosão do emo que tem acontecido ao redor do mundo. A banda escolheu um bom momento para voltar, numa turnê que corre o Brasil, mas que pela primeira vez, chega em São Paulo – berço deles.

Outro adicional que faz desse retorno especial é que é a primeira oportunidade de ver a banda para muitos fãs que não tinham idade suficiente para comparecer a um show do NX à época, que teve seu auge entre 2006 e 2009.

O início com “Só Rezo”, relembrar uma abertura de “Malhação” com “Daqui Pra Frente”, “Pela Última Vez”, uma homenagem muito caprichada a Chorão (Charlie Brown Jr.) no telão antes de tocar “Cedo ou Tarde”, “Além de Mim”, “Razões e Emoções”… os hits estavam todos lá. E causaram uma nostalgia tremenda nessa turma que deu toda a atenção que a banda queria, cantando junto até canções de menos cartaz da banda, como “Pedra Murano”, um reggae que contava com a ajuda de Gee Rocha nos vocais. O músico, aliás, se destaca em presença de palco nesse retorno e também se mostrou um elemento maior que um guitarrista competente.

Foto: @gabrielsiqueira

Setlist:

1. Só Rezo

2. Daqui Pra Frente

3. Bem ou Mal

4. Pela Última Vez

5. Apenas Um Olhar

6. Onde Estiver

7. Cedo ou Tarde

8. Pedra Murano

9. Ligação

10. Hoje o Céu Abriu

11. Não é Normal

12. Além de Mim

13. Razões e Emoções

The Mars Volta: quem viu, curtiu

Se na tarde de sábado o experimentalismo do Badbadnotgood deixou os canadenses deslocados, o The Mars Volta (banda liderada pelo duo Omar Rodriguez-Lopez e Cedric Baxler-Zavala) corria risco parecido com sua apresentação no domingo. Barulhentos (no bom sentido da palavra) e igualmente experimentais, encerraram a noite no palco Deezer com um som ao qual os presentes não estão todos acostumados.

Como trunfo, eles tinham o fato de serem contemporâneos da Florence + the Machine. Assim, ao menos não eram desconhecidos. A essa altura, as expectativas gerais estavam sobre a headliner, então, acabaram tocando para um público enxuto, mas que gostou do que viu.

O Mars Volta é um dos nomes mais cultuados dos anos 2000, mesmo que não tenha sido um grande sucesso comercial ou presença comum na MTV. É uma banda que também “voltou” após um hiato de 10 anos em 2022 com álbum homônimo e muito inspirado.

Mesmo com gás para queimar, porém, optaram por priorizar as canções dos álbuns “Deloused in the Comatorium” (2003) e “Frances the Mute” (2005) nos dois shows que fizeram no Brasil.

Setlist:

1. Roulette Dares (The Haunt Of)

2. L’Via L’Viaquez

3. Graveyard Love

4. Drunkship of Lanterns

5. The Widow

6. Cicatriz ESP

7. Son et Lumiere

8. Inertiatic ESP

Queridinhas do indie e do Brasil

Pela primeira vez no Brasil, as irmãs Este, Danielle e Alana parecem estar amando cada minuto. Com seu primeiro álbum, “Days Are Gone” (2013), prestes a completar uma década de lançamento em setembro, as Haim já se estabeleceram como figuras queridas e competentes no mundo do pop – fazendo música com desde a gigante pop Taylor Swift, até o hypadíssimo Thundercat.

Foto: @arielmartini

Mesmo assim, uma fração de quem compareceu ao Novo Anhangabaú não parecia estar muito familiarizado com as meninas, desconhecidas de muita gente na plateia do NX Zero. Nessa primeira visita ao Brasil, causaram um tremendo auê quando cantaram “Ilariê” e contaram para todo o país no palco de seu último show que… são fãs da Xuxa. Depois disso, elas até se conheceram.

Em São Paulo, elas começaram com Danielle Haim subindo sozinha ao palco e tocando guitarra enquanto as outras irmãs – super animadas – entraram, uma de cada vez. Alana aproveitou para contar que apesar dela e das irmãs amarem fazer música, estar no Brasil reacendeu no trio o verdadeiro motivo dessa vocação.

E foi uma apresentação assim, cheia de intervenções, simpatia e brincadeiras (que envolviam desde Xuxa até o saxofonista Michael) entre cada uma das músicas. Em “My Song 5”, a música mais ROCK do setlist, a plateia ficou especialmente animada. Entre as canções apresentadas no Rio de Janeiro, só foi notada a ausência de ” I’ve Been Down”.

No fim, mesmo sem a explosão de Florence ou Lana ou uma pista abarrotada, elas fizeram o show mais divertido de todo o MITA com Este saindo de estágio como a favorita entre as três. Ao menos, era o que a quantidade de cartazes indicava.

Foto: @arielmartini

Setlist:

1. Now I’m in It

2. Don’t Save Me

3. I Know Alone

4. My Song 5

5. Ilariê

6. Want You Back

7. 3 am

8. Gasoline

9. Don’t Wanna

10. Summer Girl

11. Forever

12. The Wire

13. The Steps

Florence + the Machine: passou rápido

Musa de 8 a cada 10 indies dos anos 2000, Florence Welch, foi a última a se apresentar na noite de domingo que encerrou o MITA Festival em 2023. Se Lana Del Rey também arrastou um público encantado por sua persona, usando tiaras de flores e prontas para um culto, Florence fez o mesmo, mas também notava-se uma audiência mais diversa e heterogênea.

Foto: @arielmartini

Dessa vez, a estrela da noite foi pontualíssima, tocando sua primeira música poucos minutos depois das 20h20. Um alívio para quem esteve ali no sábado.

Outro contraponto à headliner do sábado é que a descalça Florence conseguiu explorar melhor seu álbum mais recente. “Dance Fever” (2022) esteve bem presente em seu repertório, sem que a artista precisasse deixar de lado grandes momentos de sua carreira. E “King”, “Free” e “Dream Evil Girl”, são mesmo faixas cativantes e que funcionam ao vivo.

Como cantora, Welch é altiva, na essência da palavra. Não só é dona de uma voz imponente, mas também não parava de se movimentar com gestos que faziam parecer que ela levitava sobre o palco.

Foto: @arielmartini

O telão fazia questão de mostrar o contato da dona da noite com o público. Os toques de mãos, abraços e um foco constante também na lua. Quando Florence falava, demonstrava doçura e gratidão pela oportunidade de se apresentar no país em um show grande que passou rápido, rápido.

Setlist:

1. Heaven is Here

2. King

3. Ship to Wreck

4. Free

5. Dog Days Are Over

6. Dream Girl Evil

7. Prayer Factory

8. Big God

9. What Kind of Man

10. Hunger

11. You Got the Love

12. Choreomania

13. Kiss With a Fist

14. Cosmic Love

15. My Love

16. Restraint

Bis:

17. Queen of Peace

18. Never Let Me Go

19. Shake it Out

20. Rabbit Heart (Raise it Up)

Sem tumulto

Quem deu de cara com as portas da estação fechadas e teve de esperar por quase 30 minutos antes que a circulação de pessoas fosse liberada na noite do show da Lana Del Rey teve a vida mais fácil no domingo. Com o grande número de pessoas no evento, ainda houve congestionamento, mas notava-se em geral uma preocupação em se preparar para deixar o local assim que começou o bis de Florence.

Então, mais uma vez, a diferença de comportamento entre os dias fez a diferença numa situação.

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Gabriel Caetano
Gabriel Caetano
Publicitário que escreve sobre arte e entretenimento. Desde 09 tô na internet falando do que gosto (e do que não gosto) para quem possa gostar (ou não) também.

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