Em maio de 2017, o Linkin Park lançou um de seus álbuns mais controversos: “One More Light”, que soava mais orientado ao pop eletrônico. Meses depois, em julho daquele ano, o vocalista Chester Bennington tirou a própria vida.
Muitas pessoas fizeram conexão entre as críticas recebidas em função do disco e a decisão do cantor em tirar a própria vida. O baterista Sean Dowdell, que tocava na primeira banda de Chester – Grey Daze – e era sócio do artista em um estúdio de tatuagem, parece concordar com essa possibilidade.
Em entrevista de 2020 à Kaaos TV, transcrita pelo Blabbermouth, Dowdell refletiu sobre como a depressão se manifestava em Bennington. O baterista disse que o cantor geralmente estava feliz, mas tinha problemas internos que se manifestavam durante “um por cento do tempo”. Ele destacou, ainda, que os comentários depreciativos na internet mexeram muito com o vocalista.
“Conversamos sobre alguns desses problemas que ele teve várias vezes. Ele era uma pessoa feliz na maior parte do tempo. Acho que é assim que a depressão atua: a pessoa é 99% do tempo feliz perto dos outros, em bom espírito, rindo. Caras como Robin Williams (ator) e Anthony Bourdain (chef) tinham essa incrível personalidade e Chester se parecia com eles. A dor que ele sentia não era compartilhada. Vi várias vezes ao longo da vida, mas não durava muito tempo.”
Com relação ao disco “One More Light”, Sean Dowdell pontuou:
“Não quero colocar os caras do Linkin Park no meio, mas acho que eles concordariam. Quando eles lançaram ‘One More Light’, não foi recebido da forma que esperavam – ou que Chester esperava, pelo menos – e rolou muita reação negativa, o que o incomodou muito. Falamos muito disso. Ele ficava tão chateado que detonava pessoas no Twitter e ficava triste por isso. Eu dizia a ele: ‘cara, não ligue para isso, não vale a pena, a música é boa’.”
O impacto dos trolls
Sean Dowdell destacou que músicos de bandas como o Linkin Park “dão duro para fazer esses discos e são acostumados a receber elogios dos fãs”. E muitas vezes são poucos os que reclamam, mas às vezes um comentário depreciativo impacta mais do que várias manifestações positivas.
“Quando lançam algo como ‘One More Light’, 95% das pessoas não gostam, mas tem os 5% que reclamam, gastam tanto tempo com isso que ficam só atrás de um teclado sendo perdedores.”
Ainda durante o bate-papo, o músico criticou os internautas que ofendem os outros nas redes sociais e expôs como isso impactava Chester Bennington.
“Não entendo o que faz alguém ser fã de Chester e adorar tudo ou quase tudo que ele fez, aí ele lança uma música que a pessoa não gosta, e essa pessoa vai lá xingar, falar que ele é ruim, ou coisa do tipo. Isso pesou muito para ele. Ele sofreu abuso sexual quando criança e isso sempre teve um peso. Chester nunca se sentia bom o bastante, ou admirado pelas pessoas, ou valioso o suficiente.”
Vazio inexplicável
De acordo com Sean Dowdell, havia um vazio dentro de Chester Bennington que poderia ser notado por outras pessoas, mas não era facilmente explicável. Nem mesmo o vocalista saberia definir.
“Eu conhecia muito bem esse lado. Ele tinha milhares de pessoas querendo conhecê-lo depois de um show, para elogiá-lo, para dizerem que ele mudou a vida deles todos, mas ele não ouvia isso internamente. Ele agradecia, mas sentia que não era o bastante.”
Apesar disso, os dois já conversaram sobre o assunto.
“Ele dizia que não se sentia bom ou inteligente o bastante. Eu dizia que não ligava se ele era um bom cantor, mas, sim, uma boa pessoa, eu me importava com a pessoa que ele era. Ele foi um dos melhores amigos que alguém poderia ter.”
Sobre Chester Bennington
Nascido em Phoenix, Arizona, Chester Charles Bennington começou a carreira no Sean Dowdell And His Friends?, passando para o Grey Daze na sequência. O grupo lançou dois trabalhos na metade dos anos 1990.
Na virada do século se juntou ao Xero, que se tornaria o Linkin Park. A banda se tornou uma das maiores de sua geração, lançando sete álbuns de músicas inéditas e vendendo mais de 100 milhões de discos.
Também foi um dos cofundadores do Dead By Sunrise, que lançou apenas um trabalho: “Out Of Ashes”, de 2009. Em 2013, assumiu os vocais do Stone Temple Pilots em substituição a Scott Weiland. A parceria durou dois anos e rendeu o EP “High Rise”.
Cometeu suicídio dia 20 de julho de 2017, na sua casa em Palos Verdes Estates, Califórnia.
*No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV), associação civil sem fins lucrativos, oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, gratuitamente, 24 horas por dia. Qualquer pessoa que queira e precise conversar, pode entrar em contato com o CVV, de forma sigilosa, pelo telefone 188, além de e-mail, chat e Skype, disponíveis no site www.cvv.org.br.
**Foto: Stefan Brending / CC BY-SA 3.0
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