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The Brian Jonestown Massacre faz belo show em Brasília mesmo sem prestigiar os clássicos

Banda prioriza músicas dos últimos discos e arrisca ao abrir mão das mais conhecidas, mas se sai bem, inclusive vencendo batalha contra microfonia

Após estrear no Brasil com show sold out em São Paulo na quinta-feira (20), o The Brian Jonestown Massacre desembarcou em Brasília na sexta (21) para a segunda e última apresentação no país. Apesar de um contexto diferente e menos favorável, a banda conseguiu cativar o público, muito mais diverso, e o saldo foi bastante positivo.

Se no dia anterior Antom Newcombe e sua trupe lotaram o Cine Joia e encontraram uma acústica extremamente propícia, na capital federal eles se depararam com um palco vazado, montado em uma tenda, e travaram dura batalha contra a microfonia, vencida na raça – e no talento de quem sabe o que faz.

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O BJM foi atração principal do PicniK Brasília, evento gratuito que ao longo do dia reuniu milhares de pessoas na Praça Portugal, nem todas familiarizadas com o rock psicodélico da banda californiana de São Francisco. Apesar disso, quem ficou até o fim saiu com a sensação de ter presenciado um raro e belíssimo show. Imperfeito, porém, verdadeiro nos erros e nos acertos.

*Fotos de Jerônimo Gonzalez@instazalez, exceto quando sinalizado. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Sem olhar para o passado

Basicamente, a única semelhança entre os shows de São Paulo e Brasília recai sobre o setlist. O repertório foi idêntico, com 18 músicas que preconizam a fase atual do The Brian Jonestown Massacre. O intempestivo Anton Newcombe provavelmente tem questões mal resolvidas com os primeiros álbuns e não parece disposto a revisitá-los.

Desta forma, não tocaram nenhuma música do debut “Methodrone” (1995) ou dos clássicos “Take It from the Man” (1996)” e “Thank God for Mental Illness” (1996). Da chamada “trilogia de 1996”, que inclui ainda o álbum “Their Satanic Majesties’ Second Request” (1996), a única canção contemplada foi “Anemone”, possivelmente o maior sucesso da banda e recebido com entusiasmo logo nos primeiros acordes.

Fãs que conheceram a banda, por exemplo, por “Straight Up and Down” – tema da série “Boardwalk Empire”, da HBO – e que gostariam de ouvi-la, ficaram a ver navios.

Foto: Jerônimo Gonzalez

Batalha contra a microfonia

Das nove primeiras canções, oito foram dos dois discos mais recentes lançados pelo BJM: “Fire Doesn’t Grow on Trees” (2022) e “The Future Is Your Past” (2023). E é preciso fazer justiça a elas, pois algumas são realmente muito boas, como “Fudge”, “Do Rainbows Have Ends?”, “Your Mind is My Cafe” e “Don’t Let Me Get in Your Way”.

No entanto, o início do show foi problemático. A microfonia se fazia constante no palco, pouco favorável à sonoridade minimalista da banda. Com uma formação que ao vivo alterna entre cinco, seis e até sete (!) instrumentos de corda (guitarras, guitarras de 12 cordas, baixo), houve momentos em que a busca pela reprodução fiel dos detalhes ficou embolada e um tanto comprometida.

O técnico de som banda subiu ao palco algumas vezes para tentar contornar a situação. Na quinta canção, “Wait a Minute (2.30 To Be Exact)”, pediu mais reverb no vocal de Anton Newcomb, que também se irritou, com razão, pelo seguinte: a menos de 100 metros, uma outra tenda do Picnik Brasília emanava som mecânico e não parou até a reta final da apresentação. Entre uma música e outra, esse barulho externo incomodava a todos e, em determinado momento, Newcombe vociferou: “Party over here, fuck over there!” (“Festejem por aqui, foda-se lá!”).

Foto: Jerônimo Gonzalez

O ácido faz efeito

O jogo começou a virar mais ou menos a partir da 10ª música, a ótima “Forgotten Graves”. A microfonia foi controlada, todos os integrantes ficaram mais à vontade no palco e o The Brian Jonestown Massacre despejou os principais números de sua apresentação: a já citada “Anemone”, “Servo” e a dobradinha com “Sailor e “Nevertheless”, ambas do excelente “Bravery, Repetition and Noise” (2001), talvez o melhor álbum da banda após a década de 1990.

Com o público em total sintonia e vidrado na figura meio mítica de Anton Newcombe (um rapaz levou até um violão para ele autografar em pleno palco), a banda decolou de vez em “Abandon Ship”, o ápice e encerramento do show. Curiosamente, trata-se de uma canção composta recentemente e que sequer foi gravada ainda. Inédita em estúdio, mas já totalmente aprovada ao vivo.

*As duas fotos abaixo são de Leonardo Hladczuk / @hldczk e foram gentilmente cedidas pela produção do evento.

Foto: Leonardo Hladczuk
Foto: Leonardo Hladczuk

Mesmo sem prestigiar alguns de seus clássicos, o BJM entregou um excelente show, concluindo sua primeira passagem pelo Brasil com brilhantismo e dever cumprido. Que a próxima não demore novamente 30 anos ou mais para acontecer.

*Fotos de Jerônimo Gonzalez@instazalez, exceto quando sinalizado. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Repertório – The Brian Jonestown Massacre:

  1. #1 Lucky Kitty
  2. The Real
  3. Fudge
  4. Do Rainbows Have Ends?
  5. Wait A Minute (2.30 To Be Exact)
  6. Pish
  7. Your Mind Is My Cafe
  8. Don’t Let Me Get in Your Way
  9. You Think I’m Joking?
  10. Forgotten Graves
  11. The Mother of All Fuckers
  12. Nightbird
  13. Anemone
  14. Servo
  15. Sailor
  16. Nevertheless
  17. A Word
  18. Abandon Ship

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Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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Após estrear no Brasil com show sold out em São Paulo na quinta-feira (20), o The Brian Jonestown Massacre desembarcou em Brasília na sexta (21) para a segunda e última apresentação no país. Apesar de um contexto diferente e menos favorável, a banda conseguiu cativar o público, muito mais diverso, e o saldo foi bastante positivo.

Se no dia anterior Antom Newcombe e sua trupe lotaram o Cine Joia e encontraram uma acústica extremamente propícia, na capital federal eles se depararam com um palco vazado, montado em uma tenda, e travaram dura batalha contra a microfonia, vencida na raça – e no talento de quem sabe o que faz.

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*Fotos de Jerônimo Gonzalez@instazalez, exceto quando sinalizado. Role para o lado para visualizar todas. Caso as imagens apareçam pequenas, atualize a página.

Sem olhar para o passado

Basicamente, a única semelhança entre os shows de São Paulo e Brasília recai sobre o setlist. O repertório foi idêntico, com 18 músicas que preconizam a fase atual do The Brian Jonestown Massacre. O intempestivo Anton Newcombe provavelmente tem questões mal resolvidas com os primeiros álbuns e não parece disposto a revisitá-los.

Desta forma, não tocaram nenhuma música do debut “Methodrone” (1995) ou dos clássicos “Take It from the Man” (1996)” e “Thank God for Mental Illness” (1996). Da chamada “trilogia de 1996”, que inclui ainda o álbum “Their Satanic Majesties’ Second Request” (1996), a única canção contemplada foi “Anemone”, possivelmente o maior sucesso da banda e recebido com entusiasmo logo nos primeiros acordes.

Fãs que conheceram a banda, por exemplo, por “Straight Up and Down” – tema da série “Boardwalk Empire”, da HBO – e que gostariam de ouvi-la, ficaram a ver navios.

Foto: Jerônimo Gonzalez

Batalha contra a microfonia

Das nove primeiras canções, oito foram dos dois discos mais recentes lançados pelo BJM: “Fire Doesn’t Grow on Trees” (2022) e “The Future Is Your Past” (2023). E é preciso fazer justiça a elas, pois algumas são realmente muito boas, como “Fudge”, “Do Rainbows Have Ends?”, “Your Mind is My Cafe” e “Don’t Let Me Get in Your Way”.

No entanto, o início do show foi problemático. A microfonia se fazia constante no palco, pouco favorável à sonoridade minimalista da banda. Com uma formação que ao vivo alterna entre cinco, seis e até sete (!) instrumentos de corda (guitarras, guitarras de 12 cordas, baixo), houve momentos em que a busca pela reprodução fiel dos detalhes ficou embolada e um tanto comprometida.

O técnico de som banda subiu ao palco algumas vezes para tentar contornar a situação. Na quinta canção, “Wait a Minute (2.30 To Be Exact)”, pediu mais reverb no vocal de Anton Newcomb, que também se irritou, com razão, pelo seguinte: a menos de 100 metros, uma outra tenda do Picnik Brasília emanava som mecânico e não parou até a reta final da apresentação. Entre uma música e outra, esse barulho externo incomodava a todos e, em determinado momento, Newcombe vociferou: “Party over here, fuck over there!” (“Festejem por aqui, foda-se lá!”).

Foto: Jerônimo Gonzalez

O ácido faz efeito

O jogo começou a virar mais ou menos a partir da 10ª música, a ótima “Forgotten Graves”. A microfonia foi controlada, todos os integrantes ficaram mais à vontade no palco e o The Brian Jonestown Massacre despejou os principais números de sua apresentação: a já citada “Anemone”, “Servo” e a dobradinha com “Sailor e “Nevertheless”, ambas do excelente “Bravery, Repetition and Noise” (2001), talvez o melhor álbum da banda após a década de 1990.

Com o público em total sintonia e vidrado na figura meio mítica de Anton Newcombe (um rapaz levou até um violão para ele autografar em pleno palco), a banda decolou de vez em “Abandon Ship”, o ápice e encerramento do show. Curiosamente, trata-se de uma canção composta recentemente e que sequer foi gravada ainda. Inédita em estúdio, mas já totalmente aprovada ao vivo.

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Repertório – The Brian Jonestown Massacre:

  1. #1 Lucky Kitty
  2. The Real
  3. Fudge
  4. Do Rainbows Have Ends?
  5. Wait A Minute (2.30 To Be Exact)
  6. Pish
  7. Your Mind Is My Cafe
  8. Don’t Let Me Get in Your Way
  9. You Think I’m Joking?
  10. Forgotten Graves
  11. The Mother of All Fuckers
  12. Nightbird
  13. Anemone
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Guilherme Gonçalves é jornalista formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG). É repórter do Globo Esporte e atua no jornalismo esportivo desde 2008. Colecionador de discos e melômano, também escreve sobre música e já colaborou para veículos como Collectors Room e Rock Brigade. Atualmente revisa livros da editora Estética Torta e é editor do Morbus Zine, dedicado ao death metal e grindcore.

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