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Como o Def Leppard ficou radiofônico e estourou com “Pyromania”

Quinteto de Sheffield se livrou de todas as amarras do heavy metal, ganhou sucesso e moldou o hard rock dos anos 1980 em sua imagem

O Def Leppard nunca escondeu sua ambição. Enquanto seus colegas da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) estavam preocupados em ser tr00, o grupo formado em Sheffield queria ser enorme como o Queen. E eles sabiam o mapa para chegar nesse destino, em trajetória que começou a se consolidar com “Pyromania”.

Desde o início, eles acenavam ao público americano muito mais que o inglês, o que causava antipatia entre metaleiros na sua terra natal. Canções como “Hello America”, do disco de estreia “On Through the Night” (1980), deixavam claro o foco além do Atlântico.

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Hernán Cortez ordenou seus soldados a incendiarem os navios quando chegaram ao Novo Mundo para reforçar a determinação de sua missão. O Def Leppard fez algo parecido ao esnobar a Inglaterra em favor dos EUA.

Graças a “Pyromania”, eles conseguiram se tornar não somente um sucesso, mas também – e acredite se quiser – uma das bandas de metal mais influentes da década de 1980. Vale fazer uma retrospectiva, não?

Um certo vira-lata

Os acenos do Def Leppard ao mercado americano no álbum de estreia e turnê subsequente afetaram negativamente a imagem deles no Reino Unido. Ainda assim, chamaram a atenção da pessoa certa.

Robert John “Mutt” Lange havia produzido “Highway to Hell” e “Back in Black”, os dois discos mais recentes e imensamente populares do AC/DC. O produtor sul-africano era conhecido por sua abordagem perfeccionista, designada para refletir não só a personalidade da banda com a qual trabalhava, mas para contextualizar essa em termos de algo possível de fazer crossover.

Lange ficou impressionado com o Def Leppard e topou trabalhar com eles no segundo álbum, “High ‘N’ Dry” (1981), que rendeu o single “Bringin’ On the Heartbreak”, famoso por ser um dos primeiro clipe de heavy metal exibidos constantemente pela MTV – e que ganhou versão até de Mariah Carey.

“High ‘N’ Dry” atingiu o top 40 americano, mas a ambição ainda não havia sido saciada. O Def Leppard queria mais. Mutt Lange queria mais.

Para o disco seguinte, o produtor se tornaria efetivamente um sexto integrante, contribuindo para composição e arranjos.

Terror Twins

As gravações começaram em meio a brigas entre empresários e o alcoolismo crescente do guitarrista Pete Willis. Em julho de 1982, o último problema citado se tornou demais para a banda, que demitiu Willis e recrutou Phil Collen, recém-saído do grupo Girl, para seu lugar.

Em entrevista à Metal Edge, Collen compartilhou suas lembranças sobre o processo:

“Eu achei que estava apenas quebrando um galho pros caras. Um ano antes, Joe [Elliott, vocalista do Def Leppard] me ligou enquanto estavam na turnê High ‘N’ Dry e falou, ‘Tem como você aprender essas canções em dois dias? As coisas não estão indo bem com Pete Willis…’ Eu falei, ‘Sim, claro.’ Então tinha coisa rolando. Então quando Joe ligou de novo enquanto estavam no estúdio e falou, ‘Quer tocar alguns solos no disco novo?”, eu falei, ‘Claro.’ Eu cheguei lá e Mutt Lange me deu uma fita, falando, ‘Ok, essa é uma canção chamada ‘Stagefright.’ Tem como você aprender ela e voltar com um solo amanhã?’ Então eu voltei pra casa, tive uma ideia, fui pro estúdio no dia seguinte, peguei minha Ibanez Destroyer, liguei no meu Marshall e fiz o solo em um take. Não sabia que era um teste, mas acho que era!”

Collen foi uma adição perfeita ao grupo não só por compreender a missão na qual o Def Leppard estava, mas também por oferecer uma dimensão sonora diferente. O guitarrista formou imediatamente uma amizade próxima com Steve Clark, seu companheiro de seis cordas no grupo, e os estilos diferentes dos dois se complementavam a ponto de elevar a sonoridade.

Por mais que o Def Leppard estivesse determinado a ser pop, Clark e Collen agora formavam uma das intituições mais importantes do heavy metal: o ataque duplo de guitarras. Os dois foram até apelidados de Terror Twins, por suas habilidades e bebedeiras.

Def Leppard encontra o som

Durante as gravações do que viria a ser “Pyromania”, o Def Leppard estava aos poucos deixando para trás tudo que havia feito antes. Por se tratar de um integrante novo e ter acompanhado a banda antes de fazer parte dela, Phil Collen se surpreendeu, como contou à Metal Edge, ao se deparar com o material sendo trabalhado nas sessões:

“O negócio era, nos primeiros dois discos – e especialmente em ‘High ‘N’ Dry – eu acho que a banda soava um pouco como outras pessoas. Eles ainda estavam tentando encontrar seu caminho, se quiser colocar dessa maneira. Mutt tinha vindo de trabalhar com o AC/DC e dava para ouvir muita influência disso ali. Era definitivamente parecido com AC/DC. Acho que com ‘Pyromania’ os caras encontraram seu canto. De repente eles tinham seu som próprio.”

Parte dessa sonoridade veio da abordagem meticulosa de Lange. O produtor tinha um método incomum para a época de gravação. Guitarras e baixo eram gravados antes da bateria, em cima de uma base programada. Isso possibilitava tratar cada riff, lick ou solo de guitarra como uma peça de Lego, capaz de ser rearranjada no final para garantir o máximo de impacto.

Fairlight CMI, o elemento extra

O Def Leppard também começou a utilizar o Fairlight CMI, um sintetizador e sampler que teve sua primeira grande aparição no terceiro disco solo de Peter Gabriel. A diferença no caso da banda estava na aplicação.

Enquanto muitos artistas mainstream que trabalharam com o Fairlight ficaram frustrados com a falta de fidelidade na reprodução sonora de instrumentos feita pelo sintetizador, o grupo e Mutt Lange encaravam isso não como falha, mas como característica distinta.

A versatilidade proporcionada pelo Fairlight dava a possibilidade de gravar tudo como elemento separado e depois construir as canções as tocando no sintetizador contendo os instrumentos. “Pyromania” era um disco de heavy metal e synthpop ao mesmo tempo, essencialmente. Ironicamente, Thomas Dolby, famoso pelo hit “She Blinded Me With Science” e depois inventor da tecnologia por trás do ringtone, tocou teclados em um dos singles, “Photograph”.

O diferente “Pyromania”

Com “Pyromania” gravado, o objetivo agora era montar uma estratégia capaz de diferenciar o Def Leppard do resto das bandas de hard rock e heavy metal. Num depoimento feito em seu site oficial (via Ultimate Classic Rock), o designer Andie Airfix contou como o empresário do grupo, Peter Mensch, lhe explicou como a capa do disco precisava refletir isso:

“O Def Leppard é diferente de sua banda de rock pesado qualquer – a capa precisa refletir isso. Já deu de tatuagens, fotos horríveis de mulheres seminuas andando de moto e monstros cuspindo fogo – isso tudo é clichê demais agora. Precisamos de algo diferente – mais moderno… Precisamos voltar à origem. Precisamos redefinir a imagem do rock pesado.”

O nome do disco, “Pyromania”, veio de um engenheiro de som após Steve Clark e Mutt Lange sugerirem atear fogo nos amplificadores Marshall da banda por causa do trabalho que estavam dando para soar bem nas sessões. Airfix resolveu pegar esse conceito e explorar seus extremos para a capa. Ele escreve (via Ultimate Classic Rock):

“Eu tentei visualizar o que constituiria um ataque ao nosso mundo materialista a ponto de ser inaceitável. Um ataque a um arranha-céus foi o que eu bolei. A mira apontada para o prédio enfatizava que o ataque era uma ação deliberada.”

“Pyromania” era mesmo uma ação deliberada. Um ataque bem sucedido a todas as instituições do hard rock, heavy metal e até mesmo o pop.

O disco chegou ao 2º lugar das Billboard 200, com “Photograph” desbancando “Beat It” no topo da parada de Mainstream Rock. “Rock of Ages”, segundo single do álbum, também chegou ao primeiro lugar de rock nos EUA.

Ao todo, foram mais de 10 milhões de cópias vendidas. Agora, a norma era copiar o Def Leppard. Bandas americanas que ficariam conhecidas como metal farofa – Poison, Mötley Crüe, Ratt – em algum momento reproduziram a fórmula do quinteto inglês.

Isso só aumentou a pressão em cima do Def Leppard para entregar um sucessor à altura. Mas essa história está em outro texto do site.

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Pedro Hollanda
Pedro Hollanda
Pedro Hollanda é jornalista formado pelas Faculdades Integradas Hélio Alonso e cursou Direção Cinematográfica na Escola de Cinema Darcy Ribeiro. Apaixonado por música, já editou blogs de resenhas musicais e contribuiu para sites como Rock'n'Beats e Scream & Yell.

3 COMENTÁRIOS

  1. “metal farofa” foi de cair o koo da bund@. pelamor fera, se vc tem menos de 35 fica ridiculo usar esse termo se tem mais tb. chefa a ser pior que o “metaleiro” da rede globo

    • Você vai realmente ignorar todo o trabalho apresentado no texto por conta de um termo bem-humorado que até os maiores fãs usam? Se você tem mais de 35 anos, fica ridículo agir dessa forma – e se tem mais, também.

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