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Quando Silvio Santos se candidatou a presidente do Brasil

Momento abordado na série “O Rei da TV” realmente aconteceu; dono do SBT foi impedido de concorrer em 1989 após decisão do TSE

Exibida na plataforma de streaming Star+, a série “O Rei da TV” foca na vida do apresentador e empresário Silvio Santos, um dos maiores comunicadores do Brasil. A segunda temporada retrata um fato na vida do dono do SBT que muita gente pode ter se esquecido: em 1989, ele tentou ser presidente da República.

Embora muitas situações na produção sejam inventadas, Silvio Santos se disponibilizou para, de fato, disputar a eleição, primeira com voto direto após o fim da ditadura militar e vencida por Fernando Collor. No entanto, uma série de questões fizeram a candidatura do apresentador ter vida curta.

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A seguir, vamos te contar como foi esta aventura de Silvio Santos em tentar se tornar presidente do Brasil. As informações são dos sites Wikipédia, Super Interessante, UOL (fonte 1 e fonte 2), Na Telinha e Gazeta do Povo.

Silvio Santos decide virar candidato

Um ano antes da eleição presidencial, em 1988, Silvio Santos chegou a ser convidado para disputar a prefeitura de São Paulo – mesmo após ter afirmado anteriormente que não tinha a intenção de se tornar político. No entanto, a pedido de sua família, não aceitou.

Apesar disso, um ano mais tarde, o apresentador mudou de ideia quando chegou a eleição presidencial de 1989.

Em discurso feito no SBT no dia 22 de outubro de 1989, Santos afirmou que recebeu o convite para concorrer ao cargo mais importante do país várias vezes e sempre o recusou, mas que algo não especificado por ele o fez mudar de ideia.

“Por diversas vezes, a presidência chegou às minhas mãos e eu sempre disse não, preferindo continuar na minha profissão. Eu nunca disse que não aceitava. Agora, alguma coisa faz com que eu participe da política.”

O Partido da Frente Liberal (PFL) foi o primeiro a convidar Silvio Santos para disputar a eleição. O motivo é que o candidato da sigla e seu presidente, Aureliano Chaves, estava com baixos números nas pesquisas de intenção de voto. No entanto, Chaves se recusou a abrir mão da disputa e o plano foi descartado.

O dono do SBT, então, tentou se candidatar pelo Partido Liberal (PL, a primeira versão do atual partido), em substituição a Guilherme Afif Domingos. No entanto, o político declarou que só aceitaria o apresentador como vice em sua chapa. Mais uma vez, a ideia foi jogada no lixo.

Candidato por um partido pequeno

Em 30 de outubro de 1989, a pouco mais de duas semanas da eleição e a sete dias da data limite para formalização das candidaturas, Silvio Santos se reuniu em Brasília com Armando Corrêa, presidente do pequeno Partido Municipalista Brasileiro (PMB) e os senadores Marcondes Gadelha, Edison Lobão e Hugo Napoleão para fazer sua candidatura sair a qualquer custo.

Após o encontro, ficou definido que o apresentador substituiria Corrêa no pleito e que Gadelha seria seu vice. No dia seguinte, a candidatura de Santos na eleição presidencial de 1989 foi formalizada pelo PMB.

No livro “Sonho sequestrado: Silvio Santos e a campanha presidencial de 1989”, lançado em 2020 e escrito pelo próprio Marcondes Gadelha, o político afirmou que a ideia de lançar Silvio Santos como candidato era tentar despolarizar aquela eleição, que foi, na prática, disputada por Fernando Collor e o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“A eleição estava polarizada entre a direita de Collor e a esquerda de Lula. Queríamos criar um polo de centro, alguém com força popular. A candidatura foi lançada na última hora, faltando 15 dias para a eleição. O Silvio foi o único candidato que deslocou o Collor do primeiro lugar nas pesquisas.”

Mesmo com o pouco tempo que teria para fazer campanha (o que foi visto como grande empecilho da candidatura), Silvio Santos não se mostrou nem um pouco preocupado. Como era conhecido em todo o país, afirmou que poderia apenas focar em suas propostas de governo. 

Ainda assim, esta mudança em cima da hora acarretou em um problema enorme para o apresentador. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) já havia emitido as células para votação, que continham justamente o nome de Armando Corrêa.

Desta forma, durante sua curta campanha, Silvio Santos também teve de gastar o pouco tempo que tinha para lembrar ao público de que no dia da eleição, quem quisesse votar nele tinha de marcar, na verdade, o nome de Corrêa na cédula.

“Silvio Santos vem aí” vira jingle

Claro, a campanha do dono do SBT não poderia deixar de incorporar a famosa abertura do “Programa Silvio Santos”. O jingle da campanha seguia a mesma melodia da inconfundível vinheta e ainda incorporou o número 26 do PMB.

“É o 26, é o 26, com Silvio Santos chegou a nossa vez!”

Em uma de suas propagandas, o apresentador aproveitou imagens de um desfile em carro aberto que fez no Dia das Crianças mais recente. Ele também utilizou a estrutura do SBT para gravar mais alguns programas eleitorais.

Três dias após o anúncio, Silvio Santos disparou nas pesquisas de intenção de voto: em uma delas, chegou a ter a preferência de 29% do público, o que o colocaria no segundo turno contra Fernando Collor, candidato do PRN – e, até então, líder das pesquisas.

No entanto, sabemos que o jogo político no Brasil não é para amadores. Os demais partidos que participavam do pleito entraram em cena para tirar Silvio Santos da disputa. 

Candidatura impugnada pelo TSE

O Partido Democrático Trabalhista (PDT), que tinha Leonel Brizola na disputa, foi o primeiro a entrar com representação contra a candidatura do apresentador. A alegação era de que ele não estava oficialmente inscrito e que Armando Corrêa era, na realidade, o candidato do PMB.

A medida foi acatada pelo TSE, que na noite de 3 de novembro, suspendeu as propagandas do PMB e também as de partidos que apoiavam o ainda candidato.

No total, segundo o tribunal, foram feitos 18 pedidos de impugnação da candidatura de Silvio Santos. No geral, os partidos rivais questionaram a legalidade da filiação partidária de Santos, a renúncia dos candidatos substituídos e a regularidade do próprio PMB.

Um político famoso que também entrou nessa jogada foi Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados que chegou a ter o mandato cassado e preso, décadas depois, durante uma das fases da Operação Lava Jato.

Peça importante da campanha de Fernando Collor, Cunha descobriu mais uma falha do PMB: o partido deveria ter feito, pelo menos, nove convenções para escolher seu candidato, mas na realidade fez apenas quatro. 

Uma semana antes do primeiro turno da eleição, por sete votos a zero, o TSE declarou que Silvio Santos era inelegível para aquela eleição com a seguinte justificativa: segundo a Lei Complementar nº5/70, “candidatos a presidente que tivessem exercido, nos seis meses anteriores ao pleito, cargo ou função, administração ou representação em empresas concessionárias ou permissionárias de serviço público ou sujeitas a seu controle”.

Além disso, o TSE também declarou ter encontrado irregularidades no registro provisório do próprio PMB, o que também influenciou a decisão e impediu o partido de disputar aquela eleição.

Desta forma, Silvio não teve outra escolha a não ser desistir de concorrer à Presidência da República na eleição de 1989.

“Qualificado para exercer a Presidência”

No livro “Sonho sequestrado”, Marcondes Gadelha não deixou de publicar na obra uma carta que recebeu do apresentador, na qual lamentava o que aconteceu, se emocionava ao lembrar todo o processo e dizia se considerar qualificado para ocupar o cargo.

“Considero que estava qualificado para exercer a Presidência da República e tenho certeza de que a equipe que eu escolheria, no mínimo, melhoraria as condições das pessoas mais necessitadas deste país. Você (Gadelha), com seu talento de escritor e generosidade de amigo, me deixou por diversos momentos com lágrimas de saudade e emoção ao trazer de volta aqueles compromissos.”

Silvio Santos para Marcondes Gadelha

E como teria sido o Silvio Santos presidente?

No livro, Marcondes Gadelha defende que para ele, Silvio Santos teria sido um ótimo presidente se não tivesse sido obrigado a desistir da disputa. Além disso, acredita que a própria história de vida do apresentador poderia ter servido de inspiração em um país que, na época, não vinha bem em vários aspectos.

“O Silvio era o único capaz de tirar o buraco naquele momento. Inflação de 90% ao mês, PIB estagnado. Ninguém queria mais trabalhar no Brasil. O Silvio era exemplo de que o trabalho compensa. Começou como vendedor em Niterói e se tornou dono de um império de TV que faturava US$ 1 milhão por dia.”

Gadelha também deu um indicativo dos rumos que o governo de Silvio Santos seguiria caso tivesse sido eleito.

“O Silvio era focado na questão da habitação, pensando nos dramas que ele vivia na TV, as famílias que pediam casas para morar. Ele também queria criar um programa de renda mínima para o Brasil. Ele queria até pessoas da oposição no governo. Cogitamos adotar o parlamentarismo, o voto facultativo.”

Em 1992, Silvio Santos decidiu tentar novamente disputar a prefeitura de São Paulo, mas teve a candidatura impugnada novamente. Marcondes Gadelha lembrou que em 2005, procurou o apresentador – de quem se tornou amigo – para disputar a eleição presidencial do ano seguinte, mas que o dono do SBT não quis nem saber da ideia.

“Quando conversamos de novo sobre outra candidatura à presidência, ele disse: ‘venha ao meu hotel no Guarujá. Falamos de tudo no mundo. Mas política, nunca mais’.”

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Augusto Ikeda
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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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