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Entrevista: Ben Christo exalta momento do Sisters of Mercy, que volta ao Brasil

Guitarrista comenta uso de backing tracks e diz que fãs locais poderão ter uma surpresa durante apresentação única em São Paulo, no próximo domingo (18)

O The Sisters of Mercy é a banda mais importante do chamado gothic rock ainda em atividade. Só não fale isso para Andrew Eldritch, fundador e único membro constante nas quatro décadas de existência. Sua aversão ao rótulo é notória.

Com muitas mudanças de formação, Eldritch encontrou um jovem e promissor guitarrista, na figura de Ben Christo, para estabilizar esse problema. Há 14 anos no grupo, é o guitarrista mais longevo que As Irmãs já tiveram. Não à toa, se tornou o braço direito do cantor. Com sua mentoria, o guitarrista amadureceu seu processo de composição, jeito de tocar e cantar.

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Em meio a uma bem-sucedida turnê pela terra do Tio Sam, Ben nos atendeu para discorrer sobre seus projetos paralelos, backing tracks, abuso de álcool e as novas músicas que compôs ao lado dos parceiros de banda. Também, claro, falou sobre o show que o The Sisters of Mercy fará no Brasil, em data única na cidade de São Paulo, no próximo domingo (18) – clique aqui para mais informações.

Pandemia: fundo do poço e (re)composição

A pandemia parou o mundo. Ou parte (pensante) dele. Turnês foram suspensas, outras nem começaram. Planos foram desfeitos quando o mundo entrou em estado de suspensão diante do risco iminente. Em casa e sem poder exercer o ofício, restou aos artistas se juntarem, virtualmente, em improváveis colaborações via Zoom e/ou compor.

Para alguns, a experiência não foi tão simples. Ben precisou encarar seus demônios, e olhar o fundo do poço bem de perto.

“A pandemia foi bem interessante pra mim porque o mundo de antes, e talvez seja assim para muitas pessoas, parece um mundo muito diferente. Quando olho para 2019, me vejo uma outra pessoa. Umas das principais razões para isso é que estava bebendo muito. Costumava fazer umas pausas por cerca de um mês para não beber, onde me organizava e ficava saudável. Curiosamente, quando passamos pelo Brasil [novembro de 2019] estava em uma dessas pausas. Mas sempre sabia que voltaria a beber, como se fosse uma recompensa depois de todo esforço e trabalho.”

Foi um período de provação para o guitarrista, e a resposta era uma só.

“Durante o lockdown, eu tinha acabado de mudar para um apartamento e estava sozinho, não era responsável por ninguém e não tinha amigos nem família por perto. Nesse momento a bebida ficou fora de controle e atingi o fundo do poço. Em setembro de 2021 parei de beber por completo, são 20 meses sem álcool.”

A determinação e consequente superação trouxe frutos, não só para o Sisters of Mercy.

“Em termos criativos, mesmo bebendo bastante, utilizei as paradas para compor. No verão de 2020, parei 3 meses e compus para o Sisters, Diamond Black, The 69 Eyes. Então a pandemia deu a oportunidade de expandir minha criatividade, o que aconteceu quando optei por uma vida sem álcool.”

As novas composições

Se a pandemia lançou percalços no caminho de Bem Christo, também lhe deu a chance de se recompor e espraiar sua criatividade. De acordo com Andrew Eldritch, mais de 30 músicas foram escritas pelo trio principal, que ainda inclui o guitarrista Dylan Smith. Algumas delas nem sequer tiveram chance de dar as caras ao vivo. Outras, vem agradando em cheio.

“Vamos tocar várias músicas que ainda não estavam compostas desde a última vez que estivemos no Brasil. O setlist está muito bom, misturamos os sucessos, faixas mais obscuras – aquelas conhecidas mas que você não espera ouvir – e o material novo. A resposta ao material novo tem sido muito boa”

Depois da entrada de Dylan, Christo deixou de ser o “cara novo” e viu sua posição no grupo crescer.

“Essa formação está bem solidificada. Em 2019, Dylan tinha acabado de entrar e minha posição na banda também era nova. Naquele ponto eu era o guitarrista com mais tempo de Sisters, então tinha mais opinião nas composições e isso fica mais evidente nos shows. Acredito que integramos muito bem os aspectos sonoros e visuais. O que vocês verão será muito dramático, teatral e com uma empolgante combinação de luz, som e performance.”

O núcleo principal – ao vivo contam com a presença de Ravey Davey para operar a parafernália eletrônica – possui localizações geográficas distintas: Eldritch vive na Bélgica, Ben está na Inglaterra e Dylan surfa na Austrália. Essas distâncias poderiam ser um complicador na hora de compor, mas o trio usa todas as oportunidades para não perder o fluxo de ideias e não esmaecer o entusiasmo.

“Muito foi composto durante a pandemia, em locais diversos como Bristol, no norte da Inglaterra, Londres, Bélgica, Holanda. Algumas ideias surgiram com os três no mesmo ambiente. Andrew dizia: vamos colocar a bateria eletrônica nessa velocidade e improvisar. Foi assim que surgiu ‘Genevieve’, apenas brincando com riffs, juntos na mesma sala. No dia seguinte, nos reunimos novamente e não tínhamos nenhuma ideia para o refrão. Então, Andrew foi até o microfone e o cantou inteiro. Do nada. Foi um momento mágico. Nos olhamos, e não havia dúvida de que aquele era o refrão. E assim ficou, não mudamos nada.”

Momento de união

O momento parece ser de bastante união, o que os deixa mais integrados e imbuídos dos mesmos propósitos.

Muitas vezes tachado de difícil e complicado de trabalhar, Andrew Eldritch parece não fazer jus ao tirano pintado tanto por Wayne Hussey (guitarra) e Craig Adams (baixo), ex-parceiros que o deixaram a deriva para fundar outra instituição do gothic rock, o The Mission; assim como a ex-baixista Patricia Morrison (ex-Gun Club e The Damned).

Com a dupla, Andrew se negou a gravar as composições de Wayne para o que seria o sucessor do clássico “First and Last and Always” (1985). Frustrado e alegando diferenças musicais (“Ele estava escutando bandas como Fleetwood Mac, Stevie Nicks e Foreigner enquanto escutávamos Motörhead”), deixa o cantor no seu exílio voluntário em Hamburgo e forma o The Sisterhood, ao lado de Craig. Imediatamente, Andrew os processa para impedir qualquer associação com o Sisters. Além disso, reuniu um grupo de conhecidos (Patricia Morrison, Lucas Fox, James Ray, Alan Vega) e gravou um álbum utilizando a alcunha utilizada pelos desafetos. “Gift” (1986) fez Wayne e Craig, já em turnê com o The Cult, mudarem o nome para The Mission.

Com Morrison, há o rumor de que ela não teria gravado uma nota sequer em “Floodland” (1987), tornando sua associação com o cantor um mero empréstimo do seu charme e beleza gótica ao material promocional oriundo do segundo álbum de Eldritch. De acordo com uma entrevista¨, a baixista ganhou mais dinheiro como courier em Londres do que em sua época ao lado de Andrew. Um acordo de confidencialidade a impede de comentar sobre o seu passado na irmandade. Mas a separação não foi nada amigável.

Esses imbróglios, realmente, parecem coisa do passado. Ben explica:

“Há momentos onde um de nós tem uma ideia e a apresenta aos demais para trabalharmos juntos. Tem sido muito bom porque temos liberdade e estamos abertos às opiniões, confiamos nos julgamentos uns dos outros. E, também, porque todas as composições, trabalhadas coletivamente, são assinadas pelos três. Dessa forma, não há necessidade de ficar promovendo aquela música em que você compôs mais. É libertador. Você deixa de querer empurrar a sua composição e passa a querer apenas as melhores ideias. Assim temos essa enorme quantidade de músicas novas.”

Os elogios não param, assim como as músicas.

“De um lado há uma música mais sombria e ‘anthemic’ como ‘Caligula’, do outro uma mais rápida e um tanto visceral como ‘Genevieve’, que é a música mais rápida que o Sisters jamais fez e, ao mesmo tempo, leve. Isso é algo no qual Andrew é ótimo, ele cria essa sensação de espaço mesmo em uma canção rápida.”

Álbum novo?

Com toda essa quantidade de novas composições é natural esperar por um novo álbum de estúdio, certo? Ben Christo não parece acreditar nessa possibilidade. Ou seria apenas uma cortina de fumaça?

“Gravar um álbum para o Sisters seria muito diferente de gravar um álbum para uma banda nova. O Sisters tem uma base de fãs muito bem estabelecida, literalmente milhões de pessoas ao redor do mundo. Pessoas que adorariam ouvir e até comprar esse novo álbum. Talvez não as gerações mais jovens, mas, com certeza, aqueles fãs, que acompanham a banda há muito tempo, comprariam um novo álbum.”

Em uma entrevista ao site da revista Classic Rock, em 2016, Andrew Eldritch sugere que se o então candidato Donald Trump fosse eleito “teria razão suficiente para lançar um novo álbum”. O resultado é de conhecimento geral: Trump foi eleito, felizmente, perdeu a reeleição, e nada de álbum novo.

“Gravá-lo seria um árduo processo e sempre há o perigo de ter que se comprometer demais. Nunca tive contrato com uma grande gravadora, talvez o tipo de comprometimento que Andrew precisou fazer para levar sua arte para o mundo não faça parte do seu desejo nesse momento.”

O terceiro álbum do Sisters of Mercy, “Vision Thing” (1990), foi o último de inéditas lançado. Com um som mais vigoroso, o álbum acabou por determinar um padrão para tudo que viria a ser composto após esse período: riffs meio hard, meio heavy; bateria mais direta e acelerada; e baixo sem nuances. Tudo para que a voz sussurrada paire como um contraponto necessário. Em um mundo onde as pessoas gritam, Eldritch desenha suas linhas melódicas e seu registro de barítono baseado em David Bowie, Leonard Cohen e Iggy Pop.

Sua última música lançada foi “Under the Gun”, a faixa inédita para a coletânea A Slight Case of Overbombing – Greatest Hits Volume 1 (1993). Desde então, muitas outras canções foram compostas e apenas tocadas em shows. Uma pesquisa rápida no YouTube trará boas listas com essas composições. Para quem ainda prefere mídia física, há dezenas de CDs bootlegs com registros dos shows nos quais essas músicas foram tocadas. Mas álbum de estúdio mesmo virou apenas uma vaga lembrança e uma incômoda e repetitiva pergunta a ser feita.

“Tocamos as músicas novas ao vivo, as pessoas realmente gostam e aprendem assistindo aos vídeos no YouTube. Estava conversando com um fã de 21 anos, após um show, e ele me disse que ouve as músicas novas o tempo todo. Perguntei, como? Sua resposta: fiz uma playlist das gravações ao vivo no YouTube. A tecnologia moderna e os iPhones possuem qualidade sonora superior à dos bootlegs dos anos 1990 e início dos 2000. Então ele as ouve de forma satisfatória enquanto caminha até a faculdade.”

As novas tecnologias podem possuir uma qualidade sonora satisfatória para quem possui um baixo padrão de como ouvir música. Afinal, há quem se satisfaça com o som proveniente de pequenos alto-falantes embutidos em celulares ou nas indefectíveis caixinhas de som portáteis. Mas quando o assunto é qualidade sonora, nada supera – nem os melhores streamings – a qualidade de um CD ou vinil sendo reproduzido em um bom equipamento.

Por outro lado, nada disso parece abalar a fé do guitarrista em um processo que poderia ser maculado por algum imaginário executivo de grande gravadora. Ou seja, tá bom do jeito que está.

“Minha opinião é que faríamos dinheiro porque as pessoas comprariam o álbum, o merchandise e coisas assim, mas haveria muito trabalho e talvez tivéssemos que ceder em muitas coisas e isso poderia desestabilizar a unidade da marca criada por Andrew, sua visão para banda e a identidade dela. É quase como se ele não precisasse fazer isso porque estamos lotando os shows, tocando para públicos de 2 mil a 4 mil pessoas por noite pelos EUA e todos estão adorando. O que quer que tenhamos feito nos últimos anos, tem dado certo. Não precisamos de um álbum.”

Turnê americana e “espaço seguro”

Sem álbum novo mas com um punhado de novidades, principalmente por não se apresentar para plateias norte-americanas há 14 anos, o grupo iniciou uma bem-sucedida tour no dia 10 de maio, em Silver Spring, Maryland, que já passou por diversas cidades como Las Vegas, onde se apresentaram no festival Sick New World cujo lineup contia, dentre outros, System of a Down, Deftones, Soulfly, Placebo, Ministry, She Wants Revenge, Mr. Bungle, Skinny Puppy, Killing Joke, Evanescence, Cradle of Filth, Lacuna Coil e The 69 Eyes. México é a última parada antes de rumarem para América do Sul.

Eldritch sempre expressou suas visões sobre a política dos Estados Unidos de forma aberta. Até na faixa-título de “Vision Thing”:

It’s a small world and it smells bad
I’d buy another if I had
Back what I paid
For another motherf#cker in a motorcade”

“É um mundo pequeno e ele fede
Compraria outro se tivesse
De volta o que paguei
A outro filho da mãe em uma carreata”

Teria sido essa visão e a eleição de Trump fatores que fizeram a banda se ausentar por tanto tempo dos palcos norte-americanos?

“Não havia nenhuma razão em particular, não tomamos uma decisão de não tocar pela América. Estava no nosso radar. Não sabíamos nem como, nem quando; apenas queríamos. Esperamos para ver o que poderia acontecer. Há vários fatores que precisam estar bem alinhados, como viagens, vistos, rotas. Dessa vez tudo funcionou e já estamos faz sete dias nessa turnê e tem sido ótima! É a melhor turnê que já participei com o Sisters. Temos recebido ótimas reações, os shows estão lotados, as plateias têm sido muito receptivas ao novo material.”

Em um Estados Unidos cada vez mais dividido entre a cegueira conservadora e a amplitude liberal, a banda, felizmente, congrega mais a segunda opção.

 “Temos um público que abrange 3 gerações, dos 18 aos 60 anos. São punks, rockers, headbangers, góticos, fãs de industrial, garotada do pop, bem diverso. E também há uma boa parcela LGBTQ+ no nosso público. Na verdade, sempre teve. Agora é mais pronunciado porque as pessoas estão mais à vontade para serem quem elas são. Sempre fomos 100% a favor de energizar e estimular qualquer um que se sinta marginalizado. Os shows são um espaço seguro, nossa banda é um espaço seguro.”

As guitarras da “nossa banda”

A diversidade do público em seus shows soma-se às muitas duplas de guitarristas que passaram pelo grupo ao longo dos 43 anos de atividade. Do início com Gary Marx e Ben Gunn, passando por Tin Bricheno e Andreas Bruhn, Andam Pearson e Chris Sheehan, até chegar na atual, os estilos foram variando.

“Interessante pensar nesses guitarristas porque exceto Chris, com quem trabalhei, nenhum deles ficou mais do que dois anos no grupo. Quer dizer, Adam Pearson permaneceu por mais tempo e compôs um punhado de músicas. Há muitas músicas boas que vieram de todos os períodos, sou fã do Sisters, cresci ouvindo a banda e adoro os diferentes estilos de tocar que eles incorporaram às músicas.”

Há que se notar a variedade de boas composições em um catálogo criado e executado por músicos tão distintos. Com os estilos mais básicos e rudimentares da dupla inicial, Marx e Gunn, a base musical foi criada. Músicas como “Floorshow”, “Anaconda” e “Heartland” surgiram nesse período. A entrada do mais talentoso Wayne Hussey abriu uma dimensão que possibilitou a criação de “Black Planet”, “Walk Away”, “No Time to Cry” e “Marian”. Já em “Vision Thing”, Andrew Eldritch trabalhou com o jovem Bruhn para atualizar o som em “Detonation Boulevard”, “Doctor Jeep” e “When you Don’t See Me”.

“Destaco músicas como ‘When You Don’t See Me’, porque ela é esse sombrio rock de arena. Há grandes riffs, bem idiossincráticos, no primeiro álbum, como ‘Black Planet’ e ‘Walk Away’. E há as canções escritas após esse período com riffs fantásticos. ‘Suzanne’, por exemplo, é uma música maravilhosa. Chris Catalyst compôs ‘Arms’, que é muito, muito forte com um ótimo refrão à la ‘Dominion’, bem Sisters.”

Por mais que as formações anteriores tenham trazido, cada uma a sua forma e estilo, composições que permanecem como clássicos ou músicas com status cult, o prolífico período atual faz Ben transbordar em entusiasmo.

“Agora com esse novo material, é a primeira vez em muito tempo que os mesmos membros compõem juntos. Há uma coesão no que estamos fazendo, não só em termos de estilo mas como quando estamos tocando. Essa é a nossa banda. Não estamos tocando um setlist díspar onde essa é de 1983, outra de 1988 e essa de 1997, de quando Dylan e eu ainda estávamos no Colégio (RS). Nesse momento, metade do setlist é formado por músicas compostas por nós em várias partes do globo, e elas soam como a nossa banda.”

O amadurecimento: “menos é mais”

A estreia de Ben Christo no país com o Sisters of Mercy foi no longínquo 2006. Com suas poses e técnicas advindas do hard rock, o jovem guitarrista parecia mais um aspirante ao Def Leppard ou L.A. Guns do que o novo integrante de uma “industrial groove machine”, como descrito no site oficial. Nem a espessa fumaça conseguiu esconder o virtuosismo metálico. De lá pra cá – a banda também passou por aqui em 2009, 2012, 2016 e 2019 -, seu jeito de tocar, mudou.

“Muito bem observado e, sim, minha abordagem mudou bastante. Eu tinha uma necessidade de tocar o tempo todo, era muito exagerado. Costumava achar que tudo era mais metal do que realmente era. Tocava com muito overdrive e sempre adicionava algo mais aos riffs para que meu estilo sobressaísse. Era um jovem de 25, 26 anos e queria que toda música fosse um veículo para o meu talento.

Desde então, graças aos muitos ensinamentos do Andrew e do amadurecimento como músico, percebi que menos é mais. Agora, meus solos, que eram extensos, possuem duas ou três notas. É muito mais sobre colocar o pé no monitor e encarar o público, procurando criar uma conexão, do que correr pelo palco tocando sem parar, numa diatribe virtuosística.”

Essa abordagem inicial acabava por descaracterizar músicas mais antigas, que vinham cravejadas de solos desnecessários. O menos é mais, aprendido com o patrão, trouxe-o para mais perto dos arranjos originais. Mas nem tanto.

“Sempre preferi a versão ‘Alice 93’ [regravação feita em 1993 para o single de 1982], assim como a ‘Temple of Love 92’ [regravação feita em 1992 para o single de 1983] porque tem mais conexão como meu estilo de tocar. Tento fazê-las soar o mais fiel com essas versões. Em ‘No Time to Cry’, também, tento fazê-la soar como a original, pois acho importante que haja uma boa dose de fidelidade nos sons de guitarra e no jeito como são tocadas.”

Em uma era onde a nostalgia orienta bandas com muito tempo de estrada a criarem shows o mais próximo da experiência de outrora, ser muito fiel ao passado poderia ser um problema, já que Eldritch não é afeito a olhar pra trás e já declarou não conseguir cantar músicas do mesmo jeito por muito tempo.

“Quero que as pessoas sintam uma conexão com a época em que elas escutavam essas canções mais antigas. Quando vou ao show de uma banda importante pra mim, quero que as músicas soem como no álbum, mas revitalizadas. Fico satisfeito com algumas mudanças e atualizações e isso também é algo que fazemos. Claro, é necessário mudar algumas partes e alguns arranjos quando se toca ao vivo, porque não temos 47 pistas de guitarras como haveria nos álbuns. [Risos]”

Não só a performance com a guitarra mudou. Mudou, também, a performance como um todo.

“Há um bom arco dramático, penso mais na performance como um drama teatral. No começo do set, é tudo mais estoico, e conforme progride nos tornamos mais energéticos e interativos. Então há uma sensação de progressão narrativa.”

Playback: que baita elogio!

O arco dramático descrito por Ben Christo parece não ter efeito quando a discussão chega nas raias da bobagem de uma acusação leviana.

De várias formas, o Sisters of Mercy difere da sua banda de rock padrão. Em primeiro lugar, não há baterista. O que poderia ser uma enorme desvantagem acaba por tornar a banda mais distinta de seus contemporâneos.

Se é fácil encontrar exemplos de grupos ou duos mais afeitos a eletrônica – Depeche Mode, Pet Shop Boys – que criaram carreiras sem o auxílio de alguém empunhando duas baquetas, é difícil encontrar no rock quem tenha optado por uma caixa geradora de ritmo. Doktor Avalanche, o nome dado à caixa – que já foi uma Boss DR55 “Doktor Rhythm” – assumiu o posto logo após o primeiro single, “Damage Done”, ser lançado. Nele é possível perceber como Andrew Eldritch, enquanto baterista, seria um ótimo cantor.

Implementado o ritmo eletrônico, a dinâmica única da banda foi criada. Junto ao extensivo uso de fumaça em suas apresentações, ao lúgubre vocal e as guitarras cortantes, estava o baixo distorcido e embebido de chorus a cargo de Craig Adams. Basta ouvir “Fix”, “Alice”, “Floorshow”, “A Rock and a Hard Place” ou “Marian” para se ter ideia da importância do baixo no espectro sonoro do grupo.

Depois da saída de Tony James (Generation X, Sigue Sigue Sputnik), em 1991, nunca mais contaram com um baixista, passando a ter linhas de baixo sintetizadas e tocadas de forma sequencial com o Doktor. Comentários exaltados de fãs contrariados pululam a internet. Para efeito de comparação, alguém imagina o Metallica sem a poderosa mão direita do James Hetfield? É assim com a falta do baixo ao vivo.

Nos shows, os guitarristas não só tocam, também cantam. Assim como Andrew exerce sua função primária demonstrando estar com a voz longe de seu melhor momento. Tudo é ao vivo.

Mas, no Brasil, muitos acham que a banda executa playback em seus shows. Apenas por não haver baterista, nem baixista, e esses instrumentos serem pré-gravados. Uma confusão um tanto ingênua, quanto estúpida, pois para ser playback é necessário que os artistas sobre o palco estejam fingindo tocar e cantar.

“Que elogio alguém pensar que o que estão ouvindo é tão bom que só podemos fingir cantar e tocar. Uau, um baita elogio! Sempre achei isso hilário, porque é bem mais difícil fingir do que tocar. É igualar nota por nota do que está gravado nos álbuns com a nossa performance visual. Se você é um performer o que mais gosta de fazer é tocar, se expressar através da música e toda espontaneidade advinda de estar ao vivo.”

Playback é diferente de usar backing tracks.

Backing tracks são partes pré-gravadas de instrumentos ou vocais, usados como reforço ou porque não há um músico para executar tais partes.

O Rush, por exemplo, usou teclados pré-gravados em sua fase dos anos 1980, aquela conhecida como “a fase dos teclados”, compreendia do “Signals” até “Hold Your Fire”. Quando Geddy Lee não tinha como largar seu baixo, os teclados eram backing tracks.

Várias bandas, como Journey e Def Leppard, fazem uso para terem refrãos mais fortes como os gravados em estúdio. Mesmo que seus componentes cantem ao vivo, utilizam como um reforço.

A controvérsia atingiu o rock quando algumas apresentações mais recentes foram capturadas em vídeo e deixaram claro como cantores e músicos apenas fingiam tocar e/ou cantar, ou seja, praticando um descarado playback. De Paul Stanley (Kiss) a Blackie Lawless (W.A.S.P.), passando pelo vexame protagonizado pelo Santa Cruz, todos foram pegos desprevenidos. Isso sem falar da troca de acusações envolvendo o Mötley Crüe.

“Bandas que usam backing tracks para reforçar a performance ou mesmo fingem cantar, isso depende muito do gênero musical. O público parece cada vez mais não se importar com essa prática. Tive uma banda chamada Night by Night, éramos totalmente contra isso. Naquela época, por volta de 2011, 2012, usar backing tracks com guitarras extra ou vocais de apoio estava se tornando moda. Decidimos que o nosso ponto de destaque seria fazer tudo ao vivo. Gastamos horas e horas ensaiando nossas harmonias vocais de 3 partes, era o que gostávamos. Tivemos ensaios só para os vocais e ficamos muito bons nisso. Nunca me arrependi, era fantástico. Ao mesmo tempo, outras bandas que usavam backing tracks soavam melhores e o público parecia não perceber a diferença. Estávamos competindo com a perfeição. Foi um tanto desanimador, mesmo sabendo que o importante era ter certeza que sabíamos fazer tudo ao vivo.”

Essa confusão entre playback e uso de backing tracks acaba sendo gerada, muitas vezes, pelos próprios artistas. Alguns refutam o fato de usarem, outros entendem as dinâmicas do show business e falam abertamente sobre as possibilidades do uso.

“O público parece não se importar. Se soa como o álbum e a banda está detonando no palco, eles vão curtir. Há menos: ‘Espere um pouco, de onde vem esse som de teclado? Não há tecladista no palco!’. Nem vejo problema nisso, muitas bandas fazem porque não podem arcar com o custo de mais um músico na estrada. Não é só uma questão de dinheiro, tem a política de ter mais uma pessoa na equação sem ser um membro efetivo. Então acho que é ok ter algumas gravações para reforçar a performance. O importante é cantar e tocar ao vivo e adicionar elementos como reforço. É como se fossem efeitos especiais para a sua performance.”

O músico completa:

“Existe a questão de fazer muitos shows em sequência. Outros, como os cantores pop, também dançam e isso acaba sendo bem difícil de ser feito ao mesmo tempo. Estou apenas enumerando algumas razões pelas quais alguns artistas chegam ao ponto de preservarem sua voz sem precisarem cancelar shows e perderem muito dinheiro. Já ouvi muitas histórias assim ao longo dos anos.”

As muitas atividades paralelas

Junto ao seu trabalho com o Sisters of Mercy, Ben Christo, desenvolve uma série de projetos. Seja compondo (The 69 Eyes), gravando (Lord of the Lost, Esprit D’Air), excursionando como músico (Ricky Warwick, Nathan Gray, PIG) ou a frente de suas bandas (Night by Night e Diamond Black), ele se mantém ativo com artistas bem distintos a sua principal ocupação.

“As experiências com outros artistas foram um ótimo processo. O trabalho com o Sisters me ajudou com os outros artistas e vice-versa. Com o Nathan Gray (Boysetsfire) eu cantei bastante. Nas duas primeiras tours que fiz com ele, éramos apenas nós dois, então os vocais eram praticamente todos harmonizados. Isso me deu muita confiança como vocalista, que consequentemente deu mais confiança como cantor. Isso quer dizer que canto muito mais com o Sisters.

Também fiquei mais confiante para compor. No verão de 2020, quando comecei a compor bastante, levei o aprendizado de compor com o Sisters, sobretudo a perspectiva mais é menos, e apliquei em todas as bandas para as quais compus. Fosse The 69 Eyes ou Lord of the Lost, usava essa abordagem minimalista para me ajudar a escrever. Foi muito, muito útil e, mesmo ainda tendo um longo caminho pela frente, sinto que amadureci como compositor e músico.

Também fiz muitos backing vocals com Ricky Warwick (The Almighty, Thin Lizzy, Black Star Riders) e isso também fortaleceu minha confiança. Então quando pensei em me tornar o cantor do Diamond Black, senti que estava pronto.”

De guitarrista a cantor de sua própria banda, há uma boa trajetória. Boas influências sempre deixam suas marcas.

“Sempre quis ser o cantor de uma banda. Quando lembro das primeiras vezes que escrevi música, quando tinha 10 anos, fazia tudo. Escrevia as partes vocais e as cantava. Eram sempre as minhas músicas. Sempre tive vontade de ser o autor de uma visão. Não queria simplesmente ser o guitarrista de uma banda onde me expressasse apenas pelos solos. Sempre admirei e respeitei Robert Smith (The Cure) e James Dean Bradfield (Manic Street Preachers), que são grandes guitarristas, tocam fantasticamente, cantam e suas letras são ótimas.”

Mas não basta ter bons exemplos, é preciso conhecer o ofício e, sobretudo, se conhecer, e amadurecer.

“Eu simplesmente não tinha a confiança, porque escrevia músicas onde o vocal era agudo, de tom bem alto, e não tenho um grande alcance vocal. Pensava que, para ser um cantor, eu tinha que ser capaz de cantar alto. Com passar dos anos, descobri que não é sobre isso, é sobre expressar algo autêntico e significativo. Algo com o qual as pessoas se conectem. Não é sobre técnica, é sobre emoção e ter algo único.”

Nem só no Black Diamond, reduzido a um trio, é possível ouvi-lo cantar.

“Durante a pandemia fiz um par de incursões como cantor principal. Fiz uma música com Esprit D’Air, chamada ‘Dead Zone’, onde cantei o segundo verso e harmonizei os refrãos. Com o Lord of the Lost fiz a voz principal de ‘Still Life To Die For’. Tudo isso está no Spotify. E a resposta recebida foi tão positiva que tive a confiança necessária para me tornar um frontman. Agora sei que sou bom em cantar de forma bem suave e gentil, e mais áspero, poderoso e emocional, e, também, alternar entre os dois.”

A guitarra atrapalha? Ele responde:

“Saímos em turnê, em fevereiro, com o Esprit D’Air, para seis ou sete shows. E foi a minha primeira vez fazendo isso como um cara de frente. Estava um pouco nervoso na primeira noite, mas na terceira já estava absolutamente amando. No sexto show, quase não queria mais minha guitarra, parecia me atrapalhar como frontman. [Risos]”

Para terminar, vamos àquela indefectível pergunta. Sim, aquela na qual vamos saber se há algo especial planejado para o único show no Brasil.

“Curiosamente, falamos sobre incorporar algo novo na ‘Instrumental 86’, algo que achamos que o público vai gostar. Dylan e eu ainda vamos trabalhar sobre isso e saber o que sentimos. Adoramos tocar no Brasil e tornar tudo especial, só precisamos ter certeza se estará de acordo com a identidade do Sisters e com o que fazemos. Veremos.”

*O The Sisters of Mercy se apresenta no Tokio Marine Hall, em São Paulo, no próximo domingo (18). Clique aqui para mais informações.

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Claudio Borges
Claudio Borges
Jornalista, DJ, Produtor, Apresentador, Editor e o que mais ele encontrar pelo caminho da música. Descobriu Rock em 1982 e só ampliou gosto e conhecimento. Começou a tocar bateria aos 16 anos e guitarra aos 17.

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As novas composições

Se a pandemia lançou percalços no caminho de Bem Christo, também lhe deu a chance de se recompor e espraiar sua criatividade. De acordo com Andrew Eldritch, mais de 30 músicas foram escritas pelo trio principal, que ainda inclui o guitarrista Dylan Smith. Algumas delas nem sequer tiveram chance de dar as caras ao vivo. Outras, vem agradando em cheio.

“Vamos tocar várias músicas que ainda não estavam compostas desde a última vez que estivemos no Brasil. O setlist está muito bom, misturamos os sucessos, faixas mais obscuras – aquelas conhecidas mas que você não espera ouvir – e o material novo. A resposta ao material novo tem sido muito boa”

Depois da entrada de Dylan, Christo deixou de ser o “cara novo” e viu sua posição no grupo crescer.

“Essa formação está bem solidificada. Em 2019, Dylan tinha acabado de entrar e minha posição na banda também era nova. Naquele ponto eu era o guitarrista com mais tempo de Sisters, então tinha mais opinião nas composições e isso fica mais evidente nos shows. Acredito que integramos muito bem os aspectos sonoros e visuais. O que vocês verão será muito dramático, teatral e com uma empolgante combinação de luz, som e performance.”

O núcleo principal – ao vivo contam com a presença de Ravey Davey para operar a parafernália eletrônica – possui localizações geográficas distintas: Eldritch vive na Bélgica, Ben está na Inglaterra e Dylan surfa na Austrália. Essas distâncias poderiam ser um complicador na hora de compor, mas o trio usa todas as oportunidades para não perder o fluxo de ideias e não esmaecer o entusiasmo.

“Muito foi composto durante a pandemia, em locais diversos como Bristol, no norte da Inglaterra, Londres, Bélgica, Holanda. Algumas ideias surgiram com os três no mesmo ambiente. Andrew dizia: vamos colocar a bateria eletrônica nessa velocidade e improvisar. Foi assim que surgiu ‘Genevieve’, apenas brincando com riffs, juntos na mesma sala. No dia seguinte, nos reunimos novamente e não tínhamos nenhuma ideia para o refrão. Então, Andrew foi até o microfone e o cantou inteiro. Do nada. Foi um momento mágico. Nos olhamos, e não havia dúvida de que aquele era o refrão. E assim ficou, não mudamos nada.”

Momento de união

O momento parece ser de bastante união, o que os deixa mais integrados e imbuídos dos mesmos propósitos.

Muitas vezes tachado de difícil e complicado de trabalhar, Andrew Eldritch parece não fazer jus ao tirano pintado tanto por Wayne Hussey (guitarra) e Craig Adams (baixo), ex-parceiros que o deixaram a deriva para fundar outra instituição do gothic rock, o The Mission; assim como a ex-baixista Patricia Morrison (ex-Gun Club e The Damned).

Com a dupla, Andrew se negou a gravar as composições de Wayne para o que seria o sucessor do clássico “First and Last and Always” (1985). Frustrado e alegando diferenças musicais (“Ele estava escutando bandas como Fleetwood Mac, Stevie Nicks e Foreigner enquanto escutávamos Motörhead”), deixa o cantor no seu exílio voluntário em Hamburgo e forma o The Sisterhood, ao lado de Craig. Imediatamente, Andrew os processa para impedir qualquer associação com o Sisters. Além disso, reuniu um grupo de conhecidos (Patricia Morrison, Lucas Fox, James Ray, Alan Vega) e gravou um álbum utilizando a alcunha utilizada pelos desafetos. “Gift” (1986) fez Wayne e Craig, já em turnê com o The Cult, mudarem o nome para The Mission.

Com Morrison, há o rumor de que ela não teria gravado uma nota sequer em “Floodland” (1987), tornando sua associação com o cantor um mero empréstimo do seu charme e beleza gótica ao material promocional oriundo do segundo álbum de Eldritch. De acordo com uma entrevista¨, a baixista ganhou mais dinheiro como courier em Londres do que em sua época ao lado de Andrew. Um acordo de confidencialidade a impede de comentar sobre o seu passado na irmandade. Mas a separação não foi nada amigável.

Esses imbróglios, realmente, parecem coisa do passado. Ben explica:

“Há momentos onde um de nós tem uma ideia e a apresenta aos demais para trabalharmos juntos. Tem sido muito bom porque temos liberdade e estamos abertos às opiniões, confiamos nos julgamentos uns dos outros. E, também, porque todas as composições, trabalhadas coletivamente, são assinadas pelos três. Dessa forma, não há necessidade de ficar promovendo aquela música em que você compôs mais. É libertador. Você deixa de querer empurrar a sua composição e passa a querer apenas as melhores ideias. Assim temos essa enorme quantidade de músicas novas.”

Os elogios não param, assim como as músicas.

“De um lado há uma música mais sombria e ‘anthemic’ como ‘Caligula’, do outro uma mais rápida e um tanto visceral como ‘Genevieve’, que é a música mais rápida que o Sisters jamais fez e, ao mesmo tempo, leve. Isso é algo no qual Andrew é ótimo, ele cria essa sensação de espaço mesmo em uma canção rápida.”

Álbum novo?

Com toda essa quantidade de novas composições é natural esperar por um novo álbum de estúdio, certo? Ben Christo não parece acreditar nessa possibilidade. Ou seria apenas uma cortina de fumaça?

“Gravar um álbum para o Sisters seria muito diferente de gravar um álbum para uma banda nova. O Sisters tem uma base de fãs muito bem estabelecida, literalmente milhões de pessoas ao redor do mundo. Pessoas que adorariam ouvir e até comprar esse novo álbum. Talvez não as gerações mais jovens, mas, com certeza, aqueles fãs, que acompanham a banda há muito tempo, comprariam um novo álbum.”

Em uma entrevista ao site da revista Classic Rock, em 2016, Andrew Eldritch sugere que se o então candidato Donald Trump fosse eleito “teria razão suficiente para lançar um novo álbum”. O resultado é de conhecimento geral: Trump foi eleito, felizmente, perdeu a reeleição, e nada de álbum novo.

“Gravá-lo seria um árduo processo e sempre há o perigo de ter que se comprometer demais. Nunca tive contrato com uma grande gravadora, talvez o tipo de comprometimento que Andrew precisou fazer para levar sua arte para o mundo não faça parte do seu desejo nesse momento.”

O terceiro álbum do Sisters of Mercy, “Vision Thing” (1990), foi o último de inéditas lançado. Com um som mais vigoroso, o álbum acabou por determinar um padrão para tudo que viria a ser composto após esse período: riffs meio hard, meio heavy; bateria mais direta e acelerada; e baixo sem nuances. Tudo para que a voz sussurrada paire como um contraponto necessário. Em um mundo onde as pessoas gritam, Eldritch desenha suas linhas melódicas e seu registro de barítono baseado em David Bowie, Leonard Cohen e Iggy Pop.

Sua última música lançada foi “Under the Gun”, a faixa inédita para a coletânea A Slight Case of Overbombing – Greatest Hits Volume 1 (1993). Desde então, muitas outras canções foram compostas e apenas tocadas em shows. Uma pesquisa rápida no YouTube trará boas listas com essas composições. Para quem ainda prefere mídia física, há dezenas de CDs bootlegs com registros dos shows nos quais essas músicas foram tocadas. Mas álbum de estúdio mesmo virou apenas uma vaga lembrança e uma incômoda e repetitiva pergunta a ser feita.

“Tocamos as músicas novas ao vivo, as pessoas realmente gostam e aprendem assistindo aos vídeos no YouTube. Estava conversando com um fã de 21 anos, após um show, e ele me disse que ouve as músicas novas o tempo todo. Perguntei, como? Sua resposta: fiz uma playlist das gravações ao vivo no YouTube. A tecnologia moderna e os iPhones possuem qualidade sonora superior à dos bootlegs dos anos 1990 e início dos 2000. Então ele as ouve de forma satisfatória enquanto caminha até a faculdade.”

As novas tecnologias podem possuir uma qualidade sonora satisfatória para quem possui um baixo padrão de como ouvir música. Afinal, há quem se satisfaça com o som proveniente de pequenos alto-falantes embutidos em celulares ou nas indefectíveis caixinhas de som portáteis. Mas quando o assunto é qualidade sonora, nada supera – nem os melhores streamings – a qualidade de um CD ou vinil sendo reproduzido em um bom equipamento.

Por outro lado, nada disso parece abalar a fé do guitarrista em um processo que poderia ser maculado por algum imaginário executivo de grande gravadora. Ou seja, tá bom do jeito que está.

“Minha opinião é que faríamos dinheiro porque as pessoas comprariam o álbum, o merchandise e coisas assim, mas haveria muito trabalho e talvez tivéssemos que ceder em muitas coisas e isso poderia desestabilizar a unidade da marca criada por Andrew, sua visão para banda e a identidade dela. É quase como se ele não precisasse fazer isso porque estamos lotando os shows, tocando para públicos de 2 mil a 4 mil pessoas por noite pelos EUA e todos estão adorando. O que quer que tenhamos feito nos últimos anos, tem dado certo. Não precisamos de um álbum.”

Turnê americana e “espaço seguro”

Sem álbum novo mas com um punhado de novidades, principalmente por não se apresentar para plateias norte-americanas há 14 anos, o grupo iniciou uma bem-sucedida tour no dia 10 de maio, em Silver Spring, Maryland, que já passou por diversas cidades como Las Vegas, onde se apresentaram no festival Sick New World cujo lineup contia, dentre outros, System of a Down, Deftones, Soulfly, Placebo, Ministry, She Wants Revenge, Mr. Bungle, Skinny Puppy, Killing Joke, Evanescence, Cradle of Filth, Lacuna Coil e The 69 Eyes. México é a última parada antes de rumarem para América do Sul.

Eldritch sempre expressou suas visões sobre a política dos Estados Unidos de forma aberta. Até na faixa-título de “Vision Thing”:

It’s a small world and it smells bad
I’d buy another if I had
Back what I paid
For another motherf#cker in a motorcade”

“É um mundo pequeno e ele fede
Compraria outro se tivesse
De volta o que paguei
A outro filho da mãe em uma carreata”

Teria sido essa visão e a eleição de Trump fatores que fizeram a banda se ausentar por tanto tempo dos palcos norte-americanos?

“Não havia nenhuma razão em particular, não tomamos uma decisão de não tocar pela América. Estava no nosso radar. Não sabíamos nem como, nem quando; apenas queríamos. Esperamos para ver o que poderia acontecer. Há vários fatores que precisam estar bem alinhados, como viagens, vistos, rotas. Dessa vez tudo funcionou e já estamos faz sete dias nessa turnê e tem sido ótima! É a melhor turnê que já participei com o Sisters. Temos recebido ótimas reações, os shows estão lotados, as plateias têm sido muito receptivas ao novo material.”

Em um Estados Unidos cada vez mais dividido entre a cegueira conservadora e a amplitude liberal, a banda, felizmente, congrega mais a segunda opção.

 “Temos um público que abrange 3 gerações, dos 18 aos 60 anos. São punks, rockers, headbangers, góticos, fãs de industrial, garotada do pop, bem diverso. E também há uma boa parcela LGBTQ+ no nosso público. Na verdade, sempre teve. Agora é mais pronunciado porque as pessoas estão mais à vontade para serem quem elas são. Sempre fomos 100% a favor de energizar e estimular qualquer um que se sinta marginalizado. Os shows são um espaço seguro, nossa banda é um espaço seguro.”

As guitarras da “nossa banda”

A diversidade do público em seus shows soma-se às muitas duplas de guitarristas que passaram pelo grupo ao longo dos 43 anos de atividade. Do início com Gary Marx e Ben Gunn, passando por Tin Bricheno e Andreas Bruhn, Andam Pearson e Chris Sheehan, até chegar na atual, os estilos foram variando.

“Interessante pensar nesses guitarristas porque exceto Chris, com quem trabalhei, nenhum deles ficou mais do que dois anos no grupo. Quer dizer, Adam Pearson permaneceu por mais tempo e compôs um punhado de músicas. Há muitas músicas boas que vieram de todos os períodos, sou fã do Sisters, cresci ouvindo a banda e adoro os diferentes estilos de tocar que eles incorporaram às músicas.”

Há que se notar a variedade de boas composições em um catálogo criado e executado por músicos tão distintos. Com os estilos mais básicos e rudimentares da dupla inicial, Marx e Gunn, a base musical foi criada. Músicas como “Floorshow”, “Anaconda” e “Heartland” surgiram nesse período. A entrada do mais talentoso Wayne Hussey abriu uma dimensão que possibilitou a criação de “Black Planet”, “Walk Away”, “No Time to Cry” e “Marian”. Já em “Vision Thing”, Andrew Eldritch trabalhou com o jovem Bruhn para atualizar o som em “Detonation Boulevard”, “Doctor Jeep” e “When you Don’t See Me”.

“Destaco músicas como ‘When You Don’t See Me’, porque ela é esse sombrio rock de arena. Há grandes riffs, bem idiossincráticos, no primeiro álbum, como ‘Black Planet’ e ‘Walk Away’. E há as canções escritas após esse período com riffs fantásticos. ‘Suzanne’, por exemplo, é uma música maravilhosa. Chris Catalyst compôs ‘Arms’, que é muito, muito forte com um ótimo refrão à la ‘Dominion’, bem Sisters.”

Por mais que as formações anteriores tenham trazido, cada uma a sua forma e estilo, composições que permanecem como clássicos ou músicas com status cult, o prolífico período atual faz Ben transbordar em entusiasmo.

“Agora com esse novo material, é a primeira vez em muito tempo que os mesmos membros compõem juntos. Há uma coesão no que estamos fazendo, não só em termos de estilo mas como quando estamos tocando. Essa é a nossa banda. Não estamos tocando um setlist díspar onde essa é de 1983, outra de 1988 e essa de 1997, de quando Dylan e eu ainda estávamos no Colégio (RS). Nesse momento, metade do setlist é formado por músicas compostas por nós em várias partes do globo, e elas soam como a nossa banda.”

O amadurecimento: “menos é mais”

A estreia de Ben Christo no país com o Sisters of Mercy foi no longínquo 2006. Com suas poses e técnicas advindas do hard rock, o jovem guitarrista parecia mais um aspirante ao Def Leppard ou L.A. Guns do que o novo integrante de uma “industrial groove machine”, como descrito no site oficial. Nem a espessa fumaça conseguiu esconder o virtuosismo metálico. De lá pra cá – a banda também passou por aqui em 2009, 2012, 2016 e 2019 -, seu jeito de tocar, mudou.

“Muito bem observado e, sim, minha abordagem mudou bastante. Eu tinha uma necessidade de tocar o tempo todo, era muito exagerado. Costumava achar que tudo era mais metal do que realmente era. Tocava com muito overdrive e sempre adicionava algo mais aos riffs para que meu estilo sobressaísse. Era um jovem de 25, 26 anos e queria que toda música fosse um veículo para o meu talento.

Desde então, graças aos muitos ensinamentos do Andrew e do amadurecimento como músico, percebi que menos é mais. Agora, meus solos, que eram extensos, possuem duas ou três notas. É muito mais sobre colocar o pé no monitor e encarar o público, procurando criar uma conexão, do que correr pelo palco tocando sem parar, numa diatribe virtuosística.”

Essa abordagem inicial acabava por descaracterizar músicas mais antigas, que vinham cravejadas de solos desnecessários. O menos é mais, aprendido com o patrão, trouxe-o para mais perto dos arranjos originais. Mas nem tanto.

“Sempre preferi a versão ‘Alice 93’ [regravação feita em 1993 para o single de 1982], assim como a ‘Temple of Love 92’ [regravação feita em 1992 para o single de 1983] porque tem mais conexão como meu estilo de tocar. Tento fazê-las soar o mais fiel com essas versões. Em ‘No Time to Cry’, também, tento fazê-la soar como a original, pois acho importante que haja uma boa dose de fidelidade nos sons de guitarra e no jeito como são tocadas.”

Em uma era onde a nostalgia orienta bandas com muito tempo de estrada a criarem shows o mais próximo da experiência de outrora, ser muito fiel ao passado poderia ser um problema, já que Eldritch não é afeito a olhar pra trás e já declarou não conseguir cantar músicas do mesmo jeito por muito tempo.

“Quero que as pessoas sintam uma conexão com a época em que elas escutavam essas canções mais antigas. Quando vou ao show de uma banda importante pra mim, quero que as músicas soem como no álbum, mas revitalizadas. Fico satisfeito com algumas mudanças e atualizações e isso também é algo que fazemos. Claro, é necessário mudar algumas partes e alguns arranjos quando se toca ao vivo, porque não temos 47 pistas de guitarras como haveria nos álbuns. [Risos]”

Não só a performance com a guitarra mudou. Mudou, também, a performance como um todo.

“Há um bom arco dramático, penso mais na performance como um drama teatral. No começo do set, é tudo mais estoico, e conforme progride nos tornamos mais energéticos e interativos. Então há uma sensação de progressão narrativa.”

Playback: que baita elogio!

O arco dramático descrito por Ben Christo parece não ter efeito quando a discussão chega nas raias da bobagem de uma acusação leviana.

De várias formas, o Sisters of Mercy difere da sua banda de rock padrão. Em primeiro lugar, não há baterista. O que poderia ser uma enorme desvantagem acaba por tornar a banda mais distinta de seus contemporâneos.

Se é fácil encontrar exemplos de grupos ou duos mais afeitos a eletrônica – Depeche Mode, Pet Shop Boys – que criaram carreiras sem o auxílio de alguém empunhando duas baquetas, é difícil encontrar no rock quem tenha optado por uma caixa geradora de ritmo. Doktor Avalanche, o nome dado à caixa – que já foi uma Boss DR55 “Doktor Rhythm” – assumiu o posto logo após o primeiro single, “Damage Done”, ser lançado. Nele é possível perceber como Andrew Eldritch, enquanto baterista, seria um ótimo cantor.

Implementado o ritmo eletrônico, a dinâmica única da banda foi criada. Junto ao extensivo uso de fumaça em suas apresentações, ao lúgubre vocal e as guitarras cortantes, estava o baixo distorcido e embebido de chorus a cargo de Craig Adams. Basta ouvir “Fix”, “Alice”, “Floorshow”, “A Rock and a Hard Place” ou “Marian” para se ter ideia da importância do baixo no espectro sonoro do grupo.

Depois da saída de Tony James (Generation X, Sigue Sigue Sputnik), em 1991, nunca mais contaram com um baixista, passando a ter linhas de baixo sintetizadas e tocadas de forma sequencial com o Doktor. Comentários exaltados de fãs contrariados pululam a internet. Para efeito de comparação, alguém imagina o Metallica sem a poderosa mão direita do James Hetfield? É assim com a falta do baixo ao vivo.

Nos shows, os guitarristas não só tocam, também cantam. Assim como Andrew exerce sua função primária demonstrando estar com a voz longe de seu melhor momento. Tudo é ao vivo.

Mas, no Brasil, muitos acham que a banda executa playback em seus shows. Apenas por não haver baterista, nem baixista, e esses instrumentos serem pré-gravados. Uma confusão um tanto ingênua, quanto estúpida, pois para ser playback é necessário que os artistas sobre o palco estejam fingindo tocar e cantar.

“Que elogio alguém pensar que o que estão ouvindo é tão bom que só podemos fingir cantar e tocar. Uau, um baita elogio! Sempre achei isso hilário, porque é bem mais difícil fingir do que tocar. É igualar nota por nota do que está gravado nos álbuns com a nossa performance visual. Se você é um performer o que mais gosta de fazer é tocar, se expressar através da música e toda espontaneidade advinda de estar ao vivo.”

Playback é diferente de usar backing tracks.

Backing tracks são partes pré-gravadas de instrumentos ou vocais, usados como reforço ou porque não há um músico para executar tais partes.

O Rush, por exemplo, usou teclados pré-gravados em sua fase dos anos 1980, aquela conhecida como “a fase dos teclados”, compreendia do “Signals” até “Hold Your Fire”. Quando Geddy Lee não tinha como largar seu baixo, os teclados eram backing tracks.

Várias bandas, como Journey e Def Leppard, fazem uso para terem refrãos mais fortes como os gravados em estúdio. Mesmo que seus componentes cantem ao vivo, utilizam como um reforço.

A controvérsia atingiu o rock quando algumas apresentações mais recentes foram capturadas em vídeo e deixaram claro como cantores e músicos apenas fingiam tocar e/ou cantar, ou seja, praticando um descarado playback. De Paul Stanley (Kiss) a Blackie Lawless (W.A.S.P.), passando pelo vexame protagonizado pelo Santa Cruz, todos foram pegos desprevenidos. Isso sem falar da troca de acusações envolvendo o Mötley Crüe.

“Bandas que usam backing tracks para reforçar a performance ou mesmo fingem cantar, isso depende muito do gênero musical. O público parece cada vez mais não se importar com essa prática. Tive uma banda chamada Night by Night, éramos totalmente contra isso. Naquela época, por volta de 2011, 2012, usar backing tracks com guitarras extra ou vocais de apoio estava se tornando moda. Decidimos que o nosso ponto de destaque seria fazer tudo ao vivo. Gastamos horas e horas ensaiando nossas harmonias vocais de 3 partes, era o que gostávamos. Tivemos ensaios só para os vocais e ficamos muito bons nisso. Nunca me arrependi, era fantástico. Ao mesmo tempo, outras bandas que usavam backing tracks soavam melhores e o público parecia não perceber a diferença. Estávamos competindo com a perfeição. Foi um tanto desanimador, mesmo sabendo que o importante era ter certeza que sabíamos fazer tudo ao vivo.”

Essa confusão entre playback e uso de backing tracks acaba sendo gerada, muitas vezes, pelos próprios artistas. Alguns refutam o fato de usarem, outros entendem as dinâmicas do show business e falam abertamente sobre as possibilidades do uso.

“O público parece não se importar. Se soa como o álbum e a banda está detonando no palco, eles vão curtir. Há menos: ‘Espere um pouco, de onde vem esse som de teclado? Não há tecladista no palco!’. Nem vejo problema nisso, muitas bandas fazem porque não podem arcar com o custo de mais um músico na estrada. Não é só uma questão de dinheiro, tem a política de ter mais uma pessoa na equação sem ser um membro efetivo. Então acho que é ok ter algumas gravações para reforçar a performance. O importante é cantar e tocar ao vivo e adicionar elementos como reforço. É como se fossem efeitos especiais para a sua performance.”

O músico completa:

“Existe a questão de fazer muitos shows em sequência. Outros, como os cantores pop, também dançam e isso acaba sendo bem difícil de ser feito ao mesmo tempo. Estou apenas enumerando algumas razões pelas quais alguns artistas chegam ao ponto de preservarem sua voz sem precisarem cancelar shows e perderem muito dinheiro. Já ouvi muitas histórias assim ao longo dos anos.”

As muitas atividades paralelas

Junto ao seu trabalho com o Sisters of Mercy, Ben Christo, desenvolve uma série de projetos. Seja compondo (The 69 Eyes), gravando (Lord of the Lost, Esprit D’Air), excursionando como músico (Ricky Warwick, Nathan Gray, PIG) ou a frente de suas bandas (Night by Night e Diamond Black), ele se mantém ativo com artistas bem distintos a sua principal ocupação.

“As experiências com outros artistas foram um ótimo processo. O trabalho com o Sisters me ajudou com os outros artistas e vice-versa. Com o Nathan Gray (Boysetsfire) eu cantei bastante. Nas duas primeiras tours que fiz com ele, éramos apenas nós dois, então os vocais eram praticamente todos harmonizados. Isso me deu muita confiança como vocalista, que consequentemente deu mais confiança como cantor. Isso quer dizer que canto muito mais com o Sisters.

Também fiquei mais confiante para compor. No verão de 2020, quando comecei a compor bastante, levei o aprendizado de compor com o Sisters, sobretudo a perspectiva mais é menos, e apliquei em todas as bandas para as quais compus. Fosse The 69 Eyes ou Lord of the Lost, usava essa abordagem minimalista para me ajudar a escrever. Foi muito, muito útil e, mesmo ainda tendo um longo caminho pela frente, sinto que amadureci como compositor e músico.

Também fiz muitos backing vocals com Ricky Warwick (The Almighty, Thin Lizzy, Black Star Riders) e isso também fortaleceu minha confiança. Então quando pensei em me tornar o cantor do Diamond Black, senti que estava pronto.”

De guitarrista a cantor de sua própria banda, há uma boa trajetória. Boas influências sempre deixam suas marcas.

“Sempre quis ser o cantor de uma banda. Quando lembro das primeiras vezes que escrevi música, quando tinha 10 anos, fazia tudo. Escrevia as partes vocais e as cantava. Eram sempre as minhas músicas. Sempre tive vontade de ser o autor de uma visão. Não queria simplesmente ser o guitarrista de uma banda onde me expressasse apenas pelos solos. Sempre admirei e respeitei Robert Smith (The Cure) e James Dean Bradfield (Manic Street Preachers), que são grandes guitarristas, tocam fantasticamente, cantam e suas letras são ótimas.”

Mas não basta ter bons exemplos, é preciso conhecer o ofício e, sobretudo, se conhecer, e amadurecer.

“Eu simplesmente não tinha a confiança, porque escrevia músicas onde o vocal era agudo, de tom bem alto, e não tenho um grande alcance vocal. Pensava que, para ser um cantor, eu tinha que ser capaz de cantar alto. Com passar dos anos, descobri que não é sobre isso, é sobre expressar algo autêntico e significativo. Algo com o qual as pessoas se conectem. Não é sobre técnica, é sobre emoção e ter algo único.”

Nem só no Black Diamond, reduzido a um trio, é possível ouvi-lo cantar.

“Durante a pandemia fiz um par de incursões como cantor principal. Fiz uma música com Esprit D’Air, chamada ‘Dead Zone’, onde cantei o segundo verso e harmonizei os refrãos. Com o Lord of the Lost fiz a voz principal de ‘Still Life To Die For’. Tudo isso está no Spotify. E a resposta recebida foi tão positiva que tive a confiança necessária para me tornar um frontman. Agora sei que sou bom em cantar de forma bem suave e gentil, e mais áspero, poderoso e emocional, e, também, alternar entre os dois.”

A guitarra atrapalha? Ele responde:

“Saímos em turnê, em fevereiro, com o Esprit D’Air, para seis ou sete shows. E foi a minha primeira vez fazendo isso como um cara de frente. Estava um pouco nervoso na primeira noite, mas na terceira já estava absolutamente amando. No sexto show, quase não queria mais minha guitarra, parecia me atrapalhar como frontman. [Risos]”

Para terminar, vamos àquela indefectível pergunta. Sim, aquela na qual vamos saber se há algo especial planejado para o único show no Brasil.

“Curiosamente, falamos sobre incorporar algo novo na ‘Instrumental 86’, algo que achamos que o público vai gostar. Dylan e eu ainda vamos trabalhar sobre isso e saber o que sentimos. Adoramos tocar no Brasil e tornar tudo especial, só precisamos ter certeza se estará de acordo com a identidade do Sisters e com o que fazemos. Veremos.”

*O The Sisters of Mercy se apresenta no Tokio Marine Hall, em São Paulo, no próximo domingo (18). Clique aqui para mais informações.

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Claudio Borges
Claudio Borges
Jornalista, DJ, Produtor, Apresentador, Editor e o que mais ele encontrar pelo caminho da música. Descobriu Rock em 1982 e só ampliou gosto e conhecimento. Começou a tocar bateria aos 16 anos e guitarra aos 17.

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