Na última segunda-feira (22), o Festival de Cannes foi palco da première de “The Idol”, nova série da HBO criada pelo cantor The Weeknd junto com Sam Levinson, showrunner de “Euphoria”. Apesar de uma salva de aplausos de cinco minutos durante a estreia de gala, as reações da imprensa presente na França foram duras.
A série, que conta a história de uma estrela pop (Lily-Rose Depp) sendo cooptada por um dono de boate e líder de seita (The Weeknd), já havia criado manchetes antes mesmo de sair um trailer.
Uma reportagem da Rolling Stone no início de 2023 contou como o processo de produção foi extremamente conturbado. Ex-integrantes da equipe contaram que a showrunner original, Amy Seimetz, foi destituída do cargo por Levinson e The Weeknd por dar à série um tom feminista demais e os dois basicamente refizeram tudo do zero. A nova abordagem incluiu múltiplas cenas de sexo com violência, algumas delas fetichizando estupro, de acordo com as fontes ouvidas pela revista.
Apesar de toda a maratona de relações públicas feita pela HBO e os envolvidos, contando como a reportagem não refletia a verdade sobre a série, relatos de jornalistas presentes na premiére corroboram partes do que foi apresentado no texto. O co-editor-chefe da Variety, Ramin Setoodeh, resumiu o clima na sessão de imprensa dos dois primeiros episódios, como escreveu no Twitter:
“Muitas reações fortes a The Idol saindo de Cannes 2023 – indo desde ‘eu odiei’ para ‘a versão televisiva de clickbait’ até ‘eu não aguento mais ver Lily-Rose Depp nua’.”
A editora executiva de filmes e mídia da Variety, Tatiana Siegel, escreveu o mais próximo de palavras positivas sobre a estreia:
“A premiere de The Idol acabou de terminar. Fãs de Sam Levinson não ficarão desapontados.”
Elaborando mais sobre as reações à sua volta, ela também apontou elogios quanto à performance de Depp:
“Conversas sobre The Idol na sala. ‘Eu odiei’. ‘Lixo’. ‘Estou com nojo’. ‘Ela é bem melhor que eu achei que seria’.”
Kyle Buchanan, colunista do New York Times encarregado de premiações de cinema, não poupou críticas à série. O profissional lembrou até como a obra faz parte de um rebranding da HBO Max em meio a conteúdo mais familiar:
“The Idol,” ou 50 TONS DE TESFAYE: Uma odisseia digna da página inicial do Pornhub estrelando as aréolas de Lily Rose Depp e o rabinho de cavalo seboso do The Weeknd. Adoro que isso vai ajudar a lançar o rebrand da HBO Max, deve se encaixar bem junto a ‘House Hunters’!”
Eric Kohn, editor-executivo do Indiewire, tentou ao menos identificar influências da série. Ele falou:
“É, ‘THE IDOL’ tem as vibes ‘EUPHORIA’ que você espera, mas é como se alguém botasse ‘CISNE NEGRO’, ‘SUCCESSION’ e ‘SECRETÁRIA’ num liquidificador e batesse tudo junto. Se preparem para polêmica…”
Antes que alguém leia isso como elogio, ele escreveu no tweet seguinte:
“Diga-se de passagem, isso não quer dizer que é do mesmo nível de nenhum dos citados.”
No campo de resenhas mais completas do que foi exibido em Cannes, o crítico americano Gregory Ellwood, do The Playlist, foi um pouco mais a fundo, comparando ao trabalho do dinamarquês Nicolas Winding Refn e dando uma informação quanto ao número de episódios. Ele disse:
“Vamos falar de ‘THE IDOL’! O primeiro episódio é meia-boca. Algumas cenas engraçadas no começo, algumas coisas meio videoclipes legais. Levinson fazendo sua cópia descarada de sempre de Nicolas Winding Refn.
O segundo episódio. ODIEI. Machista, pseudo-pornô. Eu simplesmente… não.
Haverão apenas cinco episódios.”
Ellwood ainda fez uma previsão quanto à audiência da série:
“O primeiro episódio vai conseguir uma audiência enorme. O segundo. Talvez. A queda entre o segundo e o terceiro será algo para se monitorar.”
A estreia de “The Idol” está marcada para o próximo dia 4 de junho. A sinopse adianta a trama:
“Após um colapso nervoso que desestabiliza a última turnê de Jocelyn (Lily-Rose Depp), ela está determinada a recuperar seu status como a maior e mais sexy estrela pop dos Estados Unidos. Sua paixão é reacendida por Tedros (Abel ‘The Weeknd’ Tesfaye), um empresário de boate com um passado sórdido. Será que seu despertar romântico a levará para novas e gloriosas alturas ou para as profundezas mais sombrias de sua alma?”
Polêmicas de “The Idol”
“The Idol” tem sido alvo de muita polêmica. Em fevereiro, uma reportagem publicada pela Rolling Stone apontou diversos problemas nos bastidores da produção.
A principal questão está relacionada à direção criativa que a série tomou. Até abril de 2021, Amy Seimetz (“Ela Morre Amanhã”) estava envolvida na direção dos episódios. Porém, segundo a apuração feita pela jornalista Cheyenne Roundtree, The Weeknd discordava da “perspectiva feminina” atribuída à série, bem como o excesso de protagonismo da personagem de Lily-Rose Depp.
Com a chegada de Sam Levinson, a obra foi quase toda refeita ganhou outro direcionamento que incluiu múltiplas cenas de sexo com violência, algumas delas fetichizando estupro, de acordo com as fontes ouvidas pela reportagem. Mantidos em anonimato, os profissionais ouvidos definiram a trama como “fantasia de estupro” misturada com “pornografia de tortura” e destacaram que a história “deixou de ser sobre uma popstar problemática que se torna vítima de uma figura predatória da indústria do entretenimento para se tornar uma história de amor degradante, com uma mensagem vazia, que alguns membros da equipe descrevem como ofensiva”. Um deles declarou:
“Me apresentaram a série como uma sátira sombria da fama, do modelo de fama no século 21. As coisas às quais submetemos nossos talentos e estrelas, as forças que colocam as pessoas no centro das atenções e como isso pode ser manipulado no mundo pós-Trump. Mas deixou de ser uma sátira para se transformar justamente na coisa que estava satirizando.”
The Weeknd provoca a Rolling Stone
Nem The Weeknd, nem Sam Levinson se manifestaram à reportagem após os contatos feitos pelos jornalistas. Porém, o cantor publicou um vídeo que pode ser encarado como uma provocação ao que foi publicado pela Rolling Stone.
No vídeo, ambientado no universo de The Idol, o personagem de The Weeknd demonstra desprezo à ideia de aparecer em uma reportagem de capa da revista. Ele diz:
“Rolling Stone? Eles não são um pouco irrelevantes? A Rolling Stone tem 6 milhões de seguidores no Instagram, metade deles provavelmente são robôs. E Jocelyn (personagem de Lily-Rose Depp) tem 78 milhões de seguidores, tudo real, eu garanto. Então ela faz uma sessão de fotos, ela marca a Rolling Stone e eles recebem os seguidores dela. Mais dinheiro para a Rolling Stone, nada para Jocelyn.”
Na legenda, o artista complementa:
“Rolling Stone, deixamos vocês chateados?”
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