Wig Wam privilegia o lado metal em “Out of the Dark”

Embora o destaque fique por conta da balada, sexto álbum de estúdio dos noruegueses é o mais pesado de sua discografia; abordagem periga repelir hard rockers mais puristas

Quando a abertura da série “Pacificador” apresentou o Wig Wam a um mundo além daquele nicho hard rocker que o conhecia, fui tomado por um protecionismo tão besta quanto o que acometeu parte dos fãs de Metallica durante a última temporada de “Stranger Things”. É provável que muitos dos que curtiram “Do Ya Wanna Taste It” e até aprenderam a coreografia não fizessem a mínima ideia de quem era o intérprete, de qual país ele era, em que espaço-tempo a música foi gravada.

Mas quer saber? Apesar do ciúme típico de adepto das antigas, não há nada de errado nisso. Quanto mais gente, melhor!

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Esse interesse repentino, cujos principais desdobramentos foram a estreia do grupo norueguês nas paradas dos Estados Unidos e sua primeira turnê pelo país, pode nem ter sido o fator preponderante, mas certamente influenciou Glam (Åge Sten Nilsen, vocais), Teeny (Trond Holter, guitarra), Flash (Bernt Jansen, baixo) e Sporty (Øystein Andersen, bateria) a dedicarem mais tempo de suas movimentadas agendas a compor material e, aproveitando o hype, lançar seu novo álbum de estúdio.

Sexto na discografia e segundo desde a retomada das atividades em 2019, “Out of the Dark” consolida o bom momento do quarteto, que dribla a majestade perversa da idade sem que pareça se tratar de quatro velhos com síndrome de Peter Pan. O que se lê nas entrelinhas é a legitimidade que muitas vezes falta a músicos tidos como veteranos da farofa — Sporty, por exemplo, começou ainda nos anos 1980, como baterista do Sha-Boom —, que se montam da cabeça aos pés como se toda aquela paramentação fosse lhes trazer de volta as glórias do passado.

Tal caráter respinga nas músicas, e também nesse quesito a rapaziada é campeã, mesmo quando comete o “pecado capital” que é, sob a ótica dos mais puristas, admitir influências de outros estilos na receita sonora. A primeira delas já se manifesta logo de cara, na faixa-título que também é a de abertura: guitarras tipicamente heavy metal, tanto na base quanto no solo, embrulhadas num clima que beira o industrial. O videoclipe, nesse caso específico, está longe de funcionar como atenuante: apesar de conter um “humor involuntário sob medida”, a ambientação é inatingivelmente sinistra.

A balança segue pesando mais para o lado metal na semiautobiográfica “High ‘N’ Dry” (“A Ver Navios”, na tradução correta dessa expressão idiomática), que a exemplo de sua antecessora, inclui uma passagem limpa e suave a título de preparação para o derradeiro refrão. Já “Forevermore” soa como prima distante — que joga RPG — de “Kilimanjaro”, um dos destaques de “Never Say Die” (2021). À introdução meio sulista meio tribal, segue-se uma estrutura de power metal mid-tempo dos anos 1990 que dá match com a letra digna de motivar tropas em campo de batalha.

O primeiro hard rock propriamente dito vem a seguir com a irresistível “Bad Luck Chuck” e seu refrão cantado — ou devo dizer vociferado? — em gang vocals, mas “Uppercut Shazam” põe o disco de volta na trilha do heavy. Com letra atualíssima sobre uma prática comum nos dias de hoje, “Ghosting You” rememora os primórdios mais zombeteiros do quarteto no conteúdo; na forma, é o hard de contornos metálicos da volta.

Aí vem a balada; e que balada! À primeira ouvida, “The Purpose” já se projeta para além dos sulcos e reivindica posto junto às melhores músicas já feitas pelo Wig Wam, que não entregava tamanha emotividade desde “Bygone Zone” em “Wig Wamania” (2006). Além da interpretação perfeita e sem defeitos de Glam, um derramamento de feeling no solo de Teeny. E o que dizer da letra “I need someone to love / Someone to share life with” que não sai da cabeça? As definições de ear candy foram atualizadas com sucesso.

Novamente no campo das suposições, o repentino interesse do público americano pode ter inspirado o hard estradeiro “The American Dream”. Mas a canção está longe de ser uma ode ufanista àquele país, soando mais como uma dissecação do chamado “sonho americano” que é sonhado por muitos, mas se concretiza somente para uns poucos.

O caráter reflexivo, embora diferente, segue manifesto na faixa seguinte, a instrumental “79” e sua fortíssima carga dramática. “God By Your Side” (e seu riff principal derivado de “We Die Young”, do Alice in Chains) e “Sailor and the Desert Sun” (pontuada por harmônicos de guitarra à Zakk Wylde), provavelmente os elos mais fracos da corrente, selam a audição.

Não dá pra negar que às primeiras ouvidas foi difícil assimilar “Out of the Dark”. Se pela expectativa alta ou pelos referenciais pregressos é impossível de dizer; talvez por ambos.

Mas a verdade é que, seja tocando o hard festeiro pelo qual se destacou na virada dos anos 2000, seja expandindo os horizontes rumo a sonoridades mais pesadas, o Wig Wam continua mandando bem. A retomada de suas atividades segue sendo motivo de celebração e agradecimento.

Ouça “Out of the Dark” a seguir, via Spotify, ou clique aqui para conferir em outras plataformas digitais.

O álbum está na playlist de lançamentos do site, atualizada semanalmente com as melhores novidades do rock e metal. Siga e dê o play!

Wig Wam – “Out of the Dark”

  1. Out Of The Dark
  2. High N Dry
  3. Forevermore
  4. Bad Luck Chuck
  5. Uppercut Shazam
  6. Ghosting You
  7. The Purpose
  8. The American Dream
  9. 79
  10. God By Your Side
  11. Sailor And The Desert Sun

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Marcelo Vieira
Marcelo Vieirahttp://www.marcelovieiramusic.com.br
Marcelo Vieira é jornalista graduado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso (FACHA), com especialização em Produção Editorial pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Há mais de dez anos atua no mercado editorial como editor de livros e tradutor freelancer. Escreve sobre música desde 2006, com passagens por veículos como Collector's Room, Metal Na Lata e Rock Brigade Magazine, para os quais realizou entrevistas com artistas nacionais e internacionais, cobriu shows e festivais, e resenhou centenas de álbuns, tanto clássicos como lançamentos, do rock e do metal.

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