Crítica: “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é animação mais madura que live-actions

Continuação do oscarizado “Homem-Aranha no Aranhaverso”, novo filme tem profundidade e fan-service na medida certa

No mundo dos quadrinhos é comum o uso da máxima de que tudo já era planejado há anos. Na maioria das vezes é puro marketing sem nenhum fundo de verdade. Em “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é o contrário.

Embora a frase não tenha sido usada na divulgação, a sensação que fica é exatamente essa, de que tudo já estava sendo construído no primeiro filme. Só que agora tudo é maior: quantidade de personagens, variedades de técnicas de animação, conflitos.

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Dois protagonistas

A ideia desta franquia do “Aranhaverso” é explorar a variedade de Homens e Mulheres-Aranha pelo Multiverso, mas o protagonista é Miles Morales. Ou era.

Nesta continuação, Gwen Stacy, vulgo Mulher-Aranha ou Gwen-Aranha, fica em pé de igualdade com Miles. Não é só o tempo de tela, mas também o desenvolvimento dado aos dois heróis.

É até irônico que uma animação, gênero que ainda hoje sofre com a visão errônea de que é apenas coisa pra criança, apresente uma das tramas mais maduras envolvendo super-heróis no cinema. Tanto Miles quanto Gwen ganham peso dramático, com seus traumas e motivações muito bem explorados. A solidão do herói é representada neles, principalmente pela maneira com que se relacionam com suas famílias.

Piscou, perdeu

O longa anterior já dava pistas da importância que o futurista Homem-Aranha 2099 teria. Aqui, ele ressurge em posição de destaque, comandando um exército de heróis-Aranha oriundos de inúmeras realidades. Mas a questão é: por que Miles Morales não foi convocado para este grupo?

Com tanta variedade de Aranhas, não é de se espantar que visões diferentes do que é o heroísmo sejam importantes no desenvolvimento da história. Mais uma vez, um assunto um tanto mais profundo, mas aqui dividindo espaço com um verdadeiro espetáculo visual.

O filme apresenta cerca de 280 variantes aracnídeas. Ou seja, é um festival de easter-eggs onde a cada piscada podemos perder algumas referências. É provavelmente o maior fan-service já feito.

No entanto, não é apenas isso. Cada Aranha tem seu traço próprio, seu estilo particular de animação. Uns lembram páginas de quadrinhos, outros animações mais infantis, ou animes, 3D, e por aí vai.

E o show começa quando todos eles interagem. Não é uma novidade, já foi feito na produção anterior, mas desta vez atinge níveis insanos de detalhes.

Experiência única

É raro um desenho animado ter longa duração, mas “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” tem 2 horas e 20 minutos. E, acredite, você nem sente passar.

O esmero do longa não é apenas nas técnicas de animação. São muitas homenagens e referências, que não estão ali apenas para encher linguiça, pois fazem parte da construção da trama, servem para definir o que é ser um Homem-Aranha.

O que impressiona é a maneira como tudo isso é costurado a um roteiro que tem algo a dizer. Numa época em que o público se demonstra cansado de histórias rasas e corridas, de furos de roteiro e da mesmice dos filmes de ação, muito diriam especialmente nos de super-heróis, “Através do Aranhaverso” apresenta uma maturidade ímpar, com identidade própria. É uma prova de que o gênero super-herói ainda funciona. Só precisa ser bem trabalhado com o carinho que merece. E não ser genérico.

Ajuda muito ter toda a experiência imersiva do cinema respeitada. Sem trailers ou declarações dos envolvidos que entregam todas as reviravoltas e surpresa. E acredite: são muitas!

*“Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (1º).

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Leonardo Vicente Di Sessa
Leonardo Vicente Di Sessahttps://falaanimal.com.br/
Formado em Propaganda & Marketing, Leonardo Vicente acabou tragado pelo mundo dos quadrinhos e assuntos nerds, atuando como jornalista especializado na área desde 2001. Também revisor e editor, mantém o site Fala, Animal! e o podcast de mesmo nome, participando ainda da equipe da revista Mundo dos Super-Heróis e do podcast Mansão Wayne. É autor de livros como Os Cavaleiros das Trevas, O Homem que Ri e Prodígio: 80 Anos do Robin.

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