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Best of Blues and Rock: 3º dia tem adeus de Buddy Guy em clima de domingo no parque

Hoje com 86 anos, lenda do blues mostrou por que detém título; Tom Morello, também atração principal, fez show menos especial que o de sexta (2)

Num domingo ensolarado no Parque do Ibirapuera aconteceu o terceiro e derradeiro dia do Best of Blues and Rock. O repeteco dos headliners das datas anteriores, Buddy Guy e Tom Morello, acrescentado a duas atrações com veia pop, Day Limns e Goo Goo Dolls, além do apelo consolidado do Ira!, garantiram a boa presença de público para encerrar o festival.

Day Limns se adapta e se garante

O sol outonal paulistano era escaldante quando, perto das 14h, a cantora Day Limns subiu ao palco para abrir o terceiro dia do Best of Blues and Rock. Reinava uma agradável atmosfera de “domingo no parque” na área externa do auditório do Ibirapuera, cheia de famílias espalhadas pela pista com cangas no chão.

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Sem ter muito rock em sua sonoridade e absolutamente nada de blues, era de se esperar que Limns, de fama relativamente recente ao se destacar numa edição do “The Voice Brasil”, tivesse dificuldades em convencer o público a chegar cedo para ver sua apresentação.

Foto: Jeff Marques

Com um fã-clube consolidado, porém, foi boa a presença de seus seguidores, mal saídos da adolescência, se isso, e aglomerados na grade próxima ao palco. Disputavam o espaço com fãs de Goo Goo Dolls que já guardavam lugar para a apresentação mais tarde, mesmo numa pista ainda relativamente vazia.

Com a sensação de jogar em casa, Day Limns se apresentou acompanhada pela guitarrista Isadora Sartor e o ex-baixista do Gloria Johny Bonafe, além de Vitor Peracetta nas baquetas. Formando um quarteto bem coeso e orgânico, a artista se aproveitou da potência sonora do festival para dar peso às suas canções de apelo pop, ainda que algumas vezes a equalização grave demais tenha soterrado o som da guitarra.

Mesmo com os músicos de apoio agitando como se fosse um autêntico show de rock, foi o carisma da vocalista de 28 anos que comandou a tarde paulistana. O repertório representativo de sua breve carreira colocou o público para cantar junto, incluindo até trecho de uma canção ainda inédita, “Minha Religião”, a ser lançada no feriado de Corpus Christi, e uma homenagem a Rita Lee com uma rendição acústica de “Mania de Você”.

O enérgico show foi encerrado com a participação de Arthur Mutanen, vocalista da banda Bullet Bane, em “Castelo de Areia”, além da apropriada faixa “Finais Mentem”. Day Limns pode não ter conquistado novos fãs, mas cumpriu com dignidade uma tarefa difícil em um festival que nem de perto é a sua praia.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemoRole para o lado para ver todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório:

  1. Inconsequente
  2. O que você contradiz
  3. Fugitivos
  4. Clichê
  5. Efeito Colateral
  6. Mania de você (acústica / rita lee)
  7. Minha Religião (trecho / música nova)
  8. Dilúvio
  9. Muito Além
  10. 7 Vidas
  11. Isso não é amor
  12. Vermelho Farol
  13. Castelo de Areia (part. Arthur Mutanen – Bullet Bane)
  14. Finais Mentem

Ira! para todas as idades

Das bandas clássicas do rock oitentista brasileiro, o Ira! é provavelmente a mais apropriada para se apresentar num festival que tem a intenção de misturar blues e rock. Ainda mais num local tão paulistano quanto o Parque do Ibirapuera – que carrega o grupo até em seu nome, como lembrou o guitarrista Edgard Scandurra.

Subindo ao palco ainda sob calor intenso, a camisa longa preta de cowboy roqueiro do vocalista Nasi não o impediu de correr o palco todo e agitar o público, formado por famílias inteiras que já começavam a ocupar toda a pista e cantaram com empolgação os clássicos do grupo.

Foto: Jeff Marques

Celebrando os 35 anos de “Psicoacústica”, foi do cultuado LP de 1988 que saiu a maior parte das canções do repertório apresentado. Mas as músicas “Advogado do Diabo”, “Farto do Rock’n’Roll”, “Pegue essa arma” e “Rubro Zorro” nem de longe foram as mais bem recebidas pelo público paulistano.

Porque ser cultuado é diferente de ser popular, como comprovado desde a abertura com “Dias de Luta”, ou em “Flores em Você”, tema de abertura de novela global, com os coros do público se sobrepondo aos vocais da banda, seguida pelo refrão de “Tarde Vazia” cantado a plenos pulmões por pessoas de todas as idades na pista.

O repertório, porém, trouxe outras canções menos famosas da carreira do grupo, como “No Universo dos Seus Olhos”, do disco “Invisível DJ” (2007), ou “Eu Quero Sempre Mais”, de pouca repercussão quando lançada no disco “7” (1996), mas que ganhou nova vida com a participação de Pitty no disco “Acústico MTV” (2004) – nesta tarde contando com a ajuda de Day Limns. Já falamos das famílias curtindo juntas o show, né?

Foto: Jeff Marques

Como era de se esperar num festival, o Ira! encerrou sua participação intergeracional com dois dos seus indiscutíveis clássicos, “Envelheço na Cidade” e “Núcleo Base”, sem deixar de fazer citações às referências clássicas do rock, como Tom Petty, Kinks e Ramones. Juntadas às menções anteriores a Rita Lee e Jimi Hendrix, uma verdadeira aula dos deliciosos clichês do rock’n’roll.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemoRole para o lado para ver todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório:

  1. Dias da luta
  2. Flerte fatal
  3. Farto do rock’n roll
  4. Pegue essa arma (incl. Ando Meio Desligado – Mutantes)
  5. Advogado do diabo
  6. Rubro zorro
  7. Flores em você
  8. Tarde vazia
  9. No Universo dos seus olhos
  10. Foxy lady (Jimi Hendrix)
  11. Eu Quero Sempre Mais (part. Day Limns)
  12. Envelheço na Cidade (ref. American Girl – Tom Petty and the Heartbreakers)
  13. Núcleo base (ref: Blitzkrieg Bop – Ramones / You Really Got Me – The Kinks)

Goo Goo Dolls em pegada easy-listening

*Por Igor Miranda

O comentário mais comum em relação ao show do Goo Goo Dolls era sobre o fato de a banda, para muitos, ter apenas “Iris” como música de destaque em seu repertório. Houve quem brincasse: seriam tocadas quantas versões do hit presente no álbum “Dizzy Up the Girl” e na trilha sonora do filme “Cidade dos Anjos”, ambos de 1998?

De fato, apenas uma e só no final. O grupo americano de pop rock liderado por John Rzeznik (voz e guitarra) e Robby Takac (baixo e voz) conseguiu segurar 80 minutos de show executando 20 músicas, tendo seu maior sucesso apenas no final. Ainda que não tenha sido a apresentação mais empolgante do evento, não há como negar: soou interessante e, mais uma vez, encaixou-se no contexto de “domingo no parque”.

Quase metade do set foi representado por dois álbuns: o já mencionado “Dizzy Up the Girl” – com “Iris”, a abertura “Dizzy”, “Slide”, “Black Balloon” e “Broadway” – e o sucessor “Gutterflower” (2002) – apresentando “Big Machine”, “Heart is Gone”, “Smash” e “Sympathy”. Somente uma faixa, “Name”, veio do segundo disco mais vendido do grupo, “A Boy Named Goo” (1995), o último deles com a gravadora Metal Blade – sim, o selo histórico de heavy metal responsável pelo primeiro lançamento comercial do Metallica. De metal, como era de se esperar, a balada não tem nada.

A abordagem de Rzeznik e Takac no palco é bem direta ao ponto. Pouca conversa, muito som. Em uma das raras interações, o frontman destacou como estava saindo de “Going Crazy”, canção pop rock divertida e bem típica dos anos 2000 (embora tenha sido lançada em 2022), para a deprê “Sympathy”, só no violão e voz e responsável por arrancar mais gritos além de “Iris”. Talvez este tenha sido o único problema do setlist: o fluxo, já que a segunda metade é quase toda composta por baladas, esfriando um pouco o ânimo conquistado com as mais agitadas, quase todas na primeira etapa.

Fora isso, trata-se de uma apresentação fácil de se digerir. As canções são compostas com intenção de grudar na mente, o que funciona. A entrada com “Dizzy” e “Home”, a balada good vibe “Yeah I Like You”, a quase folk “Come to Me” e a despojada “Broadway” – com uma série de solos de teclados, gaita e guitarra – surgiram como destaques até inesperados. E a execução é pra lá de correta: seja pelo grupo de apoio formado por Brad Fernquist (guitarra), Craig Macintyre (bateria) e Jim McGorman (teclados), que transborda competência; seja pelos capitães,com destaque ao afinadíssimo Rzeznik.

No fim das contas, o agradável fim de tarde ao som de Goo Goo Dolls foi além de “Iris”. Mas é óbvio que o Ibirapuera foi abaixo quando, já no início da noite, o hit foi tocado.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemoRole para o lado para ver todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório:

  1. Dizzy
  2. Home
  3. Slide
  4. Big Machine
  5. Black Balloon
  6. Here Is Gone
  7. Smash
  8. Life’s a Message
  9. Miracle Pill
  10. Yeah, I Like You
  11. Sympathy
  12. Name
  13. So Alive
  14. Going Crazy
  15. Come to Me
  16. Bringing On the Light
  17. Stay With You
  18. Better Days
  19. Broadway
  20. Iris

Buddy Guy: despedida emocionante

A ensolarada tarde quente de outono paulistana já era apenas uma lembrança com o frio cair da noite no Parque do Ibirapuera. Não era fácil se aproximar do palco na pista superlotada para ver a quente apresentação do ícone Buddy Guy, em turnê de despedida.

Foto: Jeff Marques

Como já avisara durante a sua coletiva de imprensa um pouco antes, o último dos lendários guitarristas do que se convencionou chamar de “Chicago Blues” não escolhe repertório antes do show. As músicas vão mudando conforme ele percebe a reação de seu público. E foi essa a impressão de sua segunda apresentação no Best of Blues and Rock.

Com um macacão se sobrepondo a uma camisa branca florida, Guy entrou no palco com sua clássica Fender Stratocaster creme, solando, antes de emendar com “Damn Right, I’ve Got the Blues”, do disco homônimo de 1991. Deste momento em diante, o guitarrista navegou por clássicos do blues intercalados a seus solos, ora totalmente melodiosos e introspectivos, ora selvagens e ruidosos.

https://www.instagram.com/p/CtFro6RgmiR/

Acompanhado pelos discretos Tom Hambridge e Orlando Wright segurando a coesão rítmica na bateria e baixo, respectivamente, Buddy Guy variava de standards do blues, como “Got My Mo-Jo Working”, clássico na interpretação de Muddy Waters, e momentos mais emotivos, como “How Blue Can You Get?”, na famosa versão de B.B. King.

O gigante mostrou voz ainda potente, energia e bom humor. Fez suas graças na guitarra, fosse simulando atos lascivos ao se esfregar com o instrumento, ou dando-lhe leves baquetadas, sempre para a alegria do público, que respondia aos gritos e uivos a cada chamada do músico.

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Entre declarações de amor ao país, Guy explicou ter sido autodidata ao tentar reproduzir canções de outros artistas, deixa para executar trechos de clássicos como “Boom Boom”, de John Lee Hooker, ou de seus influenciados, como Jimi Hendrix e Eric Clapton, com “Voodoo Child” e “Strange Brew”, do Cream, respectivamente. E sem querer ter os refletores apenas para si do palco cuja arte de fundo simulava a velha Chicago, deu chance ao jovem tecladista Daniel Souvigny e a seu guitarrista de apoio Ric “Jaz” Hal de brilharem em solos ao longo da noite.

Na reta final da apresentação, os filhos da lenda subiram ao palco. Greg Guy empunhou a icônica Stratocaster de bolinhas brancas, enquanto Carlise, que já havia se apresentado no sábado (4) com a The Nu Blu Band, cantou uma versão emocionante de “Little By Little”, clássico de Junior Wells, ao lado de quem o pai tocara quando dava seus primeiros passos no blues.

Antes de encerrar a apresentação, a jam blueseira ainda teve a participação de Tom Morello. Com sua versão preta da Stratocaster de bolinhas brancas, o guitarrista do Rage Against the Machine solou de forma discreta e condizente ao groove da noite, enquanto Buddy Guy se despedia do palco jogando palhetas para o público.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemoRole para o lado para ver todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório (incompleto):

  1. Damn Right, I’ve Got the Blues
  2. I’m Your Hoochie Coochie Man
  3. I Just Want to Make Love to You
  4. Got My Mo-jo working
  5. How Blue Can You Get?
  6. Five Long Years
  7. I Just Want to Make Love to You
  8. I Let my guitar do the talking
  9. Take me to the River
  10. Boom Boom
  11. Voodoo Child
  12. Strange Brew
  13. Little by Little

Tom Morello: fim de festa longa demais

A pista estava bem mais espaçada quando Tom Morello subiu ao palco para encerrar a edição de 2023 do Best of Blues and Rock na já fria noite no Parque do Ibirapuera. E, convenhamos, não fazia muito sentido alguém se apresentar depois de Buddy Guy.

Tom Morello, por sua vez, também não é pessoa de deixar passar em branco qualquer oportunidade de tocar com quem quer que seja. E, ao lado de sua Freedom Fighters Orchestra, fez uma apresentação provando essa disposição – literalmente. Segundo o próprio guitarrista, 17 de seus 21 álbuns gravados seriam representados naquela noite.

Foto: Jeff Marques

Para quem conferiu seu show na sexta (2), ficou a impressão de que a apresentação de domingo não teve nada especial – sem convidados, coube a Tom comandar a noite com seus solos abusando dos efeitos bem característicos e de versões “tiktoker” de seus riffs no Rage Against the Machine e Audioslave. Para deleite do saltitante público que sobrara.

Com suporte rítmico de Dave Gibbs no baixo e de Eric Gardner na bateria, Morello dividiu os vocais com o guitarrista Carl Restivo ao longo da noite. Seu repertório mesclou também faixas de seus trabalhos autorais como o disco “The Atlas Underground Fire” (2021), cuja arte brincando com a teoria do caos foi usada como background na maior parte da noite, ou canções de artistas com quem gravou participações, como a animada “Gossip” (Måneskin), ou a emotiva “The Ghost of Tom Joad” (Bruce Springsteen).

Não faltaram homenagens de Morello, como “Secretariat (for EVH)”, um minisolo cheio de efeitos lembrando os icônicos interlúdios guitarrísticos dos discos clássicos do Van Halen, ou “Cato Stedman & Neptune Frost”, bluesão dedicado a Buddy Guy. Chris Cornell teve sua imagem projetada no telão enquanto a banda executava uma breve versão de “Like a Stone”, do Audioslave, pedindo ao público para que cantasse junto ou orasse. E ainda rolou “Voodoo Child”, mais um cover de Jimi Hendrix no domingo.

Antes de encerrar a noite às pressas com “Power to the People”, de John Lennon, Morello executou de forma instrumental “Killing in the Name”, deixando para o público cantar, pular, xingar e pôr os demônios para fora. Porém, em vez de algo especial para encerrar o festival, a sensação foi a do fim de uma festa que já havia passado da hora de acabar.

*Fotos de Jeff Marques / @mulekedoidomemoRole para o lado para ver todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório:

  1. One Man Revolution
  2. Let’s Get the party Started
  3. Hold the Line
  4. Medley: Bombtrack / Know Your Enemy / Bulls on Parade / Guerilla Radio / Sleep Now in the Fire
  5. Like A Stone
  6. Voodoo Child
  7. Gossip
  8. Lightning over Mexico
  9. Secretariat (For EVH)
  10. Cato Stedman & Neptune Frost
  11. Medley: Rat Race / Battle Sirens / Where It’s At Ain’t What It Is / Prophets of Rage / Harlem Hellfighter / Can’t Stop the Bleeding / Bullet in the Head
  12. Keep Goin’
  13. World Wide Rebel Songs
  14. Medley: Testify / Ghetto Blaster / Half Man Half Beast / Born of A Broken Man / Freedom / Snake-charmer
  15. Vigilante Nocturno
  16. The Ghost of Tom Joad
  17. Killing in the Name (Instrumental)
  18. Power to the People

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Thiago Zuma
Formado em Direito na PUC-SP e Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, Thiago Zuma, 43, abandonou a vida de profissional liberal e a faculdade de História na USP para entrar no serviço público, mas nunca largou o heavy metal desde 1991, viajando o mundo para ver suas bandas favoritas, novas ou velhas, e ocasionalmente colaborando com sites de música.

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