Com “Manu Gavassi canta ‘Fruto Proibido’”, Acústico MTV ganha registro mais dinâmico 

Primeira edição do quadro desde 2019 presta tributo a álbum de Rita Lee & Tutti Frutti e se destaca pelo formato adotado; leia resenha e trechos de entrevista coletiva

Sem novos episódios desde 2019, o quadro “Acústico MTV” retorna com “Manu Gavassi canta ‘Fruto Proibido’”. Anunciada em novembro de 2022, a homenagem ao clássico álbum do rock nacional – lançado por Rita Lee & Tutti Frutti em 1975 – chega na próxima quinta-feira (2) ao streaming Paramount+ e à programação da MTV no horário das 20h30.

Manu Gavassi prestou tributo a “Fruto Proibido” acompanhada de uma banda interinamente feminina formada por Alana Ananias (bateria), Ana Karina Sebastio (baixo), Juliana Vieira (violão), Luana Jones (backing vocal), Mari Jacintho (teclados), Michelle Abu (percussão), Monica Agena (violino) e Paola Evangelista Lucio (backing vocal).. Deixou sua marca sem desrespeitar a originalidade do trabalho de Rita Lee. Com apego à obra, a intérprete fez questão de destacar o impacto do disco para o rock nacional e para a história da mulher na música brasileira.

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Manu Gavassi com sua banda de apoio e convidados Tim Bernardes e Liniker (foto: Cleiby Trevisan)

Fã declarada de Rita e defensora do legado da artista, Manu apresenta o álbum na íntegra ao longo do show, mas enfrenta um início morno. É com a faixa-título, quarta do repertório, que o trabalho engrena graças a um blues rock acelerado com solos de violão e percussão bastante acentuada.

Curiosamente, Gavassi reconhece isso. Em coletiva de imprensa acompanhada pelo site, ela apontou o que estava por trás da introdução pouco enérgica.

“Quando eu estava lá, já com a plateia, já gravando, no meio, acho que na terceira ou quarta música, eu olhei pra cima e falei: ‘eu tô me divertindo, que milagre’. Eu não me divirto, sou uma louca controladora, que fica pensando: ‘Será que tô fazendo certo? Será que tá tudo certo?’ Para mim é muito difícil me soltar. E acho que foi uma cura, porque no meio desse projeto tão grandioso, uma marca tão consolidada, no meio disso, eu olhei pra cima e falei: ‘caraca, eu tô me divertindo muito’. Esse show me trouxe uma leveza, até uma segurança que eu não lembro de ter.”

(Fotos de Cleiby Trevisan)

Banda faz a diferença

Vale ressaltar a importância e relevância da banda que acompanha Manu Gavassi para o resultado final. Por ser uma versão acústica de um álbum clássico do rock na interpretação de uma artista pop, era esperada uma perda na potência sonora, mas o grupo de mulheres entrega um som bastante completo e preenchido.

Mesmo mantendo os tons originais dos vocais para conservar a veia rock and roll, em alguns momentos do show – como em “Luz Del Fuego” – a banda sustenta a potência e eleva a voz melodiosa de Gavassi. Esse ponto poderia ser motivo de descontentamento à protagonista, mas a artista se mostra confortável em dividir o protagonismo com as colegas, além de ter interagido bastante com elas.

“São mulheres incríveis, talentosíssimas. Foi a banda mais legal que eu já fiz parte. Realmente eu senti uma diferença muito grande de irmandade. E não é só por falar de feminismo. Eu senti um ‘tamo junta’ que eu nunca tinha sentido em cima de um palco. Acho que isso me ajudou muito. Elas foram muito incríveis até nos meus momentos de insegurança que elas percebiam que eu estava mais travadinha, eu sentia um olhar de: ‘vamo Manu, tamo junta’. Então isso mudou tudo.”

A intérprete ainda comentou o desafio de unir sua linguagem com a de Rita, já que eram sonoridades diferentes – a obra original de Rita marcada pelo glam rock setentista, gênero que passa longe da discografia de Manu.

“O meu desafio, a partir do momento que eu entendi que isso seria uma homenagem, foi: ‘como eu faço esses dois mundos conversarem?’. Tudo bem que já me inspiro muito nela, mas como eu faço isso ter uma cara lúdica e mágica como tudo que envolve a Rita e me envolve. Meu último projeto foi ‘Gracinha’, que era completamente lúdico. Do meu figurino, a escolha do teatro, a escolha de todo o cenário, a cenografia, tudo isso tinha esse dois universos em mente. Para mim foi esse trabalho de retalhos, constatar as minhas referências, não deixar de ter a minha cara de maneira nenhuma, não querer parecer um cosplay, uma fantasia de Rita. A intenção era homenagear esse álbum que faz tanto sentido pra mim.”

Dinamismo no “Acústico MTV”

É indispensável comentar o formato dinâmico adotado na nova edição do “Acústico MTV”. Aqui, Manu Gavassi colhe os frutos de sua última obra, o álbum visual “Gracinha”, lançado em 2021. O registro do programa evoluiu graças a movimentos de câmera, enquadramentos, uso de adereços e a teatralidade, que se destacam principalmente em “Pirataria”.

Envolvida em todos os detalhes do projeto, Manu revelou ser a mente por trás da construção do formato adotado no episódio. 

“[Pensei] até o aproveitamento do espaço. Era um teatro muito pequeno, só que muito bonito, com detalhes diferentes. Quis começar em um lugar diferente, quis que a câmera meio que enganasse, como se eu tivesse no palco, mas abrisse e eu estou em outro lugar do teatro, desço pro palco. […] Em um outro momento sobe um pano azul quando fala que ela tá no mar em ‘Pirataria’ e depois o pano cai. Tudo isso são ideias minhas pra tentar colocar uma pimenta no meu ‘Acústico MTV’, porque eu sou muito apaixonada pela maneira de contar história, todas as ferramentas que a gente tem no audiovisual, e eu queria deixar isso impresso no meu acústico.”

Foto: Cleiby Trevisan

Pode ser um ponto atrativo para novas gerações que não tiveram contato com a era de ouro do “Acústico MTV”. Ainda que soe como um detalhe bobo, é indispensável pensar nessa fatia do público ao retomar um programa que ditou por anos as músicas e artistas do momento.

Convidados e mescla de autorais e versões

De volta ao som, o ponto alto do show é “Ovelha Negra” com a participação de Liniker, grande nome do MPB e R&B. O dueto alcança a carga emocional pedida pela composição graças à combinação da voz aveludada da convidada e o timbre agudo de Manu Gavassi. O jogo de luzes e posicionamento da dupla são os ingredientes finais para tornar a canção a mais emocionante do acústico.

Após a reprodução na íntegra de “Fruto Proibido”, a anfitriã aproveita o espaço para apresentar duas músicas autorais em meio a mais dois sucessos de Rita Lee: “Mutante” e “Lança Perfume”. Focada em seu trabalho mais recente, Gavassi trouxe Tim Bernardes para o dueto “Gracinha”, outro acerto dentro da edição. A voz do músico e o clima acústico trazem uma atmosfera aconchegante para além do ambiente intimista, fato que enriqueceu a versão em comparação à de estúdio.

Foto: Cleiby Trevisan

Outra canção que cresce neste show é “Bossa Nossa”, que se transforma em um samba – com direito a cavaquinho e pandeiro. Em sua versão original, a canção passa a sensação de “alternativa esnobe”; na acústica, a banda conseguiu a converter para um som mais “democrático”, por assim dizer.

A escolha das músicas finais – mesmo que aleatórias como revelado por Manu em coletiva de imprensa – funciona bem, e dá o clima apropriado no encerramento com “Lança Perfume”. 

“Acústico MTV: Manu Gavassi canta ‘Fruto Proibido’” oferece uma experiência agradável, mas é melhor aproveitado sem a expectativa de encontrar o rock da obra original. Respeitosa, a releitura foi feita por uma artista contemporânea que entrega de forma lúdica e didática a mensagem de Rita Lee para as novas gerações.

“Acústico MTV: Manu Gavassi canta ‘Fruto Proibido’” estreia nesta sexta-feira (2), às 20h30, na MTV e no Paramount+.

Sobre “Fruto Proibido”, de Rita Lee & Tutti Frutti

Lançado em 1975, “Fruto Proibido” foi o segundo trabalho de estúdio de Rita Lee com a banda Tutti Frutti. O disco é marcado por grandes sucessos como “Agora Só Falta Você”, “Ovelha Negra” e “Esse Tal de Roque Enrow”, esta última tendo Paulo Coelho como coautor. Vendeu mais de 200 mil cópias em sua tiragem inicial.

Sobre o “Acústico MTV”

Um dos programas de maior sucesso da MTV Brasil entre 1990 e 2000, o “Acústico MTV” teve sua primeira edição em 1991 com o grupo Barão Vermelho. Ao longo de 21 anos foram gravados 34 episódios, a maior parte deles lançados posteriormente em CD e DVD e com ótimas vendas. As edições de Cássia Eller e Legião Urbana conquistaram certificado de diamante triplo com mais de 900 mil cópias comercializadas cada.

Em 2012 foi lançada a última edição do “Acústico MTV” com a emissora sendo operada pelo Grupo Abril. Arnaldo Antunes realizou o show.

O projeto só foi retomado em 2019, já tendo a Viacom no controle da filial brasileira, com o “Acústico MTV: Tiago Iorc”. Porém, o projeto não teve continuidade até o anúncio da participação de Manu Gavassi em 2022.

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Tairine Martins
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Tairine Martins é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Administra o canal do YouTube Rock N' Roll TV desde abril de 2021. Instagram: @tairine.m

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