Paul Gilbert elege os 12 guitarristas que moldaram seu som

Instrumentista percorreu desde nomes óbvios até escolhas familiares – literalmente, no caso

Paul Gilbert é uma referência de virtuosismo e bom gosto melódico quando o assunto é guitarra. Ao contrário de alguns colegas de geração, ele nunca se preocupou em exibir técnica quando ela não se adequasse ao principal, que sempre foi a composição. Não à toa, seu gosto musical sempre foi bastante amplo.

Em artigo à Guitar World, o titular das 6 cordas no Mr. Big listou os 12 nomes do instrumento que mais o influenciaram. As escolhas foram:

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Jimmy Page: “Quando era adolescente, Jimmy Page não era apenas meu herói pelo som, mas por representar como um guitarrista deveria ser. Eu costumava usar minha Les Paul super baixa, quase caindo nos joelhos. Acho que isso realmente influenciou a posição e a pegada do meu pulso. Tudo isso veio de mim tentando copiá-lo. Provavelmente o melhor dia de toda a minha vida associada à guitarra foi quando descobri aquele pequeno lick de dobra em ‘Heartbreaker’. Ser capaz de fazer aquela curva naquele pull-off e depois pular para a próxima corda da maneira certa… essa foi a primeira vez que pensei comigo mesmo: ‘Oh, cara – isso soa exatamente como o disco.’ Para mim, o bending e o vibrato eram como a impressão digital ou o cartão de visita de um guitarrista legal. Se você tivesse aquele vibrato, tinha tudo. Foi algo que Jimmy plantou em meus ouvidos.”

Frank Marino: “A primeira vez que vi Frank Marino foi na transmissão do festival California Jam II. Ele estava pegando fogo, tocando a um milhão de milhas por hora enquanto fazia um cover de ‘Purple Haze’ de Jimi Hendrix. Era como uma versão sobrecarregada, simplesmente incrível. Além disso, Frank tem esse som de guitarra melodioso, com cinco pedais ao mesmo tempo, todos produzindo timbres de guitarra superpsicodélicos.

Depois disso, ganhei o álbum ao vivo do Mahogany Rush [Frank Marino & Mahogany Rush – Live], no qual, novamente, ele fez um cover de ‘Johnny B. Goode’ de Chuck Berry. Sua interpretação era rápida, mas realmente controlada. Não sei qual pedal usou, mas me interessou. Nunca fui uma pessoa que usava drogas, mas Frank me deu o que eu imaginei que seria a sensação que você teria de onde o mundo inteiro parece estar nadando.”

Eddie Van Halen: “Qualquer um que toca guitarra e tem mais ou menos a minha idade tem que ter o nome de Eddie em sua lista, certo? Quando ele apareceu, parecia de outro mundo. Não apenas a guitarra, mas o som do Van Halen como banda era muito diferente do que acontecia na época. Outras, como Kiss, Cheap Trick, Ted Nugent e Aerosmith eram produzidas e limpas. Embora isso fosse bom, sugava a energia da música. O Van Halen tinha essa energia que se destacava tanto de todo o resto.

Eu comparo sua versão de ‘You Really Got Me’ a tirar uma foto encantadora de um dinossauro e a transformar em uma pintura de Da Vinci. Eddie estava no comando total de seu instrumento. Não havia arestas e tudo era tocado com intenção. Seu nível de virtuosismo era como o que você ouviria de um grande violinista ou de um pianista clássico. Ele tinha esse nível de controle.”

Jimi Kidd: “Jimi era meu tio e, infelizmente, não gravou muito. Mas cresci ouvindo-o e, naturalmente, me influenciou. Ele costumava me enviar fitas cassete registradas na mesa de som de onde se apresentava. Eu as ouvia tanto quanto Van Halen ou Frank Marino. Foi realmente uma grande parte do que treinou meu ouvido porque Jimi tinha um ótimo vibrato, fraseado, licks legais e rápidos, além de um ótimo timbre.

Mais tarde, eu o trouxe para o meu estúdio e fizemos um disco de blues juntos chamado ‘Raw Blues Power’. Fico feliz que as pessoas tenham ouvido Jimi tocar lá, porque além daquelas fitas que me enviou, não havia muito por aí. Também devo dizer que Jimi era um grande conhecedor de música. Sempre me dizia os álbuns que precisava comprar, fosse Hendrix, MC5, Iggy and the Stooges… ele me fez gostar de muita música.”

Pat Travers/Pat Thrall: “Vou unir os dois aqui porque foram grandes influências para mim. O álbum ‘Crash and Burn’, da Pat Travers Band, foi influente em termos de eu começar a descobrir o que era o blues. Agora, os álbuns de Travers não são realmente blues. São mais rock de alta energia com alguns elementos de funk e fusion. Mas de alguma forma, a maneira como soavam sempre contava com pequenos elementos do estilo.

Músicas como ‘Boom Boom (Out Go the Lights)’ e ‘Snortin’ Whiskey’ são baseadas em progressões de blues. Quando adolescente eu gostava delas porque eram cheias de energia e tinham algumas partes legais e rápidas. Mas também eram blues o suficiente para começar a treinar meus ouvidos. Era algo diferente do que eu estava ouvindo em um disco do Iron Maiden, por exemplo.

Eu não tinha sofisticação para descobrir o que era, mas despertou minha curiosidade e abriu as portas para diferentes elementos de expressão. Para mim, foi o melhor que já ouvi alguém fazer em um riff power chord de boogie-woogie. Havia algo que me fez querer absorver aquilo. Até hoje, não importa o que eu esteja tocando nesse estilo, estou sempre canalizando Travers e Thrall.”

Alex Lifeson: “Mais um guitarrista onde você sabe que está usando algum tipo de pedal que faz o mundo inteiro nadar. Há profundidade e uma espécie de influência do Led Zeppelin nos primeiros trabalhos do Rush que eu sempre gostei muito. Para mim, quando alguém é influenciado por algo de que gosto, não me importo, nunca vou criticar. Você não vai me encontrar dizendo: ‘Oh, você parece muito com essa grande pessoa.’ Eu sou mais como, ‘Traga mais. Eu amo isso’. Eu posso pegar quantos clones de Jimi Hendrix você quiser, posso ter um milhão de versões disso, e estou totalmente feliz porque essa é a pessoa certa para clonar [risos].”

Quando alguém diz que o Rush imitava o Led Zeppelin no começo, sem problemas para mim. Pego quantos Led Zeppelins o mundo aguentar, quanto mais melhor. Mas é claro, conforme eles progrediram e Neil Peart entrou na banda, começaram a encontrar o próprio caminho. Eles foram minha introdução ao rock progressivo: compassos estranhos, músicas longas e ter que memorizar muitas coisas para poder tocar junto. Mas foi um desafio divertido tentar tocar essas músicas complicadas, que exigiam mais do que algumas lições para serem compreendidas.”

Yngwie Malmsteen: “A primeira vez que ouvi Yngwie foi pelo telefone. Mike Varney, produtor e proprietário da Shrapnel Records, recebeu algumas fitas e entrou em contato com ele. Mike costumava fazer essa coisa em que ligava para você e dizia: ‘Sim, eu gravei uma fita – parece muito bom’, e partia dali. Ele recebia todas essas coisas que iriam te surpreender, então quando me mostrou Yngwie pelo telefone, estava fazendo uma escolha rápida. Ele era incrivelmente bom. Naquele ponto eu tinha talvez 16 ou 17 anos e desisti de palhetar rápido. Eu tentei, mas não gostei do jeito que soou quando fiz isso. Simplesmente não conseguia entender o tom.

Então, pensei: ‘Bem, vou deixar outras pessoas fazerem isso. Esse não é meu estilo’, o que acho que foi uma boa decisão. Digo isso aos meus alunos, se não está funcionando, guarde em uma prateleira. Não é bom se culpar por alguma técnica que não está funcionando no momento, você vai chegar lá mais tarde. Mas quando eu ouvi Yngwie, foi como, ‘Ok, bem, se ele pode fazer isso, talvez valha a pena outra tentativa, só para saber se é possível.’

Foi a primeira vez que me sentei com um metrônomo e pensei: ‘Ok, lá vamos nós – deixe-me dedicar algum tempo a isso.’ E depois de uma ou duas semanas, consegui. E pensei: ‘Bem, talvez haja esperança, afinal’. Então, Yngwie me fez dar outra chance e comecei a ter algum sucesso.”

Robin Trower: “Sempre que o ouço quase penso que devo parar de tocar guitarra porque ele faz tudo o que eu quero e muito bem. Só penso: ‘Bem, ele já fez isso. Por que você precisa de mim?’ Mas talvez a boa notícia seja que, por ser eu, nunca serei capaz de fazer isso dessa maneira. Independentemente de gostar ou não, sempre vou soar como eu… mas com certeza gostaria de poder soar como Robin Trower, porque adoro a maneira como ele toca, como cria uma estrutura.

Eu acho que ele fica no seu melhor quando a banda está quieta e com um pouco de dinamismo. Esses momentos parecem dar a Robin todo o espaço e ele apenas o preenche. É capaz de fazer coisas emocionais como um mestre total o vibrato, fraseado, conexão e feedback. É como Hendrix, mas um pouco mais refinado.”

B.B. King: “Ele é alguém que eu ouvia quando era criança porque meu pai tinha os discos que plantaram a semente. Faz a mão tremer como um louco e tem sempre um dedo na sexta corda, com um domínio absoluto. Eu não era capaz de fazer isso, não era forte o suficiente. Precisei treinar por seis semanas concentrado, até finalmente alcançar o que era necessário.

Passei a ouvir com mais atenção os seus discos não faz muito tempo. Isso revolucionou o meu estilo. Passei a focar no meu ouvido, reconhecendo quando estava tocando demais e o que deveria almejar.”

Tony Iommi: “Tenho que incluir Tony aqui, já que o descobri quando tinha 12 anos. Suas partes eram simples o suficiente para que um guitarrista novato pudesse aprender algumas coisas de ouvido. Percebi isso com músicas como ‘Sweet Leaf’, com o lick no final. Chegou a um ponto em que a toquei tanto e ficou fácil para mim, então comecei a fazer variações por conta própria. A partir daí, evoluí e começar a fazer coisas mais complicadas, algumas versões com truques malucos.

Então, eu realmente acho que Tony vive em minhas mãos, na sala de máquinas, por assim dizer. Ele é o que está criando o poder pelo qual todo o resto está sendo conduzido.”

Jimi Hendrix: “Eu tinha muitos discos dele quando era criança porque meu tio insistia que os ouvisse. E eu gostava, mas não entendi 100% até ver o filme de Jimi Hendrix. Minha mãe me levou ao cinema da meia-noite quando eu tinha cerca de 8 anos e vi Jimi tocar no Monterey Pop Festival. Os cabelos em meus braços se arrepiaram. Eu fiquei tipo, ‘Cara, entendi. Eu entendo isso emocionalmente agora.’ Vê-lo tocar me emocionou, o que acho difícil de entender na era moderna.

Se você já ouviu Van Halen ou Yngwie, você ouviu músicos modernos que são polidos. Mas com Jimi há muitas arestas, que o fazem parecer desleixado. Ao mesmo tempo, há emoções que voam pelo ar. Claro, dentro do contexto histórico, como ele soava naquela época – comparado aos outros músicos – era simplesmente devastador. Muito disso tem a ver com a guitarra se tornar uma voz, porque ele estava fazendo uma única nota ser sustentada através de distorção, feedback e volume. Mas, novamente, ninguém estava fazendo isso na época.

Então, ele é o primeiro cara segurando uma nota, como um cantor faria. Antes disso, os músicos tocando como um cantor seriam como os Ventures, ou os caras do surf rock, o que era legal e charmoso, mas Jimi tinha todo esse outro nível de vibrato, esse abandono selvagem, descuidado. Para mim, esse é um dos maiores flagelos dos músicos atuais. Eles estão sempre pensando, ‘Ok, tenho que ser muito cuidadoso. Tenho que ser muito preciso e fazer tudo perfeitamente.’ Isso é legal, mas pode sugar a vida da música. Então, Jimi não foi cuidadoso e nem perfeito, mas estava a serviço do máximo de vida, emoção e conexão.”

Sobre Paul Gilbert

Nascido em Carbondale, Illinois, Paul Brandon Gilbert começou a tocar guitarra aos 6 anos. Ainda menor de idade, foi considerado como um dos candidatos à vaga de guitarrista de Ozzy Osbourne, chamando a atenção da Shrapnel Records, gravadora que era a casa dos shredders nos anos 1980.

Foi um dos fundadores do Racer X, banda que tocava heavy metal com muito virtuosismo e existiu em dois períodos: de 1985 a 1989 e entre 1997 e 2009. A seguir, se juntou ao Mr. Big, alcançando o maior sucesso de sua carreira. Saiu em 1996 e retornou em 2009.

Comanda uma carreira solo prolífica, com mais de 15 discos de estúdio, além de EPs e registros ao vivo. Ainda participou de uma série de tributos em parceria com o baterista Mike Portnoy e outros músicos, homenageando The Beatles (Yellow Matter Custard), Led Zeppelin (Hammer Of The Gods) e The Who (Amazing Journey).

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João Renato Alves
João Renato Alveshttps://twitter.com/vandohalen
João Renato Alves é jornalista, 40 anos, graduado pela Universidade de Cruz Alta (RS) e pós-graduado em Comunicação e Mídias Digitais. Colabora com o Whiplash desde 2002 e administra as páginas da Van do Halen desde 2009. Começou a ouvir Rock na primeira metade dos anos 1990 e nunca mais parou.

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