Como a carreira de Irene Cara afundou após processo contra gravadora

Artista processou seu selo por falta de pagamento de direitos autorais e alegou que passou a ser boicotada por conta da ação

Irene Cara, artista que ficou conhecida por seu trabalho no filme “Fama” e a canção “Flashdance… What a Feeling”, do longa “Flashdance – Em Ritmo de Embalo”, faleceu aos 63 anos de idade. A informação foi confirmada por sua porta-voz e a causa de sua morte ainda não foi divulgada.

A artista ganhou fama no início dos anos 1980 graças aos dois trabalhos citados acima. Só que depois disso, sua carreira nunca mais foi a mesma e ela praticamente sumiu dos holofotes nos últimos anos.

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Há uma explicação para isso: o processo que moveu contra a própria gravadora de sua música mais famosa. Cara dizia que isso foi o estopim para um boicote da indústria musical contra ela.

Irene Cara antes de “Flashdance”

A carreira artística de Irene Cara foi iniciada nos anos 1970, ao participar de alguns musicais teatrais, incluindo apresentações em teatros da Broadway em Nova York. Ela também passou a fazer aparições em filmes de menor porte e algumas minisséries de TV.

A vida dela mudou ao aparecer no filme musical “Fama”, que fez bastante sucesso. Na obra, Cara deu vida a Coco Hernandez, personagem que, originalmente, seria apenas dançarina. Após a produção escutar sua voz, ficou decidido que ela também cantaria, inclusive sendo responsável por interpretar a faixa-título e “Out Here on My Own”.

O êxito foi tão grande que as duas faixas foram indicadas simultaneamente ao Oscar de Melhor Canção Original – algo inédito até então. “Fame”, a música, acabou levando a estatueta mais cobiçada dos cinemas, além de conquistar o Globo de Ouro na mesma categoria e Irene ter sido indicada a melhor atriz em comédia ou musical.  

Do lado musical, “Fame” também rendeu à artista dois prêmios Grammy, de Artista Revelação e Melhor Artista Pop Feminina.

O sucesso com “Flashdance”

Alguns anos após fazer seu trabalho mais conhecido como atriz, chegou a hora de Irene Cara também estourar como cantora.

Em 1983, ela foi responsável por interpretar a música “Flashdance… What a Feeling”, que fazia parte da trilha sonora do filme “Flashdance” (no Brasil, “Flashdance – Em Ritmo de Embalo”).

A canção fez tanto sucesso quanto o longa – que, apesar dos bons números de bilheteria, não foi bem avaliado pela crítica. Ficou 25 semanas seguidas na parada Hot 100 da Billboard e ocupou a primeira posição em diversos países, como Austrália, Canadá, Dinamarca, Japão, Nova Zelândia, Espanha, entre outros. Também fez a artista ganhar novamente o Grammy, além do Oscar e o Globo de Ouro de Melhor Canção Original.

Entretanto, por mais que “Flashdance… What a Feeling” tenha sido um enorme sucesso, mal sabia Irene Cara que problemas com a gravadora da canção fizeram sua carreira nunca mais ser a mesma.

Processo contra a gravadora

Conforme o hit foi esfriando, Irene Cara notou que a gravadora responsável pela música, a Network Records, não a pagava devidamente pelos direitos autorais. Além de intérprete, ela era uma das compositoras, ao lado de Keith Forsey e Giorgio Moroder. Porém, até o fim de 1984, a cantora teria recebido apenas pouco mais de US$ 60 mil.

Desta forma, a artista procurou o dono da Network, Al Coury, e exigiu uma explicação. Coury estava associado a diversas outras gravadoras além da Network: ele era cofundador da RSO Records – com a qual Cara havia assinado contrato em 1980 – e foi vice-presidente da Capitol Records. Seu nome esteve envolvido com o lançamento de diversas trilhas sonoras de filmes famosos, como “Os Embalos de Sábado à Noite” e “Grease”. Questionado, porém, ele sempre desconversava com presentes e promessas.

Nesta mesma época, a Network – que chegou a declarar falência – foi adquirida pela Geffen, após seu dono, o famoso executivo David Geffen, oferecer uma compensação lucrativa e parte das ações de sua própria gravadora – que também não vinha bem das pernas – para Al Coury, que aceitou a proposta.

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Cansada da situação, a artista decidiu processar a Geffen – já que ela se tornou proprietária da Network – e exigiu uma compensação no valor de US$ 10 milhões. Cara alegou que a empresa causou a ela um prejuízo de aproximadamente US$ 2 milhões, a partir de royalties não pagos e acordos comerciais que deixaram de ser firmados. Seu objetivo também era se desvencilhar do contrato que tinha com as empresas de Al Coury.

O rompimento das obrigações contratuais só ocorreu em 1987. Já o processo por direitos autorais se estendeu por anos e só foi concluído em 1993, quando a Corte Superior da Califórnia deu ganho de causa para Cara, que recebeu uma compensação de US$ 1,5 milhão.

O valor foi menor ao que foi pedido por conta da falência das empresas de Coury. Porém, a artista também passou a receber os royalties devidos não apenas de sua música mais famosa, mas também de seus demais trabalhos nas gravadoras do executivo.

Carreira de Irene Cara nunca mais foi a mesma

Por mais que tenha conquistado o que era seu por direito, pode-se dizer que a carreira de Irene Cara nunca mais foi a mesma desde o processo movido contra a Geffen.

Sim, a artista ainda continuou trabalhando em alguns filmes, séries de TV e peças teatrais, além de ter lançado mais um álbum, chamado “Carasmatic” (1987). Mas longe de alcançar o mesmo sucesso do início dos anos 1980.

Em entrevista para o site Songwriter Universe, concedida em 2018, Irene Cara disse acreditar que sua carreira declinou após passar a ser boicotada por gravadoras. Tudo por conta do processo que moveu contra a Geffen.

“Depois desse álbum (a trilha sonora de ‘Flashdance’), processei minha gravadora. Em primeiro lugar, minha gravadora desmoronou sozinha… perdeu sua distribuição. E eu estava presa a um presidente de gravadora que continuou não me pagando e continuou a me usar para distribuição de sua pequena gravadora. Todos os outros artistas que estiveram na RSO Records foram para outro lugar. Quando ela se dissolveu, os Bee Gees saíram, Yvonne Elliman saiu. E eu, não tendo uma boa gestão ou um bom advogado, pensei que estava em dívida com esse presidente da gravadora que me contratou de um filme (‘Fama’). Mas fiquei cheia disso. Eu tinha dois dos maiores sucessos da década e não via um centavo.

Então eu o processei, demorou oito anos e custou meu futuro como artista musical, porque nenhuma outra gravadora me contrataria. A RSO estava enviando cartas ameaçadoras para as outras gravadoras. A única que me contratou disse que ficaria ao meu lado durante o processo. Mas assim que terminei meu álbum seguinte (‘Carasmatic’, em 1987), eles o engavetaram e não o promoveram. Parecia que ao processar um homem, meio que virou uma espiral para toda a indústria se voltar contra mim por causa disso. Então isso me afastou totalmente do mundo da música.”

Entre os fãs e especialistas da indústria musical, há quem diga que outros fatores também contribuíram para esta derrocada na carreira de Irene Cara. Entre eles, estão o fato de ter trabalhado em filmes questionáveis, vício em drogas e problemas pessoais, com destaque para o fim do seu casamento.

Irene passou os anos finais de sua vida em uma espécie de aposentadoria, que praticamente não fez mais nenhum tipo de trabalho, seja como atriz ou cantora. Seu último álbum, “Irene Cara Presents Hot Caramel”, saiu em 2011 – e foi o único desde “Carasmatic” (1987). Participou de algumas poucas trilhas sonoras na década de 1990, sendo “Downtown: A Street Tale” (2004) a final. Nos teatros, sua atuação derradeira foi em “What a Feeling!: The Rock & Pop Musicals in Concert” (1996).

No entanto, também durante entrevista ao Songwriter Universe, ela não demonstrou ter nenhuma preocupação com isso e garantiu que estava vivendo bem – muito por conta dos royalties que lutou tanto para conquistar.

“As coisas estão indo bem e eu moro aqui na Flórida. Eu vendo minhas coisas online e na maioria das vezes estou aqui com minha família. E tenho muito orgulho da minha família. Tenho uma linda casa na praia e a vida é boa. Vivo dos direitos autorais e trabalho quando quero, me considero semi-aposentada. Eu não preciso trabalhar. Eu ganho mais dinheiro não trabalhando do que trabalhando.”

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Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Atua no mercado desde 2013 e já realizou trabalhos como assessor de imprensa, redator, repórter web e analista de marketing. É fã de esportes, tecnologia, música e cultura pop, mas sempre aberto a adquirir qualquer tipo de conhecimento.

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